O demônio acorrentado escrita por Kethy


Capítulo 10
Mas disso você sabia


Notas iniciais do capítulo

Oi, espero que gostem!



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Uma pequena mancha negra começava a cobrir a pele de Edric a partir da algema que rodeava seu pulso, mas logo parou, a mancha era como tinta preta diluída em água. Edric olhava para a mancha esperando que ela se movesse de novo, mas nada aconteceu. Depois de vários segundos olhou para Mephisto. Ele encarava o próprio pulso, os cabelos caiam em cima do rosto quase por completo. O pulso ainda doía muito, mas Edric tentou ignorar.

– Mephisto? – chamou Edric com a voz mais tremula do que gostaria. – Não deu certo?

– Não, eu não sei, mas não acho que isso deveria ter acontecido. – respondeu o demônio um bom tempo depois, se tivesse respondido na hora provavelmente teria explodido com Edric, estava morrendo de raiva. Mephisto levantou os olhos para Edric. – Dói? Está doendo?

– Hã? Bem, sim, está. – respondeu Edric analisando um pouco mais a algema em volta do pulso. – Amaimon disse que iria funcionar, eu não sei o que deu errado...

– Não se preocupe, não tem problema, não foi culpa sua. – tentou abrandar Mephisto, mesmo sabendo que a culpa era toda de Edric, e um pouco de Amaimon que não explicara direito. – Eu não deveria ter te pedido isso, agora você está machucado por minha culpa, me perdoe Edric, eu não queria machucar você. – disse Mephisto e Edric desviou os olhos.

– Não precisa pedir desculpas. – disse Edric e olhou para trás. – Talvez você possa sair agora, pelo menos, para for da caverna...

– É, talvez, podemos tentar? – pediu Mephisto ao sorrir.

– Sim. – respondeu Edric e se levantou cambaleando um pouco, Mephisto fez o mesmo com um largo sorriso, havia centenas de anos que ele não fazia algo assim. – Talvez o selo na caverna tenha sido desfeito...

– Ele foi desfeito, posso sentir. – disse Mephisto se encaminhando para a saída e puxando Edric levemente pela corrente. – Eu nem posso acreditar, não posso...

Edric apenas observava as costas de Mephisto enquanto andava aumentando a velocidade, a cauda do demônio fazia uma curva quase tocando ao chão, como os gatos fazem para se equilibrar. O cabelo de Mephisto cobria quase toda a pele exposta, Edric sabia que ele estava sem roupas, mas não comentou. Quando saíram da caverna encontraram quatro pessoas, uma garota e três homens, Edric reconheceu Amaimon e Ink e mesmo assim sentiu medo dos outros dois, sabia que eram demônios.

Ink lhe sorria como sempre, daquele jeito tímido. Amaimon parecia um adolescente irritado, tinha os braços cruzados no peito e o cenho franzido, a garota parecia surpresa e o outro homem curioso. Belial ficou olhando para a corrente por um bom tempo, até olhar para Mephisto e para Edric em seguida, olhou para Ink que perdeu o sorriso. Ink se aproximou de Edric e sorriu. Edric não queria ter sorrido de volta, mas foi inevitável. Ink teve de segurar Edric antes que o corpo acertasse o chão, o ergueu com facilidade e o carregou como se fosse uma princesa desmaiada.

– Não se preocupe, ele é sinistro assim sempre. – disse Amaimon ao notar o olhar de Mephisto.

– Amaimon, não importa o que pense, guarde para você, se eu ouvir sua voz mais uma vez juro que você vai ficar que nem o Ink. – ameaçou Belial reprovando Amaimon com o olhar, o demônio apenas se transformou em um corvo e sumiu no bosque. – Bem vindo de volta Mephisto.

– É um prazer estar de volta, e vejo que Amaimon ainda dá muito trabalho. – comentou Mephisto olhando ao redor. – É muito bom estar de volta, mas ainda estou preso ao garoto. – disse balançando a corrente.

