Armin’s P.o.V

– Você tem a absoluta certeza que não têm outra roupa por aí?

– Você quer uma camisola da Clara dos ursinhos carinhosos? Eu posso arranjar a rosa. – Ela dá de ombros.

– Tá, ok. Eu posso ficar com essas roupas de palhaço.

– Ei, ei, é assim que você chama minha generosidade e as roupas de meu querido pai? – Ela coloca a mão no peito.

Sério? Generosidade? Esse foi o maior sarcasmo que alguém já me disse. As roupas pareciam bem usadas e eram grandes. Putz grila quantos metros o pai dessa criatura tem? Acho que se eu desse um passo, a calça cairia. E o resto também. Parecia um balão.

A madame havia me arrastado para o quarto dos pais dela e acabou pegando algumas roupas casuais que talvez o pai dela nem usasse mais. Eu disse: “talvez”!

Ela então começa a me rodear, como se me analisasse.

– Deve me agradecer por tudo isso. E talvez assim se descobre o que têm por “aqui”. – Erika enfatiza e então dá um tapa na minha bunda.

– E-ei! Vai me bulinar agora é?! – Eu ruborizo. Ninguém nunca tinha feito isso ué, já é abuso!

– Tem muito pouco pelo visto... – Ela continua, ignorando minha reclamação.

– E daí? É papel das mulheres ter alguma coisa atrás, não dos homens! – Eu digo olhando para cima.

– Você é homem?! Gente, acabei de descobrir isso! Não creio que acabei de confundir alguém. – Ela coloca a mão no cenho. – Achei que fosse um purpurinado como o seu irmão...

– Purpurinado?

– Arco-íris, florzinha, Bambi... Escolha o melhor. – Ela dá um grande sorriso fechado.

– Entendi o recado.

Quanta vontade de esmagar essa cabeça. E mais ainda de jogar algo no meu PSP. Ela o pegou e escondeu em algum canto! Eu mereço. Na verdade, não mereço isso! (E: Ah, merece sim. Pode crer que você merece isso.)(A²: Ninguém te perguntou, bruxa.)(E: Eu não sou movida a pergunta, retardado. Chupa!)

– E deixa de lenga-lenga. Cadê o meu sofá no quintal?

– Sofá no quintal? Poxa, eu arrumei o quarto e no final você quer um sofá no quintal. Oh bem, o que posso fazer? – Ela dá de ombros de novo.

– Sério? Um quarto mesmo? Pode esquecer o sofá.

[...]

– Mudei de ideia. Vai, cadê o sofá? – Eu perguntei a encarando.

– Ah nossa, é só um quarto. E muito bonito.

– Mas é o seu quarto!

– E daí? Continua sendo um quarto, e eu teria que empurrar um sofá para o nosso quintal.

– Você iria me deixar mesmo dormir no frio do quintal?

Ela assente com a cabeça e só sua expressão me dizia tudo.

–... Não tem outro jeito?

Erika nega também com a cabeça.

– Não temos um quarto para hóspedes, então... – Ela completa.

– Na sua cama?

– Opa, parando aí, tigrão!

– Graças a Deus. – Eu junto as mãos.

– Vai dormir do meu ladinho hoje. – Assim abre um sorriso.

– Ah não! Deu a entender que não era pra dormir na sua cama!

– E não era. Mas entenda uma coisa Min. Tudo o que você gosta eu não gosto e tudo que você odeia é a melhor coisa para mim. Entendeu o princípio, querido?

– Então, eu adoraria dormir com você!

– Você já disse que não. Mas darei esta chance e agora seu lugar é ali no chão. – Ela aponta para um canto. – Até parece que eu deixaria você dormir na mesma cama que eu. Eca. – Disse ela e então fez uma cara de nojo.

– E até parece que eu gostaria de dormir do seu lado. – Eu murmuro arrumando meu lugar no chão.

