Elements escrita por Jowlly


Capítulo 24
Nossa vez - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Yeeeey, adivinha quem voltou?! Isso mesmo!! Eu, seu amiguinho escritor que ta com o nome na listinha do death note de vocês o/ rsrsrs
Serio, me perdoem por toda essa demora e por privá-los de uma maratona de verão de Elements... Quais as desculpas? Bom, fiquei de recu, viajei depois de 5 anos sem sair de minha cidade (huehuehue, sim, a ultima vez que tinha viajado foi quando tinha 11), Jowlly viajou (não que ela tenha culpa, mas ela viajou de qualquer jeito e me abandonou :v), tive uns problemas pessoas e o lendário bloqueio criativo, mas, porém, entretanto, todavia, consegui escrever o capitulo! Sim! Agora é a hora deles! Do seu shippe preferido das originais (ou não), a dupla dinâmica das parada, Drafia! Huahuahuahua

"Esse é o melhor capitulo ever" (Jowlly)
"Sim, parte 1 porque ficou muito grande" (Pinguu)

Boa leitura meus queridos :3



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Os primeiros cinco minutos dentro do labirinto foram, literalmente, aterrorizantes. Por quê? Bom: em exatas dezessete vezes seguidas, quase fui espetada por quatro espinhos metálicos que saíram do chão abaixo de meus pés – graças ao Drake não fui arranhada ou furada em nenhuma das vezes -, quatro buracos de cinco metros apareceram a nossa frente, um a cada minuto, - nestas vezes, se não fosse pelo impulso das minhas chamas nós teríamos caído dentro de um deles e sido desclassificados. Não sei por que, mas, três bonecos de esqueleto saíram do teto e caíram sobre meu corpo fazendo com que eu quase - quase -, desmaiasse de susto e, nesses dez segundos que gastei contando para vocês essas coisas, outro buraco abriu-se no chão e as paredes começaram a diminuir. Agora sim entendo o sorriso de Ryan...

— Sofia! – Drake me gritou quando pulamos arrancando-me de meus devaneios – Agora! – Segurou em meu ombro.

— Certo! – Balancei a cabeça em afirmação. Virei meus braços para trás e nos impulsionei com duas colunas de fogo extremamente quentes e fortes. Senti sua mão firmar-se mais em meu ombro quando voamos para frente e sorri, assim como eu, ele não parecia estar acostumado com toda aquela adrenalina...

Caímos no chão em pé e voltamos a correr desviando de todas as armadilhas surpresas e das paredes que tentavam nos transformar em purê com dificuldade. Eu estava totalmente animada e aterrorizada com o labirinto! Ele havia superado minhas expectativas totalmente! Não parei de sorrir nem por um segundo desde que havia chegado a nossa vez. Drake parecia animado, mas não sorria tanto por causa da concentração dele, o que era chato.

Seguíamos nossos instintos ao escolher o caminho, porque, mesmo com todos aqueles empecilhos, ainda era um labirinto, e conseguíamos facilmente nos perder. Entrei para a esquerda, depois para a direita e dei de cara com uma parede de tijolos, fizemos o caminho inverso, mas não antes de termos que nos jogar no chão por causa das lâminas que surgiram do teto de forma surpreendente rápida na nossa frente, e iam continuar ali, pelo jeito... Tivemos que nos arrastar com cautela até podermos ficar em pé novamente. Comecei a ficar preocupada com o tempo, e se todos já tivessem conseguido chegar aos elevadores? E se nós fossemos os últimos e fossemos desclassificados? Um calafrio percorreu meu corpo. Não deixaria que isso acontecesse. Segurei Drake pelo pulso assim que nos levantamos e o obriguei a correr mais rápido. Ouvimos um grito de outra equipe. Não havíamos topado com ninguém ainda e muito menos visto alguém passar pela nossa frente. Sorte? Talvez.

Estava distraída quando o buraco se abriu e não havia mais chão para os meus pés, felizmente, Drake estava atento e me agarrou pela cintura nos impulsionando uma coluna de água que, graças as leis da física, impedia-nos de cair e nos levou ao outro lado do buraco. Chegamos ao chão novamente e voltamos a correr, errando mais uma ou outra vez o caminho. Eu já estava ficando cansada quando dobramos outra vez para a direita e para a esquerda, mas ao avistarmos o elevador dourado no fim do corredor animei-me novamente.

— Aleluia! – Gritei dando um pulinho. Drake riu (finalmente!) e correu mais rápido indo na minha frente. Quando ele estava a alguns passos do elevador lembrei-me do que Ryan havia dito no dia anterior: “nem tudo o que seus olhos veem é real”. Não havia entendido quando o disse, mas, naquele momento, entendi o significado de suas palavras. No exato instante em que a mão dele tocou no grande botão que deveria abrir a porta, tudo ao nosso redor tremeu e começou a desabar sumindo em uma fumaça preta, assim como a porta do elevador que simplesmente se desfez em pó.

Eu estava a pelo menos três metros de distância dele quando isso ocorreu. Pela conexão que o bracelete nos dava, senti uma forte dor em sua mente e coração. Comecei a ficar preocupada. Já havia sentido aquilo uma vez vindo dele, mas não da forma como senti naquele momento e aquele não era o momento para isso acontecer.

Corri o mais rápido que pude, com todas as minhas forças, até ele enquanto havia um chão para se pisar. As paredes rachavam e o teto caia em pedaços grandes e pequenos que sumiam antes de tocar no chão que desaparecia de pouco em pouco. Desviei de várias pedras e segurei seu ombro com as mãos.

— Drake! – Gritei. Ele estava estático, paralisado, com seus olhos cheios de lágrimas e arregalados. Aquilo sim era motivo para se preocupar... acho que jamais o vi daquela forma, mas descobrir o que era ou se já o vi assim estava fora de questão. O chão abaixo dele desapareceu e, se não fosse pelas minhas mãos em seu ombro, ele teria caído no vazio. Puxei-o de volta para um corredor longe do perigo e coloquei-o sentado. Sacudi seus ombros e ele olhou para mim com a boca entreaberta.

— Eu os vi... eu... eu a vi... – Sussurrou.

— Drake, não é hora para isso! – Reclamei ignorando meu senso de curiosidade aguda. – Deixe para chorar ou me falar sobre isso depois, temos que sair daqui!

Ele abriu sua boca novamente para falar algo, mas eu o interrompi com um forte tapa em seu rosto (sim, minha mão estava em chamas e não, não me importa se tiver doído, desde que ele voltasse para si).

