Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 19
Capítulo XIX




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POV Jude

Saía sem a menor pressa do prédio de Arquitetura depois de um longo e nada produtivo dia de aula quando avistei mais uma bela oportunidade desfilando pelo estacionamento da Universidade. Era por volta das quatro horas da tarde, e eu estava sem o mínimo ânimo e força de vontade para caminhar até a minha casa. Sendo assim, a visão de Dominique desativando o alarme de seu carro foi praticamente como um colírio para os meus olhos. Em contrapartida, aproveitaria para agilizar a minha vitória na estúpida aposta que Mike propôs. Dessa forma, apressei o passo e corri até a loira.

— Ei, Dominique! – Chamei, vendo-a parar o que fazia e prestar atenção em mim logo que a alcancei. – Será que você pode me dar uma carona? Se não for abuso, é claro – Sorri, abrindo a porta do passageiro assim que ela concordou, murmurando somente "Pode entrar".

Até queria dizer que, no percurso, nutrimos uma conversa animada, onde pude jogar todo o meu charme e fazer DiNozzo suspirar. Gostaria de afirmar que a minha vitória se concretizou ali mesmo, no carro dela. Apesar disso, como todo nós sabemos, as coisas com Dominique não eram assim tão fáceis e simplórias. Muito pelo contrário, devo acrescentar. Para falar a verdade, o silêncio incômodo entre nós dois apenas era rompido pela voz do interlocutor da rádio local, que anunciava o início de uma nova canção, aparentemente tocada por Maroon 5. Uma vez parados no semáforo vermelho, DiNozzo tamborilava os dedos no volante ao ritmo da música, além de mover os lábios, sibilando a letra. Olhando assim, era impossível não se encantar.

— O que foi? – Perguntou logo que notou o sorriso que tomara conta do meu rosto enquanto a observava. Neguei com a cabeça, balançando levemente os ombros.

Antes que o sinal abrisse e a loira pisasse fundo no acelerador, um parque logo em frente chamou a minha atenção: uma arena improvisada de Paintball havia sido montada sobre a grama exageradamente verde.

— Dominique – Esperei que olhasse na minha direção e, quando o fez, apontei para o bosque. – Topa? – Ao contrário do que eu esperava, ela abriu, no mesmo instante, um largo sorriso sapeca de tirar o fôlego.

— Prepare-se para engolir tinta, Van der Bilt.

Asseguro-lhes de que DiNozzo não estava, de maneira alguma, brincando. Uma vez com os trajes postos e as armas carregadas, senti uma pequena bola de tinta alaranjada explodindo em meu tórax. Em uma mistura de gargalhada e indignação, saí correndo atrás dela, conseguindo atingi-la com três tiros certeiros. A vingança de Dominique, além de deixar-me parecendo um pacote de M&M's, foi acertar o meu cabelo com tintura vermelha.

Considerando que a área de combate era repleta de barricadas e outros infinitos tipos de obstáculos, correr atrás dessa loira foi um tanto complicado. Mesmo assim, consegui atingi-la até que fosse possível confundi-la com uma obra de arte Expressionista. Não deixando barato, minha bochecha foi atingida por uma explosão esverdeada. Assumindo como o cúmulo, peguei minha última esfera gelatinosa de tinta e joguei a arma no chão, caminhando até ela, que não abaixou aguarda, com os braços levantados em sinal de rendição. Depois de muito hesitar, DiNozzo finalmente largou a pistola. Com os olhos brilhando e um sorriso no rosto, usei a última munição que havia escondido para estoura-la em seu cabelo, a tinta azul escorrendo pela longa extensão de seus fios. Ao mesmo tempo, empurrara a loira não com muita força, fazendo com que ela caísse em um monte de feno, comigo por cima de si. Aproveitando o clima, limpei a tinta em seus lábios e segurei sua cabeça gentilmente. Dessa forma, comecei a inclinar meu rosto lentamente, já pronto para tomar conta dos lábios de Dominique. E o teria feito se, seja por uma intervenção do Universo ou alguma espécie de karma, ela não tivesse virado o rosto e, logo em seguida, posicionado as palmas de suas mãos em meu tronco, obrigando-me a recuar. Sem proferir nem mesmo uma única palavra, DiNozzo levantou-se, atravessando o parque e desabotoando o macacão que impedia que suas roupas manchassem. E quanto a mim? Ah, fiquei por ali mesmo, frustrado por ter fracassado em uma oportunidade excepcional como essa, além de ter perdido minha carona.

