Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 17
Tão normal quanto possível




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A conversa entre as quatro se manteve a mais natural e divertida possível dentro das circunstâncias. Mona percebia que a presença de cada uma daquelas garotas – incluindo Emily e Ali, que não estavam ali no momento – era de algum jeito importante para sua vida agora. Todas tinham uma peculiaridade cativante ou mais de uma. Mas o mais impressionante era que todas olhavam para Mona como se ela fosse para elas o que elas mesmas eram umas das outras – uma amiga de verdade.

E foi exatamente isso que deu coragem à Mona para falar tudo o que sabia quando Aria olhou por cima do ombro, curiosa, e indagou para o grupo “onde está Ali?”. Isto é, Mona sentia agora que podia ser honesta com elas e falar qualquer coisa sem medo de ser massacrada por olhares fuziladores. Mas a última coisa que Mona queria era alarmá-las e consequentemente quebrar aquele clima agradável. Elas já haviam passado por uma quantidade de estresse suficiente para deixá-las com os cabelos brancos muito antes da hora. Olhando por um outro lado, Emily dissera que não conseguiria contá-las ela mesma, ao menos não agora que estava lá com Ali. Então a responsabilidade estava nas mãos de Mona de qualquer jeito. E uma das maiores agonias da vida é ouvir um “por que você não me contou antes?” de alguém que você ama.

Ainda tropeçando um pouco nas palavras devido ao nervosismo, Mona contou sobre o ocorrido no início daquela manhã que pareceu ter se estendido durante muito tempo. Concluiu de cabeça e voz baixas e apenas escutou o silêncio que seguiu suas palavras finais.

— Sangue? – disse Hanna depois de um tempo. Sua voz trepidava levemente.

Mona olhou para a loira e assentiu. Hanna tinha uma expressão dolorosa no rosto e ver tal depois de um de seus mais belos e inocentes sorrisos era como uma facada no coração da morena. O mesmo olhar amedrontado e descrente cruzava os rostos de Spencer e Aria.

— Eles não podem confirmar que é falência renal antes do exame de sangue, certo? – perguntou Spencer. Era claro que ela estava querendo manter a postura mais racional e não se entregar ao nervosismo também.

Mona assentiu novamente. Aria recostou a cabeça no ombro da morena mais alta ao seu lado, que passou o braço em torno dela, e fechou os olhos.

— Graças a Deus Emily está lá com ela – suspirou – Acha que podemos ir vê-la depois da aula?

— Acho que sim – Mona lançou-a um pequeno sorriso.

E às três e quinze da tarde as três garotas esperavam Mona – que havia sido a última a sair da sala de aula – do lado de fora da escola. Em pé, todas tinham os braços cruzados e olhares impacientes em seus rostos. Obviamente que não estavam em um de seus melhores momentos.

Estranhando aquilo e momentaneamente esquecendo-se da promessa de horas atrás, Mona estava a ponto de perguntar ao grupo se alguma coisa estava errada quando sentiu Spencer tocar seu ombro levemente e dar-lhe um beijinho no rosto. É, Mona ainda não havia se acostumado àquelas gentilezas. Mas esperava se acostumar com tais rapidamente. Afinal, com o que é bom nós nos acostumamos depressa.

Hanna estendeu o braço para ela.

— Vamos? – disse baixinho, esboçando um fraco sorriso.

Mona assentiu, enganchando-se ao braço da loira.

— Eu mandei uma mensagem para Emily mais cedo – disse Aria por trás – Ela disse que não há problemas em nós irmos lá.

Todas pareceram concordar mentalmente, mas mais nada foi dito. Spencer era a única delas que estava de carro no momento, e ofereceu uma carona, mas as outras disseram que não era preciso. Aquela caminhada, mesmo que em alguns momentos fosse constrangedoramente silenciosa, ainda tinha grande importância para Mona. Ela gostava de ouvir seus passos junto dos do resto do grupo, cautelosos.

Apenas quando deu o primeiro passo para dentro do quintal de Ali, foi que Mona percebeu que ainda estava nervosa. Percebeu também que segurava a mão de Hanna com força, como se temesse que ela a fosse deixar sozinha. Tal nervosismo era justificável, com certeza. Afinal, ela nunca havia estado de fato na casa de Ali. Quer dizer, havia entrado às escondidas no escritório do Sr. DiLaurentis junto de Ali para “pegar emprestado” o revólver que ele mantinha escondido lá apenas para “situações de emergência” – que talvez nunca tivesse sido usado até antes de toda a situação com Bethany –, mas aquilo havia sido muito diferente. Não era como se Mona tivesse prestado atenção ao redor, ou ficado na casa por mais de dois minutos para ter a chance de fazer isso.

Mas agora Mona estava oficialmente fazendo uma visita à garota. Iria subir até o quarto dela. E antes que começasse de fato a subir as escadas, teve tempo de olhar ao redor. A sala de estar era exatamente como ela pensava que seria: organizada em excesso, como se alguém ali – provavelmente a Sra. DiLaurentis – tivesse um grau alto de Transtorno Obsessivo Compulsivo.

