Como odiar o amor escrita por TheGhostKing


Capítulo 4
O arco e flecha


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO
Pov. Jill
(E obrigada pelos comentários)



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Jill corria como se não houvesse amanhã, mas seus pensamentos não se concentravam nisso. Ela queria focar no que estava fazendo, ou acabaria tropeçando em algo ou dando de cara com uma árvore, mas não conseguia. Havia algo se formando dentro dela que não a permitia. Ela somente não conseguia dizer o que era. Seria raiva? Tristeza? Ódio? Decepção? Ela não sabia.

Entretanto, qualquer um que escutasse sua história saberia que ela sofria de coração partido.

Como Nico poderia fazer isso com ela? Jill nunca foi de grandes intimidades, mas estava se dando tão bem com ele logo no primeiro dia que achou que ele fosse... diferente dos outros. Que ele fosse especial. Mas ele provou o contrário.

Ela queria saber o que tinha resultado nessa mudança de humor repentina. Teria sido realmente apenas seu pai? Que os deuses não a escutassem, mas havia coisas mais perigosas do que eles que Nico com certeza já havia enfrentado. Por que teria medo de um deus menor do amor?

Que os deuses não me escutem mesmo, pensou, escutando o que ela própria dissera e imaginando a fúria que isso despertaria.

Ela suspeitava dessa história toda. Talvez Nico realmente tivesse que fazer aquilo. Talvez ele não pudesse contar o que realmente aconteceu. Talvez estivesse apenas tentando a proteger. Talvez...

Talvez ela fosse boba mesmo.

Ela sabia que estava pensando naquilo porque queria acreditar que seu amigo não se fora. Nico era um idiota, egoísta, falso, gentil e carinhoso. Há. A quem ela estava enganando. Teria que fazer mais esforço para ficar brava com ele.

Afinal, ao lançar o espírito contra ela, ele parecia assustado, e não irritado.

Claro. O espírito. Ela sabia que estava esquecendo algo. Olhou para trás para ver a distância entre eles, e atingiu o limite de sua velocidade ao perceber que não era muita. Sentia as gotas de suar descerem pelo seu rosto. Estava exausta. Seu corpo gritava para que ela parasse para repousar, mas ela não se daria ao luxo.

Ah, se espíritos se cansassem, pensou, enquanto via algo grande se aproximar. Não parecia, entretanto, perigoso. Não parecia nem ao menos vivo. Era difícil enxergar, afinal, a noite era clara, mas ainda era uma noite. Foi chegando mais perto, e cada vez mais, até notar que eram rochas que formavam uma espécie de muro. Ela continuou a correr, sem dar muita importância, mas apenas quando chegou perto demais para desviar, raciocinou direito. Para onde iria?

Escalar não era uma opção. O espírito a alcançaria antes que ela pudesse alcançar a segunda pedra.

Correr também não estava em jogo. Não importa a direção que fosse, alguma hora teria de passar perto do espírito.

Jill se virou e observou a criatura se aproximar dela lentamente, como se tivesse todo o tempo do mundo.

Seria melhor se ele viesse rápido, pensou, para acabar logo com isso.

Ela sentia o cheiro de podridão vindo de longe. Talvez não fosse o melhor momento, mas Jill se perguntou como era possível que um espírito fedesse.

Ela olhou para os lados. Nada. Nenhuma chance de escapar.

Sentiu as lágrimas brotarem. Queria muito estar brava com Nico naquele momento. Queria querer estrangulá-lo por fazê-la passar por aquilo.

Ela fechou os olhos e uma lágrima deslizou por sua bochecha. Sabia que o espírito logo se aproximaria o suficiente para... Ela não queria pensar.

Por puro instinto, ela começou a se encostar na parede, como se fosse fazer diferença. Tentou ficar o mais longe possível daquilo, milímetro por milímetro. Foi quando ela sentiu.

Abriu os olhos com o susto. Havia pisado em algo. Notou que o espírito estava a uns cinco metros. Tinha tempo de olhar o que era. Levantou, cuidadosamente, o pé esquerdo, e viu algo brilhar embaixo das folhas secas. Abaixou-se a apanhou o objeto. Era um arco de bronze.

Segurou-o com as duas mãos e pôs-se a admirá-lo. Era lindo. Tinha detalhes delicados e pequenos desenhos de corações. Ela podia passar o resto do dia olhando o objeto, mas o espírito fez um som bizarro que chamou sua atenção.

Uma flecha. Se há um arco, há uma flecha.

Começou a procurar a tal flecha, na esperança de que realmente houvesse uma. Revirou todas as folhas secas. Nada. Estava quase entrando em pânico quando viu algo brilhando acima dela.

A flecha estava fincada nas rochas.

Jill começou a puxá-la. O espírito se encontrava a dois metros e alguma coisa.

Vamos, vamos – ela repetia, mesmo sabendo que a flecha não a obedeceria por isso.

Depois de algum esforço, o objeto saiu. Não havia tempo, entretanto, de comemorar. A criatura estava perto demais. Jill ficou com medo que, talvez, a distância não fosse o suficiente para um tiro de arco e flecha, mas era sua única chance. Posicionou a flecha e puxou, torcendo para que acertasse o alvo, mesmo que fosse sua primeira vez com a arma. Respirou fundo e soltou.

