Lily prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, se esforçando para respirar fundo. Alvo que passava no corredor encarou a irmã de frente para a janela ela sairia para correr aquela hora da manhã.

— você vai sair? Neste frio? O inverno está chegando -Ele anunciou como se fosse óbvio

— sim, eu vou sair nesse frio -ela sorriu debochada

— vai ficar por perto, não vai?

— não, vou rodar a cidade...

— deixe de palhaçada, cadê o outro idiota?

— se Clarie está aqui ele provavelmente... -Lily se calou de repente, Alvo ergueu uma sobrancelha

— Clarie- Alvo murmurou arregalando os olhos

— ela não fez nada ao James, fez? Não é agora que ela vai fazer.

Alvo não teve tempo de responder, a mão firme do irmão tocou em seu ombro e ele quase respirou aliviado

— o que estavam falando? Estão cheios de segredinhos?

— segredinhos?! Eu e Al? Sério? -Lily fez uma careta e Alvo lhe mostrou a língua

— já podem parar com seus atos super adultos- James brincou bagunçado o cabelo do irmão

— eu não tenho mais cinco anos! -Alvo reclamou colocando as mãos na cabeça para se proteger

— como se com 17 fizesse grande diferença... - Ele parou de falar quando uma pedrinha atingiu o rosto da irmã.

Lily resmungou alguma coisa e ficou vermelha, olhou ao redor procurando algum indivíduo com pedras na mão.

— o teto da casa já tá desabando? -Alvo falou debochado.

Uma outra pedrinha atingiu a bochecha do Potter de olhos verdes, ele cerrou os olhos e olhou diretamente para a janela, quando outra pedrinha venho em sua direção, ele desviou por pouco.

— mas que merda é essa? -rosnou para o lado de fora, onde lá embaixo uma Rebeca com várias pedras na mão espiava

— estão surdos? Gritei umas quinhentas vezes- a morena reclamou soprando o cabelo do rosto

— o que é tão urgente? Ainda mais pela manhã? -James perguntou se apoiando no parapeito ao lado do irmão

— Rose sumiu- ela suspirou e os outros se entreolharam

[...]

Rebeca empurrou a casca da árvore, os três irmãos se entreolharam hesitantes

— Rose está em algum lugar, correndo perigo, pelo amor de Deus, andem logo- Rebeca exclamou dando passagem

Alvo suspirou e passou na frente, entrando pelo "buraco" estreito da árvore, era uma árvore extensa, o tronco era tão grande que era possível cinco pessoas habitarem ali. Alvo puxou o celular do bolso digitando o número do amigo rapidamente. Lily observou o lugar, era exatamente como ela pensara que seria dentro da árvore, madeira, para todos os lados. James batucou com dois dedos o tronco, o som que saia dali era bonito, ele cantarolou algumas notas baixinho.

— as folhas parecem correr... como aquela garota... -Lily começou a cantarolar enquanto acompanhava o irmão, Rebeca sorriu animada.

Alvo explicou para Scorpius metade da situação e desligou, cruzou os braços observando os irmãos criarem uma música.

— eu posso imaginar, o fogo queimando, como cada vez que tentei te encontrar- Lily fingiu tocar uma guitarra invisível, enquanto os outros três gargalhavam

— olhe para mim, onde está você agora? -Rebeca juntou as mãos como um microfone

— você se foi mais uma vez? Ou te arrancaram de mim? -Lily girou pelo pouco espaço que havia ali

— então o-o-olhe para mim- Rebeca balançou no ritmo gargalhado

— vamos lá, Al! -Lily agarrou a mão do irmão o fazendo se movimentar

— o que quer que eu faça? -Alvo perguntou risonho

— cante- Rebeca exclamou, continuando a dançar

— anh... -Alvo respirou fundo- você acha que tudo isso é demais? Acha que exagerei nas palavras? Acha que nós não conseguimos dete-lo?

— Mas onde está você agora? -Rebeca quase gritou girando nas pontas dos pés

— olhe para mim, onde está você agora? -Lily finalizou rindo, James batucou até parte mais oca e terminou o som

— eu acho que posso usar vocês algum dia- James sorriu para eles

— não acredito que fiz isso- Alvo bagunçou o cabelo gargalhando

— Eu acredito! - Lily assentiu, antes que pudesse falar algo, um som absurdo invadiu o local.

