Como odiar o amor escrita por TheGhostKing


Capítulo 3
A ameaça


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários! :3



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Nico acordou em um sofá que nunca havia visto antes. Tentou se levantar, mas a cabeça girou e ele tombou para trás, caindo sentado no móvel fofo. Apertou os olhos, tonto, e sem abri-los, levantou com calma. Quando estava de pé, abriu apenas um olho, e o branco do lugar quase o cegou. Olhou em volta, já com os dois olhos abertos, e tudo era branco, na mesma tonalidade forte e ofuscante, exceto por detalhes como interruptores, que eram vermelhos. A visão, antes levemente embaçada, começou a focar. O que via, se não fosse pela curiosa escolha de cores, era uma sala simples. Continha não muito mais do que o sofá, uma mesa de centro com um vaso de flores e uma lareira apagada.

Nico se perguntava que lugar era aquele quando se deparou com uma porta. A tentação de abri-la era grande, mas havia aprendido de maneiras muito ruins que a curiosidade não é uma boa características, e se conteve. Mas isso durou uns dez segundos.

O garoto correu para a porta, desviando por pouco da mesa de centro, e já ia abri-la quando hesitou. Se vai mesmo fazer isso, pensou, faça direito.

Nico sacou a espada de ferro estígio. Ele sempre gostou da arma. Era negra como um espelho refletindo o céu sem estrelas à meia-noite. Era sombria e dava medo só de ver. Isso, na verdade, facilitava muito algumas batalhas.

Esticou a mão em direção à maçaneta, com a espada em punho. Estava a mil: se animava com perigo. Apesar de não demonstrar, parte dele continuava a ser aquele feliz pirralho de dez anos que um dia fora. No momento que ia tocar a maçaneta de vidro, um homem se materializou em sua frente, levando-o a tocar sua mão.

— De onde você veio? – Nico recuou com um pulo, esfregando a mão que o tocara na camisa.

— Estou sempre presente – o homem respondeu. Era alto, bronzeado e loiro. Seus olhos eram castanho-claro e brilhavam como duas joias presas em seu rosto. Era muito bonito. Se ele fosse quinze anos mais novo...

Credo, Nico. Se controla. Minas e caras, não minas e homens.

— É, fiquei sabendo – disse o homem, como lesse os pensamentos do garoto.

— O que disse?

— Nada. Não se preocupe, não o machucarei. Pode guardar a espada.

Nico mal havia notado que ainda tinha a arma em punhos, como se estivesse pronto para atacar.

— Ah... desculpe – murmurou Nico, guardando a espada – que lugar é esse? Como vim parar aqui?

— Simples. Você está sonhando.

Nico se surpreendeu mais do que normalmente o faria com a reposta.

— Por que eu sonharia com essa... – ele se interrompeu. Imaginou que o homem fosse o dono da casa e resolveu não ofendê-lo - ...esse lugar? Por que eu sonharia, sem ofensas, com você?

— Nico – disse o homem – você não se lembra de mim?

— Como?

— Você está sonhando comigo pois eu tenho um assunto a tratar com você – o homem abriu um largo e maldoso sorriso – precisamos conversar sobre amor.

Nico recuou ao ouvir a última palavra.

— Cupido – ele disse, sacando a espada – o que você quer? Por que não o reconheço?

O deus riu, prazeroso. Deu uma resposta enquanto se aproximava do menino.

— Porque seu amor mudou, meu jovem.

— Isso só responde a uma pergunta – Nico recuava do homem que não hesitava em se aproximar. Andava para trás, com a espada direcionada ao peito do deus, até bater em uma parede. Sentiu a espada voar de sua mão com um simples gesto de Cupido, e quando estavam a centímetros de distância um do outro, o mesmo falou, ameaçador:

— Precisamos ter uma conversinha sobre minha filha – o sorriu dele sumiu – Jill.

Nico engoliu em seco, abaixou e foi para o lado, saindo, assim, de perto do deus.

— Claro – ele disse, enquanto apanhava a espada do chão e a guardava com calma, mostrando que não tentaria atacar – pode falar.

— Fique longe dela.

— Ou...? – Nico ousou perguntar, temendo qual seria a resposta.

— Não sei se eu preciso responder.

Cupido deu uma gargalhada de dar calafrios e desapareceu.

*

— Nico! – gritou uma voz, cansada, como se essa fosse uma tentativa entre muitas que falharam de acordá-lo.

O garoto ainda mantinha os olhos fechados. Sentia-se fraco. Notou que quem quer que fosse a pessoa a balançá-lo e chamar seu nome, o faria de novo, então soltou um grunhido para mostrar que estava vivo e acordado.

— Nico? – disse a voz. Não era Jill, ele notou. Era uma voz masculina – tá vivo, cara? Cara? – o menino deu um tapa de leve no rosto de Nico.

Leo, ele pensou no mesmo instante.

— Cara! – ele repetiu, com outro tapa.

Nico se sentou, gritando:

— EU ESTOU VIVO, AGORA PARA DE ME BATER!

Às vezes Nico só fingia ser assustador daquele jeito para observar as reações das pessoas, como naquele momento. Foi divertido demais observar Leo caindo no chão e todos que estavam ao redor dando um pulo para trás.

