Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 12
Pra valer




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As três aulas após o almoço passaram com a mesma rapidez e, às três da tarde em ponto, Hanna encontrava-se recostada à mureta de pedra do pátio frontal de Rosewood High. Mona estava demorando de novo, mas ela resistiu à ânsia de mandar outra mensagem. A única coisa que ela não queria era se tornar possessiva. Aquilo estragaria toda a suavidade daquele relacionamento. Afinal, elas estavam juntas sem um título que dissesse que deveriam estar juntas, sem algo que dissesse, subliminarmente, “você é minha”. Pessoas não deviam ser propriedade de outras.

Ainda assim, Hanna não controlou o instinto de olhar para trás, para as escadas que levavam ao prédio. E o que ela avistou, a uma certa distância, fez seu cérebro momentaneamente ir contra essa ideologia. Mona estava em pé, ao topo das escadas e, à sua frente, estava Mike. Estavam à direita do fluxo de jovens que deixava a escola e tinham sorrisos simpáticos estampados em seus rostos. Pareciam felizes demais em falar um com o outro e estavam próximos demais um do outro para o gosto de Hanna.

Mike pôs uma mão gentilmente no ombro de Mona, o que foi suficiente para Hanna desviar o olhar. Sentia-se nauseada como se tivesse levado um chute no estômago. Mas... por quê? Não havia nada que incriminasse algum deles naquela cena... havia? Hanna não sabia dizer. Tudo que sabia era que se sentiu impotente ao ver aquela interação, literalmente incapaz de mover um músculo. E mesmo se não se sentisse assim, o que ela deveria fazer? Caminhar até lá, cutucar Mona no ombro em que Mike não estava tocando e dizer “benzinho, é hora de ir”? Seria duplamente patético!

Cerrou os olhos, não sabendo do que estava com tanto medo, até que uma voz conhecida soou por trás.

— Ei, Hannikins – cumprimentou Aria docemente.

Hanna suspirou, aliviada. Ótimo, uma companhia faria com que ela, esperançosamente, não parecesse tão patética.

— Oi – devolveu fracamente.

— Eu senti sua falta também, obrigada por dizer o mesmo – ironizou Aria, enganchando-se em Hanna para um abraço.

Hanna conseguiu sorrir. Não importava a idade de Aria, ela sempre teria o corpo pequeno e fofo como o de um ursinho de pelúcia, e ela tirava proveito disso para dar os mais confortantes abraços. Tal gesto fez Hanna esquecer momentaneamente de suas agonias.

— Desculpe, a fome das três da tarde me deixa avoada, você sabe.

Aria deu uma leve risada.

— O que aconteceu hoje com você e Ali? – indagou Hanna, sentindo a vida voltar ao seu rosto aos poucos – Ainda não a vi hoje, aliás.

— Ah, o meu despertador tocou quatro vezes no modo soneca antes que eu conseguisse escutar – explicou Aria, casualmente – E Emily disse que Ali falou com ela hoje cedo. Estava se sentindo meio indisposta, talvez esteja gripada ou algo assim.

Hanna assentiu. Aquela normalidade era realmente deliciosa, tanto que até pegar resfriado e faltar aula para passar o dia na cama não parecia ser de todo o ruim.

— Por que ainda não foi para casa? – perguntou Aria após um curto tempo de silêncio, na mesma voz doce e casual.

Aria talvez estivesse fazendo a pergunta porque sabia que Hanna podia, felizmente, ir à pé para a escola e voltar do mesmo jeito. Carros eram um luxo desnecessário para quase todos os habitantes de Rosewood, aliás, levando em consideração o quão pequena a cidade era.

— Porque... – Hanna olhou para trás novamente. Mona assentia cordialmente para o que quer que Mike estivesse falando. Deus, o que poderia ser tão importante? – eu preciso de um favor seu. Pode colocar uma coleira no seu irmão e arrastá-lo até a sua casa?

Aria franziu as sobrancelhas.

— Por que eu deveria... – ela olhou na mesma direção para onde Hanna olhava e sorriu – Ah. Acho que já entendi.

Hanna sentia a ponta dos dedos suarem.

