– Ei, o que aconteceu? – Indagou Percy, preocupado.

O sinal para o lanche havia acabado de tocar, mas Annabeth ainda estava atordoada. Caminharam em silêncio até o lado de fora da escola e se sentaram nas escadarias.

– Minha mãe aconteceu. - Disse ela.

– Ela veio aqui?

– É, ao que parece, ela e Hera andaram conversando muito.

– E o que isso significa?

Santa lerdeza, pensou a loira.

– Significa que ela me mandou voltar para casa.

– E você vai? - Ele perguntou, mordendo um pedaço de cupcake azul que parecia estar delicioso.

– Tenho outra escolha? -Perguntou, mordendo a maçã em suas mãos.

– Tem. Continue na casa de Thalia.

– Zeus e Hera me expulsariam.

– Vá para a minha casa, não seria incômodo. Tem a casa do Leo, a da Reyna, a da Rachel, Hazel e Nico, Piper, Frank, Calipso... Qual é, Annie, você poderia morar em qualquer lugar.

– Você não entende, ela vai infernizar-me até que eu volte.

– Se voltar, terá deixado Atena vencer.

– ““Mesmo a força às vezes tem de se curvar a sabedoria.” – Repetiu Annabeth, lembrando-se da frase que costumava dizer.

– Você é a sabedoria, Annabeth, não se curva para ninguém. – Disse ele, deixando o ego de Annabeth inflado. – Ninguém te domina.

– Eu sei, só estou cansada de fugir, de chegar todos os dias em uma casa que não é minha, comer em uma mesa que não é a minha, deitar-me em uma cama estranha. Se ela é doida, não sou eu quem deve pagar o preço. - Admitiu.

– Você sabe que, se voltar, estará demonstrando o quanto ela ainda é poderosa, não é? Sabe que Atena é capaz de te banir para outro país, sabe que Luke estará na casa...

– Eu sei, eu sei. Falando em Luke, ele me enviou um bilhete.

Uma expressão indecifrável passou pelo rosto de Percy.

– Que tipo de bilhete? - Perguntou. Annabeth podia sentir a tensão em sua voz.

– O tipo que pessoas doidas que não tomam remédio mandam.

– O que estava escrito?

– “Mande Percy tirar os olhos de você, ou então não terá mais olhos”, algo assim.

O rapaz deu de ombros.

– Que arranque os olhos, eu não ligo.

– Percy...

– Sério, se ele me arrancar um olho, sai da luta sem o fígado e os rins.

– Você é...

– Doido? Sim, muito doido. Não ligo que ele me ameace, me não deve te colocar no meio disso, deveria me enfrentar cara a cara.

– Não fosse eu, você sequer o conheceria.

– Eu também não conheceria o amor, Annie.

Antes que ela pudesse processar o que Percy dissera, ele já havia tomado-a em seus braços e a beijava, lenta e pacientemente.

– Percy? Annabeth? – Ouviram uma voz.

Se afastando em um pulo, viram Rachel, com um caderno de desenhos e uma cara de assustada, na porta da escola.

Antes mesmo que eles pudessem se mover, ela já saíra correndo, aparentemente com lágrimas nos olhos.

Annabeth, se levantando em um pulo, correu atrás da garota.

– Rachel? – Perguntou, entrando no banheiro feminino.

Não obteve resposta, mas viu os pés da garota em um dos cubículos do banheiro. Empurrou a porta do cubículo, mas essa estava trancada.

– Rachel, o que foi? - Perguntou.

Novamente, não obteve resposta. Podia ouvir, baixinho, o barulho de choro.

– Rachel, por favor, pode falar comigo?

– Não. Vá embora – Disse a garota, a voz rouca.

– Rach...

– É uma ordem.

Annabeth, respeitando a garota, saiu do banheiro. Estava confusa, será que a garota já estava chorando antes? Será que havia acontecido alguma coisa?

Saiu do banheiro e foi para a sala de aula, já que o sinal acabara de tocar.

– Alunos queridos. – Disse o professor Shane, o mesmo que falara o dia da reunião. – Como já sabem, à partir de agora trabalharemos em equipes, os professores se reuniram e já organizaram tudo.

– Professor – Disse Hazel– Eu não entendi muito bem essa coisa de equipe.

– Burra... – Ouviu Drew, a irmã de Piper, resmungar.

– Vocês se sentarão em mesas de quatro a cinco alunos, farão provas individuais e algumas serão em equipe, ou seja, você e seus colegas. E senhorita Drew, a Hazel não é burra, é uma de nossas melhores alunas, ao contrário de você.

