Cap. 11

As férias acabaram. E em meu primeiro dia de volta a empresa a ansiedade foi tão grande quanto no meu primeiro dia no colegial e as diversas fantasias que esta nova fase da vida traziam. Há tempos não me sentia aquele adolescente hormonal de alguns anos. Estes dias longe de tudo me fizeram pensar e as palavras de minha irmã apenas confirmaram algo que neguei desde o início. Eu não estava ajudando aquela bela garota simplesmente por compaixão, eu queria algo mais.

“Vamos lá garoto inglês, temos pilhas e pilhas de papel para assinar e analisar.”

Rose entrou em minha sala mantendo sua postura altiva, mas as palavras saiam irônicas e ela parecia divertida com algo e nem havíamos passado das 10h ainda.

“Teve um bom final de semana pelo visto!”

Ela parecia radiante mesmo repleta de pastas nas mãos. Com cuidado ela as colocou sobre minha mesa e puxou uma cadeira para se sentar ao meu lado e não a minha frente como de costume. A olhei de forma interrogativa e ela apenas sorriu mais e separou alguns papeis já ligando seu note e abrindo em algumas planilhas.

“Eu já lhe disse o quanto amo ser sua cunhada?”

Sim, eu já imaginava algo assim. Alice não era de manter suas greves por muito tempo e sempre que ambas voltavam a ter uma vida normal Rose me enchia de elogios e carinho.

“Já deveria saber que havia um dedo de Alice em seu bom humor.”

Disse um pouco mal humorado, eu não queria começar meu dia analisando propostas antigas e tentando reverter algum quadro crítico causado por um estagiário incompetente, as pastas com adesivos vermelhos eram as mais críticas e estavam em uma alta pilha a meu lado.

“Um dedo cunhadinho, realmente um dedo.”

A olhei espantado, virei minha cadeira ficando de frente a loira de grandes olhos azuis. Analisei com cautela seu olhar e desci por seu corpo seguindo rapidamente para suas mãos, não que seu corpo não fosse bonito e não chamasse minha atenção, mas anos convivendo com ela me fizeram observar além da linda mulher a minha frente e realmente impossível para mim.

“Ela aceitou?”

Estava em choque. Um grande anel de brilhantes gritava no dedo anelar de Rose. Finalmente Alice aceitará o pedido de casamento e ambas formalizariam o relacionamento. Rose apenas confirmou com a cabeça, um sorriso enorme nos lábios e antão do nada ela muda a postura ficando seria e me apontando os gráficos.

“Chega de rasgação de seda cunhadinho. Trabalho.”

Novamente fui pego desprevenido, as pastas com as etiquetas vermelhas estavam ali apenas para assinatura final, os pequenos problemas haviam sido resolvidos e todas as taxas estavam pagas ou já com créditos marcados. Eu sabia que o setor financeiro precisava de um auxiliar a algum tempo, mas não imaginei que a presença de um agilizaria tanto assim os trabalhos e nos permitisse expandir um pouco mais em tão pouco tempo.

“Eu não entendo, foram meses solicitando a resolução destas pendencias e agora, em menos de 15 dias, tudo está em ordem?”

“Sim, é sobre isso que vamos conversar nesta pequena reunião também. Isabella Swan é um dos tópicos.”

Rose estava atenta a alguns papeis e pareceu não notar uma pequena mudança de humor vinda de mim, suas palavras me deixaram ansioso e curioso. Eu teria errado em minha decisão de traze-la para tão perto?

Deixei de lado os pensamentos referentes a Isabella me voltando completamente ao trabalho, foram mais de duas horas acertando algumas coisas antes de relaxar o corpo na cadeira e ter um balanço positivo de muitas contas no final.

“Não acredito que acabamos!”

Relaxei tomando um gole da minha garrafa de água, estava com fome, mas no momento a água ajudaria a aliviar a tensão.

“Não acabamos ainda. Temos um tópico a trabalhar...”

