Capítulo 6. Assustadora

PDV Edward Cullen

Em poucas horas chegamos ao nosso destino, deixei a agente descansando até observar a rodoviária se aproximar. Confesso que desejei que a viagem durasse minha vida inteira, pois tê-la rodeada pelos meus braços e suspirando de encontro ao meu peito parecia meu pequeno paraíso. É, eu sei. Estou soando novamente como uma garota adolescente apaixonada, mas não posso evitar o modo como essa mulher mexe comigo. É vergonhoso! E estranhamente eu gosto disso.

Ela abriu seus grandes olhos chocolates e me fitou por alguns instantes. Então seus olhos desviaram para os meus braços ao seu redor para retornarem novamente para o meu rosto. Imediatamente uma lembrança da minha feliz, ou não, infância veio a minha mente. Eram meus coleguinhas de escola pulando em minha volta e cantando “Edward cabeça de tomate! Edward cabeça de tomate!”. Sinceramente esses genes de pele branca e cabelos vermelhos só podem ser carma, na próxima encarnação quero ser negro para que minha propensão à vergonha, por que isso com certeza me acompanhará nas próximas encarnações, não seja tão evidente. Juro que até mesmo minhas bochechas estavam suando de tamanha vergonha que eu estava sentindo.

E como se ser pego no flagra agarrando minha protetora não fosse suficiente minha língua resolveu dar o ar de sua graça.

– Não é nada disso que você está pensando! – acho que essa frase é usada em outro tipo de situação, mas foi a primeira coisa que saiu da minha boca enquanto eu rapidamente afastava meus braços dela como se ela tivesse alguma doença contagiosa.

Seus olhos acompanharam meu movimento com diversão.

– E o que é que estou pensando Tony?

– Está pensando que... – falei lentamente engolindo em seco. – Que este foi apenas uma troca de carinhos entre um casal recém-casado, que é o que somos, e não eu me aproveitando do seu sono. De jeito nenhum! Porque você sabe... Né? Que eu nunca me aproveitaria de seu momento de descanso. Jesus! – ela me olhava novamente sem qualquer expressão, mas de algum modo notei a diversão em seus olhos. – Você está dando corda para eu me enforcar! Isso sim não é legal! Não pode apenas ignorar o que aconteceu?

– Não, não posso. – respondeu séria antes de se levantar, pegar a pequena bagagem no bagageiro acima de nós e me arrastar para fora no ônibus.

Será que ela estava chateada com o que eu fiz? Deve estar me achando um abusado! Mas juro que não fiz nada além de abraçá-la e sentir o cheiro de morangos dos seus cabelos! Ok, isso soou um pouco doentio. Ela deveria ficar chateada. Eu ficaria se acordasse com um homem me abraçando e fungando em meus cabelos... Acho que vou vomitar! Ela deve me odiar agora! Será que ela vai desistir de me proteger e me entregar para o mafioso? Deus! Eu não quero morrer! Ainda sou muito jovem para isso!

– Tony! – pulei arregalando meus olhos.

– Me desculpa, me desculpa! Juro que não faço mais, só não me entrega para ele.

– Ele quem? – suas sobrancelhas subiram levemente, mas ela não me olhava e sim me arrastava para dentro de um taxi.

Ela indicou um endereço para o motorista que acelerou como um louco. Aproximei-me com cuidado da agente e sussurrei em seu ouvido.

– O Volturi.

– E porque eu faria isso? – ela novamente me olhava daquele jeito dela, mas mais uma vez eu acho que avistei uma diversão em seu olhar.

– Bem, por que... Ah... – sim eu estava gaguejando.

Eu sentia falta do seu cansaço para que eu pudesse ler de maneira exata suas expressões. Então veio o riso.

– Tony! – ainda sorria, mas agora tinha o meu rosto entre as suas mãos. – Eu não estou chateada.

E novamente eu estava embasbacado por esta mulher. Não sei como meu coração podia bater tão rápido, acho que vou ter um treco!

Ela se afastou e soltou meu rosto e então eu pude respirar novamente.

– Você jura?

Apenas uma de suas sobrancelhas ergueu-se em resposta. Acho que era meio infantil pedir que ela jurasse, mas eu estava um pouquinho apavorado com a possibilidade de, sei lá, perder a minha vida, talvez.

– Vocês estão juntos há quanto tempo? – perguntou o taxista nos olhando pelo espelho central.

– Faz bem pouco tempo... – comecei a falar e me calei quando senti as unhas da agente em minha cocha, quase soltei um grunhido de dor, mas me calei ao escutá-la conversar animadamente, sim choquem-se senhoras e senhores, pois ela estava falando animadamente!

