Mamãe passou o dia comigo. Ela trouxe um álbum de fotos de quando eu era bebê. Ela também mostrou vídeos dos meus primeiros passos e aniversários. Recordei algumas coisas e também me lembrei da minha mãe. Ela me ama muito e deve ter sido um grande choque quando ela descobriu que eu estava sem memória. Minha mãe é linda. Parecida comigo. Temos traços do rosto iguais e meu sorriso é igual o dela. Perguntei sobre o meu pai e o resto da família, ela esperou um pouco e me contou tudo em detalhes, mas foi difícil para ela. Meu pai nos abandonou assim que eu nasci. Eu cresci sem uma figura paterna dentro de casa. Minha mãe fazia os dois papéis, mas nem sempre dava certo. Ela disse que eu era, mas fechada quando criança e vivia me culpando pelo abandono do meu pai. Mais quando eu comecei a ver que ele era o ''irresponsável'' da história deixei para lá e nunca mais toquei no assunto. Meus avôs maternos morreram antes da minha mãe ficar grávida e meus avós paternos... Tem uma grande chance deles nem saberem da minha existência. Passamos a tarde toda falando sobre eu '' obviamente ''. No fim do dia, o médico disse que foi uma tarde vitoriosa porque eu me lembrei de bastante coisa, pelo menos uns 15% já recuperei do meu ''cérebro perdido''.

– Ah que bom doutor. E quando posso levá-la para casa? Creio que ela vá se recuperar mais rápido. Perto dos amigos e dentro da casa dela.

– Bom sra. Melo, na maioria dos casos os pacientes que tem ''amnésia'' não respondem do mesmo jeito que a Grace. Nesses 5 dias que passaram ela já recuperou muita coisa perdida, isso é um sucesso. Podemos deixá-la ir assim que completar todos os exames marcados. Provavelmente só daqui a 1 semana.

– 1 semana? - Digo chocada. - Não aguento ficar nem mais um minuto dentro desse quarto Doutor. Não aguento.

– Grace você precisa entender que sua situação ...

– Eu entendo doutor. Mais você também precisa saber que eu evolui. Estou bem. Só preciso estar em casa. Por favor.

– Filha o médico acha melhor você ...

– Mãe mas eu quero ir para casa!

– Eu também quero meu amor. Mais você ainda tem que completar todos os exames.

– Grace 1 semana passa num estalar de dedos você vai ver.

– Mais exames?

– Grace, precisamos ter certeza que você está 100% bem.

– Filha você vai ficar bem. Só mais 1 semana.

–Okay. Mais 1 semana nesse inferno.

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Mamãe ainda não foi embora. Já são 22:57 e ela está me mostrando como eu era gorducha quando tinha 3 anos.

–Você era muito fofa!

– Eu tinha bochechas de buldogue. - Rimos com minha comparação.

– Tinha mesmo. Eu amava apertar e apertar. Nunca me cansei. - Diz ela apertando minhas bochechas.

– Mãe ...

– Tá bom. Parei. - Ela coloca as mãos para o alto.

– Mãe você tem notícias do ...

– Thomas? Ele pediu para todos os dias eu mandar mensagem para ele dizendo como você está. Meio que foi uma ordem. Entendo a preocupação. Ele é seu namorado né.

– Não. Ele não é mais meu namorado.

– Como assim meu amor? Vocês brigaram?

– Sério que você não sabe mãe?

– É claro! Aquela sua amiga não quis esclarecer tudo que tinha acontecido no dia do acidente. O que houve? Ele te machucou?

– Mãe ele me traiu.

– Como??? O Thomas???

– Sim. Ele mesmo.

– Mas ... Meu Deus!!

– É ... pode acreditar.

– Quer me contar o que aconteceu?

– Mãe eu amo muito ele. Mas ele não merece meu amor. Eu não sei o que eu faço. Eu sinto muita falta dele, mas pedi para ele não vir mais porque já estava ficando muito doloroso. - Digo eliminando litros de choro. Minha mãe me abraça.

– Meu amor fique calma. Vai ficar tudo bem... - Ela dá uns tapinhas na minha costas e sinto que isso amenizou. Carinho de mãe é tudo.

– Não mamãe. Não vai ficar. Eu não quero mais ver ele. Nunca mais!

– Você sabe que vai ver ele na escola né?

– Mãe ...

– Nem começa Grace. Não vou te trocar de escola.

– Mas ...

– Filha você tem que conviver com isso. Talvez vocês se resolvem e voltem a ficar juntos. Nunca se sabe.

– Não acredito nisso mãe. O que ele fez foi ... horrível.

– O que ele fez?

Conto a história toda para ela.

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