Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 11
Capítulo XI




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POV Dominique

Mal pude dormir no dia seguinte. Logo cedo, Tony me acordou para conversarmos antes que fosse trabalhar. Perguntou o porquê de toda aquela farsa, e contei a ele tudo. Todos os mínimos detalhes. Até riu de algumas partes. Não me deu um sermão sobre o que era certo e errado, afinal, não estava ali para isso. Apenas me alertou sobre o quanto nosso pai estava chateado, e também que eu nunca conseguiria esconder nada do Agente Muito Especial Tony DiNozzo. Fora isso, recebi uma ligação assim que meu irmão saiu. Meu querido genitor solicitou, com breves palavras, que o encontrasse em seu escritório improvisado ainda antes do almoço. Pelo que pude entender, não era facultativo. Faltei o último período de aula, afim de não me atrasar para o encontro.

O trânsito, como sempre, não colaborou. Avançava a passos de tartaruga, andando no máximo três quadras a cada cinco minutos. Viajava tão lentamente que, na maior parte do tempo, o velocímetro não chegava nem a se mexer. Forçando a paciência que definitivamente não tenho, achei mais prudente avisar meu pai que me atrasaria, e ele sugeriu que o encontrasse em um restaurante de comida japonesa mais próximo de onde eu estava. Assenti prontamente, virando na próxima esquina. Poucas quadras depois, estacionei próximo ao restaurante. Localizei meu pai assim que entrei no estabelecimento, sentado em uma mesa ao lado da esteira onde passavam infinitas variedades de sushis. Para a minha surpresa, ele não estava sozinho. Respirei fundo e soltei o ar devagar, aproximando-me com a melhor compostura possível. Ponderei em qual lado da mesa seria menos perturbador para se sentar, e acabei ajeitando-me ao lado de Jude.

— Perdão pelo atraso – Saudei-os, áspera. – Se me permite, pai, o que ele faz aqui?

— O assunto que preciso tratar tem respeito aos dois – Respondeu, tomando um gole de seu martíni. – E é bom que não protestem.

Controlei-me para não gargalhar. Ele queria nos dar uma lição de moral, é isso mesmo? Justo ele, a pessoa mais mau caráter que conheço? De qualquer forma, ergui as sobrancelhas, permitindo que continuasse. Enquanto isso, Jude permaneceu quieto. Parecia absurdamente entretido com seus hashis. Meu pai não prosseguiu com seu discurso, como eu esperava. Chamou um garçom e fez alguns pedidos. Aproveitei a deixa para trocar algumas palavras com Van der Bilt, que parecia desconcertado por causa dos palitinhos.

— Qual é o problema? – Indiquei os talheres em suas mãos com os olhos.

— Eu não sei usar essas merdinhas – Ri fraco de sua aflição.

Quase que por impulso, segurei sua mão, arrumando os hashis em suas devidas posições. Uma onda de choque percorreu minha espinha quando minha pele entrou em contato com a dele, mas ignorei os arrepios e peguei um prato de Uramaki Filadélfia da esteira.

— Vamos lá, tente – Encorajei. Com muita dificuldade, pegou o sushi, derrubando-o algumas vezes, é claro. No entanto, a desgraça aconteceu mesmo quando ele inventou de molhar o Uramaki no shoyu. Jude derrubou o sushi no molho, espirrando para todo lado e sujando-nos com o líquido. Olhou para mim, assustado. Por mais pasma que estivesse, comecei a rir descontroladamente, sendo acompanhada pelo meu ex-falso-namorado. As outras mesas nos encaravam com olhares repressivos, e até meu pai nos olhava com censura. Retomamos a postura, dando espaço para que meu pai dissesse o que pretendia. Pigarreando, tomou a palavra.

— Como eu dizia, antes de descobrir sobre toda aquela grande mentira que era o relacionamento de vocês, contei à sua avó, Dominique, que você estava namorando – Ele fez uma pausa, ingerindo um gole de sua bebida. – Também prometi a ela que os dois iriam visitá-la no verão. As passagens estão compradas há quase um mês. Vocês vão no final da semana.

— O quê?! – Exclamei, um pouco mais alto do que devia. – Você não pode nos obrigar a ir!

— Não só posso como farei. Além disso, conversei com a sua família, Jude, e eles estão completamente de acordo – Sênior colocou duas passagens para Liverpool na mesa. – Não está aberto para negociações.