– Mas parece que nos conhecemos por toda a nossa vida, não é querido! – estalou um beijo em minha bochecha e eu automaticamente sorri molinho, molinho. – Estava eu lá enchendo a cara após terminar com meu ex-namorado e aparece o Tony todo prestativo me oferecendo um lenço, tão romântico! – Jesus, ela suspirou! – Fiquei louca por esse ruivinho no mesmo instante. – para completar ela sorriu e infiltrou seus dedos em meus cabelos.

Será muito vergonhoso se eu desmaiar?

– Dois meses depois ele me pedia em casamento! Passamos nossa lua de mel em Paris, o quão romântico isso é isso? Não é mon amour?!

– Oui! – o que mais eu podia dizer?

– Voltamos há alguns dias para visitar mamãe e agora estamos indo para o nosso novo apartamento!

– Que história romântica! – exclamou o taxista animado.

E novamente minha protetora disparou um falatório sobre romantismo, almas gêmeas e viver felizes para sempre. Enquanto isso eu continuava calado, completamente mudo. Isabella Swan era assustadora quando agia como uma mulher normal.

PDV Mecânica Halle

Eu vou arrancar cada fio de cabelo de Isabela Swan! Como ela pode simplesmente ir embora na surdina sem nem ao menos se despedir? A safada queria ficar a sós com o garoto bonito que eu sei! Bella podia ser extremamente difícil de se ler, mas após tantos anos de “amizade” eu poderia claramente dizer que havia um brilhozinho diferente em seu olhar. Isso não quer dizer que minha irritação tenha diminuído. O que ela pensa que eu sou? Alguma mulherzinha indefesa? Por favor!

Irritada joguei a chave inglesa no chão e impulsionei meus pés para que eu pudesse deslizar e sair debaixo do carro.

Uou... O que era esse par de pernas grossas e másculas que atrapalhavam o meu caminho? Meus olhos não puderam evitar acompanhar toda a extensão daquele monumento em forma de homem.

– Posso ajudá-lo? – perguntei sem conseguir evitar o tom malicioso em minha voz.

Só então ele me notou deitada aos seus pés.

Seus grandes olhos castanhos me pegaram desprevenida com a estranha e curiosa infantilidade. Porém em seguida se tornaram maliciosos enquanto acompanhavam sem nenhuma vergonha todo o meu corpo. Eu estava com aquele macacão largo e sujo, não estava vestida da maneira mais feminina, porém o jeito com que ele me olhou me deixou completamente acesa e me sentindo a mulher mais sensual em que seus olhos já pousaram.

– Você deve ser Rosálie Halle. – sua voz de trovão fez um arrepio subir pela minha espinha.

Imagina essa voz na hora “h”? Ele não precisaria nem encostar em mim para me levar a loucura.

Sentei-me para em seguida aceitar sua mão estendida. Ora só se não é um cavalheiro! Aceitei de bom grado em um teste secreto, vamos ver se ele sente nojinho da graxa em sua mão ou não.

Para o meu agrado ele sorriu mostrando duas covinhas adoráveis. Só eu acho que homens com covinhas estão em outro nível?

– Sim sou eu. – respondi limpando minhas mãos em um flanela que deixava em meu bolso. – Precisa de ajuda com seu carro? – não pude evitar que meus olhos fossem em direção ao belo carro que ele guardava dentro das calças para então retornar meu olhar ao seu rosto.

Novamente estava lá o olhar malicioso que parecia me deixar nua em pensamento. Ele deu um sorriso de canto, o sorriso mais sacana que já vi em um homem. Na verdade o homem inteiro era sacana com todos os seus gigantes músculos. E olha que não sou uma mulher miúda!

– Talvez precise de uma revisão. – disse ele entrando no jogo.

Porém antes que pudéssemos continuar nossa brincadeira insinuante fomos interrompidos por um moreno com traços indígenas.

– Os funcionários não a viram. – disse ele para o grandão e então voltou o olhar para mim. – Agente Black. – estendeu a mão em cumprimento. – Muito prazer.

Imediatamente fiquei em estado de alerta. O cumprimentei e então voltei meu olhar para o monumento que mais parecia um urso em forma de homem. Sua feição parecia um pouco culpada.

– Desculpe, não me apresentei. Sou o agente Emmett McCarty, sou colega de Isabella Swan. Ela deixou seu contato em caso de emergência e...

– Aconteceu alguma coisa?! – o cortei sentindo meu coração na boca.

Será que Bella se enfiou em confusão após fugir daqui? Meu Deus!

– Na verdade sim. Perdemos contato com ela desde ontem de manhã. Ela estava fazendo proteção de uma testemunha e gostaríamos de saber se ela entrou em contato com você ontem ou hoje.

Emmett parecia gentil e realmente preocupado o outro homem também, mas então lembrei-me das palavras de Bella dizendo que sua rota havia vazado do FBI. Talvez um desses dois fosse o traidor, talvez os dois o fossem.

– Meu Deus! Vocês acham que ela está bem? Não falo com Bella desde semana passada quando ela veio almoçar comigo no domingo! – as aulas de teatro que fiz no ensino médio finalmente foram de alguma serventia.

