Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 17
Capítulo XVII




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POV Jude

Um avião nunca me pareceu tão convidativo quanto agora. Não era mais o barco de Caronte, como há alguns dias, mas sim minha carona para o Paraíso (vulgo vida sem compromisso). Independente de ter sido apenas um relacionamento falso ou não, o sentimento de liberdade que havia tomado conta de mim era inigualável. Uma pena pesava mais do que eu, e o suspiro que soltei quando desentrelaçamos nossas mãos foi o ponto final daquela farsa toda. Metaforicamente defenestrar Dominique da minha vida e não ter mais que me preocupar em conviver civilizadamente com o gênio tórrido de minha, finalmente, ex-falsa-namorada desencadeou uma sensação muito melhor do que eu imaginava que seria. Contudo, devo admitir que tal convívio com DiNozzo fora, deveras, intrigante. Confesso que estava quase começando a apreciar a presença dela. Fiquem calmos, eu disse quase. Não cederia tão rápido ao outro lado da Força. Afinal, mesmo que Dominique tenha sido agradável e até mesmo uma companhia formidável quando lhe era conveniente, a meu ver ela apenas tinha se tornado menos insuportável— dependendo da situação, é claro. Assim sendo, é presumível que o final de nosso acordo não poderia ter vindo em um momento mais oportuno. Quero dizer, me acostumar com este lado agradável de DiNozzo, até então desconhecido por mim, certamente prejudicaria o alcance de meu principal objetivo: a famigerada vingança, mas isso é assunto para outra hora. Mesmo que não tenha sido tão ruim quanto eu imaginava, sabia muito bem que até mesmo a mais excitante montanha-russa sai dos trilhos mais cedo ou mais tarde, e ninguém tinha me oferecido nenhum tipo de isenção permanente dessa lei da natureza.

Em todo caso, o ponto final tornou-se concreto quando, com muita satisfação, tirei a aliança de meu anelar. Analisei-a por alguns instantes, imaginando que fim daria a esse objeto tão peculiar e que acumulava tantas histórias em si – histórias que não sei se quero esquecer. De qualquer forma, não precisei pedir para Dominique devolver o seu anel. Assim que me virei para fazê-lo, a loira já estava com a pequena circunferência prateada na palma da mão, pronta para que eu a acatasse. Não nego que peguei-a com prontidão, apenas sorrindo com o canto dos lábios.

— Ei, love, – chamei, antes que DiNozzo se desligasse do mundo ao seu redor através dos fones de ouvido – só para constar: eu te odeio— pisquei com um olho para ela, e Dominique abriu um sorriso que aqueceria o planeta todo sem contribuir com o aquecimento global.

— Eu também te detesto, paixão— acompanhei-a e sorri, desviando a atenção da loira e voltando a me concentrar na música aleatória que começara a tocar.

Já havia me preparado psicologicamente para as nove horas dentro de um avião. No entanto, mesmo que tivesse praticamente montado um cronograma de atividades que ajudariam a passar o tempo, acabei caindo no sono cerca de uma hora depois de termos levantado voo. Mesmo que dormir seja uma excelente ideia durante viagens longas, a intrigante situação em que me encontrei ao despertar fez-me repensar tal conceito.

Fosse por uma brincadeira de mau gosto do destino ou somente por uma aplicação convicta da Lei de Murphy, percebi que, quando acordei, estava sendo usado como travesseiro. A cabeça de Dominique repousava tranquilamente em meu ombro direito, denunciando que a loira dormia pesado. Sendo assim, não ousei me mover – francamente, nem respirei direito – para não acorda-la. Não que se tratasse de compaixão ou até respeito pelo seu sono, mas sim para evitar uma situação embaraçosa. Ainda que estivesse determinado a não me mexer e deixa-la dormir, a tarefa tornava-se pateticamente difícil a medida que sentia o aroma adocicado de DiNozzo. Por Deus, ela realmente tinha que usar aquele perfume? Não bastava estar um tanto anestesiado pelo sono, a maldita insistia em piorar a minha situação. Típico. Com muito esforço, permaneci estático – e até um pouco tenso – e convenci a mim mesmo de que essa será a última vez que me encontrarei neste estado com DiNozzo.

