Certo, respira. Aria fica calma.

Como?! Tem um homem lindo de morrer nu no meu quarto!

– Olha, juro que não tenho nenhuma roupa que – engasguei – sirva em você. Vou descer rapidinho e ir à loja mais próxima, esta bem?! Lá deve ter alguma coisa!

– Não, Aria. Eu não me importo de ficar assim – Hamon lançou um lindo sorriso em minha direção.

– EU me importo, Hamon! – coloquei um casaco e arrumei a bolsa – Certo, volto em um instante.

Havia uma loja de esquina perto do meu prédio, mas era muito caro e pareciam ser direcionadas a homens de quarenta anos. Dei algumas voltas pela calçada e me deparei com um brechó. Teria de servir. Ou era isso, ou as roupas da minha mãe na época de gravida.

O interior do lugar era enorme, cheio de roupas e objetos pendurados nas paredes, as araras continham vestes que nunca imaginei que seriam tão lindas. Tudo me lembrava os filmes que assistia quando era menor, como Grease e A garota de rosa-shocking. Eu abrigava uma enorme paixão por objetos antigos, dava para ver só pelo meu corte ridículo de cabelo.

Digamos, que pedi a cabelereira uma franja reta estilo Audrey Hepburn ou Zooey Deschanel. Mas, acabei saindo como se a Hannah Montana tivesse me emprestado a peruca dela.

Enquanto eu enchia a cesta de vestidos floridos e suéteres, lembrei do motivo pelo qual eu estava lá. Revirei toda a loja com pressa para achar as vestes certas. Eu havia deixado um homem nu no meu apartamento, ele poderia estar com frio ou coisa do tipo.

Na hora de pagar senti medo, trazia inúmeras blusas e calças para Hamon na cestinha, tais que não consegui resistir de pegar. Quando a funcionária falou o preço, não acreditei. Pedi que conferisse de novo mas continuava dando o mesmo. Quarenta, apenas, quarenta dólares por seis camisas; três vestidos; dois pares de tênis; dois suéteres e três calças jeans. Perfeito!

Antes de fazer o caminho de volta para casa, passei em outra loja. Cuecas.

Encontrei Hamon sentado no chão com uma manta cobrindo-o, me senti culpada por ter sido tão dura com ele. Era claro que ele poderia sentar no sofá ou poltrona, mas eu estava tão nervosa no momento em que o vi, que não sabia como reagir.

– Hamon, aqui estão suas roupas. Eu não sei se você vai gostar mas achei-as confortáveis – sorri entregando a sacola.

– Muito obrigada, Aria. E me desculpe, senti frio e achei esse pano no sofá. Frio dói sabia?! – Hamon parecia um cãozinho perdido que comecei a rir.

– Como assim? Anjos não sentem frio?

– Agora eu sinto. Antes não.

– Hamon.. Você não é mais um anjo?

– Eu preciso me sentar e te explicar tudo, mas antes vou experimentar as roupas que você comprou.

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Aguardei sentada no sofá. Cookie brincava com o travesseiro que Hamon havia usado, agora seria propriedade do filhote de cachorro. Eu assistia alguns programas na TV, desenhos infantis eram divertidos para passar o tempo. Fui pega desprevenida quando um lindo homem de cabelo cor de lã apareceu no corredor. Ele vestia uma blusa preta simples e calças surrada. Me fitava com um sorriso torto no rosto.

– Aria?! Você está bem? Seu rosto está todo vermelho, isso é normal?

Droga. Eu estava realmente corando?

– Ah, sim. É o calor, eu acho.

– Aria, está fazendo doze graus lá fora – me mantive quieta, queria dar um soco na minha cara, não precisava estar tão nervosa assim.

– Enfim, Hamon, você pode, por favor, me explicar tudo o que esta acontecendo?

– Certo, por onde começo!? - Hamon penteou os cabelos com os dedos e deu inicio a uma longa conversa.

– Você conhece a bíblia e sabe quem foi jesus cristo, certo?! Pois bem, tudo que está escrito, de fato, aconteceu. Porém, existem muitos simbolismos distribuídos pelo livro, tendo que levar certo tempo para interpretar – Hamon fez uma pausa – todos nós do céu, esperávamos ansiosos e nervosos por essa fase, o apocalipse. Ele já veio a acontecer a muito tempo atrás, e depois de toda a luta e guerra, por causa da chave, deu origem a esse mundo que você vive hoje. Eu não lembro quem foi esta pessoa mas, é sempre alguém da terra capaz de ler as cartas de Deus.

– Calma, espera. Então o apocalipse já aconteceu, e por causa dessa pessoa, a chave, ela pode ler algumas cartas e dar fim ao apocalipse?

