Cherry Bomb escrita por ApplePie


Capítulo 4
Café sem café? Eu só estou limpando mesas


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa pessoinhas. Só queria dizer que eu vou tentar começar a fazer dessa forma: uns 3 capítulos serão narrados por Liam e o outro será por Cherry, como uma sequência 3:1.
Anyway, espero que gostem do POV da nossa amada Cherry.
Beijinhos de luz



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Cherry

Eu jamais poderia imaginar que os últimos dias aconteceriam comigo.

Só agora, enquanto eu estava na casa de Liam, tomando chocolate quente que eu entendi a gravidade de eu ter fugido sem mais nem menos.

Quero dizer, como eu pude ser tão idiota? Claro, com no desespero que eu senti na hora – sabendo que coisas muito ruins iriam acontecer comigo – eu agi sem pensar, tendo apenas em mente a minha sobrevivência e liberdade.

Só que agir sem pensar quase tirou minha vida também. Eu estava sem comer, perdida e com muito frio. Estava fraca e a “pausa de cinco minutos” me fez cair na neve como uma pedra e acordar numa casa cheia de pessoas estranhas.

E se não tivesse sido Liam que tivesse me encontrado? E se ninguém tivesse me encontrado? E se...

Balancei a cabeça tentando tirar todos os problemas da minha cabeça. O que poderia ter acontecido não aconteceu, então eu sabia que se eu quisesse continuar sã, eu precisaria parar de pensar um pouco nisso.

O importante é que eu estava viva e que, mesmo perdendo todo dinheiro que eu tinha na carteira, eu pelo menos tinha um lugar para ficar.

Mesmo que eu soubesse que eu não poderia ficar por muito tempo, eu não pude deixar de me sentir à vontade com essas pessoas e com o ambiente. Era um lugar agradável com pessoas adoráveis. Mesmo quando eu fui embora – o que era óbvio que aconteceria – eles foram tentar me encontrar pensando que alguma coisa tinha acontecido.

O pensamento de ter pessoas que nem me conhecem sentindo tanta preocupação comigo quase me fez desabar em lágrimas, mas eu consegui manter a minha calma.

Eu sabia que eles estavam curiosos para saber o que aconteceu comigo, mas eu ainda não estava pronta para contar nada, muito menos sabendo que se eles soubessem era muito provável que eu seria mandada embora.

O barulho do tal de Bryan falando alguma piada me fez parar de pensar tanto e apenas reparar sobre quão bonitos todos eles são.

Eu já conseguia sentir minha cara meio quente, mas não tinha como não encará-los. Todos tinham uma aura em torno de si tão amigável que te deixava mesmerizado não apenas por sua beleza, mas também por seu charme.

— Bem — Ellie disse se levantando —, agora que tudo está ajeitado, acho que é hora de irmos embora. Temos trabalho amanhã. Todos nós... menos Bryan, porque Bryan é um desperdício de espaço.

— Hey! — Bryan disse fingindo estar magoado.

— Você sabe que eu te amo — Ellie disse piscando para ele.

E em menos de alguns minutos, os quatro já tinham saído da casa de Liam nos deixando sozinhos.

— Bem, Cherry, eu vou pegar algumas cobertas pra você. Pode usar o quarto reserva, ele tem uma cama de solteiro que eu acredito que não está cheirando a mofo. Vou pegar umas roupas para você usar como pijama também.

Eu assenti sem dizer nada. Eu não sabia o que dizer. Era uma situação estranha e intimidadora. Quero dizer, ele não sabe nem meu nome – e espero que continue assim por um tempo – e eu não sei o que falar, não sei nem por quanto tempo conseguirei aceitar sua generosidade ou por quanto tempo ele vai conseguir me aturar.

O fato dele ter tocado no assunto “roupas” me fez lembrar que eu estava sem grana e eu tinha duas opções:

Achar ou trabalho; ou

Conseguir contatar alguém de confiança para eu retirar uma certa quantia de dinheiro da conta que meus pais um dia abriram para mim

Suspirei. Era muita coisa para pensar em um dia. Eu só queria dormir.

E dormir foi o que eu fiz.

Assim que Liam separou as roupas para mim, eu tomei um banho quente (sem molhar meu cabelo) e me arrastei para o meu novo quarto.

Ele estava lindo e era meio apagado. Não tinha móveis, exceto um armário pequeno que Liam disse que colocava algumas de suas coisas e uma cama que ele usava quando os meninos iam dormir em sua casa.

Caí com tudo na cama e ignorei o barulho que as molas fizeram.

Naquela noite, enrolada como um bolinho nas cobertas, meus demônios não me visitaram em meus sonhos.