O cômodo estava vazio exceto pelas garotas ali e, assim como Mona, elas também pareciam olhar em volta, sem saber direito o que fazer ou se deviam dar um passo a frente. Emily ainda não sabia que elas estavam ali; Spencer havia pescado a chave extra de debaixo do capacho.

— É incrível como todo este lugar ainda tem o cheiro do sabonete de baunilha de Ali – observou Hanna.

Assim que ouviu a loira concluir, Mona também conseguiu sentir a leve fragrância. Um pequeno porta-retrato em uma grande estante à sua esquerda chamou sua atenção. Era Ali com não muito mais que uns três anos de idade, talvez. Ela apoiava a cabeça (da qual pendiam cachinhos dourados) em uma mão e sorria, deixando à mostra os dentinhos de leite. Mona sorriu também.

Uma prateleira depois, em um porta-retrato de mais destaque, estava uma foto de Aria, Emily, Hanna, Spencer e Ali deitadas na grama, as cabeças encostando umas nas outras e formando algo que se parecia com uma estrela de cinco pontas. Todas tinham largos sorrisos em seus rostos. Deve ter sido tirada antes do ensino médio, Mona pensou, pois Aria ainda tinha mechas pink nos cabelos; Spencer vestia um suéter xadrez da época em que era considerada “nerd”; Emily usava um moletom azul dos Sharks de Rosewood, parecendo ainda ser “a menina que não gostava de usar maquiagem”, e Hanna ainda era gordinha. Mas, por outro lado, elas pareciam estar tão genuinamente felizes que os rótulos eram a última coisa que se notava naquela foto.

— Último dia de verão antes do oitavo ano – informou Spencer com um sorrisinho nostálgico e de olhos presos na foto também – Pode ser difícil de acreditar mas toda a vez que vínhamos aqui nós tocávamos a borda do porta-retrato antes de subir para o quarto de Ali, como se fosse um ritual ou um jeito de bater ponto. Fizemos isso por mais de dois anos.

Spencer exemplificou com um gesto suave de sua mão direita e o sorriso evaporou de seus lábios, como se sua mente tivesse de repente se enchido de memórias ruins.

— Fico feliz que a Sra. D ainda o deixe no mesmo lugar depois de tanto tempo – concluiu.

Mona repetiu o gesto de Spencer na ponta esquerda da peça.

— É perfeita – murmurou, falando da foto e daquela amizade também, afinal, as duas coisas haviam permanecido intactas por muito tempo. E Mona percebia agora que talvez nunca tivesse sentido inveja ou ciúmes daquela relação realmente, mas sim orgulho. É, de certa forma ela sempre se orgulhara daquelas garotas que eram as melhores amigas do mundo umas para as outras. Mas um orgulho que durante a grande maioria do tempo apresentara-se mascarado (de rancor e inveja). Ainda que já sem máscara alguma atualmente, tal ainda era um sentimento profundo e complicado, demais até para sua própria compreensão.

— Pessoal, vamos – chamou Aria que já estava ao pé das escadas que davam para o segundo andar.

Alison passou os olhos aparentemente cansados pela tropa que adentrou seu quarto e sorriu. Sorriso esse que pousou por último em Mona e permaneceu por alguns segundos nela. Ainda de mãos dadas com Hanna, mas já não tão nervosa, Mona sorriu de volta.

Ali estava deitada, ainda vestida, sobre o edredom perfeitamente estendido de sua cama queen size. Emily estava mais ereta rente a ela, como que para dar a ela uma espécie de suporte. Juntas elas ocupavam menos da metade da cama.

— Por que vieram todas juntas? – reclamou Ali, soando sonolenta – Assim parece que eu já estou em meu leito de morte.

Ninguém soube o que responder por um momento.

— Isso era pra ter sido uma piada? – Emily arqueou uma sobrancelha para a garota – Porque não teve graça.

Ali sorriu de novo em sinal de desistência e sentou-se também mais ereta na cama. Ela tinha um corpo coberto com pelos cor-de-caramelo e branco aos seus pés, tal que Mona reconheceu como sendo o cãozinho de que Ali falara na sorveteria, semanas atrás.

— Dê espaço para as moças, Pepe – instruiu Ali de uma forma fofa e cordial ao mesmo tempo.

O cãozinho levantou as orelhas e virou a cabeça para sua dona, saltando da cama segundos depois e ajeitando-se em algum lugar no chão fora do campo de visão das meninas, que sorriram imediatamente ao verem aquela cena.

— Ele é o melhor cachorro do mundo – disse Ali com a mesma voz um tanto arrastada – As vezes nem notamos que ele está por perto.

Mais um momento de silêncio se fez.

— Nós soubemos o que aconteceu com você hoje de manhã – disse Hanna cautelosamente, sentando-se na beirada da cama – Ficamos preocupadas.