– Sim, o plano não deu certo. Não sabemos bem o que deu errado. – começou Belial.

– Amaimon disse que o garoto não segurou por tempo o suficiente, e agora vocês estão assim. – disse Lilith cruzando os braços. – O que é um saco, tivemos muito trabalho convencendo o garoto.

Ink deu um passo à frente para que pudessem ver melhor o garoto, Mephisto olhou para Edric e em seguida para Ink que lhe sorriu como sempre.

– Sinistro mesmo. – Mephisto murmurou e voltou-se para Belial. – Como vamos nos livrar disso? Eu quero sair daqui.

– Acho que você vai precisar de roupas, se livrar da cauda, dos chifres, desses olhos, os dentes e talvez você comece a se parecer com um humano. – disse Lilith cruzando os braços. – Você está péssimo, parece que está no inferno.

– Fique quietinha, você não esteve presa por mais de duzentos anos. – rebateu Mephisto e olhou para Edric. – E se nós o matássemos? Selos não funcionam com mortos não é?

– Talvez não, mas e se o matássemos e o selo se fixasse onde ele morreu? – indagou Belial e depois negou com a cabeça. – Não podemos matá-lo enquanto não soubermos das consequências.

– Poderíamos levá-lo conosco. – sugeriu Ink e todos voltaram sua atenção para ele. – Não tem muito tempo que um garoto da idade de Edric desapareceu. Seria a mesma coisa, não levantaria tantas suspeitas. – Belial franziu o cenho e olhou para uma árvore onde o corvo observava tudo. – É só um palpite...

– Ele ficaria com medo, muito. E não iria colaborar caso precisássemos dele. – disse Lilith e todos concordaram. – É melhor que ele volte para casa até que encontremos uma solução, ninguém pode te ver Mephisto, você será como uma sombra. Entendeu?

– Sim, entendi. – Mephisto suspirou, seria mais uma babá.

– Ele tem um cachorro. – disse Ink refrescando a memória de Mephisto que bufou e cruzou os braços. – Não acho que seja um grande problema, mas ainda é um cachorro.

– Estou meio ocupado, volte para a casa dele e dê uma de apaixonado. – mandou Belial e Mephisto bufou desviando o olhar. – O quero convencido, e mais. – se aproximou e beijou Mephisto. – Senti sua falta. Ink, eu quero que vigie e me reporte tudo. Até mais. – Belial desapareceu deixando uma fumaça azul no ar, Lilith acenou e desapareceu também.

– Vai continuar com essa aparência? – indagou Ink tomando a dianteira em direção ao morro para voltar para a trilha.

Mephisto franziu o cenho e olhou para as próprias mãos, as unhas longas, curvas e afiadas sumiram em fumaça vermelha, assim como seu cabelos, e os chifres. Ink apenas o observava mudar a própria aparência, ele já não dava nem sinal de quem pudesse ter sido alguns segundos depois. Ink lhe analisou por alguns segundos.

– Ainda quer que o garoto te reconheça não é? – perguntou Ink retoricamente enquanto olhava para o morro logo adiante. – Sua mãe provavelmente não está em casa, mas teremos de nos apressar.

– Claro.

[...]

Quando Edric acordou sentia-se tonto, muito mais sonolento do que de costume, mas sentia-se muito bem. Levantou da cama com o corpo meio pesado, parecia que ele tinha dormido por dias, vasculhou o chão do lado da cama em busca dos sapatos, não os encontrou. Decidiu ir descalço. Quando se levantou ouviu o titilar das correntes e sentiu o pulso arder, seguiu a corrente até sua cama onde um homem de olhos vermelhos se encontrava, quase caiu.

– Não se assuste Edric, sou eu, Mephisto. – tentou acalmar o garoto que passou a respirar com mais calma. – Sou eu.

