Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 11
Mundano


Notas iniciais do capítulo

Estou tendo umas ideias aqui para continuar por mais um pouquinho com a história, ou uma ideia, pelo menos. Ela pode não ter muito a ver com o plot inicial, mas vamos tentar :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/595916/chapter/11

Depois de tudo o que acontecera antes que o último ano pudesse começar, estudar parecia ser algo tão mundano e tão distante de Hanna – e, aparentemente, das outras meninas também –, que ela realmente pensava que ele nunca chegaria. Mas, como num choque de realidade, a primeira segunda-feira de um ano letivo deu as caras, ensolarada.

Por mais que parecesse que a última vez que pisara em Rosewood High tenha sido há eras atrás e, portanto, voltar à escola parecesse uma ideia um tanto surreal, Hanna levantou-se da cama naquela manhã sentindo-se renovada e animada. O friozinho de outono fez com que ela despertasse mais rápido. Hanna não estava com medo de admitir que se sentia literalmente novinha em folha.

Tinha comprado, no fim de semana, o material escolar no modo automático e saltitou pelas escadas, já com a bolsa em seu ombro, indo ao encontro da mãe na cozinha que, como sempre, passava café em seu costumeiro traje social.

— Bom dia, raio de sol – Ashley espiou a filha com o canto do olho, outra vez parecendo notar de longe a felicidade dela.

— Bom dia! – Hanna replicou, infantil e sonoramente.

— Uma certa mocinha ligou agora a pouco – anunciou Ashley, em tom de quem esconde uma boa surpresa, virando-se para Hanna e despejando café em uma xícara para ela -, perguntando se podia passar aqui para ir com você até a escola.

O coração de Hanna disparou. Era mais do que óbvio a quem Ashley se referia quando disse “mocinha”. De repente, um sutil pavor a invadiu.

— E o que você disse a ela?

— O que você acha que eu disse? – rebateu Ashley, sorrindo como se a preocupação da filha fosse a mais desnecessária do mundo.

Hanna apertou a mão da mãe, num claro “obrigada”. Estava com saudades da dita mocinha. Não havia visto Mona desde quinta-feira. Ela resolvera aproveitar os quatro últimos dias de férias em Napa, na Califórnia, com os pais. O clima lá deveria estar perfeito para degustar queijos e vinhos e fazer um tour por entre aqueles parreirais mundialmente famosos.

Hanna quase morrera de vontade de dizer sim quando Mona fizera a ela o convite para ir com eles. Qual é? Vinho, Califórnia, potenciais sonecas confortavelmente abraçada à morena... . Mas momentos estritamente familiares eram de extrema importância também, para as duas. Então Hanna passou, principalmente o fim de semana, fazendo maratona de séries na Netflix com a mãe. E não encontrou motivos para reclamar disso.

— Bom dia, sra. M! – cantarolou Mona, antes de abraçar Ashley. A garota não parecia sentir-se encabulada quanto a isso, era como se não se envergonhasse com o fato de a mãe de Hanna saber sobre as duas, mas com certeza ela não deveria.

Mona cumprimentou a loira pelo apelido e deu-a um demorado beijo no rosto antes de sentar-se ao lado dela no balção da cozinha. Negou educadamente a oferta de Ashley para tomar café da manhã ali, pois já havia o feito em casa.

Assim que pisaram no gramado de Hanna, beijaram-se, caladas, como se apenas pudessem fazer aquilo ali. Os sorrisos entre os gestos diziam que ambas haviam sentido falta uma da outra. Deram-se as mãos, porém sem entrelaçá-las, e começaram a caminhar em um silêncio confortável até Rosewood High. As ruas largas, vazias e rodeadas por árvores frondosas; o frescor de outono e o cheiro de terra molhada eram os mesmos de quase quatro anos atrás. E Hanna parou por dois segundos.

— O que foi? – perguntou Mona. Sua expressão dizia que ela estava com medo de que Hanna fosse desmaiar.

— Nada – replicou Hanna, olhando com um sorriso bobo para suas botas de cano curto – Eu só sinto que estou tendo um ótimo dèjá vu.

Mona sorriu, parecendo saber do que ela falava, e enganchou-se a ela pela cintura

— Quase não dá pra acreditar que faz tanto tempo – disse, numa voz macia.

Hanna passou um braço por trás da garota.

— Eu tenho muito orgulho desse tempo – ela virou delicadamente o rosto de Mona para si – Não adiantaria um segundo sequer da minha espera por você. Fez tudo ficar mais gostoso no final.

A morena passou alguns segundos calada, analisando os olhos de Hanna, na certa tentando descobrir se ela quis dizer aquilo mesmo. E selou os lábios dela mais uma vez.