Observou a flecha voar em direção ao espírito. O segundo seguinte pareceu uma eternidade. E tudo em que ela podia pensar era:

Eu fui muito idiota. É um espírito. A flecha vai ultrapassar.

A criatura parara de andar, olhando o flecha como se estivesse curiosa.

Vai ultrapassar.

Faltavam dois centímetros para acertar, em cheio, o peito do espírito.

Pelo menos sou boa de pontaria.

Um centímetro.

Ah, não, o que foi que eu fiz?

A flecha perfurou a criatura e a fez desaparecer no mesmo instante.

Jill não conseguia acreditar. Tinha... funcionado? Não era possível. Não era lógico.

Olhou, impressionada, para as próprias mãos.

– Ah, uau – comentou, andando com calma de volta ao chalé de Hades, levando o arco consigo – o que foi que eu fiz?

.

Ela escancarou a porta com um estrondo.

– NICO! EXPLICAÇÕES! - ela esbravejou. Não houve resposta. Olhou ao redor, ninguém – Nico?

Jill começou a andar pelo chalé, olhando cada canto. Começou a ficar preocupada com o amigo, quando o encontrou dormindo no chão, atrás da última cama do quarto. Quase ficou brava, mas riu, incrédula. A posição dele era bizarra. Estava com o peito no chão, os braços abertos, uma das pernas dobrada. Mas a melhor parte era a boca aberta.

Credo, riu Jill consigo mesma, ele baba enquanto dorme.

Deu um leve chute em suas costelas, tentando acordá-lo. Chamou seu nome. Sacudiu-o. Arrancou fora o sapato e jogou nele. Nada. Irritada, foi até o banheiro, buscar um copo d’água para revirar no semideus. Enquanto enchia, viu um vidrinho ao lado da pia e pegou para ver o rótulo. Era perfume.

Jill borrifou no ar e cheirou. Reconheceu o cheiro e soltou uma risadinha.

Esse garoto é mesmo muito fofo, pensou.

Lembrou-se do copo que havia deixado para encher. Estava transbordando, mas ela rapidamente desligou a torneira e se livrou da água extra, caminhando em direção a Nico, tentando não gargalhar.

Ajoelhou-se ao seu lado, e com cuidado, virou tudo em seu rosto. O menino sentou-se num pulo e um grito.

– Esse gritinho não foi muito macho – ela comentou, buscando ar enquanto ria da cara assustada do amigo.

– Não tem graça – ele respondeu. De repente, seus olhos se iluminaram, como se tivesse lembrado de algo extremamente importante, o que foi o caso – Jill! – ele soou alegre. Depois, pigarreou e repetiu, sério – Jill!

– Eu mesma, o que deseja?

Nico olhou para os lados como se tivesse levado a pergunta à sério. Ajoelhou-se no chão ao lado da amiga e aproximou os lábios aos seus ouvidos. Então disse, num sussurro quase inaudível:

– Durma.

E antes que Jill pudesse questionar, ele tocou sua testa e ela caiu no chão, dormindo.

*

Era um sonho, Jill tinha certeza disso. Sentia que era. Olhou para os lados e tudo que via era preto. Era como se estivesse presa em uma caixa negra, mas não escura, pois conseguia ver Nico com clareza bem à sua frente.

– O que foi isso? – ela perguntou, intrigada. Para ser sincera, tinha achado incrível – você tem poderes de fazer as pessoas dormirem?

– Ah... não foi bem isso – ele respondeu – na verdade, eu te coloquei em uma espécie de coma. Você acorda quando eu quiser – ele acrescentou, com rapidez, ao ver o rumo que a conversa tomava.

– E porque? E por falar em esclarecer as coisas, o que foi esse espírito, hein? Precisamos de uma conversinha sobre isso.

– Mil desculpas sobre isso – Nico disse, vermelho – mas eu realmente posso explicar. É que tinha que ser em um sonho para que ele não possa nos escutar.

– Ele quem, o Cup... – Nico a interrompeu, pressionando a mão contra sua boca.

– Nomes são poderosos. Pode ser mais seguro aqui, mas não cem por cento.

Ele recolheu a mão.

– Ok – ela respirou fundo – vocês me deve muitas informações, mocinho.

– Dá para levar isso a sério?

– Não depois da sua cara quando acordou. Você tinha que ter visto, estava impagável...

– É sério, a gente precisa de um plano para podermos ficar juntos. Foca, por favor.

Os olhos de Nico estavam tristes demais para se olhar diretamente. Esse garoto já passou por muita coisa, pensou Jill.

– Então é para levar à sério?

– Sim.

– Sério mesmo?

– Sim – Nico estava perdendo a paciência.

– Posso pelo menos fazer uma última gracinha?

O garoto olhou-a profundamente, pensando na questão. Então suspirou fundo e deu a permissão.

– Claro que pode. Mas depois, por favor, preste muita atenção.

– Polo Double Black, Ralph Lauren.

E Nico estremeceu e ficou vermelho ao escutar o nome do perfume que havia passado no jantar daquela noite.


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Notas finais do capítulo

Gente, espero que estejam gostando da fic. Talvez seja um pouco difícil de continuar a postar diariamente, mas vou me esforçar.
obrigada :3