POV Dominique

Atravessei o parque sem olhar para trás. O caminho até meu carro, como já era de se esperar, parecia não ter fim. A cada passo que eu dava, o olhar indubitável de Van der Bilt em minhas costas tornava-se ainda mais fixo, deixando-me com as pernas bambas. Por um instante ou dois, confesso, tive vontade de dar meia volta. Faltou-me coragem. Não que eu pretendesse retornar justamente para finalizar o que ele tentou iniciar. Não, longe disso. Só queria chacoalhar seus ombros e perguntar o que diabos estava acontecendo. Ou melhor, quem era ele e o que fizera com Jude Van der Bilt?

Uma vez alcançado meu carro, sentei no banco do motorista e apoiei a testa no volante, sem me preocupar se mancharia ou não. Respirei fundo, tentando raciocinar e montar o quebra-cabeças no qual meu cérebro teria se tornado, mas as peças pareciam nunca se encaixar. De qualquer forma, imaginei que Jude viesse atrás de mim. Na verdade, apenas esperei, desejei. No fundo, sabia muito bem que isso nunca aconteceria. Digo por experiência. Mesmo assim, no momento eu não tinha certeza de absolutamente nada. Se duvidar, nem mesmo de meu próprio nome.

Continuei com a mente embaralhada no trajeto até meu apartamento, fazendo com que escutasse muitas buzinas e termos nada gentis direcionados especialmente a mim, além de dedos do meio graciosamente apontados na minha direção. Não me lembro de ter chamado e muito menos de entrar no elevador. Também ouvi meu irmão balbuciar alguma coisa que não me dei o trabalho de interpretar, somente atravessei o corredor e fui direto ao meu quarto sem pronunciar palavra alguma. Até houve alguns protestos da parte de Tony, mas não dei ouvidos. Liguei o chuveiro e tomei um banho de água gelada, na esperança de organizar as ideias e até mesmo esquecer o ocorrido, tarefa que se mostrava impossível, uma vez que o acontecimento estava praticamente tatuado nos meus pensamentos.

#####

Não comi nada naquela noite, apenas assisti Anthony devorar uma pizza grande por si só como se sua vida dependesse daquilo. Ele estranhou meu silêncio e falta de apetite, mas não questionou. Percebi que tentava distrair-me, selecionando alguns dos meus filmes favoritos da nossa coleção e assistindo a todos junto comigo. Como previsto, fui incapaz de prestar muita atenção.

Em todo caso, consegui me distrair na medida do possível. Aliás, fico contente em afirmar que estava quase me livrando de tal fardo na minha consciência. No entanto, como o Universo não deixa nada passar em branco, a desgraça piorou na metade do segundo filme. Tony estava na cozinha, buscando mais uma bebida quando a campainha tocou. Já era tarde, por isso hesitei um pouco para abrir a porta. Mesmo assim, quando o fiz, surpreendi-me com quem aguardava do lado de fora. Gerard, nosso porteiro que já devia estar aposentado, encontrava-se parado na minha frente com seu eterno sorriso acolhedor. Além disso, carregava consigo um enorme buquê de rosas. Entretanto, as flores não eram comuns. Eram rosas pretas. Não me perguntem como diabos isso era possível, mas estavam bem ali na minha frente, deixando-me boquiaberta.

— Senhorita DiNozzo, – saudou – um rapaz muito simpático pediu-me para entregar-lhe isso – Passou o buquê para mim, e mal consegui agradecer.

