O entregador de balões escrita por dentedeleão


Capítulo 10
10


Notas iniciais do capítulo

Vamos começar uma fase diferente agora.....nos próximos capítulos teremos uma aproximação do nosso lindo casal.

bjs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596537/chapter/10

Cap. 10

Era sábado!

Meu primeiro sábado em casa, sobre minha cama e sem um despertador apitando. A sensação de conforto por poder dormir até mais tarde e não me preocupar com quantas ligações devo fazer neste dia, com quem minha filha ficara, se a Sra. Vilma poderá acompanha-la em algum lugar ou qualquer outra coisa que antes fazia parte de minha rotina era algo além dos sonhos. Havia também um vazio, como se algo estivesse faltando e em algum momento meu corpo sentisse a necessidade de pular da cama e sair correndo para alguma tarefa negligenciada. Um sintoma, apenas mais um sintoma do estresse que vivia antes, uma peça pregada pelo meu cérebro cansado.

Há quinze dias eu trabalhava direto, cinco dias na semana e dois aos finais de semana em outras tarefas para organizar o final do mês já que com minha saída dos dois empregos anteriores alguns benefícios foram cortados como vale alimentação e o plano de saúde e precisei usar quase todo o valor da rescisão para manter o plano de saúde de minha filha em ordem, não tinha ideia de quão burocrático poderia ser manter o plano sem estar em uma empresa filiada. A empresa de Edward tinha plano de saúde mas só poderia usá-lo após três meses e os hospitais filiados eram em regiões muito distantes para nós, optei por ficar com o que tínhamos e arcar com os custos.

Respirei fundo afundando a cabeça no travesseiro buscando uma posição confortável para voltar a dormir. Apenas mais cinco minutos, dizia a mim mesma desejando que algumas horas se passassem neste cochilo. Hoje eu só me preocuparia com as roupas para lavar e passar, poderia me dar ao luxo de horas a mais de sono e colocar meus pés para cima enquanto assistia a um bom filme.

Rá, Rá, Rá!!! Ria de mim o diabo, por que com certeza foi ele que arquitetou o recapeamento da rua onde morava exatamente hoje.

Maquinas da prefeitura estão na rua em mais uma raspagem de asfalto em perfeito estado alegando que um dia poderia dar problema e então o cheiro de pneu de carro queimado começa com o recapeamento desnecessário, os operários falam alto e sobre assuntos absurdos, motoristas utilizam a buzina de seus carros para protestar contra os desvios e mais uma manhã de paz se vai. O céu não estava mais azul e nenhum passarinho cantava.

Levantei desmotivada e segui para o banheiro buscando no banho alguma força para pães e queijo. Eu teria que sair de casa e compra-los na padaria, teria que abrir mão do pijama feito de camiseta velha e chinelos. Não estava disposta a isso.

“Filha já acordou?’’

Gritei do banheiro, a agua quente havia me animado um pouco, apenas um pouco.

“Depende!”

Ela gritou de volta em uma nítida voz de travesseiro.

“Quer pão para o café?”

Eu já estava com a camiseta rasgada novamente e um pequeno shorts de ginastica.

“E queijo também, por favor.”

“Ótimo, o dinheiro tá na bolsa, vai lá e compra nosso café.”

Me joguei na cama, as cobertas sobre a cabeça e muita esperança. Quem sabe hoje ela não estaria disposta a ser uma filha matinal!

...

Respeito e algo que se ganha com tempo e dedicação certo? Errado, aqui em casa respeito era algo que dirigíamos aos outros e entre nós a palavra não significava nada, decidíamos tudo através de nossas habilidades em segurar o olhar uma da outra. Tanto é que agora estamos ambas na padaria devidamente vestidas e aproveitando de um pão na chapa com café. Pois é, perdi o desafio.

“Como estão as coisa no novo emprego?”

Minha filha perguntou antes de mergulhar seu pão na xicara e dar uma grande mordida.

“Bem, me colocaram no setor de compras e débitos. Sinto falta da comissão, ganharia rios de dinheiro se tivesse 1% de comissão sobre as negociações em aberto. O cara anterior não tinha bolas.”

Para quem está de fora deve ser estranho ver uma mãe neste tipo de diálogo com sua filha de apenas 7 anos, mas vamos entender assim, aos três anos ela lia e escrevia muito bem, fui obrigada a trabalhar mais horas do que o normal para garantir uma bolsa na escola especial que ela estuda até hoje e tenho um pequeno prodígio com idade mental de 12 anos a minha frente, sendo assim, nada me impedia de usar a palavra “bolas” em uma frase.

“Isso e realmente uma pena.”

Ela ria divertida. Eu poderia não ser boa em quase nada na minha vida, mas cobrança e bolos eram minha especialidade e Kath sabia muito bem disso.

Começamos uma conversa leve sobre sua escola e o quanto ela tinha avançado em suas aulas de música. Um novo programa de línguas havia se iniciado e ela queria muito faze-lo, mas as taxas fugiam ao meu controle e teria que mantê-la no curso regular de inglês.

“Eu posso tentar uma bolsa na escola, conversar com eles!”

“Filha, este e o meu papel e eu já fiz isso. Assim que soube do aumento em meu salário eu busquei renegociar com eles, mas foi impossível. Eles me lembraram que sua bolsa e de 60% e nenhum outro aluno tinha tal benefício e com isso não abririam nenhum outro credito.

Lamento tanto querida.”

Me mortificava dar más notícias a minha filha, principalmente sobre algo que ela amava tanto. Sua primeira infância não foi regada a brinquedos e roupas de marca, quase tudo que ela tinha era criado por mim ou recebido por doações. Como mãe, meu coração se apertava sempre que ela observava uma boneca ou algum outro brinquedo pelas vitrines de loja, certa vez ela me pediu uma casa de bonecas, o modelo que ela viu era da Barbie e convenhamos, em que mundo uma família de classe média conseguiria comprar uma casa de boneca sem graça por R$ 500,00?

Eu explicava e suportava suas birras a cada presente negado e com o tempo ela aprendeu ou se conformou. Por outro lado tivemos momentos bons, quantas vezes você ouvira alguém contando que passou em cinco lojas de sapato diferentes buscando por caixas de botas para fazer uma casa de bonecas com três andares, elevador e escorregador privativo? Cabeça de mãe realmente é um caldeirão de bruxa, todos os tipos de dores, alegrias e angustias podem ser encontrados.

Eu agora me via observando meu pequeno milagre, os cabelos cacheados presos com laços, a pele branca perfeita e o pequeno nariz empinado. Tão perfeita e com tanta energia, ela realmente queria algo melhor para seus estudos em línguas, além das aulas regulares minha filha mantinha contato com mais três pessoas via intercambio virtual para se manter atualizada e fluente. Nosso maior problema era seu diploma, ela precisava oficializar este feito dentro de seus créditos estudantis para uma bolsa na faculdade. Ela não queria fazer a faculdade aqui, ela buscava algo maior.

“Pensando bem, eu acho que posso resolver seu problema e ainda economizar o suficiente para a matricula nas aulas de alemão.”

A ideia surgiu do nada e parecia impossível. Eu desistiria de uma tentativa se não fosse o olhar cheio de esperanças que recebi e do grande sorriso que o acompanhava. Finalizei meu café sem dar nenhum outro detalhe ou esperanças vazias a ela, precisava amadurecer a ideia e ter muita coragem, mas nosso entregador de balões teria mais uma utilidade em nossas vidas afinal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O entregador de balões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.