Erika havia me dado dois cobertores e um travesseiro com várias estampas aleatórias. Coloquei um cobertor no chão para me deitar em cima e o outro para me cobrir mesmo. Analisei melhor o lugar do que antes e acabo de perceber que não o achei nada parecido com a dona. Era rosa, claro que rosa choque, mas mesmo assim não se assimilava com essa característica maldosa e assustadora dela. Imaginava caveiras, preto, caveiras, morte, caveiras, sangue, caveiras, chicotes e outras coisas horríveis, talvez penduradas no teto ou nas paredes, substituindo os quadros femininos e coloridos. (E: Você tá vendo muito 50 Tons de Cinza.)(A²: Eu nunca vi tá?!)(E: Que virgem :v)(A²: Você também nunca assistiu.)(E: Quem te garante, honey?)(A²: ....Credo...)

Só sua cama dava para quatro pessoas, tá que bem amassadas, mas do mesmo jeito daria. Sua escrivaninha branca era organizada e tinha um cheiro agradável, assim como todos os móveis do lugar. O quarto em si era aconchegante e cheiroso, e dava muita vontade de me jogar nos puffs que estavam quase ao meu lado encostados na parede. Havia uma porta ao lado da mesinha de canto do lado da cama de Erika, que deveria ser um banheiro apenas para ela. Sim, esse povo devia ser rico. Se não fossem, o quê é todo esse glamour, fofura e modernismo em toda esta casa de boneca?

– Não é por nada não, mas... Onde seus pais trabalham? – Eu perguntei já deitado observando o teto branco.

– Já está querendo roubar nossas coisas? – Ela bagunça.

– Claro que não! Eu só quero saber o que meus “sogros” fazem da vida, sabe como é né? Alguém pode perguntar.

– Só se for na sua cabeça. Quem pergunta de alguém o que os pais da pessoa com quem ele namora faz?

– Você ainda não conhece minha família mesmo... – Murmuro me lembrando de todos os momentos constrangedores que minha mãe me fez passar.

– E nem quero.

Erika coloca sua cabeça na frente da minha visão do nada. O que me dá um grande susto e me faz soltar um leve grito. Ela apenas se diverte dando gargalhadas.

– Você grita que nem uma menininha! – Outra de suas risadas.

– Ahh! Vamos apenas dormir! – Resmungo me recompondo.

– Sim, senhor! – Ela coloca a mão no cenho como se cumprimentasse um capitão ou general. Então dá uma risada. Creio que nunca havia presenciado ela rir desse jeito antes. Ela volta para sua cama.

A encaro um pouco, observando seus dentes brancos e alinhados tão á mostra assim. O seu sorriso ia de orelha em orelha, como o Gato de Cheshire. Suas pernas estavam cruzadas e ela estava em cima de sua cama como uma criança. Usando apenas um short e uma regata que não cobria muito a parte da barriga, que pelo visto era definida. Eu sei que nunca percebi antes, mas... Erika Sparks é mesmo uma gata!

Me viro em direção do chão e começo a bater minha cabeça repetidamente no chão frio do quarto tentando tirar ou apagar o que acabei de pensar agora.

– O quê... Você está... Fazendo? – Ela me olhava como se eu fosse um debiloide. Eu só podia ser naquele momento, eu achei essa bruxa, bonita!

– Eu só pensei em... Besteiras. – Voltei á minha posição anterior e comecei a olhar para o teto de novo. Estava com o cenho ardendo, mas pelo menos afastei aqueles pensamentos.

– O...kay... Enfim... – Ela desce da cama e vai em direção ao interceptor do lugar. -... Tenha ótimos pesadelos, honey. – E desliga a luz.

– Pode deixar. Sonho com você.

Sinto ela se aproximar de mim e me preparo para outro peteleco ou puxão de orelha.

– Sempre tão engraçadinho. – Então apenas um forte chute na minha barriga. É hoje que vou morrer!

– Ai, meu pâncreas! – Falo quase sem respirar enquanto abraço á mim mesmo. – Desculpa. Desculpa. – Digo entre tossidas.

– Vá dormir retardado. – E agora o puxão de orelha. Tem que ter. – Se bem que você progrediu um pouco hoje. – Sinto sua mão macia segurar meu queixo e fazer com que meu rosto virasse de perfil. Logo então ela beija de leve minha bochecha.

Assim, ela retorna para sua cama, silenciosamente.

Que ótimo, minha orelha está doendo, meu intestino está quebrado e minha bochecha formigando. Já vi que não durmo hoje.

Por que Erika Sparks?

Por que você é tão bipolar assim, madame?