Elements escrita por Jowlly


Capítulo 23
Enfim, os jogos...


Notas iniciais do capítulo

Podem nos bater. Eu deixo.

É, gente, eu sei... foi basicamente um mês sem postagem, mas, como vocês devem imaginar, fim de ano é correria meesmo! E foi difícil esse capítulo sair, já que nem fim de semana livre eu tinha. Mas pior: tudo o que eu escrevia parecia terrível. E estava terrível.

E eu simplesmente não me permitiria postar algo de baixa qualidade para vocês.

Enfim, ele está pronto, e ENFIM SÃO OS JOGOS, LINDOS! É, mas ainda não a parte que a Sofia e o Drake jogam, esses são os bastidores HUAEHUAE... Bom, é um capítulo bem generoso nas palavras :3

Boa leitura!

P.S: Dão uma olhada na nova capa da fanfic :3



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Admito que mal consegui dormir naquela noite. Pode chamar isso de problema de ansiedade ou insônia. Nunca pensei que algo parecido fosse-me acontecer... eu nunca havia ficado tão ansiosa por causa de alguma competição, não que eu não fosse competitiva, na verdade sou um pouco sim, mas eu estava ansiosa demais! Não somente pelo prêmio ou pela competição, mas era quase uma questão de proteger a honra que eu tinha, e também a minha curiosidade sobre esse novo desafio.

Quando amanheceu, eu praticamente pulei da cama com uma energia vinda sabe-se lá de onde. Coloquei uma roupa que julguei adequada para o dia de hoje e desci para tomar café. Havia poucas pessoas no refeitório, parecia que a maioria não tinha acordado ainda, se bem que era por volta das 5:15... Vi Lauren e Karen em uma mesa afastada da entrada, depois de ter pegado o café da manhã sentei-me junto a elas.

– Bom dia! – falei sem esconder a empolgação.

– Bom dia. – Lauren olhou para mim com um sorriso de canto de boca, como se quisesse rir, não a culpo, também riria.

– Bom dia... – Karen falou totalmente sonolenta.

– Cadê os garotos? – perguntei, apesar de já imaginar a resposta.

– Eles... eles estão... – Karen parou para dar um bocejo, fechou os olhos e quase não os abriu novamente – dormindo ainda.

– Não acha melhor você voltar a dormir também? – Ri enquanto indagava, ela me acompanhou com um riso/bocejo.

– Eu estou ótima, só a energia que ainda não me atingiu. – falou - Depois eu bebo um café para ver se melhoro.

Três horas se passaram depois de seu comentário, já estavam todos no topo da montanha, preparando-se para o jogo. Drake, felizmente, parecia tão disposto quanto eu. Ele conversava com Peter, mas pela distância que estávamos não conseguia ouvir. Todas as pessoas se espalhavam pela grama verdinha perto da cabana. O dia não poderia estar mais bonito. Ainda eram oito da manhã, mas o céu estava azulado como nunca, com uma ou outra nuvem fofinha no céu. Andei até a cabana onde Karen e Peter estavam, ambos meio largados no sofá fazendo um belo de um nada. Ri da cena e eles me olharam com uma sobrancelha erguida.

– O que foi? – Peter me olhou com aqueles olhinhos verdes que nunca param de brilhar.

– Nada. – Sorri e me sentei do lado deles. – Vocês não tão ansiosos, não? Tipo, eu estou quase surtando de ansiedade enquanto não começa, e vocês parecem tão... tão tranquilos...

– Ah, esse deve ser o nosso terceiro jogo. Treinamos demais nesses últimos tempos e agora o que resta é descansar um pouco. Você não vai se arrepender, é muita adrenalina, e esse ano parece estar ainda melhor! – Sorriu confiante.

– Sério, a gente precisa ganhar esse ano. – Karen encarou Peter e ele bocejou enquanto dizia um “sim” lento, - Ela parecia totalmente decidida, quase como eu – em seguida ela me olhou – No primeiro jogo chegamos na terceira fase, já foi ótimo, no segundo perdemos uma das lutas e agora vamos vencer, com certeza!

– É, espero que sim. – Peter disse. Ao contrário da Karen, ele não parecia se importar muito com isso, mas eu esperava que eles dessem seu melhor de qualquer modo.

