Crônicas de Um Espadachim da Era Edo escrita por Dark_Angel


Capítulo 4
Infiltrado


Notas iniciais do capítulo

Editado em 28/02/2009.



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Após a matança da noite passada, Kenshin retornara ao abrigo que havia treinado dias atrás. Outros membros do grupo que agora fazia parte, os Ishin-shishi, adentraram a residência naquela mesma noite após a saída de Battousai. Espantados com o perfeito desempenho do retalhador, eles apenas retiraram os corpos do local para evitar suspeitas, deixando tudo na mais perfeita ordem... A casa agora estava intacta, sem manchas de sangue ou quaisquer sinais de batalha. Não devolver os corpos às suas respectivas famílias era tamanha insolência, mas o objetivo do grupo não era este. Devolvê-los-iam quando fosse à hora certa.

Himura se deixa levar pela forte brisa que agora sopra, é um vento gélido que o faz refletir sobre o que fizera em Kyoto. Não sentia culpa, estava apenas preocupado. Questionava-se quando tudo aquilo acabaria. Não matava por prazer, mas por que acreditava que era preciso. Lutava por uma causa. Logo acima da colina que agora sobes, avista a residência em que morava.

- Vejo que obteves sucesso mais uma vez! - disse Saburo, seu criado.

- Sim. Segui os ensinamentos de meu mestre e não tive dificuldades! – dizia Himura - Lembro que uma vez, me dissestes: "Cem combates tivesses que travar, cem vitórias seriam teu fruto!” Sinto falta dele...

***

Alvorece e o sol irrompe pela pequena janela de madeira atingindo o rosto do samurai. Sua face ainda manchada de sangue não cotejava com aquela bela manhã. Ele se levanta, hoje seria mais um dia importante, seu contato o explicara na noite anterior que recebeu ordens expressas do alto escalão da organização a qual pertenciam. Tal injunção explicitava que battousai deveria se infiltrar num encontro inimigo que aconteceria numa casa de chá em Kyoto. Apresentar-se-ia como Keiki Yamato, o jovem filho de um dos políticos que matara na noite passada. Falaria que seu pai adoecera e tivera que tomar cuidados médicos, seria seu representante na reunião. Não seria fácil incutir-se, mas tinhas um trunfo. Os membros de seu clã, o enviaram uma espécie de memorando com a falsa assinatura de Yamato, uma réplica perfeita, e, como não conheciam seu filho, o golpe tornar-se-ia primoroso.

Mais à tarde Kenshin parte em sua empreitada, vestia um belo kimono branco com detalhes dourados. Ao pescoço pendia um amuleto com o símbolo de "sua família", tudo para ilustrar a farsa. A casa de chá era no centro da cidade. Desviando em meio a um mar de seres humanos, o assassino avança em sua jornada. Todos pareciam tão frágeis, mas isto não lhe inspirava pena. Todos andavam com tamanha indiferença ao que estava a acontecer no Japão, que Himura sentia um tamanho desprezo por todos. Tão conformados, tão débeis. Enfim, chega ao local determinado. Ao adentrar no recinto um homem o recebe e diz:

- “Seja bem vindo senhor, poderia dar-me a honra de polir vossa espada enquanto se senta e bebe uma xícara de nosso delicioso chá verde? Aguarde um momento que a atendente virá dentro de poucos instantes para receber teu pedido. Se não for muita intromissão, gostaria de sugerir o sashimi de salmão fresco para o almoço, realmente, está uma delícia nesta tarde! Enquanto come, poderá ainda ouvir o agradável som da biwa* de nosso artista local.”

- Sim será ótimo, obrigado! - responde Kenshin

Não notara nenhum movimento de seus inimigos, supunhas que chegara mais cedo do que o normal. Alguns minutos se passam e uma bela moça o recebe, longos cabelos castanhos perfeitamente enlaçados formando um penteado tradicional japonês.

- Pois não senhor? - Ela pergunta.

- Gostaria de uma xícara de chá verde! - responde Himura.

- Perfeitamente senhor, será um prazer servi-lo!

