Eu sentia as grossas gotas de chuvas tocarem meu corpo, enquanto via o carro de Jacob sumir em meio a tempestade. A conversa não saiu do jeito que Carlisle queria, mas saiu melhor do que eu esperava. Não imaginava que ele seria tão gentil comigo e que respeitasse a minha opinião.

Ao despertar de meus pensamentos, olhei para o casaco que meus braços envolviam. Se eu não corresse para dentro da casa de Charlie, ele ficaria no mesmo estado do restante das minhas roupas. Então foi o que fiz, corri. Eu sabia que a Bella havia deixado a porta aberta para se caso eu quisesse entrar, então não fazia sentido entrar pela janela.

Virei a maçaneta da porta e a empurrei. A casa aparentava estar vazia, até que ouvi um barulho, que parecia o bater de uma peça de alumínio. Cozinha! Joguei o casaco de Jacob no sofá e fui calmamente para lá e, ao chegar, vi minha amiga enfiando algo no microondas.

– O que você está fazendo? – Indaguei, escorando-me no batente da porta. Bella deu um salto e pôs uma das mãos sobre o lado esquerdo do peito.
– Que susto! Estou esquentando a janta do Charlie. Daqui a pouco ele chega. – Ela contornou a pequena mesa e parou de frente para mim. – Você está péssima! O que houve? Um confronto corpo a corpo? – Seu sorriso me fez sorrir também.
– Não fala que eu estou péssima – fingi estar brava. – Eu só estou molhada e, ah, não brigamos. – Querendo fugir da sua expressão de surpresa, virei as costas e caminhei de volta para a sala.

Antes de chegar no cômodo, eu já havia tirado a blusa, assim como Jacob pedira. Passei a mão nos cabelos e os sacudi. Depois de tudo, virei para a Bella outra vez.

– Como não? E por que está tirando a roupa?

Ela faz perguntas demais. As vezes eu gostaria de grudar a boca dela com uma cola super resistente. Sem respondê-la ainda, fui até o sofá e peguei o casaco do lobinho. Ele era todo preto, com detalhes em cinza. Apesar de um morador da reserva, ele tinha bom gosto. Tirando a bermudinha surrada e os sapatos brancos, que ele faz questão de usar. Sinceramente não sei para quê. Coloquei o casaco dele e, sem deixar com que a Bella fizesse mais uma pergunta, eu respondi as que ela já fizera.

– Não brigamos e estou tirando a roupa, por que ele me emprestou esse casaco – dei uma voltinha, para que ela o visse. Acho que ela reparara o B nas costas. B de que afinal?
– O casaco que dei para ele de aniversário – notei que ela ficara meio mexida com isso, mas não entendi muito o por quê. Ah, claro! B de Bella. Nossa, que burra eu sou. Mas isso não soa romântico demais para os dois? Enfim...
– Ele me emprestou, por que minha blusa encharcou por causa dele. – É a verdade. Não tenho culpa se ele não consegue conviver comigo num lugar fechado.

Bella me olhou sem expressão e fingiu um sorriso. Afinal o que ela queria que acontecesse? Uma briga? Que nos matássemos? Ou ela estava com ciúmes só porque o garoto me emprestou um casaco? Não importa qual foi o real motivo. Tenho apenas que voltar para casa e enfrentar a fera chamada Edward.

– Bella, eu já vou indo – peguei a blusa molhada e joguei no ombro direito. Depois disso me aproximei o suficiente dela. Seu cheiro era muito agradável e eu poderia aproveitar agora para fazer o que quiser com ela. Minha sede era pouca, quase nada. Então a envolvi em meus braços, causando-lhe surpresa. Fazia tempo que não fazíamos algo tão próximo. Eu realmente estava distante, mas eu estava voltando. Aos poucos, mas voltando. – Não fique triste comigo – sussurrei.
– Não estou – foi a única coisa que a ouvi dizer.