Fiquei um momento em silêncio olhando ao redor. A cabana não estava muito diferente desde a última vez que estive aqui, a única diferença agora era o grande mural digital, uma espécie de painel na verdade, que ficava mudando de imagem toda hora, mas sempre voltava para um espécie de escalação, forcei a vista e vi que se tratava do nome das duplas e de que categoria elas se encaixavam. Eu sabia que minha dupla era o Drake e que estávamos na categoria dos novatos então nem me dei ao trabalho de ir verificar. Do lado dela havia umas duas mesas simples, cada uma com dois laptops e um monte de fios que eu não sabia exatamente para que... as cadeiras atrás das mesas estavam vazias e eram bem puxadas para aquele estilo de poltrona. O tédio começou a me atingir e o silêncio do ambiente estava me deixando desconfortável. Sendo assim, quebrei-o.

– Boa sorte, estarei torcendo por vocês! – levantei-me de novo e sai por aí, não conseguia ficar parada. Dessa vez já estava com outro objetivo em mente: iria encontrar o Max. Saí da cabana e olhei ao redor. Felizmente, pela coloração de seu cabelo, não era tão difícil acha-lo. Fiquei encarando-o conversar com um de seus amigos, que eu ainda não sabia o nome, até que ele sentisse o peso do meu olhar e virasse na minha direção. Ele olhou para mim, sorri e acenei para que viesse em minha direção, pediu licença para o amigo e veio sorrindo também. Aquele justo sorriso que acaba com minha razão.

– Bom dia, Sofi – puxou-me pela cintura e deu-me um selinho. Sorri pela não-sei-qual-vez-hoje.

– Bom dia. Ansioso?

– Ah, um pouco. – comentou. Caminhamos para qualquer lugar longe da cabana, simplesmente não importava para onde.

– Nossa, acho que ninguém está com a mesma ansiedade que eu! – falei exasperada.

– Da para notar de longe sua empolgação, então, quanto a você, imagino que ninguém chega aos pés. – ele riu exageradamente. Foi nesse momento que ouvimos a voz de Lauren, pelo microfone, anunciando para os veteranos se prepararem e dali cinco minutos todos se encontrarem no pátio principal.

– Pátio principal? – ergui uma sobrancelha.

– É, fica bem na frente de um dos muros do labirinto. – Max respondeu.

– Verdade... eu ainda não vi esse labirinto. – comentei.

– Bem, não há muito o que ver, só quando você entra nele. – ele olhou para o céu e passou seu braço ao redor do meu pescoço. – Primeiramente, é um grande muro de pedras já um pouco desgastadas, deve ter por volta de quatro metros de altura. É quadrilátero, ao redor dele tem umas doze entradas entradas que só são abertas no horário certo, depois o que você tem que fazer é correr e achar o caminho certo para chegar aos elevadores o quanto antes possível.

– Ah... você já está com o bracelete? – Notei quando fui entrelaçar nossos braços reitrando o dele de cima de meu ombro. Amava esses simples detalhes de um relacionamento.

– Sim, há pouco tempo Lauren e Ryan já estavam distribuindo isso para quem fosse jogar. Não se joga isso sem você e sua dupla estarem conectados.

– Hum... – fiquei pensativa – Quem é sua dupla mesmo?

– Zack – ele respondeu.

– Verdade! Então vocês tem vantagem nessa parte, considerando que ele tem super agilidade!

– Sim, temos mesmo, – riu – mas cada dupla tem uma parte que consegue passar mais facilmente de acordo com o seu poder.

– A Lauren e o Ryan também jogam?

– Não, como eles que preparam tudo, decidem não jogar, pois seria injusto com os outros. Além disso, eles ficam monitorando pelas câmeras. Nem eles nem os curandeiros, já que esses tem que ficar preparados para cuidarem dos feridos quando saírem do labirinto...

– Câmeras? Espere... feridos?! – fiquei um pouco espantada, e preocupada, mas um barulho, uma espécie de buzina, fez com que desviássemos a atenção. Max me pegou pela mão e fomos correndo até o local, onde os outros veteranos já se encontravam. Lauren e Ryan falavam alguma coisa que eu não prestei bem atenção, estava ocupada demais admirando fascinada para o gigantesco muro impotente no meio daquela paisagem, parecia simplesmente improvável demais encontrar aquele negócio no meio de um “nada tão belo”. Despertei pelos aplausos e a movimentação. Max deu-me um beijo na bochecha, eu desejei-lhe boa sorte e ele correu ao encontro de Zack, que já estava o chamando de frente para o muro. Por onde eles entrariam? Eu não via entradas... Outras três duplas estavam de frente para o muro, já o resto eu havia perdido de vista, estavam provavelmente nas outras faces do labirinto.