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Fiquei tão contente por estar pisando outra vez em solo americano que quase comecei a cantar o hino. Peguei minha mala, caminhando logo atrás de Dominique. Não precisei atravessar o aeroporto todo para logo avistar Mike escorado em uma parede, me esperando. Estava acompanhado de Megan e Miranda, que certamente estavam à espera da amiga, aflitas. Assim que perceberam a nossa presença, as garotas correram em direção à loira, evolvendo-a em um forte abraço. Michael, enquanto isso, abriu um sorriso, aguardando que eu me aproximasse. Também recebeu-me calorosamente, tomando minha mala para si à medida que eu o seguia até onde havia estacionado o carro. Antes disso, é claro, cumprimentei as meninas. Como já era de se esperar, dei as costas sem nem mesmo me dar o trabalho de despedir-me de DiNozzo. Em todo caso, entrei no automóvel e nos dirigimos até a minha casa, conversando sobre assuntos diversos em meio a risadas descontraídas. Senti-me melhor ainda quando abri a porta do apartamento, admirando o ambiente tão familiar. Atirei-me no sofá, deitando no macio estofado e ligando a televisão, vagueando entre os inúmeros canais. Mike tomou conta da poltrona de couro ao meu lado, alcançando uma garrafa de cerveja para mim.

— E aí, cara – começou, depois de tomar um longo gole de sua própria bebida. – Quando vai me contar o que rolou na Inglaterra?

— Como assim? – Indaguei, um tanto surpreso com a pergunta. – Não aconteceu nada, oras. Sabe como é, não éramos exatamente um casal de verdade.

— Está me dizendo que vocês estavam sozinhos, em outro continente...

— Na casa da avó dela, deve-se acrescentar – Interrompi, ciente do que estava por vir.

— Detalhe – respondeu antes de continuar sua sentença – ... e não fizeram absolutamente nada? – Enfatizou a última palavra, indignado, levando-me a revirar os olhos, péssimo hábito de Dominique que havia me contagiado. – Não é possível. Será que Jude Van der Bilt está perdendo seus dons da sedução, senhoras e senhores? – Perguntou como se houvesse uma plateia nos ouvindo, ansiosa pela resposta.

Em contrapartida, gargalhei descaradamente. Afinal, a pergunta era tão ridícula que nem precisava ser respondida. Porém, a julgar pela expressão em seu rosto, apenas a risada não pareceu convencer Van der Woodsen.

— Pelo amor de Deus, Mike. Se eu quisesse, a DiNozzo já estaria comendo na palma da minha mão – indiquei-a com um dedo, apenas para reforçar minha afirmação. Por outro lado, Michael riu com escárnio.

— Tem certeza de que estamos falando da mesma pessoa? Por que, afirmando desse jeito, dá a entender que você não a conhece – disse, em meio a risadas. – Com outras garotas pode até ser, mas a Dominique te odeia, cara. Sem chances dela morrer de amores por você, supere isso – Levantei-me em um pulo, parando em frente a ele. Estendi a minha mão, com um sorriso perverso no rosto.

— Vamos apostar, então. Dominique DiNozzo se apaixonará por mim, e não há nada que ela possa fazer para evitar— Disse com convicção. Mike também sorriu, apertando minha mão para selar nossa disputa.

Perdão pela metáfora ruim, mas não há nenhuma que se encaixe melhor no momento do que esta: acabara de matar dois coelhos com um tiro só. De um lado, provaria a Michael que ainda consigo a garota que quiser – por favor, olhe só para mim! De outro, finalmente colocaria a célebre vingança em ação: destruiria cada muralha que impede o alcance ao coração de Dominique, atingindo seu ponto mais fraco – aquele que ela não sabe como controlar.

