Em Busca de um Futuro Melhor escrita por Lyttaly


Capítulo 3
2


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas o/
Boa leitura ^^



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Kali relaxava deitada no colo de Rafael. O carinho feito em sua cabeça a acalmava. Em momentos assim ela acreditava que um dia sua vida poderia mudar.

— Com licença.

Os dois encararam o garoto ruivo parado à sua frente. Ninguém falava com eles, então o que aquela pessoa queria ali?

— Eu sou novato aqui. – disse sorrindo – Me chamo Felipe.

— O que você quer? – Kali perguntou ríspida, sentando-se.

— É que... – o garoto pareceu desconcertado por um momento – Eu... queria me apresentar.

— Por quê? – foi a vez de Rafael perguntar.

— Eu gosto de conhecer pessoas. – Felipe respondeu, sorrindo.

— Você não vai querer nos conhecer. É melhor ir embora.

Kali segurou a mão de Rafael. Não gostava de estranhos. Era apavorante ter que falar com alguém de quem nada sabia. E aquele garoto parecia persistente. Caso contrário já teria ido embora, ou melhor, nem teria se aproximado, como todos fazem.

— Por que não vou querer?

— Porque não somos interessantes.

— Eu penso o contrário. – o ruivo sentou-se de frente para os dois – Ainda não sei o nome de vocês.

Eles não sabiam como reagir àquilo. Ninguém nunca insistia em conversar com eles e agora se viam nessa situação. Kali aproximou-se mais de Rafael, que a abraçou, tentando passar uma segurança que ele não sentia.

— Me... chamo... Rafael – respondeu relutante – e essa é minha irmã, Kali.

— Prazer em conhecê-los. – Felipe disse ainda sorrindo e mais animado por ter conseguido fazê-los dizer algo – Eu sou do 1º ano e vocês?

— Por que... está falando com a gente? – Kali perguntou ainda apreensiva.

— Quero ser amigo de vocês.

— Mas por quê, se há tanta gente aqui? Por que nós?

— Digamos que vocês chamaram minha atenção.

— Nós nos parecemos com artigos de museu? – Rafael perguntou.

— Não... não é isso. Só fiquei curioso. Vocês ficam aqui sozinhos num canto... E quando perguntei quem eram vocês, me disseram para não me envolver. Mas eu sou curioso. Além disso, eu sou da sala da sua irmã. Suspeitava que ela nem havia notado que chegou um aluno novo e acabo de confirmar essas suspeitas.

O sinal tocou anunciando o fim do intervalo.

— É melhor voltarmos para sala. – Felipe disse se levantando e vendo que nenhum dos outros dois fez menção de repetir o ato – Bom... eu vou na frente. Até mais!

— Rafa, eu tô com medo. E se ele quiser conversar comigo? O que eu faço?

— Calma. Ele não parece má pessoa. Mas não saia da sala sozinha, okay? Eu vou te buscar quando a aula terminar. E não fale com ele, a menos que seja necessário.

— Tá bom...

Rafael deu um beijo na testa da irmã. Ele a levou até sua sala observando que Felipe ainda não havia chegado. Despediram-se e Kali foi para seu lugar no fundo da sala, passando de cabeça baixa pelos alunos que ali estavam, com o capuz e o cabelo cobrindo seu rosto. Ninguém sentava perto dela. Achavam-na esquisita. Ficavam até curiosos sobre aquela garota que chegara à escola, que nunca conversara com ninguém, mas não tinham coragem de perguntar nada a ela.

Felipe entrou na sala, pegou seu material e sentou-se em frente à Kali, sendo observado pelos olhares curiosos dos outros alunos. A menina o interessou desde que chegara. O mistério que a rodeava o intrigava. Achava-a bonita também. Queria de alguma forma quebrar o escudo que ela segurava.

— Olá de novo! – Kali permaneceu de cabeça baixa sem responder – Então... você tem quantos anos?

Felipe a observava. A menina permanecia calada, escondendo seu rosto.

— Não se preocupe. Eu não mordo. Parece que você não vai falar comigo, né? Então eu falo. Me chamo Felipe, como já disse. Tenho 15 anos. Nasci em São Paulo. Mas como meu pai foi transferido para cá, em Belo Horizonte, nos mudamos. Sou bom em Português e História, então se precisar de ajuda pode me pedir.

— Não preciso de ajuda. – disse baixo, mas firme.

— Silêncio! – o professor entrou na sala.

Salva pelo professor rabugento – Kali pensou.