Outro forte som de buzina ecoou e, de modo totalmente inesperado, quatro partes do muro começaram a abaixar rapidamente com um barulho estrondoso levantando uma enorme poeira. As partes que abaixavam tinham no máximo dois metros de largura e se encontravam a seis metros de distância uma da outra. Mal o muro chegara ao chão e eles pularam para dentro, começando a correr e sumindo de minha vista. As aberturas começaram a se fechar novamente. Já vi tanta coisa bizarra nesses últimos tempos, e mesmo assim continuo me surpreendendo!

Olhei ao meu redor e alguns outros novatos, que também vieram para ver o labirinto, pareciam tão surpresos quanto eu, cochichando entre si. Decidi voltar para os arredores da cabana onde a maior parte das pessoas de lá se concentrava. Não era uma caminhada de mais de cinco minutos, mas o cenário parecia mudar totalmente sem o labirinto!

Quando cheguei, notei que a porta estava encostada, mas como eu ouvia vozes, sabia que tinha gente lá dentro. Não estava clara, as janelas todas fechadas, mas a pouca iluminação era o suficiente para que eu identificasse as pessoas de lá. Vi Lauren e Ryan sentados naquelas cadeiras antes vazias, totalmente concentrados nos monitores e às vezes digitando algumas coisas com expressões sérias. Karen, Peter e Drake também estavam lá, largados no sofá. Em outro assento, reconheci Sasha e mais outras três pessoas, que julguei serem os curandeiros, conversando.

– Olá, gente. – Cumprimentei e todos responderam. Drake fez sinal para que eu fosse até eles, sentei-me ao seu lado.

– Você vai se cansar se ficar zanzando assim por toda a área. – ele ironizou e eu o empurrei com o ombro, - ele quase caiu em cima do Peter - todos riram. Era ótimo quando o Senhor Mau-Humor não estava assim tão rabugento.

– Não sei é como você consegue ficar quieto, você já viu o labirinto? Aquele treco é gigante! – exclamei e dessa vez ouvi um riso abafado de Lauren, que ainda estava concentrada no laptop.

– Você não viu nada, Sofia. Vem cá. – A ruiva chamou e eu fui ao seu lado, não demorando muito para ficar boquiaberta com a visão. Nos quatro laptops estavam várias cenas, em tempo real do labirinto. Eles monitoravam cada passo de cada dupla. Consegui identificar Zack e Max, ambos pareciam um pouco cansados, mas já estavam chegando ao elevador, acho que seriam os primeiros a entrarem. Não contentei um sorriso.

– Uau!

– Legal, né? – ela sorriu.

– Muito... – falei devagar, ainda prestando atenção em cada detalhe. As paredes eram enormes e muito parecidas, as pessoas não tinham noção se já haviam passado por aquele local antes e ficavam perdidas, sem contar que vira e mexe algo aparecia como obstáculo, fosse algo para você escalar, aranhas, lanças vindo não-sei-da-onde que passavam raspando por você... era assustador. Naquele momento entendi o porquê dos “feridos”...

Claro que se eu ficasse vendo, não ajudaria em nada na minha ansiedade. Voltei para o sofá com meus amigos, que conversavam algo que eu, sinceramente, não estava prestando atenção. Dei uma puxada na cortina para ver o que acontecia lá fora, curiosa. Porém vi algo que me chamou a atenção, pisquei os olhos algumas vezes para me acostumar com a iluminação e...

– Ahn, Lauren... – chamei com estranheza na voz.

– Hm... – respondeu com um murmúrio.

– Tem um carro chegando. E eu tenho quase certeza que não é nosso...

Assim que eu avisei isso, todos se calaram. Peter, Karen e Drake esticaram seus pescoços para conferir se era mesmo verdade, e os curandeiros, do outro lado, juntaram as sobrancelhas em estranheza. A montanha onde fica o prédio é um pouco afastada, gente nenhuma passava por ali, muito menos ia para o topo. Na verdade, a sociedade não tinha conhecimento de pessoas com poderes, então um carro indo para lá era, no mínimo, suspeito.