A porta do lado de fora se fechou, a parede oca começou a se abrir do outro lado, a madeira se deslocava, revelando uma grande sala prateada, e algo que se destacava nas paredes, armas.

— meu Deus! -Lily levou as mãos a boca

— eu esqueci de dizer a senha- Rebeca sorriu satisfeita e adentrou a sala indo até a mesa do centro, ela tocou ali, e as paredes giraram, revelando vestes

— o que é isso? -Alvo perguntou curiosamente se caminhando até as roupas

— é a nossa salvação- Rebeca sorriu pegando algumas vestes.

[...]

Alvo conteve a tentação de puxar o tecido elástico da perna, aquilo era uma calça ou uma fita adesiva? Lily riu da cara de insatisfeito do irmão, a ruiva sorriu para si mesma no espelho mais ao canto, ela sabia que seria algum tipo de agente um dia, e era boa aquela sensação de estar se escondendo, parcialmente, ela estava ali com as pessoas que mais amava no mundo.

— eu sei que fiquei demais- Lily se esticou para frente, a flexibilidade do tecido ajudou

— eu me sinto sufocado- Alvo reclamou, antes que pudesse reclamar, o irmão mais velho surgiu por trás das outras roupas- você já está provocando Rebeca? Ele já tem todas elas e você ainda...

Lily bateu na cabeça do irmão com a cara amarrada, Rebeca revirou os olhos e se aproximou do Potter mais velho, passando para dentro da cabine

— que história é essa de todas?! -James passou a mão pelos fios castanhos

— tem pelo menos umas trezentas mulheres babando por você, querido irmão- Alvo reclamou mais uma vez

— Alvo! Até mesmo Rose já beijou você idiota! Pare de se fazer de coitado, você teve um beijo da ruiva, o Jay não- Lily falou como se explicasse para uma criança de cinco anos

— você é o dos olhos de sapinhos cozidos, querido irmão- James brincou e Alvo lhe mostrou a língua

— vamos te colocar em um site de relacionamento, não fica assim- Lily exclamou enquanto calçava o salto de veludo preto

— eu também não sou desesperado, não conheço vocês... - Alvo se virou fingindo decepção, ele pegou as luvas negras e jogou os pares para cada um presente ali

— Alvo! Quanto tempo, maninho! Gente esse aqui é meu irmão- James gritou aos quatro ventos, abraçando o irmão pelos ombros

— vá à merda- Alvo o empurrou rindo

Rebeca voltou para a sala em uma veste branca, como uma verdadeira assassina, os garotos ficaram fitando a morena, e sua certa evolução desde quando era pequenina.

— fechem a boca, vai entrar mosca- Lily debochou erguendo uma sobrancelha

— eu não me importo, ela ta dando bola pra você mano, mais uma- Alvo disse como se fosse um segredo, James piscou para o irmão e virou de costas, Alvo o encarou sem entender.

— o que você... -antes que o moreno pudesse terminar, ele sentiu o beijo doce ocorrer no meio da confusão.

Rebeca segurou nos ombros do jovem aprofundando o beijo, Alvo demorou alguns segundos para raciocinar tudo, logo ele envolveu a cintura da morena. Lily colocou a mão nos olhos brincando e James riu vestindo as luvas. Rebeca se separou do garoto indo em direção a mesa no Centro novamente Alvo encarou a parede sem reação alguma, meio chocado, meio alegre.

— quem diria hein, Alice, Rose, Roxy, e agora Rebeca? Ta podendo- James falou com um sorriso vitorioso, Alvo franziu o cenho

— Roxy?

— é, mas acho melhor não falar dela aqui, mulheres tem ciúmes- James movimentou as mãos e Alvo lhe lançou um olhar atravessado

— eu não sou idiota como você, "maninho" -Alvo debochou claramente mais alegre

— como meu irmão beija? -Lily perguntou para a amiga que lhe encarou brincalhona

— não sei como te dizer, sabe quando a boca encosta na outra? E a saliva...

— eu não perguntei isso! -Lily corou indignada

— ele é bom, por que quer saber?