Olhos arregalados, queixo caído e mãos trêmulas. Voltar para a sala já estava fora de cogitação. Sendo assim, gritei qualquer desculpa para meu irmão e logo me tranquei no quarto. Fitava as rosas tão fixamente que meus globos oculares quase saltaram das órbitas. Destacado na imensidão verde e preta, um envelope branco aguardava ansiosamente por sua abertura. Temendo o que me aguardava, abri. O bilhete, por sua vez, trazia apenas uma
palavra: "Perdão".

Desde o momento que coloquei meus olhos nas flores, não tivera sombra alguma de dúvida de que elas foram enviadas por Jude. Mais uma vez, ele conseguiu. Tirou todas as minhas palavras.

De qualquer forma, mesmo tendo deixado-me em um estado de choque, depois de um tempo encarando as rosas, um meio sorriso involuntário escapou, e finalmente consegui aprecia-las. Porém, esse sentimento durou pouco. Balancei a cabeça na tentativa de afastar o paradoxo, apesar de nada adiantar. Procurei me entreter, mas parecia que aquelas flores me fitavam, fuzilando-me e exigindo atenção e admiração. Pretendia ler, mas a cada parágrafo eu desviava os olhos para conferir se o buquê não tinha uma bomba escondida ou se não havia transformado-se em um demônio incumbido de tirar a minha vida. Sem conseguir aguentar mais tamanha aflição e nervosismo, levantei em um pulo e peguei as flores, determinada a devolve-las ao remetente, independente do horário que fosse. Contudo, antes de sair do quarto, demorei um pouco mais o meu olhar sobre as rosas. Com um suspiro, peguei as chaves do carro e, sem hesitar, deixei o apartamento.

Entrei no modo "piloto-automático" durante praticamente todo o percurso. Minha ficha só foi cair quando já estava em frente à porta de Van der Bilt. No entanto, eu tinha travado. O buquê pesava toneladas na minha mão esquerda, enquanto a direita já se encontrava levantada, punho cerrado, pronto para bater. Apesar disso, eu estava mais do que hesitando. Isso mesmo, eu havia congelado. Pateticamente imóvel. Quase desistindo, para ser sincera. Todavia, mesmo se quisesse, meu tempo de escolha já havia expirado.

Ainda me encontrava naquela situação deplorável, punho erguido há centímetros da porta e um dilema terrível, quando a mesma se abriu sem qualquer interferência da minha parte. Meu cérebro, contudo, pareceu voltar ao trabalho e abaixei a mão, pigarreando. Em todo caso, assim que Jude notou a minha presença, o sorriso divertido em seu rosto deu lugar a uma expressão confusa, que eu até acharia engraçada se não estivesse na situação que estou. De todo modo, ele logo voltou a sorrir, desta vez gentilmente, ainda notavelmente perdido.

— Dominique... O que faz aqui? – Perguntou, e seus olhos não demoraram para encontrar o buquê.

— Eu... Eu... – Meu deplorável gaguejar foi interrompido por uma voz feminina e estranhamente conhecida vindo de dentro do apartamento.

— Jude, não era a piz... – A Voz parou assim que se aproximou da entrada e notou a minha presença.

Neste instante, senti o sangue ferver em minhas veias e subir direto para a cabeça, as bochechas queimando. Pelo menos serviu de impulso para que eu conseguisse voltar a raciocinar mais do que devidamente, e empurrei as flores com força contra o tórax de Van der Bilt.

— Vim devolver isso – Jude arregalou os olhos perante a minha atitude, atordoado. Além disso, tinha o queixo caído, variando o olhar entre mim e o buquê, agora em suas mãos.

— Dominique, espera...! – Chamou assim que dei as costas. Já havia avançado pelo corredor quando, lamentavelmente, cedi e voltei a encara-lo por breves segundos.

Seus olhos pareciam tentar me dizer algo, não sei, mas não fiz o menor esforço para tentar decifrar sua possível mensagem. Em todo caso, fixei meus olhos em suas íris hipnotizantes, demorando-me um pouco por ali. Mesmo assim, não tardei para retomar a razão e continuar a atravessar o corredor, deixando Jude para trás.


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