– Sim, exatamente isso.

– Por que esta acontecendo de novo? E onde estão essas cartas? Por que vocês não podem simplesmente ler e acabar com isso?

– Aria, não é simples assim. A pessoa nasceu com essa missão, apenas ela pode encontrar, abrir e ler as cartas de Deus. Está em uma língua que ninguém compreende. E, o apocalipse acontece quando se é necessário. Quando você nasceu, um mensageiro veio ate nós anjos e disse que no dia 29 de janeiro de 2015 se iniciaria.

– E quem é você nessa historia toda? Por que preciso de um guardião?

– Certo, agora vem a parte difícil...

– Agora?! –perguntei irônica, Hamon me ignorou e continuou.

– No céu existe organização, então cada anjo tem a sua função. Eu fui criado para ser um anjo guardião da chave de 15, isto é, você. Estive com você desde quando você nasceu.

– Espera, espera, espera... Então quer dizer que você vem me observando todos esses anos? Me protegendo de me machucar? – minha voz começou a ficar alta e aguda – Então saiba, senhor anjo da guarda, que você vem fazendo um péssimo trabalho... Obtive pneumonia com quatro anos; quebrei um dedo com seis e uma perna com onze. Um dia, eu estava tomando banho e quase... Ah, meu deus!! Você já me viu pelada? – levantei do sofá surpresa e agora apontava para seu rosto.

– Aria, como você fala! Não estou aqui para te impedir de quebrar um osso ou quase bater a cabeça na banheira, eu venho quando você me chama – ele se levantou de raiva e diminuiu a distancia que existia entre nós – Quando seu coração se assusta e fica gelado, quando sua alma sente-se insegura, ou quando você esta em uma fase difícil e triste e de repente sente um bem estar, é por que eu fiz o meu trabalho – encontrávamos frente a frente, sua voz permanecia firme.

– Me desculpa, Hamon. Eu não tive a intensão... Espera um pouco, “ quase bater a cabeça na banheira”?! Então você estava lá! Seu tarado, você me viu pelada! – por mais que eu estivesse um pouco brava, vendo a expressão de Hamon, tão sincera e surpresa, comecei a gargalhar – Certo, anjinho. E por que você algumas horas atrás apareceu nu na minha porta?

– Aria, eu preciso que você mantenha a calma ok?! Não grite ou fique brava como agora a pouco – silenciei e prestei atenção em cada palavra que emitia. Assenti curiosa – Existem pessoas que desejam te matar. Eles almejam o apocalipse, e que não exista mais mundo.

– Mas.. Por quê?

– Bem, os meus irmãos dizem que o mundo de hoje esta um lugar cheio de sexualidade, morte, roubo, nada que Deus queira. E os demônios, eles procuram a destruição e o sofrimento das pessoas ate não haver mais mundo.

– Então, não somente demônios como também anjos querem me ver morta?

Hamon concordou serio.

– Deus não pode descer aqui e me ajuda, e faz alguma coisa? Eu nunca quis isso. Por quê eu?

– Aria, ele quis você por algum motivo. Acreditou e acredita em você – Hamon mordeu os lábios – E... Deus sumiu. Ele não está mais no céu a muito tempo. Acredito que esteja vivo nos observando, mas desistiu de tudo. Anjos eram para ser seres perfeitos, mas são criaturas invejosas e tristes. Algumas desejam sentir o amor pela primeira vez; o sexo, tudo que os humanos têm. Anjos querem ser mortais, Aria – Hamon respirou e continuou – Já outros, cobiçam o poder de Deus. Deve ser por isso que ele sumiu. Suas criações não o respeitavam e aspiravam seu trono. Agora, eles querem o apocalipse para que essa guerra civil acabe.

– Guerra civil? Anjos contra anjos?

– Exatamente.

– Hamon, você não me respondeu por que estava nu – mordi o lábio e não contive o sorriso.

– De tudo que te contei essa é a única parte que você tem em mente?! – comecei a rir e fitei suas sobrancelhas cerradas – Aria, eu desisti do céu. Eu não sou mais um anjo. Sou um humano.

Hamon se encontrava sério e ao mesmo tempo triste, queria poder fazer algo, mas não fazia ideia do que.

– Entreguei minha graça, e caí na Terra. Tenho somente meu poder de comunicação e minha espada de vidro – Hamon percebeu que eu não havia entendido e voltou a falar – com a comunicação posso saber tudo que acontece no céu, e a espada de vidro é a única arma capaz de matar anjos.

– Hamon, por que desistiu de sua graça?

– Porque esse é o único jeito que tenho de te proteger, Aria.