O demônio acorrentado escrita por Kethy


Capítulo 11
Eles muito são estranhos




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Helena esperava por Edric na porta, quando ele a viu teve vontade de sair correndo, mas para fazer isso teria que atropelar todas as pessoas que estava a sua frente, além de ter que descer as escadas, passar por ela e correr até chegar a sua casa, e isso tudo com Mephisto sendo arrastado. Ela lhe sorriu e Edric apenas passou por ela olhando para o chão.

– Sabe Edric, essas crianças já estão me irritando, sério, se mais uma esbarrar em mim eu vou fazer com que ela se arrependa. – reclamou Mephisto quase rosnando. Seus cabelos estavam bagunçados e ele ainda usava seus brincos estranhos. – Ei, quem é essa? Não gostei dela...

Edric não respondeu, pois não podia.

Helena falava demais, disse que iria passar alguns dias com Dilory e que Edric também iria. Ele não queria ir, é claro, mas seu pai o obrigaria a ir. Talvez ele conseguisse sumir por tempo o suficiente para não ter de ir.

– Ei, Edric, não precisa dizer nada. – falou o demônio lhe tocando o ombro. – Você está bem? Você não me parece nada bem.

Edric suspirou e olhou irritado para Mephisto, que não entendeu e continuou andando. Quando chegaram à casa de Edgar, Edric apenas arrastou Mephisto escada acima. O garoto subiu na cama e abriu a janela e olhou para Mephisto.

– Chame-os. Eu sei que eles vão vir se você chamar. – mandou Edric descendo da cama, Mephisto olhou dele para a janela e de volta para ele. – Chame Amaimon! Chame-o, ele não sabe o que fazer? Foi o que você disse!

– Edric, por que está tão irritado? O que eu fiz de errado? – perguntou Mephisto juntando as mãos em frente ao ventre, Edric rosnou.

– Nada, é isso, você não fez nada de errado! – bradou Edric. – Você é um demônio! Eu sabia que quando eu te libertasse você faria alguma maldade! Usaria sua experiência e inteligência contra mim, mas você não fez nada. – Edric sentou-se na cama e cobriu o rosto.

Mephisto ficou quieto por alguns segundos e depois se aproximou de Edric se sentando ao seu lado.

– Você pensou que eu fosse mau? – indagou Mephisto com a voz baixa.

– Eu não pensei, eu sei que você é. – respondeu Edric com a voz entrecortada. – Você finge muito bem, mas eu sei que você é mau. Talvez você seja o pior de todos. – levantou-se e chacoalhou a corrente. – Só que você ainda está preso, e é por isso que continua fingindo.

Mephisto ficou furioso, pensou que Edric estava na palma de sua mão, e só estava estranho por causa do amigo. Mas tinha de continuar fingindo se quisesse sua liberdade.

– Você está errado. – disse Mephisto baixo. – Eu sempre cumpri ordens. Eu não queria ter que fazer aquilo, nunca quis. – se Edric pudesse ver o número de mentiras que Mephisto tinha veria os números subirem. – Eu quero muito ficar livre disso, é verdade, mas não livre de você. Eu gosto tanto de você. – disse o abraçando apertado. – E eu já te disse, tenha um pouco mais de confiança em mim.

Edric sentia as lágrimas quentes ardendo nos olhos, não abraçou Mephisto de volta. Olhou para a janela e encontrou Ink sentado lá, fazendo não com a cabeça. Durante a noite, ele sempre vinha, e aparecia nos sonhos de Edric. Dizia-lhe que esse era o único jeito de conversarem sem que ninguém mais soubesse. Edric não falava muito, e nem Ink, então os dois apenas passeavam em qualquer tipo de lugar, desde florestas a ruas de outros países.

Mephisto soltou Edric e olhou para trás, Ink já não estava mais ali.

[...]

Edric caminhava por algum tipo de campo de flores, nunca fora muito fã das flores, mas aquelas pareciam especiais. Olhou para cima, mas logo desviou, era claro demais para olhar. Viu alguém sentado no chão olhando para ele, reprimiu um sorriso e caminhou vagarosamente até ele. Ink destoava, enquanto as flores eram claras e alegres ele se parecia com a morte, esperando para ceifar.