— Deixe para depois, idiota. – Reclamei novamente. Puxei-o para cima fazendo com que se pusesse de pé contra sua vontade e segurei sua mão. Ela estava fria, muito fria. Criei uma pequena chama e ela se envolveu em nossas mãos. Puxei-o e comecei a correr.

Para nosso azar, não havia porta, alçapão ou alguma entrada para outro lugar, somente os corredores, todos eles, que sumiam mais rápido que a comida do Peter quando ele e a Karen iam sair para treinar. Drake ainda estava em outro mundo e isso era preocupante... Ele corria olhando para o chão a sua frente e várias vezes tropeçava nos próprios pés.

— Nunca achei que você poderia se tornar inútil, ainda mais em um momento como esse. – Comentei rindo. As armadilhas haviam parado de aparecer, e isso só podia significar duas coisas. Ou estávamos correndo contra o tempo para pegar a última vaga para o próximo nível, ou então essa era a armadilha.

Três caminhos apareceram a nossa frente, totalmente intactos. Deti-me por alguns segundos. Havíamos nos afastado bastante do corredor o qual estava sendo destruído. As paredes ainda rachavam, porém lentamente. Encarei nossas três escolhas e deduzi que só teríamos tempo de ir por um, e, da forma como o labirinto enganava, poderíamos encontrar caminhos fechados, o que era um problema. Soltei a mão de Drake e sentei no chão junto a ele. Suspirei.

— Acho que podemos descansar pelo menos um minuto. – Comentei encostando minha cabeça na parede. Olhei para ele de relance e notei que ele estava da mesma forma, porém, respirava muito forte como se estivesse cansado e a verdade é que eu quem estava cansada! Não dá para carregar uma baleia como ele por aí tendo que levanta-lo sempre que cair. Perdão, mas meu poder não é super força!

— Desculpe, Sofia. – Falou também suspirando.

— Nyah, tudo bem. – Respondi sorrindo.

— Nunca passou pela minha mente que eu poderia ver eles novamente... e ela...

Fiquei em silencio. Já havia tido experiências assim com ele e, com elas, conclui que era melhor ficar calada e esperar ele continuar do que perguntar e levar uma queimada, patada ou jato d’água pressurizado.

— Eu tinha apenas onze anos quando a conheci... – Começou.

Espera. Ele vai me contar? Mesmo? Tipo, sobre o passado dele? Serio?! Olhei para ele sem acreditar no que estava acontecendo e abracei minhas pernas.

— Eu era uma criança na época, até demais... passamos um ano inteiro conversando sem parar, filando as aulas e tudo mais... – Continuou. Incrível! Ele está mesmo contando! – Então chegou o dia em que eu... – Ele parou, piscou algumas vezes, suspirou e olhou para o lado ficando em silêncio. Ah, droga! Logo agora que ele estava contando!

— Acho melhor voltarmos a correr. – Falei após alguns segundos de desanimo e sentir o corredor tremer.

— Você tem razão... – Suspirou. Levantamos e voltamos a correr. Escolhemos o caminho do meio para seguir, na verdade, Drake escolheu. Ele disse que sua intuição apontava para aquele, enquanto a minha dizia para pegarmos o da esquerda. Escolhemos através do pedra, papel ou tesoura. Ele ganhou. Seguimos o caminho que era totalmente reto até o momento sem nenhuma armadilha, o que seria estranho se todos os caminhos que estivéssemos pegando (e os demais) não estivessem desabando e sumindo. Os tremores ficaram mais fortes e as parede racharam de forma rápida e barulhenta.

— Viu! Devíamos ter pegado o meu caminho! – Reclamei dando língua. Sua mão bateu em minha cabeça e me empurrou para frente.

— Só corra. – Ordenou. Emburrei. Como ele pode achar que tem o direito de mandar em mim? Olhei-o novamente e dei língua pela segunda vez. Aumentamos o ritmo de nossa corrida e, enfim, enxergamos o que deveria ser o elevador. Eu realmente torcia para que fosse.

— Drake, e se isso for uma miragem? – Indaguei preocupada.

— Dessa vez não será, eu aposto.

— Por quê?

— Bom, em primeiro lugar... – Ele criou uma bola de água ao seu lado enquanto corríamos e soltou um jato de água pressurizado que bateu diretamente na porta do elevador. – ele não se desfez quando a água o tocou e em segundo lugar, temos outra escolha a não ser acreditar que é esse? – Sorriu.

— Às vezes acho que você é um idiota. – Retruquei.

— Só às vezes? – Riu. Idiota... Soquei-o.

Continuamos a correr com um pouco mais de pressa já que as paredes e o teto estavam, literalmente, desabando sem desaparecer dessa vez e, enfim, chegamos ao elevador. Bom, graças a Deus ele tinha razão. Aquele era real. Parecia um cilindro redondo e não era muito grande, mas cabia nós dois, apesar de ficarmos apertados. Entramos nele e as portas, antes abertas, fecharam-se. Encostei-me na parede metálica e suspirei. Conseguia ouvir a respiração ofegante de Drake e, se brincar, seu coração batendo forte por causa da corrida.

Enfim estávamos mais calmos, ou pelo menos nos acalmando.

— Isso foi incrível...

— Com certeza... Ainda mais o fato de minha intuição estar correta e a sua errada. – Vangloriou-se.

— Hahaha, engraçadinho você, hein?! – Ele riu e em seguida ficamos em silêncio. Muitas coisas passaram pela minha mente nesse pouco tempo de descanso como: o que os outros estavam fazendo naquele momento ou o que o Max estava fazendo, como também questões antigas como o porquê dele (Drake) não contar a ninguém sobre seu passado, ou o porquê de não confiar em garotas, e até mesmo o porquê dele dizer que o Max é “de boa”. Cogitei durante alguns segundos perguntar a ele sobre alguma dessas pequenas questões, mas preferi indagar outra coisa que era um pouco mais “curiosa”.

— Drake... – Chamei-o.

— O que foi? – Perguntou enquanto fazia um alongamento, ou tentava considerando o pequeno espaço.

— O que... você viu naquela hora em que tocou o elevador? – Serei sincera, estava com muito medo de sua resposta, mas creio eu que ele me deva uma por salvar sua vida e que ele havia percebido isso.

— Hum... – Ele parou de se alongar. Pareceu pensar várias vezes se responderia ou não. Suspirou, esticou seus braços espreguiçando-se, coçou a cabeça e enfim respondeu. - Eu vi meus pais e meu irmão.

