Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 12
Capítulo XII




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POV Dominique

Acordei com o que julgava ser a claridade incidindo diretamente em meus olhos. Por quase dois minutos inteiros, fiquei deitada cochilando. Os olhos fechados, sem saber por que me sentia tão cansada e, simultaneamente, tão bem. Um lençol macio e perfumado me cobria do busto para baixo. Fiquei deitada lá entre o sono e a vigília, tentando lembrar de como tinha chegado em casa na noite passada.

Assustadoramente, senti uma mão em meus cabelos, alisando-os em uma forma de carinho. Um ruído ao longe fez com que eu abrisse meus olhos de uma vez por todas. Ao contrário do que esperava, não dei de cara com meu travesseiro, mas sim com um peitoral nu, onde minha cabeça estava apoiada. Esforçando-me para forçar meu cérebro – ainda anestesiado pelo sono – a trabalhar, olhei para cima, tentando descobrir quem usava como travesseiro.

— Bom dia, love— Disse uma voz sonolenta, o que serviu para confirmar que eu definitivamente não estava sonhando.

Sentei na cama, observando o quarto onde estava. Não reconhecia, mas pude identificar minhas roupas jogadas pelo chão. Foi assim que todas as lembranças da noite passada se apoderaram da minha mente. Lembrava de cada toque, cada beijo nos mínimos detalhes. Fiquei completamente arrepiada. Quando o pequeno filme que invadiu meus pensamentos terminou, toquei meus lábios com a ponta dos dedos, conseguindo dizer apenas uma frase coerente:

— Ai meu Deus – Falei baixinho, pausadamente.

Fixei meus olhos em Jude. Também estava sentado, bem de frente para mim. Os cabelos desalinhados deixavam ainda mais difícil pensar em outra coisa que não fosse a noite anterior. Ele coçou a nuca, um tanto constrangido. Espera, Jude Van der Bilt encabulado por transar com alguém? Sério mesmo? Ri com nervosismo. Levantei depressa, catando minhas roupas e vestindo-as no mesmo momento. Ignorei os olhares nada discretos e nem sequer o encarei quando falou comigo.

— O que está fazendo?

— O que você acha que estou fazendo? Estou indo embora.

— Espera – Ele se levantou, e usei todo o meu autocontrole para não vislumbra-lo. Parou na minha frente e fechei os olhos com força, concentrando-me no fecho do sutiã que insistia em não prender. – Não quer comer alguma coisa antes de ir?

— Não, não quero. Aliás, pode fazer o favor de colocar alguma roupa, pelo amor de Deus? – Acredito que minhas bochechas ficavam mais vermelhas a medida que pronunciava uma nova palavra. Praguejei, amaldiçoando o sutiã que teimava em ficar aberto. Jude riu do meu desespero, envolvendo-me em seus braços e encaixando o fecho da peça íntima.

— Para que quer que eu me vista se já viu tudo por aqui? – Disse, sorrindo de canto. Arregalei os olhos, dando um passo para trás e colocando a blusa.

— Por favor – Falei, com firmeza. Jude hesitou um pouco, mas finalmente colocou uma boxer.

Peguei o resto das minhas coisas, respirando fundo e descendo as escadas. Pretendia chegar até a porta antes de Van der Bilt, mas ele atravessou na minha frente, se apoiando no batente de uma forma que impedia a minha passagem.

— Escuta, o que acha de nós... – Não permiti que terminasse sua sentença:

— Não – Interrompi. – Apenas não – Suspirei, abrindo espaço para minha passagem, saindo sem dizer mais nada.

POV Jude

Um perfume delicioso invadiu minhas narinas assim que acordei. Não me mexi, apenas respirei fundo, sentindo o cheiro sutil de flor de cerejeira. De repente, percebi um peso extra em meu peito, fazendo com que eu abrisse os olhos devagar, sonolento. Pisquei algumas vezes para entender o que estava acontecendo. Cabelos loiros estavam esparramados de modo desigual, uma parte no travesseiro e a outra no meu tronco. Tirando a franja do rosto, pude ver que a garota ainda dormia, além de levar um susto tão grande que meu coração quase saiu pela boca.

Dominique dormia tranquilamente, apoiada em mim. Uma de suas mãos repousava suavemente, entrelaçada à minha. Sorrindo com a observação, movi meu braço que suportava o peso dela e a envolvi, encaixando-a melhor em mim. Feito isso, parei para analisar a situação. Todos os acontecimentos da noite anterior estavam tão claros na minha mente que por pouco não despertaram meu amiguinho. Os detalhes estavam tão vívidos que até pareciam surreais. Afinal, dessa vez Dominique e eu realmente tínhamos dormido juntos. Tentei aproveitar aquele momento de paz e tranquilidade ao máximo, beijando-lhe a testa e acariciando os cabelos. No final, DiNozzo com certeza gritaria, reclamaria e espernearia de qualquer maneira.