— uma amiga minha ainda tá esperando pela vez dela -Lily piscou para a menina que assentiu entendendo

Rebeca passou a mão brevemente pela mesa e a parede de armas surgiu mais uma vez, ela se dirigiu até ali, pegando uma arma menor, que pudesse atingir alguém mortalmente, mas que também coubesse em seu bolso. Lily preferiu uma arma mediana, poderia até fazer um barulho alto na hora do disparo, mas ele certamente mataria. Alvo, ainda encabulado, manuseou as facas, girando as entres os dedos descontraído. James optou pela espada, longa, lisa, afiada, mortal, o som da lâmina foi como uma velha lembrança vívida.

— não é como um game qualquer, essas daqui são reais- Rebeca ficou de frente para o painel, quando em sua frente, se estendeu uma sala, uma grande sala de treinamento- aprendizes, está na hora de brincar.

—-----------------------------------

Ela piscou lentamente tentando focar, quando enxergou o teto escuro, de uma madeira tão escura quanto seu próprio sonho. Rose tentou se sentar, porém percebeu que o corpo estava completamente preso a cama, os lábios comprimidos por uma mordaça, ela olhou para os lados, até que seu olhar travou.

A visão não era o que esperava, provavelmente não era um espelho, ela sentiu o desejo de gritar, ela se via, bem ali ao seu lado, o mesmo corpo, o mesmo cabelo, os mesmos olhos. O "corpo" ao seu lado a encarou, Rose percebeu um detalhe que só seria notado por ela, o sorriso, aquele não era seu sorriso. Ela podia ser muito parecida, mas o sorriso jamais seria o mesmo.

— acho que você está um pouco presa- a outra ruiva murmurou, Rose sentiu as lágrimas quentes invadirem os olhos

A ruiva tentou se soltar compulsivamente, nada adiantava, Rose fitou seu clone como se fosse algum tipo de aberração. A primeira lágrima correu por sua bochecha, quando em um piscar de olhos, as amarras não estavam mais ali, em nenhuma das duas.

— você é boa nisso- a outra ruiva comentou.

Rose olhou para os lados, procurando a maneira mais fácil de correr dali, mas nada havia ali, só paredes, e uma porta claramente trancada. Rose rolou para fora da cama, tentando se manter o mais longe possível da outra ruiva

— você está fugindo de mim de novo, Anne? -Ela perguntou debochada, Rose franziu o cenho

— não sei se percebeu, mas acho que você entrou no corpo errado- Rose respondeu entre dentes

A ruiva pareceu notar somente naquele momento, ela passou a encarar o corpo, Rose deu um passo para trás, tropeçando no tecido da própria roupa, quem havia lhe colocado em um vestido? Especialmente vermelho? Quando a outra ruiva usava um longo vestido, rasgado em suas pontas, azul como o céu. Rose percebeu a cicatriz que percorria seu ombro

Rose se arrastou para trás, enquanto a outra ruiva já voltava a encara-la com curiosidade. A jovem sentiu a pedra gelada da parede entre seus dedos, arrastou as mãos para trás do corpo, a pedra parecia diferente, Rose torceu o nariz e empurrou a pedra, ela entrou, como um botão, a parede atrás da ruiva fez um imenso barulho antes de girar para trás, "Claro que ele teria uma passagem de emergência".

A outra ruiva arregalou os olhos, Rose se ergueu em um pulo e girou nos calcanhares, vendo as escadas que levavam a muito abaixo, ela pensou duas vezes antes de sair em disparada escada abaixo. Ela podia ouvir a outra garota a seguindo, o barulho das pedras eram inconfundíveis, ela podia sentir sua presença de longe.

Rose já ofegava, tocando as paredes para não cair, quando seu braço foi puxado para o lado, como que a arrastando para a parede, mas ao invés de se chocar contra ela, ela ultrapassou a parede, invisível, uma parede invisível.

Rose tentou controlar a respiração olhando ao redor, quando fitou o rosto reconhecido ali a frente, Rose abriu a boca em um perfeito "O" e seus olhos se encheram de lágrimas, ela não evitou o suspiro de alívio.

— Lia... -Rose sussurrou soluçando