Okay. Isso está começando a ficar estranho. Ele jamais, JAMAIS, teria me contado isso, mas, entretanto, por acaso, ele não mencionou “ela”, o que quer dizer que não queria comentar nada ou que não me interessava.

Suspiramos juntos e passei a tentar me alongar com ele.

— Assim que sairmos do elevador iremos para a segunda fase. – Comentou.

— Sim... Teremos que solucionar alguns enigmas para sair.

— E só teremos dez minutos.

— Sim...

— E podemos ter contratempos...

— É...

— Sermos surpreendidos com enigmas super difíceis...

— Verdade...

— Pode acontecer até de não conseguirmos e sermos desclassificados...

— Talvez...

— E até mesmo de morrermos...

— Drake! Nossa, pare de ser pessimista! – Reclamei ficando estressada.

— Tudo bem, tudo bem. – Alongou os braços mais uma vez rindo.

Passaram-se trinta segundos e as portas se abriram novamente. Encaramos o corredor totalmente reto e sem tochas.

— Primeiro as damas. – Disse dando a vez a ele.

— Haha. – Encarou-me e cruzou os braços abanando seu rosto com uma das mãos. – Desculpe, mas a dama aqui precisa que seu cavaleiro siga caminho para ver se está tudo bem prosseguir. – Retrucou.

— Você se acha muito espertinho.

— E você não?

— Não!

— Humhum, sei. Vamos logo, os dez minutos já estão sendo contados, possivelmente. – Empurrou-me. Acendi uma chama grande e forte. Saímos do elevador andando e, quando estávamos seguros de que nada desapareceria do nada ou desabaria ou racharia, passamos a correr a todo vapor. Lembrei-me de quando era pequena e meus pais resolveram visitar uma adega de vinhos durante as férias, o corredor era semelhante ao local. Sua estrutura parecia um pouco medieval, as paredes eram de tijolinhos e o formato arredondado do teto fazia parecer que estávamos em uma espécie de túnel.

Possivelmente três minutos se passaram até que chegássemos a tal “grande sala” a qual teríamos que descobrir os enigmas e soluciona-los para ir para a terceira fase, que ao meu ver, seria a mais legal porque Drake teria que colaborar comigo, haha.

Ainda não havia sinal de tochas ou luzes ou algum enigma. Adentramos a grande sala e caminhamos cuidadosamente para evitar abrir armadilhas e tudo mais. Aumentei minhas chamas para iluminar mais o que pareceu me exaustar mais que o normal e, no momento em que enxerguei algo parecido com um relógio em uma das paredes, pisei num buraco com... areia?

— O que é isso? – Indaguei retirando meu pé do que, na verdade, só parecia um buraco mesmo.

— Ilumina ai que tu vê. – Respondeu batendo em minhas costas. Encarei-o com o meu melhor olhar mortal. Ele riu. – Como se seu olhar me intimidasse. Ele não bota medo nem em um coelho. É mais capaz do coelho colocar medo em você do que você nele.

Chutei-o.

— Idiota. – Dei língua. Ele riu novamente e jogou os braços para cima. Voltei minha atenção para o local onde havia pisado e aproximei minhas chamas. Realmente, não era um buraco, e sim um grande retângulo cavado no chão que ia de um lado a outro. Havia nele uma espécie de pó preto. Passei meus dedos e constatei que era pólvora.

— Então, o que é? – Indagou curioso.

— Pólvora. – Falei colocando minha mão rapidamente no pó fazendo-o “explodir” e assustar Drake quase queimando suas sobrancelhas. As chamas da explosão se alastraram por todo o retângulo e começaram a se espalhar pelas paredes e pelo chão acendendo tochas pequenas e grandes por toda a sala. Fiquei surpreendida. Olhamos ao redor e constatamos que aquele lugar sim era digno do nome "a grande sala". A iluminação era forte o suficiente para quase apagar nossas sombras, mas não chegava a iluminar em nada o teto de lá. Ela tinha, pelo menos, vinte e cinco metros de largura, bem, segundo os cálculos mentais do Drake. Toda sua estrutura, chão e paredes, era de uma rocha lisa e amarronzada que refletia levemente ao brilho das chamas. Caminhamos em linha reta tentando capturar cada detalhe daquele lugar. Notamos inscrições nas paredes em uma língua estranha e aparentemente antiga. Eu estava ficando impressionada com aquele lugar... era praticamente perfeito e muito bonito. Dei a volta em uma das grandes tochas do centro e senti meu pé afundar. Um clique ressoou.

— Droga. - Murmurei.

— Não se mexa. - Falou caminhando até mim lentamente analisando o chão a sua frente. Outro clique ressoou. - Eu disse para não se mexer!

— Eu estou parada aqui sem mexer um músculo tem vinte segundos! Você que começou a se mexer ai! - Retruquei apontando para ele e balançando os braços.

— Fique quieta, criança! - Reclamou novamente.

— Criança é você! - Gritei.

— Não, sério, silêncio! Há alguma coisa se mexendo aqui... – Sussurrou tapando minha boca com sua mão. Por poucos segundos somente o som de nossa respiração um pouco exagerada podia ser ouvida, porém, pesados passos ecoaram e um rugido apagou metade das tochas.

— O que é isso? - Sussurrei.

— Não sei... Talvez algum animal feroz que quer comer nossa carne.

— Drake! Até quando você vai ser tão pessimista?

— Ué. Você pisou em alguma espécie de botão, uns cliques ecoaram por aí, esse local tem uma vibe muito misteriosa e agora um bicho rugi e apaga a maioria das tochas diminuindo nossas chances de enxerga-lo. Como ele não iria querer comer a gente? - Retrucou. Abri minha boca para falar, mas no exato momento em que as palavras se formaram em meus lábios, outro clique ecoou e um relógio foi ligado nas quatro paredes da sala iniciando uma contagem regressiva de dez minutos.

— Então quer dizer que esse é o primeiro "enigma" da 2° fase?

— Não sei, isso não parece ser um enigma e sim uma armadilha...

— Você tem razão... - Ficamos em silencio. O que faríamos? Não conseguíamos ver o nosso “oponente” a nossa frente camuflado no escuro fundo da sala por onde havíamos entrado.

Outro rugido ecoou e todas as tochas restantes foram apagadas. Por alguns segundos ficamos estáticos, não movíamos um dedo. Perguntei-me onde Drake estaria, e, antes que cogitasse mover-me para tatear a minha frente senti sua respiração próxima de meu rosto.

— Acenda uma chama fraca. - Sussurrou. Recuei alguns centímetros e acendi a pequena chama a nossa frente. Ele estava suando e olhando para o lado oposto de onde havíamos entrado. Seus cabelos castanho claro caiam sobre seu rosto e eu nunca vira seu olhar mel parecer tão desesperado e ao mesmo tempo concentrado.

