Enquanto você dança escrita por Raissa Vilas Boas


Capítulo 6
5 - Tânia


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Espero que gostem! Não deixem de comentar o que esperam que aconteça nos próximos capítulos, obrigada!



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BELLA POV

A noite já estava chegando.... o crepúsculo mantinha o céu numa cor linda de rosa e laranja. Pelo menos o que dava pra ver do céu, daquela janelinha minúscula que era minha única entrada de ar.

Sorte a minha não ser claustrofóbica.

Se bem que depois de passar alguns dias nesse lugar, com certeza desenvolveria alguma patologia grave. Depressão, ansiedade, desnutrição, Leptospirose.

Estremeci ao imaginar meu futuro ali.

O que seria de mim dali em diante? Como eu levaria a vida quando saísse daquele lugar? Em que estado físico e mental estaria? Se eu saísse daquele lugar.

Observei mais uma vez o céu escurecendo, dando a Deus a mais um dia.

Já faziam 3 dias de sequestro e nesse meio termo já pensei tanto em tantas coisas que me deixara esgotada.

Como está Charlie? Como ele absorveu a notícia do sequestro? Estaria ele espalhando cartazes por aí com a foto do meu rosto? O quão agoniado ele está? Quando será que os sequestradores entrariam em contato pra negociação?

E Alice? E Rosalie? Como elas estavam lidando com tudo aquilo?

E meu quarto, minhas contas, meus estudos...quem estava cuidando de tudo? Será que alguém teria ligado pra faculdade de dança pra avisar o porquê não estou aparecendo? O que os professores estariam pensando?

E meu parceiro de dança dos Regionais, Mike Newtoon? Estaria ele ensaiando com outra parceira agora? Eu fui substituída na competição classificatória para que tinha me preparado até agora?

Tantas perguntas sem respostas...

Foquei meus pensamentos na competição dos Regionais, onde eu disputaria um Duo de Contemporâneo que havia coreografado há um mês. A competição era dali um mês e meio, e Mike e eu ainda tínhamos muitos passos pra ajustar.

No meio dessa loucura de sequestro a última coisa em que deveria me preocupar é com isso, mas era mais forte do que eu.

Não era atoa que havia escolhido a faculdade de dança.

Dançar me fazia pulsar, fazia eu me sentir viva. Era como sentir a eletricidade irradiando em minha pele, era onde eu desligava os pensamentos e podia me conectar a mim mesma e a música.

E talvez fosse exatamente isso que eu precisasse agora. Me desconectar desse ambiente sujo, dessas pessoas inescrupulosas a quem odiava tanto. Precisava limpar minha mente, para o bem da minha própria sanidade mental, e me concentrar em algo que não fosse aquele sequestro ou os motivos por trás dele.

Respirei fundo algumas vezes e imaginei as primeiras notas da coreografia que sabia tão bem quanto meu próprio nome.

Não era difícil dançar sem música, era natural. Depois de tantos ensaios a música ficara impregnada no meu cérebro.

Levantei da cama e estendi o braços lateralmente, entrando exatamente no compasso da Dança que obedeceria aquele acorde musical que estava imaginando.

Era difícil dançar uma coreografia em Dupla sem o Mike, sem as fases de voo, levantadas, sem os giros. Mas eu sabia improvisar e gostava de deixar os braços leves e livres.

Continuei dançando pelo quarto quando ouvi a porta abrindo e uma voz doce, e estranhamente histérica, interrompeu o silêncio:

— Credo Ed, que lugar é esse? Não acha que mereço algo melhor? - Esbravejou a mulher desconhecida.

— É o que temos Tânia. Também preferia estar em outro lugar - Edward disse calmante. Notei algo de estranho em seu tom de voz, mas não consegui identificar o que era.

Escutei um chiado e defini que deveriam ser o lacre de uma latinha de refrigerante ou cerveja abrindo. O que Edward estava fazendo? Uma festa particular enquanto me deixava presa?

— Jura? - Perguntou a mulher - Já fui recebida melhor.

— Como eu disse, é o que temos. Não posso sair daqui, como havia falado. - Disse Edward, e dessa vez identifiquei a irritação em sua voz.

Eu não sabia quem era aquela mulher, não sabia o que estava fazendo ali com o Edward e nem qual era a relação dos dois. Só sabia de uma coisa: eu precisava tentar.