Eu não sabia se existia um código para isso, se do nada uma sirene tocaria e um aviso de “abortar poderes, agir naturalmente” aparecesse, ou que desculpas poderia dar para o fato de ter um monte de jovens no topo de uma montanha. Mas ao contrário de tudo o que pensei, Lauren se levantou animada e abriu o maior sorriso.

– Que bom, ele chegou! – Caminhou em direção a porta, deixando todo mundo sem entender nada – Ryan, continue monitorando. – Ele concordou com a cabeça, sem desviar os olhos da tela.

Tentei ver pela janela quem era, mas o carro havia estacionado em um lugar fora de minha vista. Poucos minutos depois, Lauren entrou na cabana com um homem que eu nunca vi na vida, ou na Conventionis. Ele era alto, devia ter mais de um metro e oitenta, cabelos pretos e lisos, bem curtos, barba rala, olhos castanhos e pele um tanto quanto morena. Houve silêncio, ninguém sabia do que se tratava. Só eu que achava perigoso um cara como esse estar no meio de vários adolescentes com poderes?

– Gente, quero que conheçam o Robert. – Lauren o apresentou – Há alguns anos ele saiu da Conventionis para voltar a conviver em sociedade. Felizmente, esse ano decidiu nos visitar na época dos jogos para ajudar na monitoração.

Fiquei surpresa. Não sabia o que pensar. Lembro que ainda nos meus primeiros dias no prédio havia perguntado ao Drake sobre ficar ali para sempre ou sair quando aprender a controlar seus poderes e, bem, na minha frente estava a resposta!

– Prazer, pessoal. – Robert tinha uma voz grossa e potente. Eu diria que ele deveria ter seus trinta e poucos anos.

– Qual o seu poder? – Karen foi direta. Ela estava muito curiosa, era visível.

– Telepatia. – Ele sorriu.

Foi impossível esconder a empolgação repentina de todos e os murmúrios animados. Ele sabia ler mentes! Quem não iria querer ler mentes?! Ta aí um poder bem útil!

Sasha se levantou e foi até ele, seguida por outro cara que nunca tinha visto, um pouco baixinho e de um cabelos loiros que fazia as mulheres-propagandas terem inveja, devia ser um curandeiro.

– Quase não te reconheço com essa barba, Robert! – Sasha o abraçou.

– Quando eu sai você ainda era morena garota! – Falou brincando com as madeixas ruivas dela. Logo em seguida, cumprimentou o garoto loiro. Ryan foi o próximo a cumprimenta-lo, olhei para a mesa e vi que Lauren estava lá, monitorando. Era visível a responsabilidade deles de nunca deixarem aquilo sozinho.

A porta da cabana foi aberta novamente, era uma dupla de veteranos. Eles olharam para Robert, sorriram e o cumprimentaram também. Lauren e Ryan acenaram para eles, quase que com um olhar de “sinto muito”. Demorei um pouco para entender que eles não haviam passado da fase um, provavelmente quando chegaram não havia mais elevadores...

– E aí, Rob! Quanto tempo, hein? Achei que nunca mais viria nos visitar... – o cara que havia acabado de chegar falou se sentando no outro sofá, assim como sua dupla e Robert.

– Bem que eu queria ter feito isso antes, Kyle. Mas sabe como é, né? Trabalho, mulher, as crianças... – apesar de no contexto ter ficado claro que isso dificultava as coisas, o sorriso em seu rosto logo delatava o quão feliz estava com sua vida, era impossível não notar. Acabei sorrindo também, contagiava!

– Hahaha, então quer dizer que se casou? E teve filhos?

– A Marina, minha mulher, é uma deusa, podem apostar, não poderia ser melhor. Na verdade, eu já a conhecia antes de ir para Conventionis, mas depois de todos aqueles desastres, acabamos nos afastamos. Quando voltei para a cidade foi uma das primeiras pessoas que reencontrei. Começamos a conversar, relembrar os bons tempos, foi fatal, nos apaixonamos. – ele contava toda a história com o maior sorriso nos lábios. – Estou quase terminando o curso de psicologia, já tenho meu próprio consultório, enquanto isso, trabalho em um restaurante para conseguir nos sustentar... cozinhar sempre foi meu hobby favorito, você sabe.

– Quantos filhos você tem? – Sasha indagou.