***

No dia seguinte podia se dizer que eu parecia um leãozinho.

Quando eu acordei, eu passei pelo corredor do andar de cima e percebi que meu cabelo vermelho estava todo bagunçado fazendo-me lembrar da juba de Simba em Rei Leão. As roupas que Liam me emprestou estavam desajeitadas no meu corpo. Eu vestia uma camiseta de botões branca e como uma calça eu usava uma calça do Star Wars preta e branca sendo que a calça só não caia porque eu tinha uma bunda consideravelmente grande.

Balancei a cabeça quando vi o estado do meu cabelo e prendi ele num coque para não ficar tão deplorável.

Meio satisfeita com meu trabalho, desci as escadas de madeira. Podia sentir o chão frio sob meus pés mesmo usando dois pares de meia.

Quando eu fui para a cozinha, dei de cara com Liam usando um avental cozinhando o café-da-manhã.

— Bom dia — ele disse sorrindo enquanto colocava alguma coisa no fogo.

— Bom dia — eu não pude deixar de sorrir de volta.

Acho que faziam meses que eu não sorria assim.

— Aqui está seu café — ele disse colocando uma xícara vermelha cheia de café na minha frente. Estendi minha mão para pegar o leite, não gostava muito de café puro — E eu fiz panquecas — ele terminou, deixando o prato em cima da mesa.

Estendi minha mão na mesa para alcançar a geleia de amora.

— Eu te ajudaria a preparar tudo — disse tomando um gole do café. — Mas eu sou horrível na cozinha. Uma vez, eu queimei o salmão que eu estava tentando preparar e acabei ateando fogo no fogão — ri ao me lembrar do acontecimento. — As empregadas tiveram que pedir ajuda para o mordomo para acabar com o fogo.

Eu quase me bati naquele mesmo instante.

Boa, gênio, falando sobre suas empregadas e seu mordomo.

Percebi que uma onde de dúvida preencheu os olhos de Liam, mas ele foi legal o suficiente para não perguntar nada. Suspirei de alívio.

— Issuessstábastandegostoso — eu disse de boca cheia comendo milhares de panquecas.

Liam riu balançando a cabeça.

Tomamos café-da-manhã quietamente depois disso e me prontifiquei para lavar a louça. Era o mínimo que eu podia fazer por ele.

Subi as escadas e quando entrei no quarto que eu estava dormindo e acabei colocando a minha roupa que eu usei no dia anterior (considerando que eu não tinha nenhuma outra). Depois de pentear meu cabelo com a escova de cabelo de liam e escovar meus dentes sem uma escova de dente – acredite, é horrível – eu voltei para a sala para pedir um favor a Liam.

Porém, fiquei surpresa quando vi Ellie parada ali conversando seriamente com ele.

Agora, não é que sou bisbilhoteira, mas não pude deixar de tentar ouvir o que Ellie estava falando pro Liam, ainda mais depois de ter ouvido meu nome.

—...rry não é Riley. Olha, Liam, todos nós queremos ajudar ela, mas não pense que você vai tirar proveito dela só porque você está solteiro.

— Você sabe que eu não sou assim, Ellie, por favor, não me magoe dizendo que você acha que eu faria algo do tipo.

— Às vezes, devido à decepções amorosas fazemos coisas inconscientemente. Só peço pra você tomar cuidado considerando que não seria só você que sairia machucado.

Eu me deixei fazer presença nessa hora.

Ellie levantou seu olhar até mim e assim a tensão na sala foi quebrada.

— Cherry! Olha, trouxe para você roupas que não me servem mais e provavelmente vão te servir.

Quase tive vontade de rir, mas não fiz isso porque eu sabia que ela só estava tentando ser legal. Era óbvio que as roupas dela não iam me servir. Ellie tinha pernas longas, ou seja, suas calças ficariam enormes de comprimento e apertadas na bunda considerando que a minha era maior que a dela.

E seu busto era bem mais desenvolvido que o meu. Suas blusas provavelmente ficariam largas demais e meus peitos iam aparecer.

Cerrei meus punhos até a dor de ter minhas unhas machucando minha pele se tornar algo que eu estava acostumada. Tudo para tirar a voz daquela mulher de minha cabeça.

Você acha que você conseguiria arrumar alguém?

Seu cabelo ridículo não faz nada a não ser aumentar sua aparência de gorda.

— Cherry? Cherry? — saí de meu transe com Ellie me observando com certa preocupação. — Quer experimentar?

Acenei meio chocada que saí de meu próprio corpo com aquela memória. Aceitei a sacola enorme, agradeci e subi as escadas. Vi que Ellie estava logo atrás de mim.