O sol já era mais evidente quando as duas chegaram a Rosewood High. O pátio frontal estava lotado de alunos, como sempre ficava em primeiros dias, principalmente de calouros com cara de assustados. Spencer e Emily estavam juntas e foram, obviamente, quem Hanna notou primeiro. Sentiu Mona diminuir o ritmo das passadas. Hanna olhou para a garota que parecia nervosa como se tivesse sete anos e fosse tomar uma injeção. Apertou sua mão na dela ainda mais.

— Você consegue fazer isso – balbuciou, sorrindo.

Spencer foi a que partiu qualquer que fosse o assunto sobre o qual ela e Emily estavam conversando a fim de sorrir para Hanna e puxá-la para um abraço apertado. Fez o mesmo com Mona, sem exitar em nenhum momento, o que pareceu deixar esta um tanto desconsertada, num bom sentido. O mesmo aconteceu com Emily. A morena alta abraçou Mona como se fossem amigas de longa data.

Hanna não deu muita importância ao fato de não ter visto Aria ou Alison na entrada, sabia que as veria qualquer hora mais tarde e, além disso, nada estragaria aquela sensação de leveza que a dominava.

A sala estava cheia de jovens que aparentavam ter muita energia para gastar. Sua primeira aula era de História e esta ela tinha apenas com Emily. Sentou-se ao lado da morena e observou enquanto Ella Montgomery, mãe de Aria e professora em Rosewood High há pouco tempo, fazia o tradicional discurso de começo de ano letivo.

— E como todos já devem saber – a gentil e tão conhecida mulher começou a concluir, dando passos calmos em frente ao quadro branco –, o último ano não se trata apenas de bater-se o recorde de ressacas em uma semana e dançar para as câmeras no Walmart.

Apesar do tom de voz calmo e impassível de Ella, todos riram. Hanna impressionou-se com o quão rápido os minutos estavam passando. Ela praticamente não sentia o peso dos conteúdos passados pelos professores. E logo o sinal para o almoço soou. Hanna desceu direto para o pátio, estava estranhamente sem fome e não estava a fim de enfrentar a cantina lotada.

Olhou a hora no visor do celular, 12:01. O pátio estava – também estranhamente – vazio. Mandou um “onde você está?” para Mona e, um tanto a contragosto, subiu até a cantina apenas para pegar uma latinha de Sprite das máquinas de refrigerante. E como ela suspeitava, o local estava lotado de calouros tímidos e garotos do segundo ano jogando bolinhos de chocolate uns nos outros, dentre os quais estava Mike Montgomery, o irmão mais novo de Aria.

Fazia tempos que Hanna não prestava atenção a ele. O corpo de Mike havia se desenvolvido durante as férias e ele parecia um cosplay de Justin Bieber, com um capuz de moletom sobre a cabeça, calças de cintura – muito – baixa e tênis roxos da Nike que eram com certeza um número maior que o dele. Hanna revirou os olhos. Garotos.

Saiu da cantina no mesmo instante levemente incomodada, sem saber bem por quê. Talvez porque Mona ainda não tivesse respondido sua mensagem ou porque ela não conseguia achar suas amigas.

Era comum alguns dos - bons – alunos do terceiro e quarto anos não frequentarem muito a cantina, afinal estavam envolvidos com suas atividades extracurriculares – algumas davam créditos altíssimos na hora de entrar para uma faculdade. Spencer provavelmente estaria na biblioteca, tendo a primeira reunião com o clube de debates; Aria gostava de assistir as aulas de teatro, um hábito que adquiriu de seu namorado, o ex-professor de Inglês de Rosewood High – que agora lecionava na universidade de Hollis –, Ezra Fitz; Emily voltaria aos treinos de natação em breve, porém agora provavelmente estava com Alison em algum lugar.

Hanna nunca fez questão de fazer algo além do que já fazia nas horas habituais de aula, mas isso tinha que mudar mais cedo ou mais tarde, afinal, ela estava nova em folha agora. Sorriu para si ao pensar nisso. Sua cabeça estava novamente repleta de pensamentos mundanos, ela não precisava pular a cada vez que seu celular vibrava. Durante dois anos, estar vivendo isto fora o que ela mais desejara. Se preocupar com as coisas que todo o resto do mundo se preocupava nunca fora tão bom!

Ela ziguezagueou pelo pátio até a estufa da escola, que ficava em um canto isolado do local. Apenas alguns alunos estavam ali, segurando as caixinhas de suco que distribuíam junto com o almoço na cantina, e Hanna sentou em um dos bancos livres que circundavam as plantas.

12:07. Mona ainda não havia dado sinal de vida. Hanna suspirou. O que há com essa garota?