– Tenho 2, uma garotinha de oito meses e outro na barriga, ainda por vir...

Todos estavam encantados com a história. Prestavam atenção. Provavelmente, era um sonho lá, algumas vezes parecia inalcançável, mas Robert acabara de provar o contrário. Voltar para a cidade, com total domínio de seus poderes, ter um trabalho, uma família... Por enquanto, a única família que podíamos contar era nós mesmos, não que fosse ruim, claro que não era... mas era diferente.

De qualquer modo, o futuro estava aí, bem na frente. Assim como todos, esse cara teve um passado pouco agradável, veio para cá, aprendeu, viveu e recuperou as esperanças, e agora parece estar tudo ideal novamente. E se há problemas, são problemas normais, problemas que todos costumam passar. Nada de: estamos sendo atacados, ou onde foi parar a minha arma? e até fui atingida por um rojão de água...

Os segundos, os minutos, as horas foram passando. De pouco em pouco chegavam mais duplas, as últimas que vieram chegaram machucadas, seja um corte no braço ou no rosto e até algumas em estado crítico, que fazia com que eu sentisse um medo tremendo de participar dos jogos, mas tal medo não superava minha vontade, claro.

Quando muito machucadas, a Lauren avisava para um dos curandeiros irem direto para o labirinto, assim que a dupla saísse (pelo que eu percebi, quando você perdia, era uma espécie de teletransporte e no segundo seguinte você estava do lado de fora dos muros). Pouco tempo depois eles chegavam já curados, e a cabana ficava cada vez mais cheia e animada.

Robert ajudava os líderes na monitoração, apontando algumas coisas que às vezes eles deixavam passar ou simplesmente ensinando técnicas de como dar mais foco na câmera... ele era realmente um amor de pessoa, respondia todas as perguntas feitas.

– No que eu estou pensando agora?! – Karen falou de repente no meio da conversa animada, todos estavam se divertindo. Já devia ser a nona vez que ela fazia essa pergunta, estava indignada em como ele sempre acertava, como se não acreditasse que seu poder era telepatia...

– De novo, garota?! – o homem riu acompanhado dos outros também.

– Vai, vai! Antes que eu esqueça!

– Você está pensando... – ele fez uma pausa, como se buscasse concentração, depois fez uma careta e franziu as sobrancelhas, numa cena bem engraçada – num cachorro andando de bicicleta?

O pensamento de Karen tirou mais risadas. Cada vez fica mais improvável e difícil de adivinhar, mas, bem... ele não adivinhava, né?

Ela abriu a boca em um perfeito “o”, cruzou os braços e logo em seguida as pernas também, olhou para mim com os olhos um pouco arregalados, fez um barulho com a língua de “tsc, tsc, tsc” e por fim, comentou incrédula, tirando ainda mais risos dos outros:

– Impressionante...

A conversava continuava para o mais variados temas, mas minha mente já não se concentrava mais nisso. Eu estava mais era preocupada com o fato de nem sinal do Zack e do Max, enquanto por vezes outras duplas chegavam (machucadas). Claro, eu estava feliz por eles estarem durando, mas muito ansiosa por não saber sua situação e com medo do meu namorado estar machucado...

Pelas minhas contas, faltava apenas uma dupla chegar e eles estariam na final. E foi quando conclui exatamente esse pensamento que entraram pela porta mais duas pessoas, dois veteranos, suados, cansados e feridos. Foram a passos lentos até os curandeiros enquanto ouviam cordialidades como “foram bem”, “parabéns pela luta” e “agora descansem, vocês merecem” dos outros. Sentaram-se perto deles e pouco tempo depois já estavam bem melhores.

Olhei para os três monitorando. Lauren sentiu o peso do meu olhar e olhou de volta, soltando um sorrisinho de lado. Não era ela a telepata, mas eu sabia que ela sabia que eu pensava nele. Robert também sorriu, como se estivesse torcendo por Max, agradeci mentalmente e ele acenou levemente com a cabeça.

Drake apoiou sua mão em meu ombro esquerdo e apertou um pouquinho. Parecia que todos notavam minha preocupação e ansiedade, imagino mesmo que não fosse difícil notar isso... Agradeci-o pelo apoio. Ainda era engraçado pensar que a pessoa que eu achava menos provável para nos apoiar era aquela que menos ia contra na realidade. Drake considerava Max “de boa”, ao contrário de... bem, do resto do mundo.