— Entendeu o quê?

— Você está com ciúmes.

Hanna sentiu a própria expressão demonstrar estranheza àquela conclusão, como se nunca antes tivesse ouvido a palavra na vida.

— Ciúmes? – repetiu, esforçando-se para não gaguejar.

— É. É tipo um monstrinho invisível que cresce dentro da gente quando vemos alguém, principalmente algum ex, conversando com a pessoa de quem a gente gosta – explicou como se falasse com uma criança e riu em seguida – Relaxa. É perfeitamente normal. E o Mike já tem uma namorada nova.

Hanna animou-se.

— É mesmo?

Aria assentiu.

— Anna. Uma garota do segundo ano que ele conheceu nos treinos de verão do time de lacrosse.

— É muito bom saber disso – Hanna murmurou para si mesma.

Aria cantarolou um “aaw” e beliscou a bochecha da amiga.

— Deus, você é tão fofa com ciúmes! Acho que é a primeira vez que eu te vejo insegura assim. Quando alguma garota dava em cima do Caleb, eu lembro que você, sem medo, partia logo para uma briga de puxões de cabelo.

— Bem, o Mike não tem aplique, então não deve ser tão divertido puxar os cabelos dele. E não é fofo! – Hanna aumentou o tom de voz de repente, como se tivesse acabado de ouvir um absurdo – É como se esse monstrinho estivesse lentamente devorando as minhas tripas!

Aria gargalhou.

— Você cresce, mas continua tendo a sutileza de uma granada de mão.

— Obrigada – disse Hanna, suavizando-se. Recostou a cabeça no ombro de Aria, que lhe deu um carinhoso beijo na bochecha.

— Relaxe, está bem? – aconselhou mais uma vez – É apenas uma conversa. Além do mais, ela está vindo para cá – sussurrou – Falo com você depois.

Aria deu-a um beijinho na ponta do nariz e acenou para alguém que estava longe enquanto se afastava, que provavelmente era Mona. Hanna nunca conseguiria agradecer o suficiente às suas amigas pela forma natural como estavam encarando aquele relacionamento, como se sempre tivessem sabido que ela e Mona acabariam onde estavam.

Hanna observou, com o canto do olho direito, Mike correr para alcançar a irmã, e seus ouvidos já distinguiam os passos de Mona vindo em sua direção. Aquele som não poderia ser mais reconfortante do que já era.

A garota impulsionou o corpo para cima e sentou-se na mureta ao lado de Hanna, que ainda mantinha a cabeça baixa.

— Se disser que estava esperando por mim, eu vou me sentir especial.

Hanna sorriu e olhou para ela finalmente.

— Eu estava esperando por você – disse, dengosa, tendo que estreitar um pouco os olhos ao levantá-los, devido ao sol.

— Me desculpe de novo – Mona buscou pela mão direita da loira – Eu... eu voltei a conversar com Mike hoje, por incrível que pareça. E ele foi gentil comigo. Jurava que ele ainda pensava em mim como algum tipo de aberração.

Havia uma relevante ponta de tristeza na voz de Mona. Hanna sabia que ela falava do tempo em que passara internada no Radley. Mike e Mona eram algo próximo a namorados na época e o garoto se afastara dela quando recebera a notícia, por meio da irmã mais velha. Ele não sabia sobre –A, obviamente, mas saber que a namorada havia ficado “lelé da cuca” de uma hora para outra, aparentemente, havia sido muito para ele.

Hanna não podia culpá-lo. Mesmo que sendo por apenas dois anos, Mike era mais jovem, e não fora capaz de lidar com aquilo, com ela naquele estado. Não eram todos os que conseguiriam, afinal era assustador mesmo. Mas havia sido egoísta da parte de Mike se acovardar no momento em que Mona mais precisava.

— Enfim, ele me convidou para ir vê-lo jogar em um torneio de lacrosse no sábado – concluiu, vendo que havia obtido apenas silêncio de Hanna.

— E você vai? – perguntou, num sussurro trêmulo, não tendo coragem de olhá-la. Ela com certeza perceberia sua vulnerabilidade.