Esticou as pernas no comprido banco de madeira e recostou-se na parede de vidro da estufa, tocando as pétalas de uma orquídea ao seu lado. Sozinha ali, sem muito no que pensar, Hanna deixou que algo ocupasse sua mente de forma involuntária, algo que fazia muito tempo em que não pensava. Caleb. Na verdade, não pensava nele desde que o encontrara naquela sorveteria e ele dissera aceitar toda a situação, desde que Hanna estivesse feliz.

Aquela era a hora que eles costumavam se encontrar no apartamento dele para almoçar, de vez em quando. Será que Caleb ainda pensava nela? Será que conseguira seguir em frente? Uma sensação de pesar na consciência e no peito atingiu Hanna. Ela desejava, do fundo de seu âmago, que Caleb não estivesse sozinho ou infeliz. Ele não merecia isso.

Fechou os olhos por um segundo e suspirou, tentando dissipar o sentimento de culpa que havia se instalado em seu peito, porém uma voz doce e conhecida ajudou a esmagar tal por completo.

— Ah, aí está você – cantarolou Mona – De quem está se escondendo?

— De ninguém – Hanna deu de ombros, genuinamente aliviada em ouvir aquela voz – Eu te mandei uma mensagem. Onde você estava?

Ela teve, assim que concluiu a pergunta, a impressão de que sua entonação de “garota ciumenta” soava patética.

— Desculpe, a fila da cantina estava gigante, mas eu estava com fome de algo que fosse feito com puro açúcar – ela mostrou o bolinho de chocolate que estava em sua mão esquerda, embrulhado em um saquinho plástico. Em seguida, sentou-se por trás de Hanna e deitou a cabeça dela em seu colo. – E você, por que está aqui?

— Não sei – respondeu, evasiva, fitando o teto – Acho que aqui é o lugar onde as pessoas vêm para pensar nas coisas.

Mona emitiu um sonoro “hum”, tocando os cabelos de Hanna com a ponta dos dedos. Ela tinha razão quando dissera, na noite do jantar na casa dela, depois da viagem a Nova Jersey, que aquilo era muito bom.

— E no que estava pensando?

— Em Caleb – Hanna se sentiu no dever de desabafar.

Mona não replicou. Hanna sentiu-a diminuir a velocidade das carícias até que fossem nulas. Aqueles segundos de silêncio talvez tenham sido os mais torturantes de sua vida.

— Me desculpe – Hanna fechou os olhos, mentalmente xingando-se de estúpida – É só que esse era geralmente o horário que nós nos encontrávamos para almoçar e... e eu nem sei porque estou pensando nisso.

— Hanna – a morena interrompeu, séria e docemente –, está tudo bem. Não tenho intenção de proibir você de pensar nele ou mesmo de falar sobre ele, e mesmo se eu tivesse, não tenho direito de fazer isso. Sei que ele foi uma parte muito importante na sua vida e que as boas memórias vão ficar com você para sempre. Devem ficar.

Hanna levantou-se, ficando de frente para ela. Estava acostumada com a compreensão de todos à sua volta ultimamente mas sabia que não devia contar com aquilo sempre.

— Está falando sério?

Mona deu uma leve risada.

— Está querendo dizer que se sentiria melhor se eu dissesse que o odeio?

Hanna deu de ombros mais uma vez. Ódio era uma palavra forte, mas seria o normal, não seria?

— Bem, sinto muito, mas eu não o odeio – continuou Mona – Aliás, se tem alguém a quem eu mais preciso agradecer, esse alguém é ele. Caleb sempre cuidou tão bem de você – ela acariciou o rosto de Hanna – Eu não poderia ter pedido por um namorado melhor para você.

— Você... quis que eu tivesse um namorado como o Caleb?

Mona riu outra vez devido a tamanha perplexidade de Hanna.

— É claro que sim, sua idiota. Eu sabia que na época não podia cuidar de você do jeito que eu sempre quis, como agora, então o máximo que eu podia fazer era torcer para que caras decentes se aproximassem de você. E Caleb foi o melhor deles.

Mona concluiu com um sorriso genuíno, e Hanna sentia os olhos úmidos. Deslizou a mão esquerda desde a coxa direita da garota até sua cintura.

— Como pode ser tão perfeita? – murmurou, os olhos pregados nos dela.

— Engraçado. Eu me faço essa pergunta quando penso em você todos os dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ps: Eu descobri o que significava "mundano" assistindo Cidade dos Ossos :3

Ps²: É, a moderação do Nyah excluiu a minha fanfic Jashley DE NOVO. Talvez eu tente repostar como uma oneshot mais tarde, mas se não der dessa vez também, paciência. Aí já serão três advertências por "escrever sobre pessoas reais" e eu não estou nem um pouco a fim de arriscar ter minha conta jogada pela janela. Na real eu não sei porque o Nyah tem essa frescura (digo frescura para não dizer palavras mais fortes), porque no Social Spirit, se não me engano, a gente pode escrever sobre artistas! Argh, é de enlouquecer!