Edric sabia que era ele, estava na cara, só não parecia possível Mephisto estar ali, mas logo lhe veio à mente tudo que aconteceu se lembrava de Ink lhe sorrir, mas todo o resto havia desaparecido. Olhou novamente para Mephisto, ele parecia alguém que havia saído de um castelo, não como um príncipe e sim como o cozinheiro, ou até mesmo o ajudante do cozinheiro. Parecia muito jovem, com no máximo 18. O rosto ainda era o mesmo, ainda possuía os olhos de um vermelho brilhante, apenas seu cabelo, agora era loiro bem claro, não aquele cinza azulado.

– Não estou assustado. – disse Edric alguns segundos depois de se recompor ele olhou novamente para a corrente. – Isso é ruim.

– Isso é péssimo. – murmurou Mephisto para si mesmo. – Amaimon vai achar uma solução, ele sempre acha. – tentou animar Edric e a si mesmo.

“Seria muito mais fácil se eu te matasse.” Pensou Mephisto sentindo o pulso arder.

Depois de algum tempo Edric começou a sentir-se desconfortável, Mephisto também fazia com que o quarto parecesse muito pequeno. O garoto olhou em volta só agora notando que estava em seu próprio quarto.

– Como estamos na minha casa? – perguntou pensando em ir até a porta, mas se o fizesse acabaria puxando Mephisto junto.

– Ink me mostrou onde era, e como você estava apagado ele o colocou na cama. – explicou Mephisto sorrindo, como se estivesse muito orgulhoso de si mesmo. Mas logo sua expressão mudou, agora parecia arrependido. – Me desculpe, eu não deveria ter entrado não é? Desculpe-me Edric eu...

– Ei, pare com isso, não tem problema. – cortou-lhe Edric e olhou para a janela. – Como passaram por Summer? Ele não gosta nem um pouco de demônios.

– Ah, Summer? – Mephisto franziu o cenho parecendo constrangido até.

– Meu cachorro, ele não deixaria vocês entrarem. – explicou e foi até a janela puxando a corrente de leve. Não havia sinal de Summer do lado de fora.

– Ah, sim, cachorro. – disse Mephisto assentido como se entendesse, mesmo que estivesse na cara que não fizesse a mínima ideia. – Eu realmente...

– Já entendi... Vamos procurar por ele, agora. – disse Edric já se encaminhando para a porta, Mephisto se levantou rapidamente para ir atrás dele. Dar uma de apaixonado, com certeza encontraria um jeito de se vingar de Belial. – Não deve estar muito longe.

Passaram bastante tempo procurando por Summer, que não apareceu. Edric parecia estar entrando em depressão e Mephisto não queria mais procurar pelo cachorro, que nem iriam encontrar. Ink havia se livrado dele. Depois de um bom tempo Edric finalmente desistiu, sentou-se na grama ficou olhando para o bosque, Mephisto não disse nada apenas sentou-se do lado do garoto.

– Eu sinto muito. – disse Mephisto vários segundos depois, inclinou-se um pouco para passar o braço pelos ombros de Edric. – Obrigado Edric, por me tirar daquela caverna. – deu lhe um beijo na bochecha.

– É muito estranho. – murmurou Edric ainda olhando para o bosque. – Não faz sentido, Summer nunca iria fugir. Nunca.

“Ainda esse cachorro?” pensou Mephisto.

– Talvez ele tenha ido procurar por você nos bosque. – sugeriu Mephisto e Edric pareceu considerar por alguns segundos, mas logo negou com a cabeça.

– Ele é um cachorro, se tivesse mesmo ido me procurar teria me encontrado. – afirmou Edric puxando os joelhos para perto do peito. – Cães farejam muito bem, ainda mais Summer.

Mephisto rolou os olhos e passou a encarar o bosque, demorou a perceber que Edric chorava, suspirou e apertou um pouco o braço em volta do garoto. Edric sentiu o pulso que a algema rodeava doer, a mancha negra começou a crescer, mas logo parou. Não conseguia ver direito por causa das lágrimas. Alguns segundos depois ele ouviu um carro vindo pela estrada e parar, devia ser Evelyn. Edric levantou-se muito rápido para correr, mas acabou caindo quando a corrente se esticou ao máximo, Mephisto se levantou o mais rápido que pode enquanto Edric tentava seguir para o quintal da frente.

