Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 13
Capítulo XIII




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POV Jude

Evitei Dominique o máximo que pude. Sinta-se livre para me chamar de infantil, mas o meu orgulho tinha sido estraçalhado. Somente pensar – quem diria olhar – na maldita já fazia o meu sangue ferver. Tudo o que eu sentia era raiva, na sua forma mais pura. Quero dizer, ninguém dispensa Jude Van der Bilt. No entanto, haverá uma vingança, isso eu posso garantir. Deixarei aquela barreira, a armadura que ela julga ser indestrutível, em frangalhos.

Apesar do discurso de ódio, uma parte de mim – bem pequena, devo salientar – insistia para que eu a procurasse. Fosse atrás dela, perdoasse-a e me concentrasse em manter nossa convivência na Inglaterra, no mínimo, civilizada. Contudo, é lógico que não sucumbi. Sou orgulhoso demais, teimoso demais e, é claro, meu nível de amor próprio não é baixo. Logo, preferi ficar quieto e não dirigir nem mesmo uma palavra sequer a Dominique, pelo menos até que eu bolasse minha gloriosa vingança.

Por mais incrível que pareça, DiNozzo foi a primeira a se render e decidiu entrar em contato via mensagem de texto. Não esperava que fosse um pedido de desculpas, é óbvio, e nem uma tentativa de reconciliação. Na verdade, a mensagem era tão sucinta que me deixou um tanto incomodado: "Aeroporto, 14h15. Não se atrase".

Encarei as minhas malas, já prontas, e soltei um longo suspiro. Um par de alianças prateadas em cima da cômoda chamou a minha atenção, e achei mais prudente leva-las comigo. Não evitei outro suspiro, mais pesado. Em seguida, foi a vez do relógio ser observado. Dez e meia, aproximadamente. Lembrei-me de que tinha marcado de almoçar com Mike, assim poderia chorar minhas pitangas e despejar sobre o quanto a vida é injusta comigo. Até o horário combinado, enrolei ao máximo e tentei organizar meus pensamentos, refletir e me acostumar com a ideia de ir até outro continente com alguém que não queria por perto nem pintada de ouro. De qualquer forma, não havia nada a meu alcance que eu pudesse fazer para impedir a viagem.

Como em toda ocasião que quer ser evitada, o tempo até o embarque passou voando. Para ser sincero, nem me lembro do que comi no almoço, só sei que fomos a um restaurante italiano. Esforcei-me bastante para não pensar no assunto em questão, mas, quanto mais tentava evitar, mais imaginava inúmeras maneiras para tudo desandar e acabarmos tentando matar um ao outro do lado oposto do oceano. Tenho consciência de que, se houvesse colaboração dos dois lados, eu e Dominique poderíamos enfrentar tudo isso numa boa e, quem sabe, até aproveitar a viagem. 

No entanto, é óbvio que isso não aconteceria. DiNozzo é teimosa feito uma mula, e eu não estava disposto a ceder e levar mais um pé na bunda que certamente abalaria a minha autoestima. Sem contar que, considerando o quanto conheço Dominique, ela sem dúvida faria questão de tornar as coisas ainda mais difíceis, transformando nossa convivência em um inferno. Afinal, é isso o que ela faz desde que éramos crianças.

Quando dei por mim, já estava me despedindo de Mike e rezando a todos os tipos de divindades para que eu sobrevivesse. Assim que comecei a atravessar o aeroporto, caminhando devagar e procurando os DiNozzo com os olhos, escutei meu nome sendo chamado ao longe. Demorei alguns segundos para encontrar quem me invocava, mas logo avistei Anthony Sênior acenando, com um largo sorriso no rosto. À medida que me aproximava, minha mala ficava mais pesada e suas rodinhas pareciam não ser suficientes. Respirei fundo, próximo o suficiente para que retomasse a postura e cumprimentasse o sr. DiNozzo. Sequer me dei o trabalho de direcionar minha santa palavra a Dominique. A loira encontrava-se sentada em cima de sua única mala, mostrando para quem quisesse ver sua melhor carranca amuada, além de permitir que todos nós ouvíssemos seus dentes rangendo. Seu gênio tórrido e agressivo nunca esteve tão evidente.

Percebendo o clima tenso, Anthony tentou puxar assunto enquanto fazíamos todo o necessário para embarcar no que mais parecia, para mim, o barco de Caronte do que um avião; falhando miseravelmente. Desistindo de me envolver em uma conversa, voltou-se para a filha com um pigarrear.

— Não se esqueça de que o seu tio Clive estará...

— Você já disse isso quinze vezes, pai – Interrompeu Dominique, com uma raiva fria em sua voz. – E eu entendi na primeira.

Até eu me assustei com seu tom. Encarei-a involuntariamente, e foi só aí que percebi as profundas olheiras debaixo de seus olhos.