A aula passou sem nada de interessante. Às vezes, Felipe olhava para trás, para a menina que a cada minuto estava mais aflita. Queria sair dali, mas andar sozinha não era a melhor opção. Ele poderia segui-la e, por mais que parecesse uma boa pessoa, ela não podia confiar em alguém que acabara de conhecer. A vida lhe ensinou que as pessoas não são confiáveis, nem mesmo quando as conhecemos.

O sinal avisando o fim da aula soou. Kali guardou seu material lentamente. Queria sair da sala só quando Rafael chegasse. Mas Felipe era insistente e continuou tentando conversar com ela. Vendo que a menina não fazia questão de olhá-lo ou respondê-lo, resolveu desistir por hora.

— Eu não sou uma pessoa ruim, Kali. Espero que um dia você perceba isso. – falou, saindo da sala.

Seria isso verdade? Kali não tinha certeza. Confiar em alguém era difícil e assustador.

— Você está bem? – Rafael perguntou se aproximando da irmã.

— Estou. Você demorou.

— O professor nos segurou, desculpa.

— Tudo bem. Vamos embora que o dia ainda não acabou.

Rafael e Kali seguiram em direção à loja onde Rafael trabalhava. Ali eles podiam ter um almoço decente graças ao Sr. Luiz, o dono da loja, que tratava os meninos como se fossem seus netos e só não fazia mais por eles porque não podia. Encontrar o Sr. Luiz era a melhor parte do dia. Almoçaram ouvindo mais uma das muitas histórias do velho.

Depois do almoço voltaram à realidade. Kali foi para casa e Rafael para o caixa da loja. Agora era trabalho. Rafael trabalhava pela liberdade e Kali para continuar inteira.

Kali entrou em casa com cuidado. Àquela hora Célia devia estar andando pela cidade gastando o salário mensal de Rafael e seu namorado devia estar bebendo em algum bar. Mas se alguém estivesse em casa dormindo, o que acontecia às vezes, não queria que o barulho acordasse ninguém. Olhou todos os cômodos e concluiu estar sozinha. Menos mal. Guardou seu material em seu quarto, trocou de roupa e começou a arrumação da casa que, apesar de ser limpa todos os dias, sempre amanhecia como se um furacão tivesse passado por ela. Começou pela cozinha, cuidando para não quebrar nada. Da última vez que aconteceu ela quase tinha ido parar no hospital. Teria ido se aquilo fosse uma família normal. Suas atuais dores ainda eram resultado de um copo de requeijão quebrado. Da cozinha foi para a copa, depois sala, quartos e banheiro, esse último cômodo sendo o pior. Conferiu pelo menos duas vezes cada cômodo da casa, atenta a cada detalhe. Com tudo finalmente pronto tomou banho, tendo o cuidado de deixar o banheiro totalmente seco quando terminou. Foi para o quarto estudar um pouco. Algum tempo depois ouviu o barulho da porta da sala bater. Com certeza era Victor. Correu e trancou a porta do quarto. Ficar sozinha com ele não era a melhor opção. Não era seguro.

— Ka-li... – o ouviu chamar com a voz numa falsa mansidão. Um arrepio de medo correu pelo seu corpo – Eu sei que você está aí. – Ela escutou-o subir as escadas – Quero conversar com você. – viu a maçaneta de sua porta girar, o medo fazendo-a ficar completamente imóvel, fazendo com que ela prendesse a respiração – Abre a porta Kalizinha, eu não vou te fazer mal. – o sarcasmo fazia seu estômago revirar e a voz embriagada a deixava com cada vez mais nojo daquele homem. Assustou-se com uma batida forte na porta – Se não abrir vai ser pior!

Kali ouviu o barulho do portão. Olhou pela janela e viu Rafael entrando. Rafael olhou para a janela do quarto de Kali como de costume e viu o olhar aflito da menina. Atravessou correndo o quintal entrando em casa e batendo a porta para avisar que estava ali.

— Você vai se ver comigo, garota – Victor disse se afastando da porta. Não podia fazer nada com Rafael em casa.

Kali ouviu batidas na porta – um toque, depois dois – um código, feito de forma tão contida que era quase imperceptível, mas os ouvidos treinados de Kali a faziam ouvir. Abriu a porta e Rafael a abraçou fechando a porta atrás de si.

— Ele vai fazer ela me bater hoje, Rafa...

Rafael sabia que era verdade e sentiu seu coração doer por saber que não poderia fazer nada para evitar a longa noite que teriam.


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Notas finais do capítulo

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