“Mal vejo a hora de matar esse garoto.” Pensou Mephisto enquanto seguia Edric sendo puxado pela corrente.

[...]

Edric fazia anotações no caderno enquanto o professor explicava e escrevia no quadro, Mephisto estava sentado no chão do lado esquerdo de Edric. Ninguém mais podia ver o demônio, que estava tendo uma crise de tédio. Fazia uma semana que estavam assim, presos. Mephisto estava com as costas na parede bem abaixo da janela, de vez em quando olhava em volta para ver se algo acontecia, mas tudo estava sempre do mesmo jeito, sempre.

– Sinceramente, como você aguenta? – quis saber Mephisto se levantando. – Isso aqui é pior que a caverna, muito pior.

Edric o ignorou da última vez que respondeu Mephisto durante a aula levou um giz no meio da testa. O demônio insatisfeito cruzou os braços e olhou para fora da sala, lá parecia ótimo. Aproximou-se de Edric e lhe tocou os ombros fazendo o garoto se arrepiar, mas continuou ignorando o demônio.

– Ei, vamos embora, você não precisa vir para a escola, não mesmo. - resmungou Mephisto.

A semana havia sido difícil, muito. Para os dois. Claro que ninguém via Mephisto, e que ele sempre passava despercebido, mas isso significava que ele só incomodava Edric, em tudo. Durante a noite era a pior parte, pois Mephisto ficava sentado perto da cabeceira da cama olhando para a janela, era sinistro. E durante o dia Edric tinha de aturar o demônio entediado. Sem falar que Summer ainda estava desaparecido, e para piorar toda a situação, Samuel ainda se recusava a falar com Edric.

Durante o intervalo Edric sentava perto das árvores que ficavam aos arredores das mesas, dali ele podia ver Samuel, comendo enquanto fazia anotações em um caderno. De vez em quando trocavam olhares, e Samuel sempre franzia o cenho e voltava sua atenção para o caderno. Mephisto estava sentado do lado de Edric, com uma expressão meio séria. Depois que saiu de casa passou a usar roupas mais parecidas com a das pessoas, não parecia mais um camponês do século sete.

– Deveria ir falar com ele, sabe? – falou Mephisto enquanto Edric se recostava na árvore. – Engolir esse orgulho por alguns minutos. Amigos são importantes, não são?

Edric permaneceu calado por alguns segundos, voltou a olhar Samuel que mordia um sanduíche. Queria muito engolir o orgulho e ir falar com ele, mas e se o próprio Samuel não quisesse falar com ele, era isso que temia. Ser rejeitado uma segunda vez, então apenas respirou fundo e desviou o olhar. Mephisto agora olhava a reação de Edric.

– Ou não né? Por mim tudo bem. – disse Mephisto e deu uma risada. – Eu ficaria com ciúmes provavelmente, você não quer nos apresentar?

Edric já sabia o que Mephisto estava tentando fazer, e não iria cair nisso, não mesmo. Mephisto devia se achar muito esperto ao pensar que poderia convencer Edric, mas não seria tão fácil assim, Edric já havia percebido que era tudo encenação.

Edric revirou os olhos e continuou o observar Samuel, seus olhares se encontraram e o moreno notou tristeza em no olhar de Samuel, abriu um sorriso como se pedisse desculpas. O loiro apenas levantou-se e pegou o caderno se dirigindo para dentro do colégio. Edric bufou e olhou para as árvores, o demônio sorriu enquanto encarava o garoto entrar no prédio.

– Triste muito triste. – murmurou Mephisto e Edric só queria que ele calasse a boca.


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Notas finais do capítulo

E aí? Como é q vai?
Eu estava muito ocupada, e continuo muito ocupada, mas fazer o que? Amo vocês e quero terminar a fic.
Espero que tenham gostado, e espero que comentem.
Mil bjs e até o próximo!



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