— Eu... acho que sim – fez uma pausa, parecendo escolher a dedo as palavras para sua próxima pergunta – Você não quer que eu vá?

O coração de Hanna se contorceu. A garota parecia realmente querer considerar qualquer que fosse o desejo dela, unicamente para agradá-la. Mas se dissesse que não queria que ela fosse, Hanna estaria se entregando àquele jeito arcaico de relacionamento que tinha tanto orgulho de não ser o que vivia com Mona.

— Não é isso – Hanna pressionou os dedos sobre olhos cerrados, lutando contra a vontade de chorar. Afinal, o que era aquilo que estava fazendo-a sentir-se tão ameaçada de uma hora para outra?

Mona demorou alguns segundos para replicar. Mesmo não fitando-a, Hanna conseguia ouvir o ritmo diferenciado da respiração dela – que só adquiria tal ritmo quando ela estava nervosa – e pôde esboçar em sua mente aquele olhar preocupado.

— Se eu não soubesse que você está diferente, diria que, já que ninguém nunca demonstrou sentir ciúmes por mim antes, você está fazendo um ótimo trabalho – ela tentou sorrir.

Hanna deixou os braços caírem junto ao corpo.

— Não sei porque todos dizem que ciúmes é algo fofo – soltou um riso fraco – É um dos piores sentimentos do mundo.

A loira escondeu o rosto nas mãos de novo e cerrou os olhos firmemente. As lágrimas lhe queimavam os olhos e estava causando-a certa falta de ar tentar contê-las.

— Ei – Mona sussurrou confortavelmente, descendo da mureta de pedra e colocando uma mecha do cabelo de Hanna para trás da orelha –, o que você viu que te deixou assim?

Hanna balançou a cabeça negativamente.

— Nada. É só que... eu nunca senti algo assim. Nunca precisei. Eu sempre soube que as vadias que costumavam dar em cima de Caleb não tinham chance. Eu gostava de brigar, verbalmente ou não, com elas apenas porque era divertido. Agora, o Mike não é esse tipo de gente – sua expressão se suavizou – Apesar dos breves momentos de imaturidade, ele é um garoto legal.

— Aonde você quer chegar?

Hanna suspirou.

— Eu jamais voltarei a duvidar de você – olhou-a finalmente – E também não é com Mike que eu me preocupo. Mas com as outras pessoas. Quem não nos conhece pode não nos levar a sério, justamente por nós não termos nos “definido”.

Os olhos castanhos de Mona passeavam por suas órbitas, impacientes, tentando entender o que Hanna queria dizer.

— Eu... sinceramente não estou te acompanhando.

Hanna tomou fôlego outra vez, como se fosse explicar algo para uma turma de pré-escola, alcançando a mão dela novamente.

— O que você responderia se alguém perguntasse a você se você é comprometida? Porque nós ainda não falamos sobre compromisso. Até agora foi tudo natural, sem pressão, sem rótulos. Mas eu sinto que a sociedade gosta de rótulos.

Mona deu um passo afrente, ficando de frente para Hanna e encaixando-se parcialmente entre seus braços. Tinha o olhar sério.

— Por que o que a sociedade pensa é tão importante?

— Porque... sem correntes formais que nos unam uma à outra, sem um rótulo que diga oficialmente que eu sou sua e você é minha, eu sinto que estou mais propensa a perder você – ir contra sua própria ideologia nunca fora tão doloroso, mas era o que o mundo real exigia – De um jeito estúpido, acho que faz sentido.

— Não, é a coisa mais estúpida que eu já ouvi você dizer – rebateu Mona seriamente, depois de alguns segundos com os olhos fixos nos de Hanna – Amar você não é um compromisso pra mim, não é algo que eu me sinto na obrigação de fazer simplesmente para honrar um possível título de posse. É algo completamente voluntário. Eu estou ao seu lado porque nunca quis estar ao lado de mais ninguém. E eu acho louvável não precisar rotular esse sentimento. Eu acordo de manhã e juro que tento, todos os dias, encontrar palavras que me ajudem a definir se você é isto ou aquilo pra mim. E antes de sair da cama eu desisto. Porque você é simplesmente tudo.