Os minutos seguintes pareceram uma eternidade, minha mente estava me consumindo, eu já não prestava mais atenção na conversa, por consequência muito menos participava dela, quando, enfim, ouvi a voz de Lauren:

– Fim de jogo, pessoal.

Todos olharam com ela com a expressão de ansiedade estampada no rosto, eu, então, nem se fala... prendi a respiração e quase desmaio pela demora.

– Alexandre e Ísis venceram.

O sorriso que cismava em brotar no meu rosto de expectativa brochou no mesmo instante. Uma mistura de sensações tomou conta de mim, em primeiro lugar, decepção. Senti indignação ao não ser os garotos, estava torcendo demais por eles, parecia-me injusto terem chegado tão longe e não vencerem... mas, bem, é assim que funciona, não é mesmo? Fiquei frustrada, mas logo tive que me conformar.

Peter viu o meu bico e olhar cabisbaixo, passou seu braço pelo meu pescoço e me deu um meio abraço. Apoiei minha cabeça em seu ombro, agradecendo pelo apoio. Karen e Drake também me consolaram. Não havia muito a se fazer, afinal...

Ouvi a porta abrir e logo me endireitei, com os olhos quase brilhando. De lá, saiu um Zack e um Max exaustos, um pouco machucados e ofegantes. Mesmo assim, mesmo não sendo os vencedores, receberam seus merecidos aplausos. Forçaram os músculos faciais para um sorriso de agradecimento, que não saiu menos sincero apesar do cansaço. Max ainda não tinha me visto, ele foi direto em direção ao curandeiro, como todas as outras duplas fizeram. Imagino que depois disso tudo, o que mais se quer é sentir-se bem novamente...

Quando sentou-se no chão (não esperou que os outros desocupassem os lugares, apesar de terem oferecido, ele não quis incomodar) inevitavelmente ficou de frente para mim, mesmo estando em uma boa distância de uns 3 metros, olhou-me nos olhos como sempre, fazendo com que cada parte do meu corpo se incinerasse por dentro, e abriu o melhor de seus sorrisos de uma mistura de significados, fazendo, novamente, que os pensamentos da minha cabeça se desorganizassem inteiros e o resto do mundo deixasse de existir. Era um sorriso de “olá”, um sorriso de “estou cansado” e um sorriso também de “valeu a pena”, eu correspondi com um simples, singelo, de “parabéns”. Estava orgulhosa dele, claro, decepcionada, pois achava que iriam mesmo conseguir, mas feliz por terem ido tão longe.

A voz de Zack ecoou pelo local, só agora havia notado que a conversa tinha continuado, provavelmente haviam feito-lhe uma pergunta que agora ele respondia.

– Sem dúvida, fora um bom jogo. Justo. Não foi nada fácil competir com aqueles dois, fiquei impressionado com as técnicas do Alexandre e mais impressionado ainda por que ele conseguiu interceptar meus movimentos mesmo enquanto usava meus poderes, acho que nunca havia batalhado com ele. Bem, valeu a pena. Não foi dessa vez, mas as derrotas servem como aprendizado, não é mesmo? - Todos sorriram e fizeram comentários concordando.

Lauren e Ryan levantaram-se e foram até a porta.

– Karen, Peter, nos acompanhe. Vamos chamar os outros da categoria de intermediários, preciso entregar seus braceletes, pois o jogo já vai começar. – ela disse.

A dupla se levantou acompanhando-lhes. Resolvi ajudar a chamar os outros, quando vi que Max havia sido curado, caminhei até ele e estendi-lhe a mão para ajuda-lo a levantar, puxando-o. Ele abraçou-me forte e eu correspondi na mesma intensidade, afundando-me em seu ombro. Era quentinho... Segurei-lhe pela mão e o puxei para fora da cabana discretamente, os outros veteranos estavam ocupados, conversando. Poucos notaram nosso momento, e os que notaram, apenas sorriram, felizmente. Não queria mais cochichos a respeito do nosso relacionamento...

– Vem, vamos os ajudar a avisar os outros intermediários. Aliás, conte-me, como foi o jogo?

Ele deu um suspiro, seguido por um sorriso, um olhar para o nada, mas que eu sabia que estava repleto de lembranças. Suspirou mais uma vez antes de, enfim, me responder.