— O que foi? - Indaguei levemente corada. Obrigado chamas por serem avermelhadas!

— O que é aquilo brilhando? - Apontou para onde olhava. Virei meu rosto e encarei o pequeno ponto branco a alguns metros a nossa frente.

— Não sei… mas, talvez seja algo em relação ao desafio… devemos ir olhar mais de perto? - Indaguei sussurrando.

— Bom… se for para ganharmos isso… sim, vamos lá. - Respondeu sorrindo. Ele parecia ter ficado animado e isso fez com que eu me animasse também. Sorri de volta.

Levantamos devagar e, de pouco em pouco, aumentei a chama a nossa frente e criei mais duas para iluminar mais. Drake sorriu novamente, parecia orgulhoso.

— Você está ficando boa nisso.

— Obrigada. - Corei.

Continuamos caminhando em frente e chegamos ao que parecia ser uma pequena ponte, único caminho para o pontinho brilhante, pois água corria por baixo dela. Todas as tochas começaram a acender-se novamente. Sim, muito estranho, mas de grande ajuda. Apaguei minhas chamas e olhei para meu parceiro que acariciava a água como se estivesse com saudades dela.

— Que fofo. - Comentei. Ele me encarou e deu dedo. - Que feio Drake. - Chutei-o para o lado.

— Sua… - Começou com o dedo apontado para meu rosto.

— Linda, diva, maravilhosa? - Interrompi sorrindo e fazendo uma pose de modelo.

— Não, feia, horrorosa e tábua de passar ferro. - Respondeu dando um peteleco em minha testa e seguindo caminho pela ponte. O comentário sobre o tamanho dos meus peitos realmente me atingiu, senti como uma facada no estômago. Nossa… parece que o senhor frieza voltou… que droga, Sofia, estava tudo tão bem! Você tinha que exagerar?

— A propósito, - ele se virou. - sua camisa está pegando fogo e é melhor apagar antes que dê para ver mais do que essa sua barriguinha ai. - Olhei para baixo e, realmente, ela estava queimando e quase mostrando mais do que o necessário. Absorvi o fogo e abracei meu próprio corpo.

— Tarado. – Resmunguei envergonhada. Ele riu e seguiu caminho, acompanhei-o e com simples quinze passos chegamos ao pontinho brilhante que não era um pontinho e sim um painel com uma tela grande. Havia três botões nela e um pequeno relógio que contava: 9:30… 9:29… 9:28… Droga, havíamos esquecido da contagem.

Os três botões na tela eram distintos um do outro, os do lado eram redondos, porém o do meio era oval. Em cada um deles havia uma imagem de um animal ou elemento distinto. No da direita havia uma águia dourada, no da esquerda um leão vermelho e no do meio um coração azul. Havia uma pequena frase acima deles que dizia: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. (Albert Einstein)”. Olhei para Drake e ele, por sua vez, olhou para mim.

— Isso não faz sentido… - Comentou.

— Talvez devamos escolher um deles e resolver.

— Mas assim se tornaria simples demais! Não faz o menor sentido isso!

— Vai ver tivemos sorte e chegamos no mais fácil.

— Não, Sofi, não tem essa de “mais fácil” aqui, você ouviu o Ryan, ele disse que não seria nada fácil.

— Sim, eu sei, mas… - Fiquei sem argumentos... realmente, não havia explicação para aquilo, tudo parecia fácil demais.

Calei-me e observei o painel novamente. Leão, águia e coração. Deveria haver algum padrão naquilo, deveria haver, na verdade, uma pergunta que indicasse o enigma, mas não havia… Olhei para a frase novamente.

— Drake… - Toquei seu ombro. - Talvez essa frase tenha algo haver com o enigma. - Ele olhou para mim e depois para o painel, analisou-o e piscou quatro vezes.

— Você tem razão. - Disse.

— O que? Pode repetir? - Ergui uma sobrancelha.

— Você tem razão, Sofia.

— Sério, repete isso de novo. - Sorri e me aproximei dele, empolgada.

— Você… tem razão... - Repetiu lentamente ao recuar três passos. Ri e dei três pulinhos. Que orgulho!

— Mas então, o que faremos? - Parei de pular.

— Vamos escolher um e ver no que dá. - Respondeu estralando o pescoço. - Qual você escolhe?

— Por que eu?

— Porque eu nos salvei da primeira fase, agora é sua vez.

— Tudo bem… Vamos no do leão. - Sugeri.

— Por quê? - Encarei-o.

— Eu vou escolher ou você prefere fazer as honras?

— Tudo bem, tudo bem - Riu e apertou o botão da face do leão. O painel tremeu e desceu para baixo do solo, duas portas e dois homens apareceram a nossa frente e uma tela holográfica a frente deles. Havia algo escrito. Aproximei-me e li em voz alta.

— Você está diante de duas portas, uma que a leva à salvação, e outra a leva à morte. Cada porta tem um guardião, que sabe o que há atrás da porta. Um dos guardiões somente fala a verdade, e o outro somente mentiras. Os guardiões respondem apenas sim ou não, e se não souberem a resposta de alguma pergunta que foi feita a eles, ficam furiosos e matam quem fez a pergunta. Você tem que passar por uma das portas, e tem direito a apenas uma pergunta para um dos guardiões.

Quando terminei de ler outro relógio apareceu, dessa vez, acima das portas. Indicava sete minutos. Desesperei-me.

— Droga, porque deixei você escolher? - Drake brincou tenso.

— Pergunto-me a mesma coisa. - Ri.

Começamos a pensar. Só podíamos fazer uma pergunta e enquanto um falava a verdade o outro mentia. Odeio dizer isso, mas sou péssima com essas coisas. Minha nota em raciocínio lógico no colégio nunca foi das maiores. Perdão, sou de humanas! Olhei para Drake e ele não parava de andar de um lado para o outro. Passaram-se dois minutos e nenhuma pergunta decente havia se formado em nossas mentes. Sentamos no chão e começamos a trocar ideias de perguntas.

— Que tal: Preferem viver ou morrer? - Sugeriu.

— Não sei, acho que eles ficariam irritados e tentariam nos matar.

— Verdade…

— Porque não: Você entraria na porta atrás de si?

— Os dois diriam sim, não adianta…

— É...

