O entregador de balões escrita por dentedeleão


Capítulo 8
8


Notas iniciais do capítulo

As coisas começam a esquentar...



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Segunda feira.

Para, respira!

Espelho, cabelo, batom, salto...

Para, respira!

Documentos, dinheiro para o almoço, escova de dente...

Para, respira!

“Mãe, 07h corre!”

Desespero, oscilação de temperatura...

Para, respira!

Todo mundo acorda assim no seu primeiro dia em um novo emprego não é mesmo?

Minha filha estava devidamente vestida para sua primeira aula da manhã. Notei que precisaria lhe fazer um tutu novo logo, o seu já estava desgastado e alguns furos surgiam nas bordas. Ainda me lembro do quão duro foi convencer sua professora que o colan, a sapatilha e as fivelas poderiam ser rosa, mas o tutu...seu tutu era o único na sala com as cores do arco-íris e acredite ou não, algumas mãe me fizeram encomendas e muitas crianças usavam em eventos não oficiais.

O café foi posto na mesa e logo estávamos comendo torradas com suco de laranja. Preparei dois squeezes com nossa vitamina e seguimos para o metro. Sua escola ficava a cerca de 4 quadras do meu mais novo emprego e amei ter a possibilidade de leva-la e talvez até almoçar com ela durante a semana. Ela teria que voltar só para casa e a preocupação sempre me atingiria como um soco no estomago.

Estava levemente mais tranquila após falar com o responsável da farmácia, nosso amigo na quitanda, com os taxistas e então com o gerente do bar, todos eles ficavam no caminho que minha filha faria e como já me conheciam a cinco anos se prontificaram a observar sua rotina, não que pudessem fazer algo, mas se ela não passasse nos horários eu seria informada. Eu também lhe comprei um celular bem simples e pré-pago, ela o usaria só para emergências.

“Ansiosa?”

Estávamos no metro, o vagão lotado seguia em direção ao centro. A coloquei de frente para mim e sua mochila sobre nossos pés. A jaqueta verde limão chamava a atenção e eu tinha certeza que não a perderia em caso de confusão. Uma senhora se prontificou em segurar sua mochila quando o vagão ficou cheio de mais e agradecemos. Ainda haviam pessoas gentis no mundo!

“Estou suando frio e ofegante. Normal”

Ela me bateu de lado e sorriu.

“Vai dar tudo certo!”

Sorri em agradecimento a abraçando como pude, a próxima estação seria a dela e lhe beijei o topo da cabeça.

“Seja boa com seus amigos de sala, manda-los a merda não é algo educado e filha da puta deixou de ser um Pokémon quando você completou 3 anos e passou a entender melhor as merdas que eu falava.”

Na sexta ela entrou em uma pequena discussão com alguns colegas de sala, não foi nada sério, apenas uma verbalização acalorada sobre os diferentes ritos de alimentação da minha filha. Alguns achavam estranho o fato de seu lanche conter pão integral, cenoura e suco natural. Não pensem que ela não ama besteira, ela simplesmente ama chocolate e fritura, mas só como isso de quem conhece, o óleo reutilizado lhe dá dor de barriga e muitos gazes. Vai explicar isso para as outras crianças!!

“Eu vou tentar, mas aquela diretora precisa realmente de um ca...”

Lhe tampei a boca antes que algo pior saísse. As portas do metro se abriram e a vi sendo levada pelo mar de corpos em direção as escadas rolantes. Eu ainda achava que ela nem andava de tão fluido que eram seus movimentos pela multidão, eles realmente a carregavam pela saída.

Bom, aqui estamos nós. Três estações a frente, um enorme prédio com portas de vidro, recepcionistas devidamente vestidas e maquiadas...

Pânico...

Para, respira!

Não pense que não estou feliz em estar em um lugar tão melhor, mas foram anos batalhando e permanecendo abaixo da sola do sapato de pessoas como as que vejo entrando pelo hall. Estou em pânico. Eu tenho competência, aprendo rápido e posso fazer pesquisas, mesmo assim me sinto no lugar errado.

“Documentos por favor.”

Entrego meu RG seguido pela carta de apresentação que indica o andar e quem deve ser comunicado.

“Pode subir”

Em um tom mecânico e sorriso montado a atendente me passa o cartão de entrada e sigo uma fila para as catracas. O elevador sobre ao som de MPB e eu busco relaxar. O andar é todo da empresa e me pego observando o nome E.C. Consultancy – Consultoria Financeira e Contábil na saída do elevador, o painel de acrílico e as letras negras pareciam brilhar em força e imponência.

Segui para a entrada e estendi minha carta a recepcionista. Ela me olhou de forma cordial e fez uma chamada. Eu apenas a ouvir dizer a alguém que eu estava ali e em alguns minutos uma loira de olhos incrivelmente verdes e cabelos curtos me atendeu. Seu sorriso branco e a maquiagem leve lhe davam a aparência de uma mulher jovem, cerca de 30 anos quem sabe, mas seus olhos brilhavam em experiência e sagacidade.

"Isabella Swan?"

Apenas assenti e ela fez um gesto para segui-la.

“Você realmente chamou a atenção dele. E.C. lhe receberá pessoalmente!”

A mulher me encaminhou ao final do corredor onde poderia ser vista uma sala com cortinas cerradas de persiana escura. Como eu teria chamado a atenção de alguém que mal conheço? Meu deus, E.C. são as iniciais da empresa e se E.C. vai me receber é por que eu irei falar diretamente com o dono! Minhas mãos estavam frias.

“Ele lhe espera. A propósito, me chamo Rose e serei responsável por seu treinamento. Quando terminar com ele, eu começo com você.”

Sua voz tranquila e acolhedora acalmaram um pouco o meu corpo, mas não minha mente.

Pare, respire!

Este virou meu mantra.

Entrei na sala congelando assim que passei pela porta.

E.C. igual a Edward Cullen, o meu entregador de balões.

“Você me tirou da cama cedo hoje Bella, em meu período de férias heim! – ele brincou tentando deixar o ambiente agradável – Fiz questão em lhe receber pessoalmente.”

Seu sorriso era amplo e lindo, a curva de sua mandíbula próxima a orelha era algo a se investigar. Aqueles pelinhos ralos de sua barba, o aroma leve de sua colônia e os cabelos revoltou juntos a um belo terno marrom me fariam trocar de calcinha no intervalo.

“Você é o dono?”

Eu gaguejei e minha voz saiu em quase um sussurro inaudível. Um fiasco.

Ele apenas sorriu me apontando a cadeira em frente a sua mesa, ele estava em pé ao lado da mesa, mas não se aproximou mais, imagino que me dando espaço ou sendo apenas cauteloso, minha aparência não deveria ser das melhores.

“Você é o dono?”

“Estou começando a me acostumar com suas perguntas constantes de algo obvio.”

Aquele sorriso, aquela voz. Meu pai, eu iria trabalhar ao seu lado. Que a santa mãe das calcinhas molhadas me proteja!

...


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