Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 16
Mar de rosas




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Assim que Mona estacionara em frente à casa de Alison, Emily descera do carro e agora encontrava-se curvada com metade do corpo para dentro da parte traseira dele, tocando carinhosamente a canela de Ali no objetivo de acordá-la.

— Vamos, meu amor – Emily murmurou numa voz extremamente suave.

Alison já parecia estar em processo de desligamento da realidade assim que elas deixaram a clínica, e dormira instantaneamente, não despertando nem com os suaves solavancos que o carro dava na maioria das ruas que não eram cobertas por asfalto.

Mona não sabia dizer se tal fraqueza era consequência daquela possível doença ou se era apenas efeito colateral dos analgésicos que Ali provavelmente andava tomando para as dores nas costas – o que Mona suspeitava que não fossem poucos. Mas se o problema de Ali estivesse mesmo nos rins, tais analgésicos teriam o efeito de comprimidos de açúcar no corpo dela, ou seja, não surtiriam efeito algum, e apenas contribuiriam para que ela fosse ficando mais e mais fraca.

A ideia de uma piora rápida no estado de Ali passou como um flash pelos olhos de Mona e ela afastou-a depressa. Para ela, o nome do meio da garota sempre havia sido força, não importava se, no início, ela não usasse tal para o bem. O ponto era que Ali passara por muita coisa em muito pouco tempo. Um problema mundano como aquele não a derrubaria tão facilmente.

Mas olhando para ela enquanto saía do carro, com as pernas juntas e flexionadas no banco de trás e apenas a cabeça recostando desconfortavelmente à porta esquerda, Mona pensava que o único adjetivo capaz de descrever Ali naquele momento era frágil. Os dois anos que ela passara em San Diego, que a envelheceram, que a amadureceram, pareciam não estar mais ali. Ela parecia ter voltado aos catorze anos, na verdade; para até antes de se tornar Abelha-Rainha de Rosewood High ou de qualquer outro lugar. Parecia uma garota não mimada, mais que ainda assim merecia ser coberta de mimos, como passar um dia inteiro ao lado da namorada que seria capaz de fazer qualquer coisa por ela, por exemplo.

— Tem certeza de que não se importa de caminhar até a escola? – perguntou Emily à Mona docemente, depois de ter instruído a Ali para que fosse entrando primeiro.

Mona balançou a cabeça novamente, na falta de criatividade para dizer que não pela terceira vez.

— Bem, obrigada – Emily voltou a dizer – Muito. Por tudo. Se não fosse por você, é bastante provável que Ali estivesse agora dentro de uma ambulância.

Tentando ao máximo não vizualizar mais uma cena traumatizante em sua mente, Mona apenas deu de ombros e sorriu. O momento não pedia mais um abraço, mas o olhar doce de Emily, talvez o mais carinhoso que esta já lhe dera, era como um abraço telepático.

— Escute – Emily prosseguiu, na mesma voz suave –, eu já sei que não terei coragem de contar nada disso às outras meninas. Então, se você quiser, pode tomar a frente. Só que, se você decidir fazer isso, prepare-se para um belo interrogatório.

Mona deu uma leve risada.

— Tudo bem, eu já brinquei disso várias vezes com elas – disse simplesmente antes de se afastar, torcendo para que a indireta fosse entendida.

Ao ver-se sozinha novamente, com os pés movendo-se no modo automático em direção a Rosewood High – com sorte ela chegaria a tempo para a terceira aula da manhã –, Mona teve o peito dominado por uma saudade agridoce de sua loirinha favorita. Ela apenas agora percebia como estava frio e como ansiava pelo corpo de Hanna colado ao seu, esquentando-a.

Ela nem ao menos pensara sobre o que diria se fosse perguntada sobre o paradeiro de Ali e de Emily naquela manhã, e por um momento não se preocupou com isso. Abraçaria Hanna primeiro, por um longo tempo, livrando seu subconsciente daquela sensação amarga de abstinência, depois focaria nos pensamentos doentios mais uma vez.

A aula de inglês presenciava-se como uma leve tortura até que o sinal para os tão sonhados vinte minutos de intervalo soou. Fome era a última coisa na lista de prioridades de Mona; tudo o que ela queria era ter aqueles olhinhos azuis vidrados nos seus novamente; vê-los cintilar sempre que Hanna sorria era a mais genuína visão do paraíso.

Já com sua bandeja em uma das mesinhas dispostas pelo pátio, Mona remexia tristemente com um garfo um punhado de purê de batatas. Forçou-se a engolir algumas gramas daquilo e não sabia dizer se o seu estado de espírito era o que deixava a comida sem gosto ou se o tempero era ruim mesmo.

Um misto de preocupação por tudo o que havia presenciado mais cedo e saudade de Hanna a deixava inquieta. Ergueu os olhos de seu prato em certo momento e a viu conversando com a professora de Artes, gesticulando energicamente. Mona não conseguiu deixar de sorrir. Hanna sempre fora apaixonada por moda e há pouco tempo começara a cogitar o curso de design. Era muito bom vê-la ocupar a mente com esse tipo de coisa pela primeira vez; todas elas estavam começando a focar em algo assim finalmente, aliás; era como se os anos anteriores jamais houvessem existido.

