Oceano escrita por Mateu Jordan


Capítulo 4
Asas e um coração batendo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/590501/chapter/4

As ruas de Los Angeles são bem maiores do que as da minha cidade e muito mais movimentadas e comerciais. Lojas de uma infinidade de coisas tomam conta de quarteirões inteiros, fazendo os pedestres pararem a cada minuto para ver as ofertas e as promoções.

Ando pela rua sem uma direção exata, já me afastei um pouco da praia, mas ainda consigo ver onde nossos guarda-sóis está. O mar no fundo e o sol na altura ideal faz com que a cena ao fundo seja nostálgica. Mesmo com tudo o que houve já hoje, eu estou completamente apaixonada e olho para trás a cada momento para ver a beleza da região.

Manequins dourados e de uma cor cobre estão posicionados nas frentes da maioria das lojas do quarteirão em que estou andando. São roupas de banho, roupas de ginástica, vestidos longos, curtos, para festa, para lazer. Acessórios que parecem serem feitos de ouro, chapéus de praia, óculos e relógios. Tudo isso está lotando as frentes das vitrines, e cada loja tem um nome mais legal que o outro. Alguns franceses, outros com trocadilhos, e uns mais com o tema do que a loja vende.

As árvores menores estão distribuídas bem na ponta das calçadas, e alguns canteiros de flores me chamam atenção pela cor e pela beleza. Senhoras correm com cachorros ouvindo música, crianças chupam sorvete numa mesa em frente a Devies Ice, e alguns surfistas passam com as pranchas na mão quase ocupando a calçada toda. Todos muito bronzeados.

Toda aquela barulheira me intriga e me irrita. Quero um lugar para relaxar, embaixo de uma árvore em um parque, ou um banco numa sombra. Por isso, viro a próxima rua a direita e sigo reto até ver um local onde um parque começa. Não há muitas pessoas nessa hora do dia ali. Tudo parece bem calmo, alguns pássaros cantam, as folhas das enormes árvores balançam com o vento, e o sol reluz nos rostos das poucas pessoas dali. Começo a andar pela grama, e até onde vejo não consigo ver onde o lindo parque termina.

Atravesso-o e vejo um lago com alguns gansos. Me distancio o máximo que consigo da água, antes mesmo do meu coração bater e dos meus pelos eriçarem. Respiro e expiro para relaxar e sigo pela trilha de grama.

Chego a uma parte onde parece ser uma trilha para caminhada entre as árvores, mas sei que ou essa trilha é bem grande, ou não é totalmente explorada pelos visitantes e habitantes dali.

Prefiro sentar embaixo de uma árvore bem próxima da luz, onde eu consiga ver grande parte do parque. Se eu andasse um pouco mais para dentro do bosque, eu não iria conseguir enxergar perfeitamente, pois mais para dentro as árvores começam a ficar mais perto uma das outras e a luz do sol não consegue penetrar por entre suas folhas verdes.

Abro o Orgulho e Preconceito e nem percebo que página eu estou. Só sei que quero ler o mais rápido possível para me livrar desse clássico que parece estar escrito em japonês ou em árabe.

Às vezes me distraio olhando para os pássaros nas árvores acima de mim, ou quando alguma pessoa passa caminhando naquela região. Tudo parece ser tão silencioso e harmonioso.

Estou tentando me concentrar, para no fim pelo menos conseguir responder algumas questões da prova, e pelo menos estou começando a entender algumas partes, como quando...

Algo se mexe numa das árvores mais para dentro do bosque. Eu ouvi. Eu vi pelo canto dos olhos. Por um momento percebo que a música habitual que os pássaros fazem parou.

Meu coração por alguma razão sabe que algo está ali. Me observando, mas quando os pássaros voltam a cantar e duas mulheres de meia idade passam falando, eu tiro tudo da minha cabeça e olho diretamente para aquelas linhas com letras infinitas do livro.

– Você viu aquele garanhão lá atrás? – Uma das senhoras pergunta a outra – Bonitão, não é?

– Nossa, e como – A outra responde – Mas continue falando sobre a Srª Beckz, é verdade que o filho dela disse que namora com duas mulheres...

Não seguro meu impulso e sorrio enquanto leio algumas palavras e as mulheres continuam caminhando em pequenos trotes. Mulheres sempre tem algo a falar.

Depois de mais alguns minutos lendo, percebo que entrei um pouco na história e acabo gostando quando o capítulo enfim termina. Eu adoraria gostar mais de ler, parece ter histórias fantásticas por aí...

Ouço um farfalhar de novo. Como se tivessem batendo os braços nas folhas das árvores para fazer esse barulho.

Levanto rapidamente. Agora não há mais nenhuma senhora andando por aqui. Nem ninguém. Olho para os lados antes de ir embora, pois já deve ter dado meia-hora e não quero preocupar meus pais.

Olho para a esquerda por entre as árvores pela última vez. Nada.

Olho para a direita por entre as árvores pela última vez. Nada

Viro-me para a parte de trás da árvore em que estou encostada e antes de ir embora, eu olho de relance novamente. Vejo algo.

Asas arrastando folhas das árvores ao longe.

As asas pareciam ser de algum pássaro bem grande, mas não existe um pássaro tão grande quanto as asas que acabei de ver e que agora sumiram. Agora sumiram!

Penso e fecho os olhos para imaginar as asas que acabei de ver na minha frente atrás de uma árvore floresta adentro. Eram claras e quase pareciam de um... anjo.

A palavra faz meus olhos se abrirem e ouço mais uma vez o farfalhar de folhas parecido com a que eu ouvi antes, mas dessa vez não vejo asas nenhuma. Meu coração está tão disparado.

Mas por algum motivo não sinto medo, só excitação.

Fico procurando por entre as árvores para ver se consigo distinguir aquelas asas novamente. Eu sei o que vi. Sei que eram asas. Louca eu não sou.

Reflito sobre o dia que tive, não posso estar delirando, a não ser que...

Levo um susto quando o meu celular toca. Ele está no meu bolso de trás da calça e a música dos Bleachers retumba por entre as densas árvores do bosque.

Saio com o livro na mão para o sol, e quando atendo, reconheço a voz de preocupada da minha mãe no telefone.

– Graças a deus, Leona – Ela diz quase gritando. Afasto o aparelho do meu ouvido por um momento – Onde você está? Era meia-hora, já passou quase uma hora. Agradeça por seu pai confiar muito em você e por ele segurar o telefone longe de mim. Venha aqui agora!

– Mãe, eu estou bem – Digo, mesmo achando que isso é desnecessário. Ela sabe que uma coisa que eu não estou a quatro anos é bem. – Eu perdi a hora porque estava lendo. Eu achei um parque super legal e consegui me concentrar para ler o livro. Você sabe como estou querendo terminar esse livro logo.

Por um momento minha mãe parece refletir ao telefone e não fala nada. Depois diz:

– Tudo bem querida. Me desculpa... eu só estava preocupada. Onde você está? Estamos indo tomar sorvete na Devies Ice, sabe onde fica?

– Sei sim – Digo, sorrindo – Estou indo para aí agora... – Mamãe diz mais alguma coisa no telefone – Ok... beijo.

Desligo o telefone e olho para entre as árvores. Tudo parece silencioso agora. Parece que meus olhos nunca viram aquelas asas, e que meu coração nunca bateu tão forte como minutos atrás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.