O ursão delicadamente repousou sua mão, e que mão, em meu ombro e gentilmente me consolou.

– Não se preocupe, trabalho com a agente Swan há anos e já a vi sair de problemas muito piores do que esse. Tenho certeza que ela está bem e apenas procurando a melhor forma de proteger a testemunha.

Assenti segurando a mão do agente.

– Obrigada. – dei uma fungadinha para a encenação ficar mais real.

Ele bem que poderia vir me consolar na minha cama... Se controle Rosálie! Este homem pode ser gostoso o quanto quiser, mas ele também pode ser o traidor que está colocando sua irmãzinha em perigo!

– Avisaremos assim que tivermos notícias. – afirmou antes de junto ao índio seguir para a saída.

Porra Bella! Por que você nunca me apresentou seus colegas de trabalho?

PDV Promotora Brandon

Ai minhas unhas! Terei que comprar postiças se continuar roendo as minhas! Eu ainda não tinha recebido notícias de Bella e eu já estava começando a enlouquecer.

Tentei me concentrar no processo na tela do computador, um dos muitos que era responsável na promotoria. Meus dedos digitavam furiosamente e a cada pausa para uma leitura uma unha se despedia de sua vida.

Bella pagaria minha manicure depois que Aro Volturi fosse condenado a passar a vida atrás das grades.

Meus devaneios intempestivos foram interrompidos pelo telefone. Era minha secretária avisando que o detetive Whitlock estava ali. Instintivamente ajeitei meus cabelos e dei uma olhadinha no reflexo de meu celular para ver se estava tudo ok com a minha aparência antes de mandá-lo entrar em meu escritório.

Confesso que eu tinha uma quedinha por Jasper... Ok, ok, eu tinha uma super queda por ele! Ele tinha aquele jeito todo sério com olhos azuis penetrantes que me deixava sem reação, sem fala. Era o único homem que me intimidava. Quando estávamos a sós eu não sabia o que dizer para sairmos da base das conversas profissionais e passarmos para as conversas pessoais.

Já havia trabalhado com o detetive umas três vezes e em nenhuma delas consegui ter coragem para chamá-lo para pelo menos um café ou um Happy Hour, mas desta vez eu estava decidida a não deixá-lo escapar! Precisava pelo menos descobrir se ele era solteiro, nunca vi uma aliança, mas isso não quer dizer que ele não tenha uma namorada...

– Bom dia, promotora.

– Bom dia, detetive. O que o trás aqui?

– Já está sabendo que o FBI não tem contato com a agente responsável pela proteção do senhor Cullen?

Suspirei pesadamente antes de voltar a roer minhas unhas.

– Sim já estou sabendo.

– E você sabe que eles estão com um vazamento? Há um traidor, um espião no FBI.

Não pude evitar o espanto. Sim eu tinha conhecimento da competência de Jasper, mas não imaginei que um detetive conseguiria este tipo de informação da esfera federal.

– Como sabe sobre isso?! – exclamei sem conseguir esconder minha surpresa.

– Então você já está sabendo. – não pude entender se sua feição demonstrava decepção ou surpresa.

– Bem, era apenas uma suposição, mas como Bella foi atacada... Agora é uma certeza. Agora eu pergunto novamente, como você sabe sobre isso?

– Bella? Refere-se a agente Swan? – apenas assenti. – Foi exatamente ela quem me falou sobre a suspeita.

Arregalei meus olhos. Bella contou a ele?

– Então ela confia em você. – conclui cruzando meus dedos em minha frente.

– E se você sabe sobre a suspeita quer dizer que ela também confia em você.

– É claro que confia, eu e Bells somos amigas há mais de uma década.

– Então você sabe se ainda teremos um processo contra o Volturi.

– Sim detetive. Não se preocupe com isso, ainda teremos um processo contra o mafioso. Bella tinha um plano e me deixou de sobreaviso para não desistir do caso.

– Minha equipe ainda está trabalhando atrás de evidências concretas. Ajudaremos no que for preciso.

– Fico grata por isso. Apesar do testemunho do senhor Cullen ter grande peso neste processo todas as nossas outras acusações são circunstanciais. Um prova física seria a cereja do bolo! – sorri largamente e ele retribuiu.

Ok, eu não estava preparada para o seu sorriso. Meu Deus! Ainda bem que estava sentada, pois se estivesse em pé iria derreter até o chão.

– Falando em bolo... – começou ele brincando com a barra de sua jaqueta. – Já estamos quase na hora do almoço... Você está com fome? Se quiser me acompanhar...

– Oh! Juro que se você não tivesse me convidado eu teria terminado com todas as minhas unhas! – ri sem graça e ele novamente me mandou seu sorriso derretedor de Alicinhas.

Levantamos e seguimos para um restaurante próximo. Desta vez eu não deixaria a oportunidade passar!