Não tardou para que embarcássemos, e a cada passo que eu dava em direção ao avião, mais tenso eu ficava. DiNozzo caminhava na minha frente, com fones de ouvido já postos. Sentou-se na poltrona próxima da janela, e não pude deixar de fantasiar que, se pudesse abri-la, eu com certeza a empurraria quando a aeronave decolasse. Alegaria que tinha sido suicídio. Deixando tais ideias para lá, acomodei-me ao seu lado. Peguei um livro qualquer para começar a leitura e desenrolava meus fones de ouvido quando acabei escutando, sem querer, uma conversa que fez meu coração parar por um milésimo de segundo, voltando a bater em um ritmo frenético de puro pânico.

— Não, Ben. Nós não estamos chegando – A senhora atrás de mim repreendeu seu filho assim que o avião saiu do chão – Ainda temos nove horas de viagem.

Aquele número ressoava na minha cabeça. Nove horas. Nove horas preso em um ambiente pequeno ao lado de Dominique. Não era possível que eu chegasse em Liverpool com a sanidade intacta. Acredito que passei uns dez minutos encarando o nada e tentando raciocinar. O choque foi tão grande que quase me virei e perguntei se a mulher estava de brincadeira, mas estava estupefato demais para me mover. Encarei DiNozzo com os olhos arregalados. Ela estava tão entretida em sua leitura que não percebeu.

Cerca de uma hora de pânico e uns vinte minutos relativamente mais calmo, a irritação baixou. Se eu já perdia a paciência com Dominique falando, quando ela ficava quieta era pior ainda. A maldita não tinha nem mesmo olhado para mim, e era como se estivesse constantemente me dando chutes na bunda. Em certo ponto, arranquei seus fones rudemente, obrigando-a a me encarar.

— Pelo amor de Deus, até quando vai continuar com isso? 

— Com isso o que, Van der Bilt? 

— Você sabe perfeitamente do que eu estou falando – Dominique abriu a boca para me responder, mas não dei espaço. – Precisava fazer tanto drama só por que nós transamos?

Confesso que saiu um pouco mais alto do que devia. Se até eu havia me surpreendido com minha própria fala, calcule Dominique. Sem contar uma senhora da fileira do lado, que havia largado sua revista para arregalar os olhos para nós e murmurar repreensões.

— Vá em frente, fale mais alto – Zombou, enrubescida. – Não te devo satisfação nenhuma. Tenho meus motivos.

— Pois eles devem ser muito bons – Alfinetei. – Quero dizer, deixar Jude Van der Bilt plantado uma vez já é um sacrilégio, quem diria duas.

— Não me lembro de ter deixado você plantado duas vezes. Foi só um... pequeno mal entendido. E pare de falar na terceira pessoa.

— Pequeno mal entendido? – Repeti, enfatizando minha indignação. – Galileu e o Papa tiveram um pequeno mal entendido! Você já foi uma mentirosa melhor – Para afastar-me ainda mais do meu ponto de equilíbrio, é claro que a maldita tinha que mentir. – O inferno está repleto de pessoas como você, Dominique.

— Como nós, Van der Bilt – Corrigiu-me.

Fuzilei-a com os olhos, recebendo o mesmo olhar de volta. Em todo caso, quando demorei observando-a, aquela miserável parte da minha consciência que sugerira mais cedo que eu fosse atrás dela despertou. Desta vez, fazia o possível para convencer-me a ignorar todas essas besteiras e passar meu braço pelos ombros de Dominique, relembrar seu cheiro e seu toque. Na tentativa de evitar que isso acontecesse, cometi o erro de colocar minhas mãos nos bolsos da calça. Assim que o fiz, a superfície gelada das alianças entrou em contato com a minha pele. Suspirei alto, buscando pela paciência que já não existia mais. Com isso, tomei a liberdade de fechar o livro que ela lia. Antes que as palavras acompanhassem o olhar raivoso, soltei a minha sentença:

— Parece que vamos precisar disso mais uma vez, meu amor— Coloquei uma aliança na palma de sua mão e, a outra, em meu dedo.

Dominique pôs a aliança no próprio anelar sem tirar os olhos de mim, com a testa franzida e deixando sua fúria bem explícita. Para que amor quando se tem ódio puro, não é mesmo?

POV Dominique

Pesadelos. Eles vêm tirando o meu sono desde que tive a brilhante ideia de sair daquele campo de lacrosse sem olhar para trás. Todas as noites é a mesma imagem na minha cabeça: minha mãe, com um semblante preocupado. Ela parecia querer me dizer algo, mas eu sempre acordava antes de escutar o que pretendia me contar. Era como se o meu subconsciente estivesse zombando de mim, torturando-me.

As terríveis duas horas de sono por noite foram, aos poucos, acabando comigo. Como já era de se esperar, atingi o meu limite no dia da viagem – apenas uma hora e meia dormindo. Evidentemente, por consequência disso, o meu humor havia atingido o seu pior nível. E é com esse estado de espírito que me preparo para as próximas nove horas de voo.