– Não sei se existe bem palavra para descrever. Algo entre desafiador, incrível e cansativo... Além do mais, eu não quero estragar a sua surpresa. Seu coração bate forte, seu raciocínio fica ainda mais rápido, a dor de ser atingido é amenizada pela adrenalina no seu corpo e só há um foco: vencer.

Dei uma risada abafada, ele me olhou fingindo uma indignação que eu sabia que não existia, mas continuou com seu teatro, divertindo-me.

– Está rindo do quê?! Você ainda não sabe de nada!

– Hahaha – não abafei nada dessa vez – do jeito que você descreve, daria uma ótima série de televisão, não é mesmo?

Balançou a cabeça negativamente, pronunciando os típicos “tsc, tsc, tsc...”, mas sorria como nunca, passou o braço em volta do meu pescoço e fomos caminhando até encontrar um grupo de intermediários conversando alegremente com os vencedores. Fomos até eles. Alexandre conversava com eles e esboçava um sorriso afetado em seu rosto, daqueles que a bochecha chega a doer, apesar de ferido, parecia não se incomodar com a dor. Assim como sua parceira, Ísis. Nunca tinha a visto. Era baixinha de cabelos morenos que iam até o ombro, lisos, pele também morena... seus traços lembravam-me da etnia indígena. Perguntei-me mentalmente qual era o seu poder...

Alexandre avistou Max, seu sorriso diminuiu um pouco, não sei se por “respeito”, ou por o Max ser... bem, ele. Eles silenciaram quando chegamos, mas o clima não estava tão pesado quanto parece, juro. Apesar disso, meu namorado sentiu, e ficou um pouco sem-graça.

– Er... A Lauren está pedindo para os intermediários irem buscar seus braceletes, o jogo de vocês já vai começar. – Ele sorriu em apoio e desejou boa sorte para complementar. As pessoas agradeceram, pediram licença e se retirarem.

– Foi uma ótima luta, Max – Ísis o cumprimentou, parecia ser uma garota bem polida.

– Obrigado, você também desenvolveu muito nos últimos meses.

Ela sorriu agradecendo, depois de um cumprimento de olhares entre Alexandre e o platinado, sem dizer nada, cada dupla seguiu andando para seus respectivos caminhos. Houve um tempo de silêncio... eu não sabia para onde estávamos indo, mal prestava atenção, na verdade... tinha outras preocupações.

– Max?

– Sim?

– Por que...

– Por que ficou aquele silêncio constrangedor? – ele falava normalmente, sério, mas eu sabia que havia amargura por trás daquela máscara selene.

– É... Foi por causa que você quase venceu no jogo? – perguntei utilizando o fio de esperança restante, mas este foi por água abaixo quando ouvi seu riso mudo sarcástico.

– Antes fosse Sofi, antes fosse...

A conversa acabou por ali, não havia motivos para continuar. Já havia ficado subentendido, além do mais, aparentemente havíamos chegado ao nosso destino. Em uma região um pouco mais afastada, na direção contrária do labirinto ou da cabana, havia uma casinha de madeira, bem menor do que a cabana... mais parecia como um armazém. Encontrei várias pessoas em seu redor, eram os intermediários. Alguns estavam com e outro sem que estavam prestes a recebê-los ou coloca-los. No meio de tantas pessoas, pude identificar Ryan distribuindo-os e também Karen e Peter conversando.

Aproximamo-nos deles, passando por um monte de pessoas, fomos até a entrada daquele armazém. Lauren estava na porta, checando algumas coisas. Quando notou nossa presença, cumprimentou-nos, mas ainda sim distraída. Dei uma espiada para ver o que havia dentro. Não devia ser mais do que doze metros quadrados, e em todas, todas, as paredes, prateleiras e mais prateleiras com inúmeros braceletes. As mais próximas do chão eu podia ver que não havia nenhuma identificação, por outro lado, as outras não estavam apenas separadas pelos níveis, mas eu via escrito o nome de cada pessoa neles...

– Uau! – comentei impressionada enquanto eu observava. Lauren notou que eu mal piscava os olhos, olhou de soslaio e riu, assim como Max. – Os braceletes são diferentes para cada pessoa? – veio-me a dúvida, pois, aparentemente, eram todos iguais: feitos de prata, com alguns detalhes bonitos.