Quase dava para ouvir a música “Turn down for what” tocar, a sala toda exclamou um “LOL”.

– Cuidem de suas vidas. – Drew protestou.

– Só quando você fizer o mesmo. – Piper falou, recebendo uma cara feia da meia irmã. - Não me olhe desse jeito, mamãe não está aqui para te proteger.

Alguns alunos saíram do lugar e foram dar tapas no ombro de Piper, outros vaiaram Drew em alto e bom som. Annabeth estava vaiando Drew.

– Alunos, se acalmem, deixem-me falar como ficaram as mesas. - Shane interviu, embora pudessem ver um sorriso em seu rosto.

O silêncio tomou conta da sala, Annabeth aproveitou a chance e foi se sentar em uma cadeira vaga.

– Teremos quatro equipes. A primeira é de: Piper, Jason, Hazel e Frank.

Ouviu-se um “high five” entre os amigos. Tiveram muita sorte.

– A segunda equipe é de: Reyna, Octavian, Leo Valdez e Calipso.

Leo sorriu, provavelmente se imaginando na equipe de duas lindas garotas. Reyna parecia frustrada, odiando a ideia de ter que estar na equipe de um palhaço, uma garota por quem o palhaço tem uma quedinha e um garoto chato que não cala a boca.

– A terceira equipe é de: Drew, Connor e Travis Stoll...

Shane disse os integrantes, todos se davam mal. Drew protestou, pediu para trocar de equipe, mas o professor a ignorou.

– Por fim, a última equipe: Annabeth, Percy, Charles Beckendorf , Silena e Rachel E. Dare.

Annabeth ficou feliz, gostava da meia irmã de Piper e de seu namorado, se dava bem com Rachel e Percy... bom, o que poderia dizer? Mal sabia ela que essa equipe dos sonhos em breve se tornaria a equipe de sues pesadelos.

* * *

– O que achou da equipe? – Perguntou Piper

.– Até que está boa. – Annabeth respondeu – O que achou da sua?

– Maravilhosa!

– Também ,você está com seu namorado e dois amigos. – Hazel falou. – Nico disse que está na equipe de Will Solace, o repetente, e mais alguns adolescentes chatos.

– Coitado.

– Pois é.

– Annabeth e Percy na mesma equipe, algo que diz que não vai prestar – Piper sugeriu.

– Aff. – Resmungou Annabeth. – Ele é meu amigo, vamos nos dar super bem.

– Não foi isso que ela quis dizer. – Hazel disse, colocando sua bolsa sob os ombros. – Meu pai chegou, tchau.

Com um aceno, as duas garotas se despediram de Hazel.

– Ok, agora me conte porque está com essa cara de preocupada. – Piper disse.

– Como você sabe?– Eu sei de tudo, querida, sei de tudo.

Annabeth se sentou no meio fio e a amiga repetiu o gesto.

– O mundo não está ao meu favor hoje, Pipes.

– Quero que me conte tudo, pedacinho por pedacinho.

Respirando profundamente, a loira começou a narrar.

* * *– VOCÊS SE BEIJARAM? EU SABIA! – Berrou Piper.

– Fale mais baixo, por favor.

– Desculpa, me empolguei. E como foi? Ele beija bem?

– Nem reparei. – Respondeu Annabeth, embora quisesse responder que sim.

– Que fofos.

– Antes de nós nos separarmos, Rachel apareceu e saiu correndo, acho que estava chorando. Você sabe se alguma coisa aconteceu?

– O ciúmes aconteceu, amiga

.– Ciúmes?

– Você não sabe? Rachel é apaixonada por Percy desde que entrou nessa escola, se fosse por ela, já estariam namorando há séculos.

– Mas ela nunca demonstrava...

– Ela fazia aula de teatro, aprendeu a fingir.

– Mas ela nem me respondeu quando estava no banheiro...

– Annie, você estava fazendo o que ela sempre quis fazer, acha que ela te receberia com um sorriso no rosto?

– Por que uma desgraça nunca vem sozinha? Por que sempre é “efeito dominó”?

– A vida ama nos sacanear, só digo isso.

– Agora tenho que me preocupar com minha mãe maluca, um amigo que é doido e uma menina enciumada e triste que, por acaso, está na minha equipe.

– E com a sua chefe chata. – Acrescentou Piper.

– Obrigada, agora estou convencida de que minha vida só piora.