Rose organizou as pastas sobre seu computador e tirou do frigobar uma garrafinha de água me acompanhando. Ela me observou atentamente antes de sentar na cadeira de frente a minha e relaxar o corpo tomando em dois longos gole todo o conteúdo de sua garrafa.

“Isabella não tem formação e não tinha o perfil mais adequado para trabalhar em nosso setor financeiro Edward. Quando busquei referencias, apenas para dados do RH, tive as piores pontuações sobre seu perfil profissional...”

Meus olhos estavam em pratos tentando entender o que Rose estava dizendo. Isabella havia falhado, era isso? Eu teria de manda-la embora logo agora que ofereci a ela uma oportunidade de melhorar sua vida financeira?

“Eu não sei se já comentei algo com você sobre isso Edward, mas não trazemos a refeição para o local de trabalho, normalmente isso causa danos e prejudica uma boa sobremesa.”

“Rose eu...”

Ela não me deixou terminar, se levantou buscando entre as pastas uma muito fina e de tons pasteis.

“Já me diverti com sua cara de desespero” – me jogou a pasta e a abri um pouco hesitante –

A pasta não tinha mais do que dez folhas, cada uma com uma cor diferente. Em cada folha era possível ler os dados cadastrais de Isabella Swan e funções exercidas em cada empresa. Em cinco anos ela havia atuado em dez empresas diferentes e em muitas no mesmo período de tempo. Em todas elas o caso de afastamento era o pedido de demissão e a justificativa estava ligada a salários. Notei que a cada mudança seu salário tinha um aumento insignificante, mas ele estava ali assim como anotações sobre progresso de vendas e comissões.

“Ela pula sim de empresa em empresa e não pode voltar a muitas delas, mas isso não foi gerado por comportamento inapropriado e sim por regras internas de gestão. Pelo que notei, muitos gestores tem raiva dela porque suas comissões de equipe caíram significativamente depois de sua saída. Ela não tem formação e nunca havia usado o nosso sistema e posso lhe garantir, ela foi a mais rápida ascensão de nosso quadro de funcionários.”

Eu não sabia o que dizer, observei por mais uma vez os números e não acreditava no quanto ela havia aprendido e progredido neste tempo.

“Se olhar a última página no verso notara que pontuei alguns nomes. São estagiários que quero dispensar e um supervisor, eles não são mais necessários e se provaram incompetentes.”

Observei a lista de nomes, cinco pessoas que seriam desligadas em no máximo uma semana e todas do setor administrativo. Meu quadro se resumiria a duas pessoas por área, o ideal para nosso status atual no mercado, mas algo nunca alcançado antes.

“Ela é tão boa assim?”

“Querido, se eu fosse você não assinaria nada vindo dela ou entraria em debito. Esta mulher tem um pau maior do que muito homem nesta empresa. E falando em pau, ela quer uma reunião com você ainda hoje, agendei para as 17h.”

Ela me soprou um beijo e saiu da sala. Instintivamente me peguei com as mão sobre as calças e um medo enorme desta conversa.

...

Cinco horas da tarde e eu já me via olhando para a porta a espera de um pequeno furacão. Meu telefone tocou me fazendo pular da cadeira, minha secretaria anunciava a entrada de Isabella e eu só conseguia pensar em várias formas de castração. Rose realmente havia me assustado e ainda passou a tarde toda me mandando mensagens de duplo sentido pelo celular.

“Sr. Cullen.”

Isabella abriu a porta por completo me permitindo uma visão de minha secretaria, ela olhava com nojo e analisava desnecessariamente o corpo de Isabella.

“Isabella, entre...”

Minha voz saiu firme e me levantei seguindo em direção a porta fechando-a quando notei mais uma vez os olhares de minha secretaria sobre nós. Tranquei a porta para não sermos interrompidos e apontei a cadeira para Isabella ainda mantendo uma postura formal. Foi só quando ela sentou largando seu corpo de qualquer forma sobre a cadeira que relaxei.

