O demônio acorrentado escrita por Kethy


Capítulo 9
Livres, mas não um do outro.


Notas iniciais do capítulo

Oie? Como vai? To com sono e indo fazer dever, bjs



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Depois que Edric saiu da enfermaria pode ficar o resto do horário na biblioteca. Ele foi para enfermaria por que caiu enquanto corria, seu nariz começou a sangrar e sua testa também, então ele foi dispensado. Não que quisesse ficar na biblioteca, mas sabia que lá tinha enormes pufes que lhe serviriam de cama. Deitou-se no pufe e tentou dormir. No dia anterior, no aniversário de Samuel sua mãe acabou por deixá-lo de castigo, por sumir do nada. Então teve de ficar acordado até tarde para tentar falar com Amaimon, que por acaso não apareceu. Agora estava com sono e teria uma hora inteira para dar um cochilo. Ele pediu sim a enfermeira para ficar ali e dormir na cama, mas ela disse que outra pessoa poderia se machucar e ela teria de usar a cama. Edric apenas pegou sua mochila e saiu da enfermaria depois disso.

A bibliotecária estava sentada atrás de seu balcão bebendo café e lendo jornal, Edric sequer deu atenção para ela. Mas depois de alguns segundos dois homens vestidos com roupas pretas entraram na biblioteca. Eles passaram pela bibliotecária que sequer levantou o rosto, eles caminharam na direção do garoto que estava prestes a entrar em pânico. Os dois pararam em frente a Edric que nem ousou se levantar, o mais alto sorriu e se agachou.

– Sou eu, Amaimon. – quando ele disse isso Edric logo notou seus olhos, eram verdes e familiares. Mas logo olhou para o outro cara, que continuava de pé, ele tinha uma ótima aparência, mas parecia suspeito. – Ah, esse é meu parceiro. Disseram que eu sou muito descuidado, acredita nisso? – Edric olhou para Amaimon e depois para o seu parceiro, acreditava sim.

– Então, você se decidiu? – Edric queria ficar irritado, pois chamara Amaimon por horas, mas apenas sentiu o rosto esquentar, é claro que ele estava assistindo quando Edric dera vários beijos em Mephisto. – Você está fincando vermelho sabe?

– Mephisto disse que não era tão simples... Eu prometi, mas não tenho mais certeza... – disse Edric se levantando, Amaimon cerrou os punhos e ficou ao lado de Edric. – Eu não sei se consigo, eu quero muito, mas não dá...

– Entendo, sim. – disse Amaimon e virou-se de costas, logo virou se novamente para Edric que agora tentava se levantar. – Eu posso te mostrar como fazer, e aí, você não vai ter medo.

– Isso, eu te chamei ontem por horas. – reclamou Edric, mesmo que ele tenha chamado por 25 minutos. – Você não apareceu.

– Garoto! – chamou a moça que estava atrás do balcão, sua expressa era irritada. – Está gritando com o vento, se continuar assim serei obrigada a te tirar daqui. – Com isso ela ajeitou os óculos e voltou sua atenção para a pagina.

Edric olhou para Amaimon que tinha cara de poucos amigos, logo que começou a seguir na direção da mulher seu parceiro o parou. Ele não havia dito uma sequer palavra, mas mesmo assim conseguiu parar Amaimon. Ele sorriu forçadamente, de um jeito que até Edric percebeu.

– Venha, vamos há algum lugar melhor. – disse Amaimon.

Foram para o segundo andar da biblioteca, não havia ninguém ali. Mas no andar debaixo algumas pessoas usavam as mesas, estudavam e outras apenas faziam o que Edric queria estar fazendo. Dormiam em pufes. Os três sentaram-se em poltronas com abajures do lado.

– Respondendo. – começou Amaimon. – Eu não apareci na noite passada por que estava com problemas. Tanto que agora ele está me ajudando. – O parceiro de Amaimon sorriu quando Edric lhe encarou. – Não pense que ele é legal, ele não é. E pode chamá-lo de Ink. Ele não liga.

– Certo. – disse Edric e tirou sua atenção de Ink. – Como faço para libertá-lo?

– Isso é muito complicado, se você seguir tudo que eu disser nada vai acontecer a você, e Mephisto será libertado. – explicou Amaimon, ele parecia cansado, mais do que de costume, não sorria como sempre, e também, usava uma forma adulta. – Eu fiz algumas pesquisas e isso vai ser bem complicado, ainda mais para uma criança. Mas Ink e eu vamos te ajudar com os detalhes, mas assim que você entrar no bosque estará sozinho outra vez.

[...]

No final da aula Helena o esperava na porta, sorria, e estava parecendo uma boneca. Samuel passou por Edric sem dizer nada, e entrou no carro do pai, Edric apenas seguiu até Helena que pegou sua mochila Ele não falava com Samuel desde a festa, era estranho, não ter com que conversar na hora do almoço ou nos intervalos, e até mesmo na aula. Mas Edric não iria se desculpar, já que não havia feito nada de errado. Então apenas ficavam assim, fingindo que não se conheciam mais. O pior era quando trocavam olhares. Samuel sabia que tinha de ir falar com ele, mas as coisas em sua casa estavam indo de mal a pior. Então não falaria com Edric por um tempo.