— É... Você sabe como agradar as pessoas – comentou Jason, olhando para Leo.

— Nunca disse isso – respondeu o garoto, voltando a se ajoelhar no chão – só que eu sei acordar as pessoas. Melhor do que você, pelo menos.

Jason fez uma careta, e Leo retribuiu mostrando a língua.

— Como vocês são infantis, credo – Nico bufou enquanto se levantava do chão, com a ajuda do amigo que o acordou – por quanto tempo eu dormi?

— Uma hora. Cinquenta e oito minutos, outras pessoas tentaram te acordar. Nesses dois últimos, o bonitão aqui conseguiu.

— Cale a boca, Leo – disseram todos que estavam ao redor deles em uníssono. O menino apenas riu.

De repente, alguém saiu de dentro da multidão e abraçou Nico forte, provocando olhares preocupados. Jason murmurou “se eu faço, ele não gosta de ser tocado. Agora não pode nem chegar uma bonitinha qualquer que pode agarrar?”.

Que isso, cara, ele pensou, e olhou para Jason com olhar de o-que-você-disse?

Mas então lembrou-se de que estava sendo abraçado. Era Jill. Ele se afastou o mais rápido que pode.

— Não tem motivo pelo qual se preocupar, desmaios acontecem o tempo todo por aqui.

Não adiantou a desculpa, pois Jill ficou desconfiada de qualquer maneira.

— Você está me evitando? Eu só fiquei preocupada, ok, desculpa aí.

— Não, você entendeu errado...

— Então deixa eu te abraçar – ela desafiou.

Nico olhava ao redor, procurando ajuda. Suspirou.

— Eu não posso. Desculpe.

Jill fechou os braços ao redor de Nico de qualquer maneira. Mas o menino se soltou.

— Eu não posso! – gritou.

— E porque não?

Nico abriu a boca para responder, mas nada saiu. Não tinha certeza se podia contar à ela sobre a visita que havia feito à seu pai. Jill continuava a encará-lo com um olhar insistente. Todos ao redor demostravam curiosidade. Nico se sentiu preso. Inseguro. Assustado. E desatou a correr. Abriu caminho ente as pessoas de disparou na direção de seu chalé, sabendo que era seguido por olhares sem nem ao menos ter de olhar para trás.

.

Nico estava de bruços na cama, com a cabeça enterrada no travesseiro, quando ouviu o rangido da porta abrindo. Imaginando que fosse apenas a irmã a entrar no quarto, não se deu o trabalho de olhar.

— Nico? – a voz não era dela – O que deu em você? Posso entrar?

Se fosse mesmo Hazel, não pediria permissão para entrar no próprio chalé. Cedeu e acabou espiando para ver quem era, torcendo apenas para que não fosse...

— Jill! Você não pode entrar no chalé de Hades!

— Quem é que está me impedindo? – ela retrucou.

— Eu estou! – Nico respondeu, torcendo para que não precisasse levantar da cama para convencê-la a não entrar.

— Mas, Nico... O que aconteceu enquanto você dormia?

Ah, não. Ele pensava, pare.

— Você não estava assim antes de desmaiar.

Você não entende o quanto está doendo para mim...

— Será que você não consegue entender o quanto está doendo para mim?

Ter de evitar minha primeira amiga de verdade nesse lugar...

— Ser bloqueada pela única pessoa nesse acampamento que chegou a falar comigo?

Nico sentiu uma lágrima quente brotar em seus olhos. Ele não estava triste. Tinha ódio.

Se eu pudesse ao menos te contar o motivo disso, você entenderia...

— Foi meu pai, não foi? Cupido.

Nico sentou-se na cama, surpreso.

— Como você...

— Você desmaiou na reclamação. Ele te ameaçou? Foi isso?

Silêncio total. Nico apenas balançou positivamente a cabeça em resposta. Esperava que, agora, ela entendesse o motivo pelo qual eles não podiam ficar juntos.

Mas será que isso seria... para sempre?

Não precisa ser, Nico pensou consigo mesmo, eu não preciso deixar o Cupido arruinar a minha vida mais uma vez. Não vou entregar isso a ele de bandeja.

Então, estava decidido. Ele não deixaria mais uma pessoa querida ser arrancada dele. Mas isso precisava de um plano. De estratégias. De tempo. Privacidade e tempo sozinho.

Nico viu Jill entrando no chalé e estendeu a mão em direção a ela.

— Não faça isso. Não me obrigue a fazer isso.

— Nico, o que... – ela começou, dando um passo à frente.

Confie em mim, ele pediu mentalmente. Daria qualquer coisa naquele momento para serem telepatas.

Então o chão começou a rachar. Nico viu a expressão de horror da amiga, mas continuou. Invocou um espírito e deu suas ordens.

— Não a deixe se aproximar de mim.

— Nico, por favor! – o terror estava estampado no rosto dela, fazendo Nico desviar o olhar ao dizer:

— Sugiro que você corra.

Com isso, enterrou o rosto novamente no travesseiro, ouvindo apenas os passos desesperados de Jill.

Me desculpe... Ele pediu, sentindo as lágrimas molharem o travesseiro, torcendo para que o espírito tivesse escutado a segunda parte de sua ordem, que ele havia sussurrado:

Não a machuque.


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Notas finais do capítulo

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