“Desculpe a formalidade, mas sua secretaria é uma vadia estupida. Eu não sei como as outras mulheres aturam trabalhar nesta empresa, fora sua secretaria é claro, todas as outras são bombardeadas diariamente com insinuações sexuais de mau gosto e são obrigadas a abaixarem a cabeça para não piorar a situação.

O tosco do Leonardo do RH começou a fazer gracinha e levou um belo tapa na cara. Agora eu sou conhecida como a mulher macho do setor. Eu não sei como a Rose aguenta ser chamada de sapatão todos os dias, eles não fazem isso na frente dela, mas deixam bem nítido. Tem ainda um idiota que não lembro o nome que disse que comeu e não vale a pena.”

Ela despejou tudo em segundos não parando para respirar entre as frases. Estava chocado com a forma que os funcionários se dirigiam as mulheres da empresa, eu sabia que ocorriam piadinhas e insinuações, mas não sabia que iam a tal grau. Estávamos hoje com 80% de homens na empresa e isso incluía ate o setor de terceirizados como limpeza, provavelmente eu teria que verificar mais afundo as queixas e me livrar dos principais focos. Eu presava pelo respeito no ambiente de trabalho e entre homens e mulheres a única coisa que pesava na contratação era o currículo.

“Rose não deve ligar realmente para isso, mas prometo verificar melhor estes focos e acabar com as centelhas, não quero que ninguém aqui se sinta inferior por seu gênero.”

Ela pareceu relaxar e eu também. Lhe ofereci uma água e ela prontamente aceitou bebendo lentamente.

“O que você queria conversar Bella?”

Ela engasgou com a água e me assustei com seu ataque de tosse. Após alguns minutos tentando reverter o quadro ela parecia melhor e muito adorável com um tom rosa por todo o rosto, foi então que notei os cabelos antes castanhos agora com mechas caramelo e algumas tão claras que pareciam brancas e também o corte, seu cabelo parecia mais curto e incrivelmente mais leve e organizado.

“Desculpe por isso, eu apenas não sei como lhe pedir. Você fez tanto por mim em tão pouco tempo, mal nos conhecemos, mas sei que você não é daqui, o sotaque não deixa dúvidas e eu acho incrivelmente sexy, - ela havia começado a falar de forma sufocante novamente, mesmo a fala sendo clara era nítido seu nervosismo e a incoerência de seus pensamentos. Ela me acha sexy? Isso é bom. - mas na verdade eu queria que você ajudasse minha filha. Ela precisa de aulas de Alemão e eu não posso pagar por que pago pelo Inglês, então se você der a ela aulas de Inglês eu poderei usar o dinheiro para o alemão e podemos fazer as aulas em minha casa ou em alguma biblioteca, mas eu prefiro em casa por que assim posso observar você, quer dizer vocês e.... - por um momento ela pareceu respirar, seu olhar desviava do meu e por fim se prendeu sobre suas mãos entrelaçadas sobre o colo - Bom, Edward, você teria algum problema em acompanhar minha filha em alguns treinos de línguas?”

Um grande sorriso se formou em meus lábios, eu nunca havia dado aulas a ninguém e não saberia como fazer isso funcionar, para ser sincero não poderia me importar menos. Eu a teria em sua casa, com mais liberdade e tendo a certeza que a atração era mutua. Kath meu amor, você não sabe quantas portas me abriu com apenas um pedido.

“Isabella, eu nunca dei aulas e nem sei como fazê-lo, mas podemos tentar.”

Tentei transparecer calma, internamente o garoto hormonal dentro de mim gritava pedindo para dar aulas para a mãe também. Percebi Isabella relaxar na cadeira e sorrir. Nós teríamos algumas coisas para combinar em sequencia e usaria todo meu tempo disponível para ambas, eu já me via infiltrado naquela família.

Ah, quantas portas....