Estava estupefata demais para me queixar, e sabia que de nada adiantaria. Olhei para Jude, esperando sua reação. Eu estava prestes a renunciar minha liberdade e ceder a meus impulsos homicidas, enquanto Van der Bilt apenas encarava o potinho de shoyu, quieto. Não reclamou, protestou e nem fez cara feia. Pelo jeito, apenas digeria toda a informação, tentando aceitar que não havia nada que pudesse fazer.

— Tudo bem, senhor – Suspirou Jude, pegando uma das passagens.

— Excelente – Sênior sorriu, satisfeito. Pegou a outra passagem e deixou-a exatamente na minha frente, onde não estava sujo com shoyu. – Seu tio Clive os buscará no aeroporto. Agora, se me derem licença, tenho mais assuntos para resolver.

Meu pai se levantou, reclamando de dor nas costas e deixando uma nota de cem dólares na mesa. Observei-o se afastar, amaldiçoando-o mentalmente. Frustrada, aproveitei que estava em um restaurante bom para comer alguma coisa, esperando que a irritação se esvaísse. Jude decidiu me fazer companhia, determinado a aprender a usar hashis, sem sucesso. Tivemos que pedir aqueles elásticos para facilitar o manuseamento. Depois de um longo silêncio e muito esforço da parte de Van der Bilt, ele finalmente largou os palitinhos e dirigiu sua palavra a mim.

— Então, algo que eu precise saber sobre sua avó? Ou seu tio, tanto faz.

— Ambos são por parte de mãe. Não sabia que meu pai mantinha contato com eles. Bom, se bem que eles sempre adoraram meu pai, então... – Pigarreei, ciente de que já havia falado demais. – Eles são legais.

Jude murmurou um simples "Hum", deixando-me um tanto desconfortável. Dei de ombros, associando isso a possível decepção de ser vencido por talheres japoneses. Depois de terminar um sashimi, levantei-me. O dinheiro deixado por meu pai bastava para pagar a conta, então nem me preocupei com isso. Assim que ameacei me afastar, fui chamada:

— Dominique? – Jude olhava em meus olhos. Pressionou um lábio contra o outro, como se ponderasse se devia contar-me o que queria ou não.

— Sim? – Incentivei-o a continuar.

— Nada, deixa para lá – Ele disse, também se pondo de pé. Balancei os ombros, suspirando e me despedindo com poucas palavras.

Saindo do restaurante, enfrentei mais uma seção torturante de tráfego praticamente parado. Utilizei esse momento de inércia para refletir sobre minha ida para Liverpool, claro que com uma sinfonia de buzinas e dedos do meio graciosamente mostrados para fora das janelas dos veículos. De qualquer forma, faz muito tempo que não vejo minha avó. Fui para lá uma vez, acho que no dia de Ação de Graças, quando tinha uns quinze anos. Não entendo o porquê de estender a mentira, que já tinha sido descoberta, até o outro lado do oceano. Mesmo assim, a vida nos ensina que o pensamento humano quase nunca caminha lado a lado com a lógica e, em geral, é contraproducente mencionar o assunto. Confrontar meu pai nessa situação significaria mantê-lo perto por mais tempo, e realmente não queria isso. Portanto, tratei de começar a me acostumar com a ideia, ou pelo menos tentar.

Passados longos quarenta minutos de congestionamento, consegui chegar até a casa de Miranda sã e salva. Seus pais estavam fazendo um cruzeiro de férias, por isso não compareceram ao casamento. Ela abriu a porta quase que no mesmo instante que toquei a campainha, e não pude deixar de imaginá-la escondida atrás das cortinas, atenta para quem se aproximava. Miranda ainda usava pijamas, e atendeu-me ainda bocejando. Como justificativa, disse que o voo havia deixado-a muito cansada, além do fuso horário que a confundia.

— Vamos esperar a Meg aparecer. Preciso contar uma coisa para vocês – Falei, deixando Mi extremamente curiosa. Pouco tempo depois, Megan bateu na porta, que foi rapidamente atendida.