Suspiramos. Eu estava terrivelmente cansada demais para que minha mente fluísse com facilidade. Achei um pouco injusto os enigmas serem depois de termos sobrevivido a corrida do labirinto. Aquilo era simplesmente aterrorizante. Eu não conseguia pensar em nada inteligente.

Drake levantou repentinamente com uma determinação assustadora em seu rosto. A partir daí eu soube que não ia dar certo. Ele levantou a palma de sua mão esquerda e nela criou um globo de água, andando logo em seguida a passos pesados na direção de um dos guardas.

— Escute aqui, colega. – Ele começou com a voz carregada de impaciência, mas o guarda permanecia impassível. Eu me levantei e aproximei-me um pouco curiosa, preocupada até. – Se eu fosse você, mostrava logo onde está essa maldita porta. – o guarda levantou uma sobrancelha como se achasse graça.

— D-Drake... – tentei chama-lo, mas ele não me deu atenção.

— Você quer do jeito fácil ou do jeito difícil? – sem resposta, eu poderia muito bem ter batido minha mão contra minha testa pensando da onde vinha toda aquela burrice, mas não fiz, não deu tempo.

Drake levantou a mão com o globo de água em um ataque, porém mais rápido do que ele, o guarda tirou de sua cintura uma espada grande o suficiente para nos fazer em picadinhos em milésimos de segundos. E ele teria feito se eu não tivesse me apressado e puxado o Drake. O zunido da espada cortando o ar foi o suficiente para fazer com que nosso coração parasse. Não achando o suficiente, o guarda avançou sobre nós novamente com aquela lâmina, fazendo com que eu e minha dupla corrêssemos para longe, e antes que aquele brutamontes avançasse mais, tracei uma linha de fogo impedindo-o. As chamas eram altas e impenetráveis por causa do calor. Fiquei aliviada de ter dado certo.

Olhei para Drake, ele havia ficado mais pálido que o normal, com uma expressão de quem viu um fantasma e assustadíssimo com o acontecimento. Bufei.

— Sério? Sério isso, Drake?

Ele engoliu em seco, mas não respondeu.

— Não acho que ameaças iriam nos levar a resposta!

Finalmente teve a coragem de me olhar, seus olhos pediam perdão, mas não foram eles que me convenceram, e sim seu sorriso travesso de quem realmente tinha feito algo errado, totalmente encantador, eu poderia rir daquilo eternamente.

Revirei os olhos segurando a risada que tentava escapar.

— Idiota. – Murmurei. Mas ele sabia que estava tudo bem.

Passamos mais trinta segundos em silêncio, tínhamos dois minutos e meio para resolver aquele enigma e de repente veio-me a luz. Parece que a adrenalina daquele ocorrido afetou minha memória fazendo com que eu lembrasse-me desse enigma na minha infância, e, consequentemente, da resposta. Foi impossível segurar o sorriso que cresceu em meus lábios, Drake notou e seus olhos pareceram brilhar. Eu podia ver o cansaço e a ansiedade nele, estava suado e respirava forte, o cabelo que varia do castanho claro ao loiro escuro todo bagunçado e me olhava com tamanha expectativa que até intimidava. Meu sorriso cresceu. Ali, naquele instante, parecia que nossas diferenças haviam deixado de existir. Desde o princípio, lá no fundo, eu sabia que nossa amizade nos levaria a longe, e por algum motivo, aquele momento me mostrou exatamente o que eu queria, a confirmação dos meus pensamentos.

— Eu sei o que dizer.

Sem que eu pedisse nada, como se lesse minha mente, ele apagou as chamas daquela linha e nós cruzamos, os guardas permaneciam em frente a porta como antes, impassíveis. Direcionei-me para o da direita, sem me importar se ele mentia ou dizia a verdade. Minha solução independia daquilo. Parei na frente do da esquerda e encarei seus olhos negros e profundos.

— Segundo o outro guarda, qual porta leva a salvação?

Ele apontou para a porta atrás de si. Podia ser impressão minha, loucura, claro, mas jurava que tinha percebido que seus lábios se curvaram minimamente em um sorriso, e aquilo foi o suficiente para que eu seguisse em frente. Fui em direção a porta oposta que o guarda tinha apontado e a abri. Não havia mais guardas não havia mais nada, apenas aquela porta que eu tinha aberto. Olhei ao redor, a sala em que estávamos parecia menor do que antes. Drake me encarava, impressionado ou maravilhado, não sabia dizer. Sorri em resposta.

Encaramos o que estava além da porta. Um corredor. Um simples corredor que parecia inofensivo. Mas como eu bem já tinha notado, nada naquele labirinto era inofensivo. No final desse corredor, uma porta de madeira, como aquela que eu tinha acabado de abrir. Eu e Drake nos entreolhamos confusos. Não conseguia notar mais nada naquele lugar além do caminho, mas ele, no entanto, notou em meus pés uma chave dourada. Agachou e pegou a chave cautelosamente, levando até a altura de nossos olhos.

Entramos, enfim, naquele corredor fechado que deixaria qualquer um com claustrofobia apavorado. Não devia ter mais que quinze metros adiante. Eu não entendia onde estava a armadilha até a porta atrás de nós se fechar. Ouvimos o pequeno estrondo e viramos para conferir, Drake tentou abri-la, mas parecia trancada. Pensamos em usar a chave, sem notar que o intuito não era voltar atrás, mas sempre seguir em frente. Não podíamos fugir do que estava na nossa frente. Não daquela vez.

Novamente, um barulho estranho, mas familiar ecoou. Olhamos ao redor para entender o que estava acontecendo, e vimos que as paredes se aproximavam cada vez mais da gente. Aquilo não era nada agradável. Começamos a correr o máximo que conseguíamos. Se antes podíamos correr lado a lado, agora estava tão estreito que mesmo em fila eu sentia os tijolos mais perto de meus braços. Com a chave na minha mão segurando firme, enfim cheguei a porta. Drake estava logo atrás de mim, e eu, apavorada, mal consegui coloca-la na fechadura. Tive que me virar, ficando de lado. E virar uma chave sem mal conseguir vê-la pela situação não era nada fácil.

— Sofia! – Drake gritou me apressando quando a parede da frente alcançou seus pés, e, por consequência, os meus.

Ouvi o barulho do trinco se abrindo e nunca me senti tão aliviada. Agarrei-o pelo pulso com minha mão esquerda e com a outra abri com força a maçaneta, dando um jeito de chutar a porta pra agilizar o processo. Assim que ela abriu, corri para fora puxando ele junto. E foi por um tris. Por milésimos de segundos não havíamos sido esmagados. Respirávamos ofegantes com os braços apoiados no joelho e olhando para baixo. Tomei coragem para olhar para trás onde devia estar a porta. Porta? Há, que porta? Ela havia desaparecido, assim como qualquer saída daquela sala, ou qualquer entrada. Eu estava desesperada novamente.