Hanna sentia os olhos úmidos, mas de raiva por si mesma. Aquelas palavras definiam como ela sempre se sentiu em relação a Mona, ela apenas havia sido burra o suficiente para não encontrá-las sozinha.

Apoiou o rosto no pescoço da morena, com profunda vergonha de ter questionado a validade do relacionamento que elas tinham.

— Em certos momentos eu realmente me odeio – murmurou, depois de ter deixado um beijo demorado no ponto de pulso de Mona, sentindo-se patética demais para pedir desculpas.

— Não faz mal – ela encontrou o olhar de Hanna, fingindo interesse em afastar alguns fios de cabelo da testa dela – Acho que eu te amo o suficiente para compensar isso.

Hanna conseguiu apenas sorrir, sentindo-se derretida e um tanto atônita. Você não pode ser real, ela pensava. Mona enlaçou os braços no pescoço de Hanna e deu-lhe um selinho também demorado, que talvez tenha tido um gosto ainda melhor por ter sido em público.

Feliz pelo receio de momentos antes tê-la abandonado, Hanna, com os braços ao redor da cintura da morena firmemente, ergueu-a do chão com facilidade, sem desgrudar seus lábios dos dela, e se surpreendeu por um segundo ao senti-la tomar impulso e abraçar seu quadril com as pernas. Num movimento rápido, Hanna deu meia-volta e colocou-a novamente sobre o baixo muro de pedra. Se abrisse os olhos agora, tinha certeza de que veria os garotos do time de lacrosse com celulares em mãos, rindo e tanto tapinhas uns nos outros enquanto filmavam a “ação”. Mas ela genuinamente não dava a mínima. Eles provavelmente agiam assim movidos à inveja, porque nenhuma garota de respeito se prestaria a fazer com eles o que Mona estava fazendo com Hanna.

Com a mão direita encaixada à parte de trás do joelho de Mona, ela deixou que os beijos se aprofundassem sem medo. Os dedos da morena embrenhavam-se contidamente pelos cabelos de Hanna, massageando-os de um jeito que causava-a formigamento pelo corpo inteiro.

Completamente à contragosto, Hanna obrigou-se a parar, com medo que se empolgasse demais e aquilo tomasse um rumo inapropriado. Sorriu, por um momento com o lábio inferior dela entre quatro de seus dentes da frente. A respiração dela se chocando contra a sua, ambas ofegantes, deixava Hanna completamente bamba.

— Você quer morar comigo? – sussurrou, seus olhos semicerrados nos lábios rosados de Mona.

— Como é? – parecia que a respiração acelerada havia causado nela uma momentânea perda auditiva.

— Depois que nos formarmos. Você quer?

Um sorriso desconfiado brotou, tímido, dos lábios de Mona.

— Está falando sério?

Hanna mordeu o próprio lábio inferior e assentiu, radiante, subitamente sentido-se sem palavras para dizer que nunca havia falado tão sério em toda a sua vida.

— Mas e quanto a faculdade? – Mona parecia conter a excitação também.

— Bem, eu tenho certeza de que você é inteligente o suficiente para conseguir uma vaga em Harvard. Acho que eu vou ter que começar a trabalhar duro a partir de agora se quiser uma também. Quer dizer, os quatro anos lá vão ser um treino. Depois é pra valer. O que me diz?

— Desde quando você está com essa ideia? – indagou, como se Hanna estivesse contado-a que planejava fazer uma travessura.

— Desde dois minutos atrás – disparou, arrancando de Mona uma risada – O que você acabou de dizer me mostrou que isso – puxou a morena ainda mais para perto, fazendo-a envolvê-la com as pernas mais uma vez – é o que eu quero para o resto da minha vida.

O sorriso que Mona deu a Hanna em resposta talvez fosse capaz de deixar à vista todos os seus trinta e dois dentes. Seus olhinhos castanhos brilhavam num incontestável “sim”.


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Notas finais do capítulo

Estou começando a trabalhar na minha nova ideia; talvez por não ter muito a ver com o plot inicial eu ainda esteja insegura. Mas vamos ver no que dá. Se não der certo eu excluo (ou nem posto) e deixo este como o final mesmo :3