Não tardou para que ela finalmente despertasse. Prendi a respiração, já esperando o escândalo. No entanto, parecia que ela tinha ficado muda. Aparentemente ainda não tinha compreendido o que havia se passado naquele quarto. Só foi arregalar os olhos quase um minuto depois, quando se sentou na cama e murmurou um “Ai meu Deus” meio desesperado. Agora ela me encarava, e não pude deixar de ficar encabulado. Levantou-se e foi atrás de suas roupas. Meus olhos ficaram vidrados em seu corpo até que começasse a se vestir, e um resquício de desapontamento me invadiu. Já a imaginava com uma camiseta minha. Caminhei devagar até ela, em uma tentativa de convencê-la a ficar mais um pouco. Era engraçada a maneira como tentava desesperadamente fechar o sutiã e manter a calma ao mesmo tempo. Ajudei-a nessa tarefa, lembrando-me de quando abri a mesma peça, arremessando para longe. De qualquer forma, nada do que eu fizesse ou dissesse persuadiria Dominique a ficar, mas fiz o possível. Assim que começou a marchar até a porta, atravessei na sua frente e impedi sua passagem. Resolvi aproveitar minha última chance, mas a maldita nem me deixou concluir a frase.

— Não – disse, provando que é muito mais teimosa do que eu achava. – Apenas não – E então saiu do apartamento, me deixando plantado.

Apesar de todo esse drama, conheço bem Dominique. Ela não é tão durona quanto a imagem que transmite. Sei perfeitamente que só faz essas ceninhas para mostrar que não quer nada disso. Mesmo assim, não me engano. Aposto todas as minhas fichas que apenas faz isso por medo. Tem pavor de se apaixonar e acabar machucada. Além disso, convenhamos, não é muito difícil morrer de amores por mim. Mas escrevam o que eu digo, cedo ou tarde Dominique DiNozzo cederá.

Tentando deixar o pensamento de lado, concentrei-me na partida de Lacrosse que teria no final do dia. Seria a abertura do campeonato entre Universidades, e todos contavam com o nosso time. Decidi passar no campo ainda de manhã, assim limparia meus pensamentos e me focaria apenas no jogo. Tomei apenas uma xícara de café e, em vinte minutos, já estava a caminho do campo. Tinha tomado tantos anti-inflamatórios que nem sentia mais meu tornozelo lesionado. Havia esquecido completamente dele, para falar a verdade. De qualquer modo, vesti o uniforme de treino e peguei o taco, logo atirando bolas na baliza. Não sei dizer exatamente quanto tempo fiquei por lá, uma vez que simplesmente não vi o dia passar. As últimas horas assistindo Netflix apenas evaporaram. Cochilei algumas vezes no sofá, não suportaria voltar para cama e deixar que aquele aroma de cerejeira me consumisse, junto das lembranças.

######

Acordei com um susto quando escutei o toque de meu celular próximo ao meu ouvido. Olhei no relógio, entendendo perfeitamente o motivo de Mike estar me ligando.

Diga-me que já está saindo de casa— Sua voz, no outro lado da linha, soava rabugenta.

— Uh, claro – Um bocejo indesejado denunciou minha mentira.

O treinador está quase tendo uma parada cardíaca, dude. Se não quiser ir a um enterro em breve, venha logo para cá.

Assenti e desliguei o telefone, apressando-me para chegar rápido e salvar meu treinador da morte certa. Cheguei em poucos minutos, agradecendo a tudo o que é sagrado pelo pouco movimento no trânsito. Obviamente, o técnico gritou seus pulmões para fora, assoprando aquele apito na minha cara inúmeras vezes. Só se acalmou quando o árbitro nos convidou para entrar no campo. Em seguida, demos início à partida.

De um modo geral, começamos bem. Nos minutos iniciais já conseguimos marcar pontos e, até o momento, nenhuma advertência. Tudo estava ocorrendo absurdamente bem. Porém, como o Universo não deixa nada passar em branco, a situação desandou no intervalo de dez minutos, entre o segundo e o terceiro período. Mais precisamente, no momento em que me preparava para voltar ao campo. Analisando a multidão enérgica que ocupava as arquibancadas, encontrei Megan e acenei. Portanto, havia me esquecido de que, onde estava Meg, estavam também Dominique e Miranda. Dominique. Nossos olhares se cruzaram por cerca de dois segundos, até que a loira desviasse para dar atenção a um comentário das amigas.

Basicamente, o resto do jogo foi um desastre. Não conseguia me concentrar sabendo que ela estava em algum canto, certamente me seguindo com os olhos. Com base nisso, é fácil concluir que o resultado da partida não foi dos melhores. Perdemos por dois pontos.