POV Dominique

Já fazia dois dias que eu tinha voltado de Liverpool. As últimas quarenta e oito horas haviam sido, sem exagero, fantásticas. Afinal, não vira nem sequer a sombra de Van der Bilt. Apesar de me parecer uma situação maravilhosamente estranha e incomum, decidi aproveitar cada instante sem aquela peste negra em forma de gente por perto. Digo, uma hora ou outra ele ressurgiria, dando um fim à minha paz e tranquilidade. Afinal, essa é a especialidade de Jude, não é? Transformar a minha vida em um verdadeiro inferno.

Em contrapartida, nesse meio tempo, pude passar um bom tempo com meu irmão. Para incrementar a singularidade, Tony não precisou ficar até tarde na agência, o que permitiu que assistíssemos a uma maratona de Star Wars, como antigamente. Apesar de não admitir isso regularmente, eu sinto falta da época que éramos mais próximos. Já faz tempo, é claro, mas não deixo de ter saudade de nossas intermináveis horas na frente da televisão, assistindo inúmeros filmes, dos clássicos até os lançamentos mais recentes. Além disso, também fiquei o máximo que pude com Meg e Miranda. A saudade que senti delas foi tamanha que nem preciso mencionar o quanto fiquei feliz por revê-las. É claro que James também deu as caras, afinal, o namoro dele e de Megan já estava sério. Enquanto isso, Mi estava, digamos, enrolada com um conhecido de infância, mas isso não vem ao caso agora.

De qualquer modo, atravessava o centro de New York até o famigerado Brew, aonde encontraria as garotas. Para você ter uma ideia, até do trânsito daqui eu sentira falta. A sinfonia de buzinas unida aos gentis dedos do meio para fora da janela dos carros logo no início do dia formavam uma atmosfera completamente familiar. Afinal, nova iorquino é assim mesmo, nervoso e assustado. Milagrosamente, consegui estacionar o carro perto do estabelecimento, do outro lado da rua. Meg e Miranda já ocupavam um sofá no canto do ambiente, e parei no final da fila para pedir o meu café antes de ir ao encontro das duas.

Não muito depois, terminava de prender a trança lateral que havia feito em meu cabelo quando senti lábios tocando a parte exposta de meu pescoço. Virei-me rapidamente, alarmada, já segurando o braço da pessoa em questão e desferindo-lhe uma cotovelada certeira no peito.

— Calma, Evil Queen— disse Van der Bilt, com a voz afetada pela dor. – Sou eu.

— O que há de errado com você, idiota? – Perguntei, abismada e com os olhos arregalados. – Nunca, repito, nunca mais faça isso!

— Relaxa, Domi, eu só...

— "Domi"? – Interrompi, possessa. – Quem te deu a liberdade?

— Poupe-me dessa, DiNozzo. Acredito que já temos intimidade o suficiente para nos chamarmos pelo apelido – ele piscou para mim, deixando-me vermelha. Sem querer perder mais tempo discutindo com ele, apenas fuzilei-o com os olhos e pedi meu café, em seguida caminhando até minhas amigas. Antes, escutei Mike zombar de Van der Bilt, comentando algo que não consegui entender.

Quando alcancei-as, fui bombardeada com perguntas. Não esperava nada diferente, é claro, afinal elas acabaram de presenciar uma cena surpreendentemente indesejada e estavam boquiabertas, não muito diferente de mim. Permanecemos em estado de choque por mais alguns minutos, até entrarmos em algum assunto aleatório. Apesar disso, eu só conseguia lamentar pelo meu breve período de equilíbrio e harmonia ter chegado ao fim. Não ter sinal algum de que Jude continuava vivo foi o intervalo de tempo mais prazeroso que já vivenciei, e foi finalizado da pior maneira possível: com Van der Bilt deixando-me arrepiada.