A moça já havia percebido o status de quem atendera. O belo amuleto dourado intimidava a muitos, ela sabia que se tratava de um membro da família Yamato, e como era jovem, supunha que era o filho. Alguns minutos passam e a senhorita volta com o pedido.

- Aqui está senhor! - Serve o chá, e ajoelha-se em sinal de respeito.

Kenshin também já havia percebido que sua presença atemorizava um comportamento que ilustrava a submissão das classes sociais do Japão feudal. Ele argutinamente pergunta:

- Represento a família Yamato. Devo me dirigir a algum local específico? Sabes sobre uma reunião?

- Sim senhor, os membros ainda não chegaram. Já estás na sala onde ocorrerá tal encontro! - responde a mulher.

Battousai ficara em silêncio, apesar de enunciar um sinal de que havia entendido o recado da dama. O silêncio demonstrava indiferença, e esta era a pior forma de tratar as classes inferiores às castas que gozavam o poder. Kenshin agora ingere a bebida em curtos goles, saboreando-a, podia sentir um adorável aroma, diferentemente do que estava por vir. Logo que chegara ao local, o samurai foi orientado a dirigir-se a uma sala especial, afastada do público geral, destinada a pessoas importantes e clientes ilustres.

Alguns minutos se passam e a porta do recinto se abre. Entram três homens muito bem vestidos. Kenshin em sinal de respeito se levanta e os cumprimenta se curvando para frente. Rapidamente ele mostra o memorando que estava oculto em seu kimono.

- Boa tarde, senhores. Sinto lhes informar que meu pai infelizmente está muito doente e teve de fazer uma viagem à Edo para uma consulta médica, mas voltará em poucos dias. Sou Yamato Keiki e vim representá-lo, aqui está minha autorização! - ele entrega então, o pergaminho a um dos homens.

- Sim, então finalmente nos conhecemos não é mesmo? Sinto muito para com o estado de saúde de seu pai. É grave?

- Não sei dizer ainda, senhor. Espero que não.

- Mas responda-me Keiki, quando que voltastes do Ocidente? - um dos homens pergunta enquanto lê o documento.

Seu plano até o momento estava funcionando, mas continuar com a farsa seria um pouco mais complicado do que aparentava. O mesmo homem que o respondeu pede para serviçal trazer saquê. Eles começam a beber enquanto conversam.

- Voltei há três dias, uma longa viagem! - mente Kenshin.

- Onde esteves mesmo rapaz? Europa? - pergunta o outro.

- Sim, estava concluindo meus estudos na Inglaterra - diz Himura.

- Muito bem, agora que voltou quero que conheça minha filha Kyoko, que tal marcarmos aqui mesmo um almoço amanhã para que eu possa apresentá-la? Em? O que achas? - diz um homem de nome Kogorou Yukishiro.

- Sim, seria um prazer senhor. - responde Battousai, uma resposta negativa seria um insulto, logo ele se vê forçado a aceitar a proposta.

- Então está marcado, amanhã neste mesmo horário! - diz o homem abrindo um largo sorriso!

Durante a hora que se segue eles conversam sobre uma estratégia para conter as manifestações dos rebeldes. Estavam planejando atacar daqui a duas semanas, seria um assalto em massa. Cerca de 150 espadachins a mando do governo atacariam os líderes da organização inimiga, se tal manobra ocorresse seria o fim da guerra, o governo venceria.

Kenshin escutara o plano calmamente, apenas colhendo informações relevantes, como locais de encontro e quando que seria dada a ordem para o início da operação. Felizmente nada daquilo era concreto, e tal plano só entraria em prática daqui a exatas duas semanas, caso obviamente, fosse aprovado por todos os burgueses que o financiariam, e isso incluía seu falso pai. Felizmente, apenas os homens que conversavam naquela sala sabiam do que estava por vir. A missão seria simples, matá-los! Mas Himura não tinha ordens para tal ato, portanto naquela tarde, ele voltaria para sua morada e escreveria à seu comando contando tudo. Foi o que exatamente aconteceu.
_____________________________________________________________________________Vocabulário:

* Biwa: Instrumento de corda muito semelhante a um violão, mas possuindo apenas três cordas.

 

 


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