Helena disse que Edgar ligou dizendo deveria voltar muito tarde, e que não deveriam esperá-lo para o jantar. Edric caminhava em silêncio, e Helena falava sobre coisas aleatórias, como sua mãe, o que vai ter para o jantar, e seu gato gordo.

– Helena? – chamou Edric interrompendo-a de seu monólogo. – Você vai ter um filho não é? E aí você e meu pai vão se esquecer de mim, certo? – Helena abriu a boca para falar algo, mas voltou a fechá-la e comprimir os lábios. – Então é verdade...

– Mas eu não disse nada... – ela parou de falar e passou a mão no cabelo. – Na verdade, eu... Eu não posso ter filhos... Infelizmente... Olhe, esse assunto... – ela cobriu a boca com a mão enluvada e Edric pensou que ela iria começar a chorar. Mas ela respirou fundo e lhe tocou o ombro. – Eu te conto sobre isso mais tarde, tudo bem? Certo, deve estar cansado e eu aqui tagarelando. – sua risada era gostosa de ouvir, e seus dentes eram diferentes dos normais, e lhe deixavam mais nova do que realmente era. – Depois tudo bem?

Edric apenas assentiu e continuou andando. Perguntava-se por que seu pai ficaria com uma mulher que não pudesse lhe dar filhos, perguntou-se se ele sabia disso. E se sabia, por que a preferiu a sua mãe. O jantar foi silencioso e estranho, o gato gordo continuava alisando-se em suas pernas, para ganhar algum petisco, mas Helena disse para não lhe dar nada. Edric não tinha a intenção de lhe dar qualquer coisa, pensava que o gato poderia ficar sem andar se comesse qualquer outra coisa. Depois do jantar ficou no sofá lendo um dos livros que pegara na estante, os barulhos dos pratos lhe incomodavam um pouco, mas não poderia reclamar. O livro estava entediante e a explicação de Amaimon ainda martelava na sua cabeça. Edric não sabia o que fazer. Tinha medo, mesmo que não devesse, tinha muito medo.

Edric olhou para a janela da sala de estar que dava para rua, Ink estava parado ali, olhando diretamente para Edric, que levou um susto. Quase caiu do sofá, mas logo se levantou e olhou novamente, Ink ainda estava ali, só que agora sorria, e Edric tinha certeza de que era de seu susto. Edric olhou para trás e viu que Helena ainda estava na cozinha, foi até a janela e a abriu, Ink acenou para ele, mas o garoto não retribuiu. Ink falou alguma coisa, mas Edric só ouviu a ultima palavra, “porta”. E logo o demônio fez uma mímica, girava alguma coisa no ar. Edric não queria abrir a porta, não mesmo, mas pensou que poderia ser pior, olhou em volta a procura de Amaimon, mas não havia ninguém na rua. Ink ainda fazia a mímica e mexia os lábios.

Quando ele abriu a porta Ink já estava ali sorrindo, tinha cabelos claros, em um tom caramelo, olhos da mesma cor, parecia o tipo de pessoa que você encontra em universidades. Ink entrou e ficou parado no meio da sala. Helena olhou para trás quando ouviu a porta se fechar e Edric pensou que teria de explicar, mas ela sorriu e voltou-se para a pia.

– Ela não pode me ver ou ouvir. – explicou Ink e olhou ao redor, logo o gato gordo saiu da cozinha, e começou a sibilar para Ink. – Já ele pode me ver, e ouvir... – Ink imitou o barulho do gato, assim como Amaimon quando era Sophie. O gato voltou para a cozinha. – Que irritante.

– Vocês são bem estranhos. – disse Edric baixo e olhou para Helena, que cantarolava alguma coisa. – Vamos ao andar de cima ou ela vai achar que fiquei louco.

– Claro.

Ink fazia o quarto parecer menor, ele não era muito alto, mas Edric era muito pequeno e dava essa impressão. Edric sentou-se na cama e indicou a cadeira para Ink, que a olhou e depois para Edric, que não sabia dizer se ele estava sorrindo ou não. Edric perguntou: - Onde está Amaimon?

– Com nosso superior. – respondeu indo até o armário e abrindo as portas. – Só vim te ver. – comentou e abriu uma gaveta. – Eu acho que é muita coisa para um garoto sabe? - ele fechou a gaveta e as portas, e olhou para Edric. – Eu vou indo...

– Mas já? – Edric se levantou.

– Por quê? Você quer que eu fique? – indagou Ink colocando as mãos para trás, olhou para a porta. – Você não quer ficar sozinho com ela?

– Não é isso... Esqueça... – Ink sorriu e se aproximou do garoto. – Sabe, quando conheci Mephisto, me apaixonei por ele. – contou Ink perdendo o sorriso. – Era difícil ficar perto dele sem se apaixonar, mas para nós, se apaixonar é vergonhoso... Assim como chorar.