Sentamo-nos no sofá e, assim, expliquei tudo sobre a viagem. Comentei sobre o quanto estava furiosa por causa disso e sobre a reação de Van der Bilt. Como sempre, elas pediram até os mínimos detalhes, e dei o que queriam. Estranhamente, Miranda parecia decepcionada. Já Meg tinha os olhos arregalados e xingava meu pai de todos os nomes imagináveis, arrancando-me gargalhadas. De repente, Mi levantou-se e pegou alguns papeis que estavam na enorme estante de madeira. Com os olhos baixos, voltou a se ajeitar no sofá.

— Que dia vocês voltam, Domi? – Perguntou, um tanto desapontada.

— Domingo, se eu não me engano – Satisfeita com a resposta, entregou um papel para mim e outro para Meg. Lendo por cima, identifiquei como uma passagem para Florença. Conferi a data, e condizia com minha volta da Inglaterra. Encarei-a, estupefata.

— Preciso voltar para lá, resolver as coisas do apartamento que alugava. Como tenho mais algumas semanas até o contrato expirar, pensei em passarmos um tempo por lá. Bom, mas como bate com a data que você volta para cá, podemos mudar o dia e tal, se bem que ficaria um pouco difícil e...

— Não precisa mudar a data, Mi. Façamos o seguinte: eu pego um avião de Liverpool direto para a Itália, e nos encontramos no seu apartamento. Não tem mais ninguém pra quem você queira dar a passagem? – Interrompi, e ela sorriu largo.

— Eu vou pensar em alguém...

O resto da tarde foi desperdiçado em doces, filmes e alguns vídeo games. Praticamente revivemos nossa adolescência em quatro ou cinco horas. Miranda nos contou sobre seus rolos com italianos, além de praticamente explodir de felicidade ao descobrir que Megan era oficialmente sua cunhada. Fizemos inúmeros planos para a nossa breve estadia em Florença, além de pegar um antigo álbum de fotos e quase entrar em uma crise existencial causada pela nostalgia.

Antes de partirmos para o segundo pote de sorvete, Michael ligou para Meg, convidando-nos para ir a um pub que abrira recentemente na cidade, como uma espécie de festa de boas vindas para Miranda. Mal trocamos de roupa e fomos ao lugar determinado, saindo um pouco adiantadas, antigo costume de minha prima.

A boate era bem agitada, um pouco afastada do centro da cidade. Confesso que não gosto muito de lugares como esse. São abafados demais, fora que as luzes piscando me deixam um pouco tonta. Apesar disso, era um bom local para ver que existiam coisas piores do que as que acontecem comigo. Adentrando o recinto, aquele barulho realmente estúpido e sem sentido chegou ao alcance de meus ouvidos em um volume ameaçador à própria vida. Não bebi muito e estava demasiadamente cansada para dançar, mesmo que as meninas me arrastassem para uma música ou outra. Em suma, fiquei a maior parte do tempo no balcão do bar, ignorando cantadas e não sendo nem um pouco agradável.

Enquanto estava sentada, tirei alguns minutos para observar Jude. Nem ao menos nos cumprimentamos, cada um ficou no seu canto. Pude vê-lo próximo a algumas garotas, mas não se amassando pelos cantos, como seria de se esperar. Finalmente desviando o olhar, voltei-me para o barman, pedindo uma água sem gás. Depois dele me entregar com mais gentileza do que devia, virei novamente para observar a pista de dança, vasculhando-a com os olhos. Todavia, não o encontrei, e quando fui descer do banco, senti um corpo se chocar contra o meu, em uma velocidade superior a que devia, seguido de uma reclamação de dor.

— Sai daqui, DiNozzo! – Resmungou, por uma incrível coincidência do destino, Jude. Demorei um pouco para entender como ele havia se machucado. Olhando para os lados, percebi que um cara alguns centímetros maior do que ele vinha em sua direção, com cara de poucos amigos. Julgando pelo sangue que escorria do nariz do Desconhecido, concluí que Van der Bilt havia se metido em uma briga. Tudo aconteceu rápido demais, e quando percebi o punho fechado que estava prestes a fazer um belo estrago no rosto de Jude, me enfiei entre os dois. Está certo que eu adoro ver o circo pegar fogo, mas aquilo já tinha me tirado do sério. Gostava mesmo de uma briga justa, e meu nem-tão-querido-ex-porém-atual mal conseguia parar de pé. Uma terceira pessoa apareceu, levando para longe aquele que insistia em bater em Van der Bilt. Entendo ele, é tentador. Mas não há lugar mais degradante para uma luta do que uma boate.