— Eu fiz um curso de corte e costura há uns dois anos. Então se precisarmos fazer alguma barra ou se tiver algum rasco em alguma das blusas eu consigo consertar — ela disse piscando pra mim.

Sorri e fechei a porta do banheiro atrás de mim.

No fim das contas, muitas das roupas dela serviram em mim. Como eu não estava em posição de ficar sendo seletiva, aceitei até mesmo as roupas que me faziam parecer uma criança em roupa de adulto.

Suspirei depois de agradecer Ellie. Comecei a guardar tudo nas gavetas da cômoda do quarto enquanto pensava sobre como eu precisava achar um emprego logo. Alguma coisa rápida que não me faria chamar muita atenção e mesmo assim eu ganharia o suficiente para comprar tudo que eu preciso e guardar um certo dinheiro quando eu tivesse que partir de novo.

Eu não era estúpida, eu sabia que uma hora ou outra eu teria que partir. Aquela mulher ia fazer de tudo para me engaiolada. Era só uma questão de tempo.

E era por isso que eu precisava pedir aquele favor a Liam.

***

— Você quer que eu veja se na padaria que eu trabalho eles precisam de alguma ajuda? — Liam disse bem pausadamente tentando entender.

Assenti com os olhos esperançosos.

— Olha, Cherry, isso seria muito legal, mas Lucca não está procurando por mais gente — tentei manter uma expressão calma, mas acho que Liam conseguiu reparar o quanto eu estava desapontada. — Porém... eu acredito que Jack deve saber de algum quebra galho que dê para você ganhar alguma coisa.

Sorri animada, mas nunca pensei que eu estivesse mais ferrada do que nunca.

***

Se eu soubesse que a ajuda de Jack iria me fazer sair da cafeteria com um monte de pó de café debaixo da minha blusa e com chantilly em meu cabelo, eu nunca teria aceitado a proposta.

Mas eu não pude deixar que foi adorável a situação: Jack me recomendou um café que ficava perto da faculdade de Liam – então ele conseguiria me dar carona alguns dias – e eles nem checaram meu documento. Simplesmente cheguei lá dizendo que meu nome era Rose e que eu queria trabalhar ali.

E assim arranjei um trabalho, na hora o dono, Senhor Lorey, queria que eu trabalhasse ali e eu comecei a limpar as mesas.

O café era meio chique até, apesar da informalidade do negócio. Havia algumas mesinhas, um balcão e atrás do balcão a semi cozinha que eles usavam.

Lembrou-me do Starbucks.

Eu estava limpando a segunda mesa quando eu ouvi uma menina fazer um pedido.

— Quero um café descafeinado não muito forte, com uma pitada de chocolate meio amargo com canela salpicado em cima. Copo médio e não muito quente para que eu não me queime.

Bem, e eu queria uma vida normal.

Ouvi a menina do balcão dizer que não faziam aquele tipo de café e a menina bufou dizendo pra trazer “uma droga de café descafeinado então”.

Depois de um tempo eu estava já na minha quinta mesa, tirando os pratos que os clientes haviam deixado.

Tudo estava indo ótimo até que a mesma menina veio reclamar pra mim que seu café não era descafeinado.

Eu nem sabia o que isso significava. Eu só estava limpando as mesas.

Então a senhorita “café sem café” começou a reclamar com a loja inteira e a me insultar.

Cerrei os punhos mais uma vez. Parecia que sempre que as pessoas adicionavam algum adjetivo a mim, eu absorvia as palavras como uma esponja.

Principalmente as palavras ruins.

Foi então que no último insulto eu não aguentei mais e empurrei a menina para eu conseguir sair.

Mal eu sabia que eu não sairia dali tão cedo.

Nisso que eu empurrei a menina, ela bateu com tudo no balcão e derrubou todo o pó de café em mim e nela mesma.

— Merda — exclamei.

Com isso o caos se estabeleceu.

Uma outra mulher que trabalhava no lugar saiu e ao se assustar com a bagunça, acabou batendo no pote enorme que dizia “chantilly” e que voou logo pra cima da minha cabeça.

Foi a gota d’água. Tirei o uniforme, peguei o café da menina que estava abandonado no balcão de saí dali antes que Lorey pudesse gritar “demitida”.

Tomei um gole do café ainda sem entender o que era um café descafeinado.


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Notas finais do capítulo

Queria saber se café sem cafeína tem gosto diferente, KKKKK. Se alguém souber me diga nos comentários.
Próximo capítulo sai semana que vem.
Byebye



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