Edric lembrou-se das lágrimas que queimavam o rosto de Mephisto, sentiu o coração apertar.

– Amanhã, provavelmente teremos tudo pronto, e tudo isso vai acabar. – disse Ink e se abaixou, beijando o rosto de Edric. – Sei que você é corajoso o suficiente para isso. – o demônio se afastou indo até a janela e a abrindo. – Até mais.

Edric ficou vários minutos olhando a janela, antes de suspirar e ir fechá-la.

[...]

Edric caminhava pelo bosque, Amaimon lhe havia entregado um amuleto pela manhã, o pingente era um pentagrama enferrujado. Ele garantira a Edric que funcionária, mas o garoto tinha sérias dúvidas. Queria voltar para casa, mas agora já estava quase chegando, podia ver a casa na árvore a apenas alguns passos. Não levou Summer consigo, seria perigoso e não queria mais uma preocupação.

Amaimon dissera que aquilo era apenas uma proteção, que Edric era o suficiente. Bastaria ele pegar as correntes com as mãos nuas e puxar, que elas facilmente quebrariam. Parecia um feitiço de contos de fadas, que somente o amor pode desfazer. Edric não corria como sempre, caminhava o mais vagarosamente possível.

Enquanto isso, Lilith, Amaimon e Belial assistiam tudo pelo cálice de sangue, e temiam o pior. Se Edric não conseguisse iria morrer, e se morresse, Mephisto continuaria preso, e esperando por séculos o próximo. Isso se houvesse um próximo.

Belial tentava parecer calmo, mas deveria ser o mais nervoso dentre eles, não parava de bater as unhas em sequencia na mesa. Amaimon parou de olhar para o cálice quando Edric chegou à entrada da caverna, sentou-se ao lado de Ink que estava como sempre. Amaimon não entendia o porquê de ele sorrir como um irmão mais velho orgulhoso. Mas pensou que era o que as garotas de hoje gostariam, pelo menos em seus sonhos, homens orgulhosos delas.

– Você está muito bem com isso não é? – indagou Amaimon se aproximando de Ink, que apenas lhe sorriu como se fossem ótimos amigos. – Todos aqui são vadios e putas? – indagou Amaimon irritado.

– Já que você está aqui dentro, pode se dizer que sim. – respondeu Lilith, havia se desfeito da aparência de garotinha, mas agora devia ter uns 35 anos na aparência. – Fique quieto, ele está entrando...

Nesses momentos a imagem ficava escura, pois o selo dos paladinos era muito forte, então Belial e Lilith tiveram de se inclinar para enxergar melhor.

Edric pulava de pedra em pedra como sempre, só que desta vez não tinha pressa alguma. Ele realmente não queria chegar, mas foi inevitável. Logo chegou a Mephisto, que ascendeu as bolas de fogo, mas apenas duas. Mephisto ainda possuía as marcas das lágrimas no rosto, Edric engoliu em seco.

– Como você prometeu. – Mephisto sorriu como se fosse chorar. Edric ficou sem jeito e desviou o olhar. Pegou o amuleto em seu bolso e o enrolou na mão direita. – É isso? Amaimon que...

– Sim, eu vou fazer agora, tudo bem? – indagou e esticou as mãos se aproximando das correntes.

Fechou os olhos respirou fundo e quando os abriu novamente tocou as correntes, elas pareciam uma panela quente. Suas mãos queimavam, mas sabia quem não poderia soltar até que elas se quebrassem. As pontas de seus dedos começavam a escurecer como se ele estivesse mexendo com carvão, as correntes brilhavam em azul e começaram a desaparecer de cima para baixo como se se transformassem em pétalas. Lágrimas escorriam por seu rosto e ele escutava Mephisto gemer. Quando as correntes desapareceram até quase ele segurar o ar ele as soltou, mas isso foi um erro. No mesmo instante o brilho azul começou a contornar seu pulso esquerdo, o qual não estava protegido pelo amuleto. Agora toda sua mão estava manchada de negro até onde o brilho azul contornava, queimava e era apertado. Logo seus olhos se encontraram com o de Mephisto, e estavam em desespero assim como os seus.

– Eu acho que não funcionou. – disse Lilith cobrindo a boca e ainda olhando para o cálice.

– Mas por que o garoto não morreu? – indagou Belial ao seu lado.

Ink agora era o único no sofá, Amaimon olhava a cena com cenho franzido, não era possível, seguira as instruções perfeitamente e tinha certeza de que o amuleto funcionaria. Então percebeu que Edric não segurara as correntes por tempo suficiente, Edric havia estragado tudo. Tudo.

De repente, Edric caiu no chão segurando o braço esquerdo, a corrente estava ali, no seu pulso.

O ligando a Mephisto.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Comente para me deixar feliz
Não gostou? Comente também, eu preciso ouvir criticas tbm

Sumi por muito tempo? Desculpa, decidindo coisas sobre ela, mas tá aí
Bjão até o próximo



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