— O que diabos foi isso? – Perguntei, estupefata, enquanto ele fazia uma careta de dor.

— Não se meta, Dominique. É sério – Revirei os olhos com sua fala.

— E você não me venha com essa pose de macho alfa – Olhei para seu pé, região onde ele colocava as mãos, tentando inibir a dor. – Aparentemente seu tornozelo está torcido.

— Obrigado pelo diagnóstico. Agora, se me dá licença, vou tentar resolver isso – Tentou se afastar, mas arrastava uma perna e mal conseguia caminhar. Sem saber o porquê, meus pés criaram vida própria e me levaram até onde Jude tentava dar um passo sem fazer uma careta de dor. Ajudei-o a atravessar a multidão, levando inúmeras cotoveladas durante o percurso.

Quando finalmente saímos daquele País do Barulho e Dor de Cabeça Constante, Jude bufou, revelando-me que tinha vindo de carona com Mike. Disse-lhe que não tinha problema e que o levaria até um hospital para enfaixarem seu tornozelo. Mas, como vivemos em um mundo capitalista, faria isso por um preço justo, é claro. Fomos atendidos no Pronto Socorro por uma enfermeira já com um pouco de idade, que pediu que eu esperasse lá fora. Obedeci-a, saindo e mentalmente riscando a Boa Ação do Ano de minha lista de afazeres. Aproveitei para enviar uma mensagem para Megan e Miranda, explicando a situação. Pouco tempo depois, Jude apareceu na recepção, apoiado nos ombros da mesma senhora que tinha nos recebido.

— Prontinho, aqui está o seu namorado. Novo em folha! – Sorriu, entusiasmada. Parecia realmente gostar de seu trabalho.

— Ele não é meu... – Não me dei o trabalho de continuar, uma vez que a enfermeira já tratava outro paciente ao longe. Van der Bilt riu com deboche, mas apenas ignorei.

Em pouco tempo chegamos na casa dele. Auxiliei-o a subir os degraus que davam até a portaria do prédio, e já dava as costas antes mesmo que ele apertasse o botão do elevador. Assim que as portas de metal se abriram, ouvi meu nome:

— Dominique? – Virei-me, esperando que ele fosse agradecer por meu raríssimo gesto solidário. – Tem escadas lá em cima.

Encarei-o com as sobrancelhas levantadas, fazendo com que Jude apenas concordasse com a cabeça. Agora de mau grado, entrei no elevador. Quase o mandei para a puta que pariu, mas de nada adiantaria. Afinal, sua mãe não tinha nada com o assunto, fora que mais brigas não seriam nada vantajosas, considerando a viagem que teríamos que fazer. Instantes depois, Van der Bilt abriu a porta do apartamento e, se apoiando em mim, subiu a dúzia de degraus que o separavam do segundo andar de sua moradia. Larguei-o na porta do quarto, escorando-me no batente enquanto ele dava alguns passos sozinho, notavelmente mais confortável com o curativo que foi feito. Subitamente, virou-se para mim.

— Obrigado – Agradeceu, sério.

— Não se acostume – Respondi no mesmo tom. Antes de dar meia volta e ir para minha própria casa, a curiosidade me venceu. – Só uma coisinha, para tirar as dúvidas. Qual o motivo da briga no bar? – Ele caminhou (ou melhor, mancou) até onde eu estava, parando bem próximo e com a expressão ainda impassível.

— Você.

— Está me culpando, por acaso? – Franzi o cenho, mal acreditando no que ouvia.

— Não, idiota. Acertei aquele cara por que ele estava te comendo com os olhos.

Ainda confusa, deixei-me levar quando ele me puxou pela cintura. Estudou o meu rosto com a testa franzida antes de nos envolver em um beijo quente. Correspondi prontamente, tentando me convencer de que era o álcool me controlando, mesmo sabendo que estava perfeitamente sóbria. Cada milímetro do meu corpo se arrepiou quando ele abandonou minha boca e passou a depositar beijinhos e chupões no meu pescoço. Quando retornou para os meus lábios, teve a brilhante ideia de colocar a mão por dentro da minha blusa, levando-me a morder seu lábio inferior com uma força moderada. Caminhamos desajeitadamente para trás, enquanto Jude arrancava a minha camiseta e eu a dele. A última coisa de que me lembro é cair em um colchão macio, desabotoando as calças que Van der Bilt usava.


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