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O resto do dia correu tranquilamente, com Jude fora de vista novamente. Nada de mensagens de texto e nem encontros constrangedores surpresa, graças a Deus. Apesar de ainda estar relativamente abalada pelo ocorrido daquela mesma manhã, coloquei tal acontecimento de lado e foquei no que deveria fazer no resto do dia. Combinara com Tony que passaria na agência onde trabalha no final da tarde, para alguns procedimentos padrão que ele não pode me explicar direito por telefone. Passei a tarde com Megan, em sua casa. Para ser sincera, apenas matamos tempo. Tudo estava pateticamente calmo até, precisamente, cinco horas e quarenta e dois minutos da tarde.

O celular de Meg começou a vibrar de repente enquanto a mesma falava, emitindo uma música dos Beatles. Alcançou o aparelho antes que o barulho cessasse, atendendo prontamente. Contudo, a medida que a pessoa falava do outro lado da linha, seu rosto se configurava em uma careta cada vez mais preocupada. Assim que encerrou a chamada, tinha o olhar preso em algum ponto do horizonte, e o rosto demasiadamente pálido. Quando perguntei-lhe o que tinha acontecido, demorou um pouco para me responder.

— Jude sofreu um acidente – disse de uma vez, levantando-se e pegando a chave do carro na cômoda.

— Para onde você vai? – Questionei, torcendo para não ser o que eu imaginava.

Nós vamos até o hospital onde ele está internado, D. E não faça essa cara – Advertiu-me quando franzi o cenho, prestes a protestar. Sabendo que de nada adiantaria, apanhei meu casaco e segui-a até a garagem.

Não tardou para chegarmos ao hospital, uma vez que Megan ignorou o limite de velocidade e decidiu pisar fundo no acelerador, o que de nada adiantou. Afinal, tivemos que aguardar bons minutos na sala de espera, até que um médico baixinho se aproximasse. Ele disse que Van der Bilt não se encontrava em um estado tão ruim, apesar da pancada na cabeça, e que ainda não tinha certeza se haveria alguma sequela, o que deixou Mike e Meg ainda mais aflitos. O sujeito com um estetoscópio pendurado no pescoço alertou que Jude já estava em um quarto, disponível para visitas. Sem pensar duas vezes, Michael caminhou rapidamente até o quarto indicado, com o médico atrás de si. Logo que Megan fez menção de seguir o mesmo caminho, segurei seu braço, impedindo-a:

— Meg, eu preciso ir. Marquei de encontrar o Tony em dez minutos – Megan suspirou com a minha fala.

— Domi, eu sei que você e o Jude não se dão muito bem, mas espera uns minutinhos, ok? Eu realmente quero vê-lo – Livrou-se da minha mão, já caminhando até o quarto. – Você vem? – Perguntou, e fiz uma careta como resposta. – Anda logo, Dominique. Por mim...

Após um pouco de teimosia, acabei cedendo e, quando dei por mim, já batíamos na porta. Quando entramos, o médico discursava sobre a condição de Jude, o qual estava acordado e com a cabeça enfaixada. Prestava extrema atenção no que o especialista dizia, esperando o final de sua fala para voltar-se ao amigo.

— Claro, eu me lembro sim. Você é o Mike, certo? – Olhou para onde estávamos assim que notou nossa presença, franzindo a testa levemente e apontando para Meg, que sorriu fraquinho. – Er... – Hesitou. – Megan, não é? – A morena confirmou com a cabeça, pouco antes de Van der Bilt fixar suas íris claras em mim, ainda com o cenho franzido.

Por um instante, tudo congelou. Foi como se o Universo me esbofeteasse quando Jude pronunciou aquelas três fatídicas palavras, com seus olhos presos nos meus:

— Quem é você?


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Notas finais do capítulo

Amanhã sai o próximo!



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