Logo que a disputa chegou ao final, a torcida invadiu o campo. Torcedores do time adversário ao meu entraram comemorando e parabenizando os jogadores vencedores, enquanto os que torciam para o time vencido apenas tentavam nos animar. Apesar daquele mar de cabeças, reconheci aqueles cabelos loiros no mesmo instante. Não sairia dali sem uma bela e convincente justificativa do porquê minha ex-porém-atual-falsa-namorada me deixou plantado. Tenho uma reputação para zelar, afinal. Depois do fracasso do jogo desta noite, meu orgulho estava ainda mais ferido do que quando DiNozzo bateu a porta de meu apartamento.

— Dominique! – Chamei, gritando. – Ei, DiNozzo!

Para alimentar ainda mais o meu furor, fui completamente ignorado. A loira me encarou por breves segundos, antes de respirar fundo e caminhar na direção oposta de onde eu estava. A cada passo que eu dava ao tentar atravessar a multidão, uma parcela de ódio se apossava de mim gradativamente. Assim que alcancei o espaço aberto, uma mão pousou suavemente em meu ombro.

— Ela está confusa – Não me virei, apenas escutei Megan atentamente. – Precisa de um tempo para pensar.

Como já era de se esperar, não consegui falar nada, só deixei a fúria me consumir. Fui para casa sem nem sequer me despedir, cuspindo fogo. Sustentando a bagunça presente em meu apartamento, joguei a mochila que carregava em qualquer canto. Entrei direto para debaixo do chuveiro e, assim que terminei o banho, percebi que minhas roupas ainda estavam esparramadas pelo quarto. Tratei de catá-las, murmurando e amaldiçoando até a terceira geração de Dominique.

Sempre acreditei fielmente na teoria de que não há nada ruim que não possa piorar e, infelizmente, ninguém tinha me oferecido nenhum tipo de isenção permanente dessa lei da natureza. Passei a ter argumentos eloquentes o suficiente para provar tal teoria no momento que tirei uma camiseta da cômoda ao lado da cama. Sob a peça, encontrava-se uma pequena pulseira prateada, repleta de diversos pingentes. Peguei a joia, analisando mais minuciosamente. Tive a infelicidade de me deparar com um berloque que trazia um pequeno “D” pendurado.

POV Dominique

Demorou cerca de dez minutos para que Megan e Miranda assimilassem a história e parassem de dizer "Ai meu Deus!". Fizeram-me repetir algumas vezes, mas me neguei a apontar os detalhes. Não queria mais sequer pensar naquilo. Realmente não fazia ideia do porquê diabos aquilo tinha acontecido. Além disso, somente olhar para Van der Bilt seria uma tarefa extremamente difícil nos próximos dias.

Sei que foi errado da minha parte sair daquele jeito de sua casa. Bancara a covarde, mas meu orgulho não me permitiria ficar nem mais um segundo por lá. Entendo que Jude tenha todo o direito de querer me matar e, mesmo que me doa, admito que ele tem razão desta vez. Apesar de tudo, temos um problema relativamente maior: a maneira como estava tratando-o com certeza tornaria nossa convivência na Inglaterra praticamente impossível. O que eu poderia fazer, afinal? Não voltaria atrás em hipótese alguma. A maneira como deveria reagir a tudo aquilo ainda era, para mim, uma incógnita longe de ser encontrada.

— Tudo bem, agora vamos à pergunta que não quer calar: você gostou?
Fiquei abismada. Paralisada. Que tipo de pergunta era aquela, por Deus? Sabem o que é pior? Eu não sei a resposta. Há um nó tão grande em meu cérebro que não consigo chegar nem perto de uma conclusão.

— É, definitivamente adorou – Meg respondeu a própria pergunta depois de eu ficar uns bons segundos pensando sem chegar a nenhum resultado.

— Megan! – Adverti.

Mesmo estabelecendo um debate e apontando todos os meus argumentos para provar que eu não tinha adorado – apesar de não saber se era a verdade –, não consegui convence-la. Se bem que não sabia quem estava tentando persuadir, Megan ou eu mesma. Aliás, ficar pensando naquela noite não seria nada saudável.

Como se já não bastasse, ainda insistiram para que fôssemos assistir ao jogo de Lacrosse. Duas contra uma era muita injustiça. Acabamos por chegar um pouco atrasadas, e não conseguimos assistir muita coisa devido aos lugares terríveis na arquibancadas.

Portanto, foi no intervalo longo que as coisas começaram a dar muito errado. Além de trocar um olhar indesejado com Van der Bilt, nosso time foi massacrado. Perdemos feio, na minha competitiva e perfeccionista concepção. Para piorar, não apenas a partida foi um desastre, como minha performance após ela. Assim que escutei a voz de Jude me chamando, faltou coragem para encara-lo. Afinal, sabia que, se o fizesse, reviveria cada detalhe da noite passada na minha mente. Sendo assim, apenas me virei para o lado oposto, caminhando a passos firmes e fechando os olhos com força. Covarde, minha consciência me julgava. Fazendo o possível para não ferir ainda mais o meu orgulho, não hesitei nenhuma vez. Afastei-me cada vez mais decidida a ignora-lo, sentindo seus olhos queimando de raiva nas minhas costas.


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