Olhei pra Drake espantada e ele devolveu o olhar.

— Sofia? – esperei que continuasse, mas não continuou.

— Meu silêncio é sua deixa Drake.

— Ah. Como você sabia da resposta?

Sorri ao lembrar mais uma vez. Cocei a cabeça sem graça de admitir, mas contei que quando era pequena, minhas primas mais velhas haviam feito o mesmo comigo, simulando elas como os guardas. Não iriam me deixar entrar no meu quarto caso eu não respondesse a pergunta. Tive que pedir ajuda para o meu pai, e quando consegui entrar no meu quarto, lá em cima da cama estava uma caixa, um presente pelo meu sétimo aniversário. Era um par de brincos que até hoje amo, costumo deixa-lo guardado numa caixa no fundo do guarda-roupa. Agora, onde ele está? Não faço a menor ideia se havia ou não trazido eles para Conventionis. Drake não disse nada, apenas sorriu docilmente e novamente eu tive aquela boa sensação.

O som de uma tela ligando ecoou e olhamos para o que tinha acabado de aparecer na nossa frente. Os mesmos botões do painel estavam flutuando como hologramas, mas agora não havia mais o do leão. Por alguns segundos não fizemos nada, apenas respiramos mais um pouco. Sabíamos o que tínhamos que fazer, mas teria sido muito bacana se a Lauren tivesse nos dito isso antes. Drake focou seu olhar em mim e eu lhe dei o consentimento. Esticou seu braço e apertou o botão da águia.

Outro relógio preto com números vermelhos apareceu na parede numa contagem regressiva de dez minutos. Naquele momento compreendi que não eram dez minutos para solucionar todos os enigmas e sim para cada enigma. Realmente, teria sido bem legal saber disso antes.

Após Drake apertar o botão o painel flutuante sumiu e não foram necessários nem trinta segundos para que o enigma se iniciasse. Uma grande parede de vidro se instalou entre eu e o Drake com uma velocidade impressionante. Quando vi, já era tarde demais e nós estávamos separados, cada um com metade da sala. Com os pulsos em chama, tentei socar o vidro para que ele se destruísse. Péssima ideia, isso só rendeu para que minha mão ficasse dolorida. Tentei chamar por e que também batia no vidro e gritava meu nome. Mas de repente sua seguinte atitude realmente me assustou. Ele arregalou os olhos assustado e caminhou lentamente para trás, sem piscar. Olhei para a parede atrás de mim, mas não havia nada, olhei para ele, mas não sabia o que encarava, até mesmo porque seu olhar estava vazio...

— Sofia? – ouvi-o chamar – Sofia! Sofia, está aí?! Sofia?! – ele estendeu as mãos para frente e falava com uma angustia que simplesmente quebrou meu coração. Me chamava desesperado e em uma tonalidade de puro terror e medo. A conexão do bracelete fez com que eu sentissse sua angustia de forma extremamente forte, o que era estranho por que ela não deveria me afetar da forma que afetou. Não deixei que se estendesse seu desespero.

— Drake, estou aqui! Está tudo bem, o que aconteceu? – Perguntei claramente desesperada.

— Sofia! Está me vendo? – Achei a pergunta estranha, afinal a parede era de vidro.

— Claro que estou! – Sua expressão facial ficou indescritível, uma mistura de alívio com ainda mais preocupação. – Por quê? Você não esta me vendo?

Ele negou com a cabeça para em seguida falar algo ainda mais apavorador.

— Não estou vendo nada. Sofia, estou cego!

Um calafrio passou pelo meu corpo, engoli em seco e tremi. Cego? Cego?! Ah, não... aquilo era ruim. Muito ruim. Meu desespero só cresceu quando eu pude ver o ambiente dele se transformar em uma sala clara, aparentemente muito tecnológica. Na parede frontal da sala, um cofre e a parede do lado esquerdo do mesmo parecia ser coberta com um metal nobre, prateado e certamente quase indestrutível. Aparentemente o cofre embutido na parede parecia ser feito do mesmo material... O chão era o que mais parecia ser diferente. Quadrados cinzentos preenchiam todo o caminho a frente dele. Aquilo me deu uma má sensação.

— Sofia? – Drake perguntou com dúvida. Esqueci-me de sua perda de visão e que se eu não falasse nada, eu estaria invisível para ele. Mal havia notado a mudança de seu ambiente. Inseguro, iria dar um passo para frente.

— Drake! Não se mova! – Ele se assustou e voltou a posição inicial.

— O que aconteceu?! – Respirava forte, apavorado. Eu não estava muito diferente.

Percebi que cubículo daquele poderia ativar uma armadilha. Drake estava em um verdadeiro campo minado e eu teria que guia-lo até o cofre.

— Drake. Preste atenção. Faça exatamente o que eu disser, entendeu?

Ele confirmou com a cabeça. Estava virado para mim, mas precisava que ficasse em direção ao cofre.

— Mova-se noventa graus para a sua esquerda!

Ele fez uma cara de quem não entendia nada, não o culpo, mas pelo menos não questionou. Fez o movimento mínimo e ficou de frente para o cofre. Deveria ser uns seis metros até lá. Seis metros cheios de surpresa para o garoto cego. Senti um peso de responsabilidade enorme nas minhas costas. Naquele momento, Drake só tinha a mim, e eu não podia falhar em guia-lo.

— Drake, dê um pequeno passo e cautelosamente para a frente.

E assim ele fez, agora permanecia estático no quadradinho. Eu sabia que a qualquer momento tudo poderia ir por água a baixo, seria fácil demais continuar em linha reta. Mas mesmo assim arrisquei.

— Mais um passo, Drake.

Ele deu e eu me arrependi. O quadradinho que estava agora afundou-se minimamente e eu sabia que uma armadilha tinha sido ativada. Ele notou o movimento e ficou ainda mais atento... mas não pareceu notar quando dois lança chamas surgiram, um de cada lado da sala em sua direção.

— SE JOGA NO CHÃO! – Ordenei quase desesperada e ele se jogou. As chamas passaram por cima e duraram cinco segundos. Se ele tivesse ficado lá, hoje não existira mais Drake.

— Sofia! O que foi isso?!

— Não importa!

Ele atreveu-se a levantar, mas eu impedi.

— Continua no chão!