Mona baixou o olhar novamente, ainda com um leve sorriso no rosto. Ela fazia questão de não pensar sobre os anos anteriores, mas sabia que eles faziam parte de sua história de vida e, se Mona era o que era hoje, ela devia isso a eles. Tais anos fizeram-na começar a ver tudo mais claramente; ensinaram-na a distinguir o que importava das coisas sem importância; e o mais relevante: era inegável que Hanna fora a chave para o processo de cura de Mona, mas os psicólogos que a avaliaram no Radley também tiveram uma vital importância. Eles ajudaram-na a se livrar daquele sentimento maçante de culpa e, sem a ajuda deles, Mona talvez não tivesse arranjado a quantidade suficiente de coragem que precisava para continuar vivendo.

Com base nos conselhos que recebera ao longo do breve tempo que ficara internada, Mona começara, aos poucos, a se autocompreender, e agora ela arriscava dizer que conhecia a si mesma plenamente; seus medos, suas inseguranças, seus motivos para fazer o que havia feito no passado, seus desejos e o que ou quem a fazia feliz. E não se envergonhava de nada. Afinal, ela era humana; humanos cometem erros e aprendem com eles.

Mona não tinha receio de pensar em si como uma pessoa plenamente sã agora, e não havia nada que ela quisesse mais do que repassar aquela sanidade que haviam lhe dado gradualmente. Ela queria ser capaz de compreender os outros além de a si mesma; queria poder dar a pessoas que estivessem sofrendo do mesmo problema que ela sofrera, algum tipo de alento; queria poder mostrar-lhes que existe sim uma saída para qualquer coisa.

Chegar a tal conclusão novamente fazia seu coração aquecer. O recente sonho de se tornar psicologa estava amadurecendo rapidamente e parecia cada vez mais e mais concreto.

— Oi – cantarolou Hanna a centímetros do rosto de Mona, sentando-se ao seu lado e dando-lhe um firme e demorado beijo da bochecha.

Mona sorriu de olhos fechados enquanto sentia por segundos os lábios de Hanna vedando-se sobre sua pele. Uma onda abrasadora de felicidade atingiu-a de repente e, do centro de seu peito, emanou para o resto do corpo. Deus, que saudade!

— Oi – ela repetiu o gesto, sentindo a loira puxá-la mais para perto de si. Recostou a cabeça no ombro dela e abraçou-a pela cintura.

— Você vai comer isso? – perguntou Hanna apontando para uma barrinha de cereal na bandeja de Mona. Na voz dela era possível notar sua “sutileza” infantil caricata, pela qual a morena tanto se derretia.

— Por quê? – Mona tentou conter o riso diante da pergunta repentina.

Hanna não esperou nem pelo sim e nem pelo não.

— Você sabe, eu fico com fome quando estou empolgada – disse, rasgando a embalagem da barrinha.

Mona ergueu o olhar e uma sobrancelha para ela.

— Pensei que era quando ficava nervosa.

— Eu fico nervosa quando fico empolgada – justificou-se rapidamente.

Contendo outra vez uma risada, Mona assentiu.

— E por que está tão nervosa-barra-empolgada?

Hanna mastigou por alguns segundos e engoliu.

— A sra. Ramsey decidiu fazer um dos simulados para o teste de aptidão hoje. Como em “uma prova surpresa”.

Mona assentiu outra vez. Seriam quatro simulados, um a cada bimestre.

— E como você foi?

— Bem – respondeu Hanna, como se estranhasse aquilo – Muito bem. Bem a ponto de a sra. Ramsey fazer uma piada comigo sobre eu ter colado. E eu não colei.

Hanna parecia estar inocentemente orgulhosa daquilo. E Mona perguntava-se como era possível um ser humano ser provido de tanta fofura.

— Eu senti falta da minha Hanna Banana – disse ela numa voz dengosa, mantendo o rosto próximo do da loira, que sorriu – Continue confiante assim e Harvard vai te aceitar em dois tempos – estalou dois dedos de uma mão e fechou os olhos para dar um beijo igualmente dengoso em Hanna.

O som de Spencer limpando a garganta para chamar a atenção delas fez Mona praticamente pular em seu assento. Levemente envergonhada, ela riu com os lábios ainda rentes aos de Hanna.

Aria estava junto de Spencer. As duas, com suas bandejas vermelhas em mãos, trocavam olhares e sorrisos cúmplices, como se já esperassem ver aquela cena e mesmo assim a achassem tremendamente doce.

— Desculpe interromper, mas já interrompendo... – começou Aria.

— Cale a boca e apenas sente-se – replicou Hanna, ainda não olhando diretamente para suas amigas.

As quatro compartilharam risos leves. Com o olhar discretamente fixado em Aria e Spencer, Mona via que elas (suas amigas também, ela arriscava pensar) agiam como se momentos como aquele sempre tivessem existido. Era uma naturalidade tão boa!

Mona se sentia orgulhosa de finalmente pertencer a algo como aquele grupo, coisa que ela almejara desde que chegara a Rosewood. O acolhimento por parte de alguém que não fosse apenas Hanna era um sentimento novo, e enriquecia ainda mais a relação que ela mantinha com a loira, isto é, sabendo que a rejeição das outras quatro garotas não seria mais um problema, Mona sentia que seu amor por Hanna era definitivamente indestrutível.

E por mais que todos ao redor do mundo dissessem que "a vida não era sempre um mar de rosas", a morena tinha a absoluta certeza de que faria qualquer coisa para que o mar em que ela se encontrava no momento não evaporasse. Até mesmo algo que quase todos ao seu redor aparentemente pensassem que estava além de sua generosidade.


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