Ali não respondeu de imediato. Levantou o olhar para Mona, que ainda estava de pé e deu de ombros em seguida, como que num pedido de desculpas, embora os olhos de Ali não indicassem irritabilidade.

— Eu também fiquei – murmurou por fim.

— Mas não precisa – Spencer rebateu firmemente.

— É, vai dar tudo certo – disse Aria, com um sorriso extraordinariamente confiante.

Mona trocou um olhar incerto com Emily. Perguntou-se se teria a morena contado a Ali o que ouvira do médico, pois o jeito como a loira falava era como se já soubesse do pior. Mas, à princípio, ela não sabia e as garotas, ainda na hora do almoço, combinaram que não iriam dizer nada também.

Ali concordou, massageando os joelhos por alguns segundos e levou as pernas para junto do corpo, deixando suas meias cor-de-rosa em evidência.

— Deitem – disse ela, sorrindo agora também, como se afastasse os pensamentos que a amedrontavam da mente – Eu sei que vocês querem.

O grupo riu e obedeceu, gradualmente. Um sorriso travesso surgiu nos lábios de Hanna assim que ela, ainda sentada, envolveu Mona pela cintura com um braço e puxou-a para o colchão, fazendo-a cair confortavelmente entre si e Ali.

Mona percebia agora, devido àquela proximidade óbvia, que estar junto de Ali estava ficando cada vez menos anormal. Ela não sabia dizer se era pelo aspecto abatido da garota ou se pelos cabelos curtos, mas se a Velha Ali e a Nova Ali fossem colocadas lado a lado, as semelhanças entre uma e outra seriam praticamente nulas.

Hanna aninhou-se ao lado dela, abraçando-a parcialmente pela cintura e fazendo-a fechar os olhos e sorrir para o nada. Era claro que ter Hanna junto dela tornava as coisas infinitamente mais fáceis. Hanna fazia Mona se sentir em casa onde quer que estivessem.

Spencer aconchegou-se no colo de Ali, tendo que encolher as pernas para que os pés não pendessem para fora do colchão, e Aria fez o mesmo no colo de Mona, que precisou de um segundo para assimilar aquilo, mas começou a brincar instintivamente com os cabelos da garota.

O silêncio era confortável, e Mona permitiu-se pensar que eram amigas desde sempre. Um pensamento gostoso, assim como o calor que emanava de todas naquela cama. Calor humano, simples e convidativo. Sim, ela sabia que aquele momento só estava acontecendo por causa do atual estado de Ali, mas Mona não pôde deixar de constatar que sentia-se tremendamente feliz por estar aconchegada naquele meio. E não pôde pensar em mais nada antes de fechar novamente os olhos a não ser em que gostaria muito que momentos como aquele se repetissem depois que Ali estivesse sã.

Foi despertada por uma leve movimentação ao redor. Todas faziam menção de levantar dali, Mona só não sabia por quê. Sentiu Aria se espreguiçar minimamente ainda em seu colo.

— Por quanto tempo eu apaguei? – perguntou a garota.

— Não faço a mínima ideia – Mona olhou em volta. O brilho alaranjado do pôr-do-sol entrava pela janela do quarto. Ela também havia apagado, e não devia ter sido por pouco tempo.

— Ei, aonde todo mundo está indo? – insistiu Aria, esfregando os olhos.

— Meu pai está de carro aí embaixo – respondeu Ali, já de pé ao lado de Emily, que a ajudava a vestir uma jaqueta – Ele vai me levar de volta a clínica pra fazer o exame de sangue.

Ali olhava constantemente para fora enquanto falava, aparentando estar nervosa. Hanna era a única que ainda dormia. Mantinha-se abraçada à Mona como se ela fosse seu ursinho de pelúcia. Despedaçava o coração da morena ter que acordá-la (Hanna ficava especialmente linda enquanto dormia), mas precisou fazê-lo para si mesma poder se mover dali.

Já do lado de fora da casa (depois de ter prendido a guia de Pepe à namoradeira da varanda, para evitar que ele fugisse ou ficasse dentro da casa eventualmente mastigando alguma coisa), Ali se despedia das garotas, agradecendo-as por terem vindo. Mais uma vez, a última da fila foi Mona, e a morena não sentiu nada além de uma vontade de sorrir de modo franco para Ali e abraçá-la em seguida, o que fez sem o mínimo de cerimônia.

— Vai dar tudo certo – Mona ouviu-se repetir o que Aria havia dito momentos antes, enquanto sentia os braços de Ali calorosamente ao seu redor.

Emily sentou no banco de trás da Mercedes imponente do Sr. DiLaurentis logo depois de Ali.

— Seja para o que for – murmurou Spencer para ela à janela entreaberta do carro, em uma voz um tanto séria –, você sabe que pode ligar para qualquer uma de nós.

Emily assentiu e recebeu um beijo no rosto da amiga. E as quatro garotas que restaram à calçada ficaram por um tempo observando o carro se afastar.


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