Edric sentou-se ao seu lado, Ink lhe sorriu.

– Você gosta de flores? – perguntou Edric tentando olhar mais longe, para ver se havia algo mais, mas só encontrava colinas e o horizonte.

– Não gosto de flores, mas pensei que você pudesse gostar. – respondeu Ink em sua voz lenta. – Você não gostou certo? – Edric não respondeu, Ink riu e deitou-se no meio das flores. – Para mim elas são chatas.

Edric continuou em silêncio, olhou para o pulso onde deveria estar a corrente, ela não estava ali, mas a mancha sim. Olhou para Ink que possuía um sorriso e olhos castanhos olhando para o céu.

– Essa mancha é uma mistura de sangue de demônio, maldiçoes, selos e blá blá blá. – explicou Ink e depois olhou para Edric que franzia o cenho. – Ela provavelmente vai sumir, se as correntes forem retiradas, é claro. Caso não, ela vai te matar. – falou naturalmente, como se pensasse sobre a previsão do tempo para o fim de tarde. – Você não parece apavorado.

Edric não estava apavorado, não gostava da ideia de ser consumido e morto por uma mancha demoníaca, mas também não via necessidade de se lamentar. Pensava que era sua culpa, ele quem fora burro o suficiente para tentar libertar o demônio. Pensava nas outras pessoas que haviam visto Mephisto preso naquela caverna, e que foram inteligentes o bastante para fugir.

– Não confie nele Edric. – a voz de Ink lhe chamou a atenção. – Demônios são maus, e sempre vão ser.

O garoto não respondeu. Ink já havia lhe dito aquilo antes, sempre repetia, mas não havia uma boa resposta para aquilo.

– Quer dizer que você também é mau. – alfinetou Edric, sem olhar para o demônio, que fitava seu rosto. – Por que eu deveria confiar em você?

Ink sorriu largo, mesmo que Edric não pudesse ver.

– Bem, você não deveria. – respondeu Ink querendo rir.

Edric se deitou e se aconchegou perto de Ink, fazendo o máximo para esconder seus olhos avermelhados por causa das lágrimas. O demônio acariciou seus cabelos e suspirou.

“Eu só quero que isso acabe logo...” Pensou Edric.

[...]

Fazia tempo que Ink não ia até a Seven Sins, não tinha motivos e nem queria ir lá, mas por conta de uma mulher, teve de ficar por perto. O beco era escuro e ele podia ouvir sem esforço as prostitutas que estavam ali. Diana beijava seu pescoço enquanto descia a mão por seu abdômen. Ela era uma de suas preferidas, não se importava com nada quando Ink aparecia, era como se ela estivesse apaixonada.

– Faz tanto tempo que você não aparece por aqui. – disse ela com a voz manhosa, Ink puxou sua coxa direita para que ficasse com uma das pernas entre as dela. – Eu sinto tanto a sua falta, desse sorriso falso. Do silêncio. – Ink gostava de fingir que era mudo para ela, sem nenhum motivo especial, achava apenas interessante. Ela pressionou os seios fartos contra Ink. – Soube que ele está te procurando. – sussurrou ela ao pé de seu ouvido enquanto lutava contra a fivela do sinto de Ink. – Sabe o grande B.

Assim que ele ouviu aquilo a afastou bruscamente e começou a prender do sinto novamente, ela ficou irritada com a brutalidade. Começou a xingá-lo em espanhol e puxá-lo pelo casaco. Ink bateu em sua mão e saiu pisando pesado para fora do beco, não queria problemas, ainda mais com o grande B. Ela ainda lhe seguia soltando insultos em espanhol até que desitiu, Ink se distanciou o máximo que pode dela, tinha de sair dali.

– Aonde vai? – uma voz feminina lhe perguntou, olhou para trás e uma garota loira que não passava dos treze anos lhe encarava. Sentiu o medo lhe invadir. – Venha. Precisamos conversar.

O grande B estava deitado em um divã velho e mexia em uma espécie de quebra cabeça, a garota loira estava de pé ao seu lado, com os braços cruzados e parecendo irritada. Ink olhava para a garota, que interpretava muito bem uma adolescente, ela parecia se irritar com seu sorriso, mas não dizia nada. O grande B por fim guardou o quebra cabeça e olhou para Ink, os olhos azuis e gélidos, sem nenhuma emoção.