Em um acordo mútuo e que não exigiu contato algum, decidimos manter o silêncio. Sem trocar palavras, afundei no livro que carregava comigo e agradeci a Deus pela existência dos fones de ouvido. Não calculei o tempo que ficamos assim mas, em certo ponto, a música parou subitamente. Jude puxara os fones para baixo de uma forma agressiva, e respondi apenas com uma careta. Lamentavelmente, trocamos algumas palavras. Nem preciso mencionar que não foram nada agradáveis. É lógico que ele teve que relembrar aquela noite, lamentando-se e reclamando de eu ter saído sem dar um beijinho de tchau. Não sei o que diabos ele esperava de mim, mas trazer esse assunto a tona só havia tornado a viagem dez vezes pior. Não bastando, o infeliz fez questão de tirar o maldito par de alianças do bolso e, com uma péssima demonstração de sarcasmo, entregou-me uma. Colocar aquele anel só me deixou mais irritada, não muito diferente de Jude. Assim, quando um de nós não estava cochilando, preservamos o silêncio, ambos com a cara fechada. Digo, isso quando não trocávamos clássicas e saudáveis alfinetadas. Confesso que acabamos trocando socos e tapas nem tão suaves e partimos para infantilidade. Parece que estávamos revivendo nossa infância. Uma lembrança em particular fez com que eu entrasse em um devaneio: 

"Esta era a terceira vez na semana que parava na diretoria por ter brigado com Van der Bilt. Segundo os professores, nossas discussões 'atrapalhavam o desempenho da classe', por isso deveríamos ficar quietos ou dar o fora. É claro que aquele imbecil não facilitava as coisas. 

Estávamos na aula de Ciências Biológicas, sentados em uma rodinha. A sala toda conversava pelos cotovelos, e a professora já tinha perdido a esperança. Não sei como, mas acabamos entrando em um assunto um tanto peculiar. Mike comentava sobre a maneira como as garotas corriam atrás dele, inclusive as mais velhas do que nós. Jude, evitando ficar para trás, afirmou que tinha certeza que nenhuma menina negaria um beijo dele. Minhas amigas riram, zombando, mas eu afirmei com seriedade que preferia morrer a tocar meus lábios nos dele. Ele rebateu, dizendo que eu estava mentindo e que, na realidade, esse era o meu maior sonho. Um duelo de palavras teve início e, quando paramos por alguns instantes, percebi que a sala toda tinha se calado, nos escutando com atenção. A professora, sra. O'Donnell, tinha o rosto vermelho e as mãos na cintura. Enfurecida, ordenou que fôssemos para a sala do diretor, onde receberíamos mais um sermão.

— Viu só o que você fez? – Resmungou Van der Bilt. – Se tivesse admitido de uma vez que faria de tudo para ficar comigo isso não teria acontecido!

— Mas que droga! – Retruquei. – Quando é que você vai entender que eu não te beijaria nem se tivesse câncer cerebral e a cura estivesse nos seus lábios?!

— Mentirosa.

— Imbecil.

— Estúpida

— Idiota.

Cerca de poucos minutos depois, o diretor Vance abriu a porta de seu escritório, mandando-nos entrar. Como a sua palavra era lei dentro daquela instituição, obedecemos em silêncio, apenas escutando-o reclamar sobre a quantidade exorbitante de desavenças que poderiam existir entre duas crianças de doze anos".

Não sei dizer ao certo se fiquei mais ou menos irritada depois de tal recordação. Decidi não compartilhar a lembrança e apenas virei de lado, mandando Jude calar a boca tentando dormir. Considerando que ainda teríamos duas horas de viagem e a carga horária que o meu subconsciente permitia que eu descansasse, a ideia de cochilar era muito bem vinda. Claro que não foi uma tarefa fácil, mas acabei cedendo ao cansaço.

Aproximadamente vinte minutos antes do pouso, acordei com minha mãe invadindo meus sonhos outra vez. Aproveitei o tempinho que restava para organizar as coisas e acordar Van der Bilt. Com muita sutileza, derramei um pouco da água da minha garrafa em seu rosto, fazendo-o pular de susto. Previsivelmente, praguejou e me xingou de todos os nomes que possa imaginar, mas eu estava rindo demais para dar alguma importância. Gargalhei até o momento do desembarque, onde quase caí por causa do pé de Jude estrategicamente posicionado. 

Logo que descemos do avião, consegui avistar meu tio Clive acenando. Era hora de entrar no personagem. Entrelacei meus dedos nos de Van der Bilt, que pareceu um tanto surpreso até compreender a situação. Suspirando, tratei de colocar meu sorriso falso mais convincente no rosto. Determinada a fazer aquela palhaçada parecer real, respirei fundo, sentindo a gélida brisa britânica.


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