— Socorro! - Gritei, ao mesmo tempo que corri para a porta, batendo a mãos contra a madeira, desesperada - Por favor, me ajuda! Fui sequestrada! Socorro! 

Rapidamente escutei passos apressados em direção a porta.

— O que é isso, Edward? - Perguntou Tânia - Tem alguém aqui?

— São negócios da família Tânia. Você sabe que não posso comentar sobre isso com você - Respondeu ele, ríspido e ligeiramente preocupado.

— Você deveria confiar mais em mim - Disse ela - Eu já te ajudei outras vezes...

— Por favor! - Gritei novamente, na esperança de que a voz da consciência alcançasse a mulher, e que ela pudesse me ajudar - Me tira daqui! Não é só um sequestro, eles mataram minha família! Ele abusou de mim! - Gritava, com as lágrimas rolando pelo rosto.

A porta se abriu, e Edward entrou com tudo, carregando cordas e algemas, com um olhar tão frio que me deixou com medo.

— Cala a boca - Ele ordenou, ao mesmo tempo que me algemava na cama e prendia um pano em minha boca - Eu já te disse que não adianta tentar fugir.

— Você abusou dela? - Perguntou a mulher, enquanto entrava no quarto e analisava a situação. Um olhar de nojo atravessou seu rosto, e ela estremeceu, pousando os olhos em mim enquanto Edward terminava de me arrumar.

A mulher era loira, alta, com a pele branca com a neve, e com os olhos num tom de azul claro e brilhante. Seu corpo esguio de desenhava repleto de curvas, marcados pela roupa preta que estava justa demais ao corpo. Seu top decotado demais deixava a mostra grande parte dos seios robustos, e da barriga lisa.

— Claro que não - Edward respondeu - E nem matei a família de ninguém.

Eu continuava olhando para a mulher bonita enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto, como se ela pudesse ler meus pensamentos e ver que Edward estava mentindo.

— Agora, onde paramos? - Perguntou Edward, enquanto abraçava a cintura da mulher, e cochichava algo em seu ouvido.

Os dois saíram dali rapidamente, Edward apenas verificou se eu estava presa. Nem se deu o trabalho de olhar pro meu rosto.

As amarras e as algemas estavam apertadas demais, me machucando. O pano na minha boca não me deixava falar, e apenas arquejei, protestando.

Ele nem se virou pra checar.

Tânia lançou os braços envolta no pescoço de Edward, colando completamente seu corpo no dele, e beijando sua boca.

Ele trancou novamente a porta, com chave, corrente e cadeado. Os passos dos dois foram ficando cada vez mais baixos, até eu não poder escutar mais nada.

Continuei chorando, desolada, rezando para que Jasper chegasse o quanto antes e pudesse aliviar as amarras. E mais do que isso, que ele já tivesse tempo de pesquisar o que eu havia pedido.

No dia anterior, quando finalmente tive tempo de conversar a sós com ele, descobri no meio da conversa que ele fora adotado no mesmo orfanato que Alice fugiu.

Ele insistia em dizer que já havia voltado lá para tentar descobrir algo de seus pais biológicos, mas dissera que todos os arquivos haviam sido queimados.

Eu sabia disso, o mesmo acontecera com Alice. Charlie a achou na rua, ainda quando era pequena, chorando e com medo, sem saber pra onde ir. Ela havia fugido do orfanato na mesma noite em que acontecera o Incêndio. Procuramos por vários anos por alguma pista sobre seus verdadeiros pais, sempre sem sucesso.

Pelo menos até 6 meses atrás, quando encontramos o senhor Eric York, um antigo funcionário do orfanato. Ele, junto com o advogado que Charlie contratou, estavam buscando de fontes diferentes possíveis árvores genealógicas, ou qualquer documento que pudesse nos ajudar.

Eles descobriram que alguns arquivos haviam sido roubados antes do incêndio.

Contei isso ao Jasper por três motivos:

1 - Ele era o único que não parecia pertencer a esse lugar, a essas pessoas. 

2 - Ele era estranhamente familiar, e eu queria descobrir o porquê.

3 - Eu pensava que se ajudasse ele a encontrar sua família, talvez ele pudesse me ajudar a sair.

Ainda chorando, mas com a esperança de que ele logo chegaria, apoiei minha cabeça no braço estendido por conta das algemas, e tentei esquecer a dor enquanto tentava dormir.

 

 


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Notas finais do capítulo

P.S.: Eu disse que ia tentar voltar, não disse? To cumprindo :D



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