– Você está passeando pelos sonhos dele, não está? – perguntou B retoricamente, Ink olhou para a garota, “maldita fofoqueira.” Pensou Ink e ela se encolheu um pouco. – Não fique chateado com ela, só estava cumprindo ordens, do jeito que você deveria estar fazendo. O garoto não confia em Mephisto, e nem vai confiar! – irritou-se ele e Ink deu um passo atrás. – O que você andou dizendo a ele?

Ink demorou a responder, tinha medo de que fosse outra pergunta retórica.

– Eu não disse nada, não como você pensa. – mentiu Ink e engoliu em seco. – Ele está desconfiado, é verdade, mas não tem nada a ver com o que eu disse a ele.

– Eu vi os dois no sonho. – contou a garota. – Não consegui ouvir o que eles diziam, Ink colocou uma barreira.

O grande B sequer olhou para ela, com certeza ela já o começava a irritar. Ink pensou que teria de fortificar as suas barreiras, para que acidentes do tipo não voltassem a acontecer, mordeu o lábio encabulado não sabia se já poderia se retirar. O grande B pede a garota para se retirar, que parece incrédula a principio, se ela fosse uma cobra teria colocado a língua para fora e sibilado para Ink ao passar. O demônio se levantou do divã e cobriu a boca como se tentasse resolver um problema.

– Você... Eu não entendo. O que você quer com o garoto? – começou B negando com a cabeça. – Você não gosta dele, e disso tenho certeza, não gostamos de ninguém. Você matou o cachorro dele, você quer colocar fogo naquela casa na primeira oportunidade...

– Não é como se eu gostasse do garoto.- resmungou Ink quando B parou de falar, este o olhou. – E matei o cachorro seguindo ordens.

– Ficou sabendo sobre Amaimon não é? – indagou B se sentando novamente. – Aquele empesteado, ele fez de propósito.

Era impossível não saber, a notícia se alastrou como fogo no submundo, Amaimon havia praticamente se suicidado. Foi descuidado o suficiente para ser morto por caçadores de sombras, mas no fundo todos sabiam que ele o fez de propósito.

– Não me importa ele vai se ver com o mestre, aquele... – o grande B não parecia bem, estava estressado, irritado e precisava sair de perto dos outros demônios se não, enlouqueceria. – Escute, o quero vigiando o garoto, você entendeu? Só, foi essa a ordem e se estiver ruim para você aquela garota pode fazer o serviço, e você poderá voltar para a sua vidinha. – Ink não disse nada, não queria irritar ainda mais o chefe. – Espero ter sido claro, finja-se de mudo para o garoto. Vá embora.

[...]

A casa de Dilory era cheia de gatos, ela era viúva e dizia que agora eles eram seus amores. Os gatos nem chegavam perto de Edric, não com Mephisto ali, os gatos corriam ou os ameaçavam erguendo as costas e mostrando os dentes finos. Edric nunca fora fã de gatos, agora que os detestava mesmo. Ficariam na casa de Dilory pelo fim de semana, mas para Edric parecia uma eternidade. Ficou com um quarto no sótão que tinha cheiro de velho e era pequeno, mas não reclamaria, pelo menos só seria assim por duas noites.

Edric comia biscoitos com gotas de chocolate enquanto lia uma enciclopédia sobre morcegos, Dilory havia proibido Edric de comer sobre a cama, mas ela não estava ali para reclamar. Mephisto estava deitado no chão, encarava o teto enquanto fazia uma expressão irritada. Edric fechou o livro e olhou para a janela, depois se inclinou um pouco para checar Mephisto que lhe sorriu.

– Você está com fome? – perguntou a Mephisto que negou com a cabeça se sentando. – O livro é bem interessante. – comentou e o demônio chegou perto de seu rosto sorrindo.

– Eu percebi. Você não parou de ler por uma hora. – respondeu Mephisto e Edric revirou os olhos mentalmente. – Sabe Edric desde que saímos daquela caverna, eu nunca mais pude te beijar...

Edric sentiu um frio na barriga e desviou os olhos para a janela.