Não hesitou em praticamente se jogar novamente. Se não estivéssemos em uma situação de vida ou morte eu teria desmaiado de tanto rir.

— Ok, se arraste para frente lentamente, por favor, e com cuidado!

A ideia de ficar em pé de novo me deixava um pouco agonizada, mas não sabia se rastejar era a solução também... Mas acabei por descobri a resposta quando, mesmo com tanto cuidado, sua mão esquerda fez com que outro quadradinho afundasse. Preparei-me para o pior. Notei que, no pequeno teto acima dele, uma espécie de buraco havia sido aberto, e não esperei ver o que iria sair pra dar as ordens.

— ROLE PARA DIREITA!

Fiquei contente em constatar que Drake não era nem um pouco lerdo, caso contrário, teria sido atravessado por um espinho gigante e afiadíssimo. Ele estava mais próximo da parede de vidro, de modo que eu consegui ouvir seus ofegos.

— Ok, se levanta. - Falei ao constatar que o espinho havia voltado a parede. – Com calma. – repreendi inutilmente, pois ele havia se desequilibrado e pisado no quadrado da frente, que afundou. Perguntei-me mentalmente se isso nunca acabaria. Porém, claro, não havia tempo pra reclamar. Seu olhar foi de completa apavoração em alguns segundos ao ouvir um barulho desconhecido. Foi quando notei: o chão estava se abrindo, não conseguia ver o que tinha embaixo, mas sabia que não era nada agradável. Segundos antes de chegar aos pés de Drake, gritei:

— PULE! Pule para frente o máximo que conseguir!

E eu soube que, sem dúvida, ele era um verdadeiro atleta. Seu salto alcançou a parede do cofre e eu senti alívio percorrer todo o meu corpo. Na frente de Drake havia uma alavanca, presumi que ela desativaria as armadilhas.

— Ok, calma! – Ele apenas movimentou a cabeça em concordância – Leve sua mão na altura dos olhos e um pouco para frente. Sentiu isso? Puxe! – Ele seguia minhas ordens sem pestanejar, afinal não tinha muita escolha.

Como eu previra, a sala voltara ao normal, todos os quadrados do chão sumiram, as paredes voltaram a ser feitas de tijolos e a iluminação branca voltou a ser amarelada, pelas tochas nas laterais. Tudo voltara a ter o típico ar medieval. Porém o cofre continuava, e seu metal imponente e límpido fazia um grande contraste com todo o resto.

— Drake, está seguro agora.

Seu sorriso me aqueceu, mas ainda não era o fim. Ele continuava cego e o cofre continuava ali. Segui a intuição.

— Vai um pouco pra esquerda, uns quatro passos, por favor. – esperei que assim fizesse – Ok, agora vire-se novamente noventa graus, mas para direita. – E assim ele ficou cara a cara com o cofre.

— Sinto que estou próximo a uma parede, certo?

— É. Tipo isso. – respirei fundo antes de continuar – Leve sua mão na altura de seus olhos, estendida, e encoste nessa “parede”.

Um pouco receoso, ele o fez. Ao sentir o gelado do cofre, imagino, tirou rapidamente sua mão e franziu o cenho.

— Sofia?

Fiquei calada, minha intuição nunca esteve tão certa. Só com aquele toque, algo aconteceu. Letras surgiam na superfície do cofre. O fundo escuro estava sendo preenchido por palavras em verde... palavras que eu não conseguia ler. Tentei mudar minha posição, tentei virar a cabeça... mas enfim percebi que estavam ao contrário.

— Sofia? – ele chamou de novo, um pouco mais assustado pelo meu sumiço.

Olhei para o relógio que ainda se encontrava lá. Eu tinha um pouco menos de três minutos. Só podia ser sacanagem... Respirei fundo, pensando em uma solução. Eu iria precisar de espelho. Espelho. Reflexo. Reflexo. Água. ÁGUA!

— Drake!

— Sofia?! – Respondeu tão desesperado que me fez lutar contra a vontade de rir, tadinho...

— Ok, vou tentar verbalizar o que estou pensando...

— Não é hora pra declarações de amor, Sofia... – falou com um sorriso malicioso se formando nos lábios. Senti minhas bochechas esquentarem. Idiota.

— A única declaração que você terá, será a de óbito, imbecil!

Sua risada ecoou pela sala, acompanhada da minha. A quanto tempo não ríamos? Isso aliviou o clima pesado até então.

— Certo. Você consegue fazer uma espécie de placa de água?

— Placa de água?

— É, é, só faça, não estranhe! Tem que ter o tamanho de... de uma bandeja lá do refeitorio, ok?

Com alguns movimentos com a mão, ele conseguiu o que eu queria, fazendo a placa flutuar um pouco acima da sua palma, na horizontal.

— Maravilha! Encoste isso na parede!

Se deu certo? Claro que não. Estávamos tendo um grande abismos na comunicação, eu falava como conseguia e ele simplesmente não entendia. Demorou um bocado para que ele acertasse a placa de um jeito que as palavras do cofre ficassem refletidas do modo certo nelas. Agradeci mais uma vez pelas aulas de física no colégio.

Finalmente, consegui ler a frase.

— Qual é o animal que de manhã tem quatro patas, duas ao meio-dia e três quando chega a noite?

Minha cara de “ué” deve ter sido a mais cômica de todos os tempos. Passamos por tudo aquilo para uma pergunta estranha? Que animal poderia ser esse?!

— O quê?! – Drake parece ter estranhado tanto quanto eu. – De onde veio isso?!

— Não importa, você sabe a resposta?

— É uma metáfora, Sofia!

Olhei para o relógio. Quinze segundos... catorze... treze...

— FALA! Que animal?! – Gritei em desespero.

— O ser humano!

Assim que pronunciou essas palavras, o cofre abriu e Drake caiu de joelhos no chão. Corri até ele e só ajoelhei-me ao seu lado notei que a parede de vidro não existia mais.

— Drake?! – Pus a mão em seu ombro. Ele estava com as duas mãos cobrindo seus olhos e fazia uma expressão dolorosa e confusa. Finalmente levantou a cabeça, apertando seus olho e logo em seguida abrindo-os lentamente. O sorriso veio primeiro que as palavras.

— Eu enxergo!

Não contive o impulso de abraça-lo, e surpreendentemente fui correspondida. Ficamos lá, de joelhos abraçados um no outro, esperando que nossos corações se acalmassem do que tinha acabado de acontecer.