– Annie, isso vai passar. Atena é sua mãe, um dia vocês vão se reconciliar, Luke vai voltar para Boston e você e Percy não namoram, Rachel não tem porque manter o ciúmes. Quanto à sua chefe, qual é, esse não será seu trabalho para sempre. É só uma fase ruim, vai passar.

– Tomara que seja só uma fase mesmo. – Disse Annabeth.– Tomara mesmo.

* * *

Percy.

– Como foi a escola, filho? – Perguntou Sally.

– A mesma coisa de sempre, tudo numa boa.

– Não arrumou nenhuma briga?

– Não.

– Não foi para a diretoria?

– Não.

– Ainda bem. Agora vá tomar um banho, seu pai virá te buscar.

– Mas é segunda feira, ele só vem nos fins de semana.

– Só tome banho, por favor.

O garoto se encaminhou para o banheiro.

Algum tempo depois...

– Sally, você precisa arrumar a antena dessa TV, o canal de pesca está horrível. – Ouviu o pai reclamar.

– Eu tenho mais o que fazer ao invés de ficar vendo TV, Poseidon.

– Percy gosta desse canal...

– Percy gosta de jogar videogames, gosta de canais de luta, gosta de canais de animais. Odeia esse canal de pesca, acho que deveria conhecer seu filho melhor.

O clima estava tenso, então o rapaz apenas deu uma borrifada em seu perfume e saiu de seu quarto.

– Percy, você gosta desse canal ? – O pai perguntou.

– Não, eu detesto esse canal.

Sally deu um sorriso vitorioso.

– Venha aqui, filho, sua camisa está do lado contrário.

O rapaz olhou para baixo, confirmando o que foi dito. Odiava quando ficava distraído.Ele foi para o quarto, arrumando a camiseta.

* * *

– Para onde vamos? – Perguntou para o pai.

– Paciência, é um bom lugar.

– Deve ser , mas quero saber onde.

– Anda muito ansioso.

– Eu sei.

– Parece que algo está te atordoando, o que é?

– Só a escola, toda essa coisa de equipe, de ter o dobro de atividades.

– Ah, mas quem está na sua equipe?

– Charles, o filho do seu amigo Hefesto, Silena, a filha de Afrodite, eu e Annabeth...

– A filha de Atena está na sua mesa?

– É.

–Agora entendo porque está atordoado.

– Não, Annabeth é legal.

– Ela está crescendo, vai ficar igual à mãe dela.

‘– Ela tem a própria personalidade, e acredite se quiser, é bem diferente da mãe.

– Se você pensa assim...Chegamos.

Desceram do carro,Percy se deparou com um lugar muito bonito: Gramado verde, areia,um pequeno trecho de água doce, como um riacho e céu azul. Tão diferente da paisagem de NY.

– Que lugar é esse?

– Chamam de Olimpo, como nos mitos gregos. Eu vinha aqui quando conheci sua mãe, foi aqui que ela contou que estava grávida de você. Esse lugar me traz paz, e achei que você talvez precisasse de paz também.

O garoto fitou o horizonte.

– É tão lindo aqui.

– De fato é.

Sentou-se em um banco de ferro pintando de branco,seu pai desligou a camionete e sentou-se ao seu lado.

– Sabe filho, você está crescendo, e eu realmente sinto que ainda não te conheço bem, sinto que não fui um bom pai. Tirei esse dia para fazermos coisas que pais e filhos,coisas normais.

– Não precisava...

– Eu precisava disso, Percy. Eu precisava.

O menino continuava a fitar o horizonte, o céu tão limpo, tão puro, tão diferente do cinza dos céu de sua cidade. Cinza como os olhos de Annabeth.

Uma menina que passeava com um cachorro na beira do riacho encarava Percy, como as garotas de filme fazem quando estão interessadas em alguém.

– Por que não vai lá falar com ela? – O pai sugeriu

– Não posso.

– Claro que pode.

– Não posso, pai.

– Pare de covardia e vá até lá, converse com ela, até que é bonita.

– Pai, não.

– Você é gay?

–Não.

– Então se levante e vá até lá. Existem duas alternativas para você não ir: Ou você é gay, ou já tem alguém em seu coração. Agora, se nenhuma delas estiver certa, vá lá, seja um jovem.

– Uma delas está certa, pai. Já tem alguém no meu coração. – Respondeu, sorrindo. – No coração, na cabeça, nas veias, ela está em todo lugar.

E era a verdade, Annabeth percorria por todo o corpo de Percy, ele respirava, piscava, comia, se mexia por ela. Nunca havia sentido algo assim, e nunca sentiria algo mais forte que isso.