– O sol esta se pondo. – desconversou Edric enquanto se afastava de Mephisto. – Melhor eu ir tomar um banho, logo será hora do jantar e...

– Pare de mudar de assunto. – reclamou Mephisto ao subir na cama e deixar Edric contra a parede. – Sempre que lhe pergunto coisas do tipo você finge não estar ouvindo, isso dói... – Os olhos vermelhos pareciam realmente tristes, mas só pareciam. – Vamos, só um beijo? Só um!

Edric sentia o coração no peito, Mephisto ouvia o coração do garoto e queria rir, mas tinha de parecer desapontado. Edric inspirou e expirou depois se aproximou de Mephisto.

– Só um. – disse Edric baixo antes de beijar os lábios sorridentes de Mephisto.

O demônio colocou a mão nas costas de Edric para evitar que ele se afastasse, enquanto Mephisto tentava aprofundar o beijo ambos ouviram um pigarro vindo da porta. Edric afastou-se tão rápido do demônio que Ink teve vontade de rir. O mais novo quis se levantar e socar Ink pensou que fosse seu pai, se ele o pegasse beijando o ar seria vergonhoso demais. Edric suspirou e encarou o moreno na porta que a fechou atrás de si.

– Espero não estar interrompendo nada. – disse Ink se aproximando da cama, não olhou para Edric, preferia encarar os olhos frios de Mephisto. – Oi, Meph. – o demônio loiro mexeu os dedos em um aceno descortês.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou Edric e Ink lhe sorriu, como sempre. Edric rolou os olhos e pegou um biscoito no prato. – Vocês são muito estranhos.

Ink pegou um dos biscoitos do prato e levou a boca se virando para a janela e sentando ali, olhando para o rio ao longe. Mephisto queria bater em Ink até que ninguém mais o reconhecesse, e Ink sabia disso. Edric se levantou da cama e guardou o livro, puxava de leve a corrente de Mephisto.

– Pensei que demônios não pudessem comer. – comentou Edric colocando mais um biscoito na boca. Ink não disse nada, mas o garoto viu seu corpo chacoalhar com uma risada.

– Ink não é um demônio exatamente. – esclareceu Mephisto abraçando Edric por trás quando este sentou-se na cama. – Ele é um íncubo. Pode fazer o que quiser, ou quase.

Mephisto apertou o pequeno corpo de Edric que tentava morder seu biscoito outra vez. O loiro não tirava os olhos de Ink, queria que ele desaparecesse e os deixasse em paz, mesmo que detestasse aquela paz toda. Suspirou irritado e olhou para Edric que encarava o nada, lhe beijou o pescoço e foi o suficiente para acordar o garoto. Ink virou-se de repente cruzou os braços em frente ao peito.

– Amaimon voltou para o submundo. – disse Ink como se fosse sua culpa, Edric franziu o cenho e entreabriu os lábios com uma expressão de dúvida que fazia Ink querer beijá-lo. – B está muito irritado e eu posso perder meu emprego.

Mephisto sentiu vontade de explodir, achar seu irmão e lhe bater para que nunca mais fosse tão burro, daria tanto trabalho para invocar ele de novo. Sem falar que precisaria estar livre de Edric para fazer isso. O demônio loiro se levantou soltando Edric e falou no ouvido de Ink.

– Apague ele. – sussurrou à Ink. – Preciso falar com o grande B.

Ink encarava Edric que ainda estava sentado sem expressão, ele logo caiu na cama derrubando o prato no chão, Mephisto o pegou no colo e seguiu para a porta.

“Teremos uma longa viajem.” Pensou Ink seguindo o loiro


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Notas finais do capítulo

Oi oi oi oi
Eu to aqui, viva ou quase. Sério, super cansada, fim de bimestre é uma bosta.
Eu sei que demorei muito nesse cap, mas ta aí, eu espero que vocês gostem e não me matem via pensamento. Sério, amo muito essa fic e nunca iria abandoná-la, só preciso de mais tempo, até as coisas se acalmarem.
Eu não prometo que posto o próximo logo por que eu realmente não sei.
Amo muito vocês, e espero que tenham gostado do capitulo, por que ele está divo, fala sério, ta ótimo! -sqn
BJÃO E FALEM COMIGO PELO AMOR DE DEUS... É... Inté!



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