Quando as respirações se regularizaram, e notamos que não podíamos perder mais tempo, levantamos e encaramos o cofre aberto. Dentro dele, mais uma chave dourada. Drake esticou o braço e a pegou. Enquanto observávamos a pequena chave em sua mão, o cofre desaparece e em seu lugar, uma porta surgiu, exatamente como as outras. Ele me olhou preocupado e eu apenas retribui o olhar, não tínhamos muitas opções, aquela porta deveria ser aberta. Assim que destrancamos a porta, sentimos um tremor nos nossos pés. A sala onde estávamos começou a desabar, pedras do teto se soltavam, caindo e empoeirando todo o local. Aquele aparente terremoto tornava difícil até mesmo ficar em pé. Quando vimos as rachaduras no chão, podendo criar algo bem pior, não perdemos mais tempo em abri-la e pular dentro do corredor sem nem antes vermos o que havia nele.

Jogados no chão, olhamos para trás e vimos através da porta todo o ambiente existente simplesmente desabar, até a visão ser impedida pela poeira. Quando começamos a tossir, Drake fechou a porta, ajudando-me a levantar. Havia uma luz no fim daquele caminho. Andamos em direção a ela sem outra escolha. Quando chegamos na última sala só restava um botão a ser apertado. Encaramos o oval com o coração azul na parede.

Delicadamente, coloquei minha mão sobre o botão, pairando ali, assustada com todas as possibilidades que aquele coração poderia nos trazer hesitei. Como para me reconfortar, Drake colocou sua mão sobre a minha.

— Juntos? – Olhei para seus olhos cor de mel e ele fitou os meus, deu um longo suspiro e um sorriso reconfortante, capaz de me aquecer por dentro.

— Juntos.

E então apertamos o último botão, esperando o enigma para passarmos para a fase seguinte. Então tudo começou a se modificar em um outro ambiente. As paredes de tijolo transformaram-se em uma mistura de pedra e barro, a sala se comprimiu formando uma espécie de caverna, o chão agora era de terra batida, nele, havia dois trilhos, olhei para os meus pés e vi que eu estava em um deles.  Logo compreendi que o ambiente se tratava de uma mina. A iluminação, agora por lampiões, era fraca, mas o suficiente, no entanto, eu não conseguia ver o fundo da mina, apenas mais alguns passos na frente. Sabia que aqueles dois trilhos, logo se juntavam em um adiante.

Havia lá um silêncio sepulcral, poderia ouvir um alfinete caindo no chão. Minha respiração pesada misturou-se com a respiração de outra pessoa. Olhei para meu lado esquerdo, Drake estava lá, observando o local assim como eu. Conseguia ler sua expressão de confusão, ele não fazia a mínima ideia do que tudo aquilo significava. Bem, nem eu. Trocamos nossos olhares confusos. Observei mais uma vez o meu redor, até notar uma alavanca bem ao alcance de minhas mãos. Lembrei-me dos filmes antigos que costumava ver e supus que fosse para mudar a direção do trilho. Ainda não havia entendido nada quando começamos a escutar um barulho... Drake e eu nos entreolhamos e logo entendemos do que aquilo se tratava. Um vagão. Um vagão vinha e rapidamente, descontrolado, diria. O barulho ficava mais alto a cada segundo, e eu não estava nem um pouco ansiosa pelo que viria.

Tentei correr. Sim, tentei. Mas minhas pernas não respondiam aos meus comandos. Olhei desesperada para minha dupla. Por sua expressão, vi que também não conseguia correr. Demorei um pouco, mas, enfim entendi sobre o que o labirinto se tratava. Enfrentar. Era isso. Ele não havia nos permitido fugir uma única vez até então. Precisamos seguir em frente, enfrentar o que viria. E se cairmos, precisávamos levantar. O labirinto era como a vida. Como a vida deveria ser. Cair e levantar. Entendíamos isso naquele momento, e creio que, toda a Conventionis entenda isso também.

Ele levantou sua mão, pronto para usar seu poder e parar aquele vagão que sem dúvida nenhuma poderia nos matar ao nos atingir. Mas da sua mão nada saiu. Nenhuma gota d’água. Drake olhou para mim com a testa franzida. Eu fiz o mesmo movimento, chamando o poder, libertando-o... mas não senti nada. Nenhum pingo de calor percorreu o meu corpo e depois de tanto tempo, eu me senti fraca. Sem nenhum poder. Anestesiada. Simplesmente... Normal!

Essa palavra que a tanto tempo havia deixado de fazer parte da minha vida, voltou a tona naquele momento. Normal. Meus poderes, ali, não existiam. Algo que meses atrás eu queria que acontecesse, agora estava me botando na maior enrascada. Minhas chamas resolveram me trair quando eu mais precisava delas!

O vagão apareceu no fundo da caverna, sabia que ele se aproximava mais e mais, numa velocidade fora do normal. Olhei para os trilhos, que direção ele tomaria? Percebi que Drake acompanhou meu olhar.

O vagão seguiria seu trilho.

Olhei para ele apavorada, ele não estava menos do que isso. Em seguida, olhei para a alavanca. Se eu mudasse, o vagão viria em minha direção, e a morte seria a minha. Se eu não mudasse, estaria salva, mas Drake não.

Ou eu. Ou ele.

Coloquei a mão na alavanca e observei o vagão aproximar-se cada vez mais. Drake entendeu qual era minha intenção.

— Não. Sofia, não! Não faz isso! – Sua voz era puro desespero e negação, com o canto do olho, pude vê-lo negando com a cabeça.

O vagão aproximou-se, estava quase alcançando a bifurcação.

— Por favor, Sofia! – clamou.

Puxei a alavanca e os trilhos mudaram para minha direção. O vagão veio a toda velocidade pelo caminho. Senti o impacto no meu corpo fazendo com que fosse jogada para trás. Senti a dor e a queimação que me atingiram, meus ossos e músculos doíam. Ouvi o sonoro grito de Drake. Apesar de toda a dor física, foi sua voz despedaçada que atingiu o ponto que mais doeu em mim. Meu coração também estava despedaçado. Eu queria ir até ele e consola-lo, mas não conseguia me mover... não tinha forças. Logo, a dor ficou insuportável e tudo ao meu redor escureceu. As últimas palavras que eu ouvi foram: “Sofia, me perdoe.”.


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Notas finais do capítulo

E então pessoas? O que acharam?
Teorias do que pode acontecer? Alguma coisa que queriam dizer para nós dois?

Novamente peço desculpas pela demora, deu trabalho escrever esse capitulo e ainda essa semana, antes das aulas voltarem vocês terão os dois últimos desafios recheados de treta!! hahahaa

P.s.:Por favor, apaguem meu nome de seu Death Note ^^