– Não exatamente... na verdade, a gente os separa assim, pois eles são inteligentes. Eles conseguem recordar as suas experiências que já tiveram usando-os, conectar-se mais facilmente a sua pessoa e por tanto a comunicação entre você e sua dupla ficará mais fácil e ágil. – a ruiva explicou. Fiquei um pouco pensativa. Está certo que eu nunca usei o bracelete com o Drake por muito tempo, por outro lado, acho que nenhum novato teve bem essa chance, então tentei não me preocupar.

Um garoto com descendência japonesa, imagino, aproximou-se, querendo tirar dúvida com Lauren, que mexia na configuração da porta de metal que fechava aquela sala, provavelmente algo relacionado a segurança.

– Lauren, quando será a premiação? – ele perguntou um pouco baixinho, devia ser tímido. Aparentava não mais que dezesseis anos, fiquei imaginando o que poderia ter-lhe acontecido...

– Será só mais tarde, Hiroki. Depois dos jogos dos novatos iremos entregar os prêmios. – Respondeu. Ele concordou com a cabeça, agradeceu e saiu. Lauren fechou a porta de ferro com um pouco de dificuldade, Max teve que a ajudar, aparentava ser pesada.

Depois disso, todos foram para o pátio, posicionaram-se e ao ouvir o sinal, puseram-se a correr assim que a porta lhes permitiu. Eu havia desejado toda a sorte do mundo para os meus amigos e estava realmente torcendo por eles, sabia que era uma dupla de potencial... mesmo não conhecendo as outras, acreditava neles. Acreditava ainda mais na convicção da Karen.

Max e eu voltamos para a cabana, onde alguns veteranos e outros novatos se encontravam. O tempo não demorou muito a passar, vi que a maioria dos novatos não estava preocupada com os jogos que ainda teriam. Vendo aquela cena lembrei-me dos tempos de escola... Há dois tipos de alunos, aqueles que estão com seu resumo em cima da mesa até que os professores mandem guardar os materiais para entregar as provas, e aqueles que nos minutos antes estão jogando conversa a fora, sem se preocupar. Não sei dizer qual está certo. Admito que minha ansiedade, de sempre querer estar precavida, faz com que minha vontade seja a segurança de estar com o resumo... mas nem sempre isso significa algo bom, não é? De qualquer modo, naquele momento, a tranquilidade de todos realmente contagiava.

Assim como nos jogos dos veteranos, de pouco em pouco ia chegando duplas de intermediários, umas mais feridas do que outras, algumas indignadas, discutindo, outras contentadas, mas todas cansadas.

E o tempo ia passando... eu ficava cada vez mais contente por nem Karen nem Peter aparecerem. Lauren, Ryan e Robert estavam fazendo um ótimo trabalhando monitorando cada pequena coisa, sempre avisavam-nos de algum imprevisto e mantinha os curandeiros atentos.

Não demorou muito para que, enfim, chegasse a final. Karen e Peter não haviam aparecido... eram os dois contra outra dupla, e depois que nos avisaram isso, os minutos que se passaram foram totalmente angustiantes, o meu coração estava na boca, e eu sabia que não era só o meu. No meio de um silêncio tenso, daquelas, ao menos, vinte pessoas que estavam na cabana, ouvimos a voz de Lauren, sempre muito clara e límpida, ofegar. O mínimo barulho logo atraiu os olhares de todos. Assim como Ryan e Robert, ela se desencostou da cadeira e tirou os grandes fones de ouvido. A líder olhou ao redor, todos não aguentavam mais de ansiedade, alguns torcendo para uma dupla e outros para outra, ela sabia disso, mas gostava de nos torturar mais um pouco com aquele silêncio agonizante.

Por fim, falou:

– Fim de jogo. – Mais silêncio, os olhos de todos brilhavam de expectativa e algumas sobrancelhas se levantaram pedindo a continuação, dada depois de alguns segundos demorados – Peter e Karen venceram.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?!

Capítulo que vem (que, aliás, não será postado semana que vem, pois o Pinguu estará em provas e como será O CAPÍTULO, tão esperado e amado, precisamos de mais tempo para desenvolvê-lo) será narrado do começo ao fim os jogos dos labirintos!

O que acharam do Robert? E quem aqui gosta do Max?! o/ (eu? Só eu? Poxa... huehauhue)....

Fiquem a vontade para fazerem críticas construtivas também!

Até breve!