Olhei para fora da janela e vi que a chuva ainda caía violentamente. Molharia o casaco inteiro, mas eu não poderia esperar mais para chegar em casa. Eu poderia ter vindo de carro. Por que não fiz isso? Soprei um beijo para Bella e sumi pela porta da sala. Corri, o mais rápido que pude, em direção a floresta. Logo eu chegaria em casa, era só ter paciência.

Os pingos me molhavam por inteira enquanto eu disparava entre as árvores. Estou me sentindo num verdadeiro lava jato. Nunca tomei um banho tão prolongado e frio! Em alta velocidade, freei e parei diante da casa.

Edward já me esperava na porta e com uma cara não muito boa. Ele olhou para o casaco que eu vestia e ergueu uma das sobrancelhas.

– Por que disse aquilo para ele? Por que não disse o que Carlisle queria que dissesse? – Ele indagou, tentando parecer calmo. Desceu as escadas da entrada e começou a andar em minha direção. A chuva o golpeava como saco de pancada. Mas seus olhos estavam vidrados nos meus.
– Disse por que pensei na Bella – mantive minha voz firme o suficiente para intrigá-lo.
– Pensou? – Suas sobrancelhas arquearam, desafiadoras. – Como pensou nela? Você não sabe nem ao menos o que ela quer! – Dessa vez a voz veio como uma explosão. Toda sua revolta foi lançada para cima de mim como uma bomba.
– E você sabe? Quem garante que ela quer ver o amigo longe? – Devolvi as palavras no mesmo tom de voz. Notei a presença de Jasper na porta, mas não de atenção no momento. – Você está pensando em você e no seu relacionamento. Não está pensando nela!
– Não diga isso outra vez! Ou...
– Ou, o quê? – O interrompi, me aproximando ainda mais. Já estava farta disso tudo. – Eu fui até lá por você, Edward! Mas eu não penso só em você, penso na Bella também. Você não pode ler os pensamentos dela, portanto não sabe o que ela sente em relação a Jacob. Ela ama você, disso todo mundo sabe. Mas eles são amigos. Você acha mesmo que seria bom vê-la triste? – Passei a mão na testa e imaginei como deveria estar horrível. Minha maquiagem deveria estar borrada, meu cabelo totalmente desalinhado e minhas roupas? Sem comentários.
– Já chega por hoje! – Fomos interrompidos pela voz de Carlisle, que caminhava, também na chuva, em nossa direção. – Alice, eu te entendo e Edward, você também deveria entender. Afinal, é de sua futura esposa de quem estamos falando.
– Estou cansado de vocês – Edward saiu, pisando firme. Estava muito aborrecido e aquilo demoraria a ser resolvido. Pelo menos, o que eu fiz, foi o certo.

Ignorei a todos e entrei dentro de casa. Passei por Jasper como se não o tivesse visto e subi para o meu quarto. Eu estava realmente estressada, não queria que ninguém ficasse me pedindo explicações. Eu só precisava de algo para me acalmar. De repente, a porta do quarto abriu e vi Jasper entrar.

– Como você está? – Ele indagou, olhando profundamente em meus olhos. Senti meu corpo relaxar e a tensão em meus ombros diminuir.
– Agora estou bem – sorri para ele. – Não sei o que eu faço com o Edward! – Exclamei.
– Ninguém nunca sabe – ele retribuiu o sorriso e senti meu corpo ferver por um momento. – Posso me aproximar? – Perguntou, hesitante. Depois de tanto tempo de gelo, resolvi dar uma pequena trégua.
– Claro que pode – sorri e o puxei para perto.
– Você está com o cheiro daquele cachorro – seus dentes trincavam, enquanto eu envolvia meus braços em seu pescoço.
– Cala a boca – sussurrei, pondo um dedo nos seus lábios, afim de calá-los. Tirei-o em seguida e o beijei profundamente. Sentindo seus braços me envolverem pela cintura, uma imagem do rosto de Jacob sorrindo ao jogar seu casaco para mim apareceu em minha mente.

E que saudade eu sentia daquele beijo. Por mais que aquilo fosse o que eu queria, Jacob parecia começar a importunar meus pensamentos. Que droga de lobo!

Continua...