Dez Desejos escrita por Gii


Capítulo 34
A beira da loucura


Notas iniciais do capítulo

Pressa, inimiga da perfeição.



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Capitulo 34 — A beira da loucura

POV Anna

Minha respiração ainda estava forte e não havia nada que eu tentasse fazer para ela diminuir estava adiantando muito. Eu me sentia sufocando. Era exatamente como quando você sobe para a superfície da água, após ficar muito tempo lá em baixo, e você sente um alivio por estar respirando novamente, puxando o máximo de ar possível. Ofegando fortemente. Mas na minha situação não havia o tal do alivio. Eu sentia que se não respirasse assim, eu sufocaria e acabaria morrendo. Droga, porque ultimamente eu estava tanto com aquela sensação de que não conseguiria respirar direito?

Então, eu puxava a maior quantidade de ar que meu pulmão agüentava e isso me causava uma dor, uma pontada na barriga, exatamente no lugar que havia levado uma joelhada.

“A culpa é sua...” A minha mente me acusava novamente e eu tentei ignorar como fizera até agora, mas era impossível ignorar os pensamentos. Eles eram como... Como se alguém pegasse um microfone e começasse a gritar em seu ouvido... E somente você ouvisse.

Eu tentei me manter concentrada apenas nos meus pensamentos, controlando minha respiração. Pensando que o certo á fazer era deixa-los viver felizes, como era para ter sido se eu não tivesse me metido:

Seth viveria mais algum tempo sem ninguém, só esperando seu verdadeiro amor e um dia, enquanto tivesse em uma sorveteria com os seus amigos, encontraria Caroline. Ela sorriria para ele e ele iria falar com ela. Eles conversariam pelo resto do dia e ele a levaria para casa, rindo com ela o caminho todo. E quando parasse em frente à casa dela, ele roubaria um ou dois beijos e pediria desculpas por não ter conseguido aguentar mais tanto tempo somente olhando seus labios. E assim, seriam felizes para sempre, como todo final de um bom livro de Romance.

Meu coração se contorceu no peito ao imaginar as cenas em minha mente novamente, exatamente como no labirinto.

Mencionar o labirinto fez eu me lembrar da minha parte sombria que atacara Caroline. Onde será que ela estava agora? Por que o labirinto havia sumido?

Jacob abriu a porta da casa com o pé, enquanto me carregava no colo e me colocou no sofá pequeno. Conforme ele me colocou, vi a barra da minha camiseta subir um pouco e revelar os hematomas que eu adquiri com aquela briga. Eu odiei admitir, mas no fim... Eu saí mais machucada... De todos os modos possíveis.

Argh! Hilário, eu não conseguia vencer de mim mesma!

— Anna... Talvez fosse melhor você ir ao hospital... — Jacob agachou ao lado do sofá, olhando os ferimentos pelo meu corpo.

— Acho que um hospital não pode curar os meus ferimentos, Jacob. — eu falei num fio de voz, lhe dirigindo um olhar oco — Não o que está doendo mais.

Ele piscou aturdido por um minuto com minhas palavras, como se aquilo parecesse familiar para ele. Se levantou, indo em direção a pequena cozinha e voltando segundos depois com um saco de gelos nas mãos.

— Então deixa eu pelo menos cuidar dos menores — Ele parou na minha frente, colocando o saco sobre o meu braço esquerdo, que apesar de sangrar um pouco não era o que havia doido mais adquirir depois de meu coração. Talvez o hematoma de cinco dedos roxos fosse uma boa.

Eu nem lembrava aonde tinha cortado meu braço para ele sangrar daquele jeito, mas eu não liguei. Apenas segurei o gelo ali, como um gesto automático, e deslizando ele um pouco mais para cima, para pegar outro lugar machucado também.

— Anna, você tem certeza sobre...? — Jacob perguntou de repente, sentando encostado ao sofá, olhando a janela. — Não acha um pouco precipitado? Eu sei que você se sente culpada por ter feito aquilo até hoje, até eu mesmo me sentiria se fosse comigo, mas você sabe que se você fizer isso será como... Entrega-lo na bandeja e com uma maça na boca para Caroline.

Eu o encarei, desgostosa.

— Jacob, você lembra de quando você percebeu que havia perdido para valer a Bella? — perguntei lembrando dos livros que li tantas vezes em meu quarto — Eu me lembro até hoje de ler essa parte, sabe?

Ele franziu o cenho e virou para me encarar.

As palavras tantas vezes lidas vinham á mente rapidamente, mais clara como nunca. Ainda mais por sentir exatamente o que elas falavam. Agora eu entendia mais perfeitamente do que antes.

“...Então era aquilo. O oceano de dor. A margem além da água fervente tão distante que eu não conseguia imagina-la, muito menos vê-la.” — Recitei em fôlego só, lembrando da folha amassada e dobrada tantas vezes no mesmo lugar

Ele arregalou os olhos levemente um tanto chocado, e desfocado, como se tivesse lembrando perfeitamente.

“Eu queria despejar água sanitária dentro da minha cabeça e deixar que derretesse meu cérebro. Eliminar as lembranças. Eu aceitaria um dano cerebral se pudesse me livrar daquilo” — Eu ri fraco — Ah, como eu queria um exemplar... Tudo faria mais sentido agora.

Assim que o silencio se fez entre nós e Jacob pensou que eu estava perdida em pensamentos, eu reparei o olhar de pena que ele andava tentando esconder, mas acabara por solta-lo agora.

Eu virei a cabeça para o lado contrário, ficando de frente ao encosto do sofá e agora, sentindo meu braço latejar sob o gelo, enquanto eu senti o olhar de pena dele sobre mim.

Agora, enquanto estava com a cabeça encostada no sofá, me recordando de tudo que Jacob falava naquele livro, parecia como se minha mente se expandisse para uma nova perspectiva de ver aquilo tudo. Eu não sabia a diferença, mas havia diferença. Uma hora ele era um homem morto e no outro o cara mais feliz do mundo... E agora eu podia até quase me identificar com ele naquela época... Menos pelo fato de que eu não teria um imprinting agora que eu era uma mulher morta.

Pensar assim me fez sentir mais sozinha do que nunca, fazendo eu pensar que cada dor em meu corpo aumentava a cada segundo que se passava e eu tomava plena consciência de todo o meu corpo e a adrenalina se esgotava, sentindo aquelas dores latejantes, querendo que tudo acabasse.

Será que era assim que todos se sentiam ao cogitar a morte? Sentiam tudo mais perceptivelmente, desejando que tivesse algum ataque cerebral e morresse imediatamente sem dor alguma?

“Fraca” Acusou aquela voz, cuspindo as palavras na minha cara “Egoísta”.

“Sim.” Eu disse derrotada, finalmente respondendo as suas tentativas de falar comigo e me encolhendo em um canto de minha mente, vendo todas aquelas lembranças pular na minha frente, como um filme de trás para frente.

Elas eram facas afiadas, me cutucando e me fazendo sangrar mais... Como se isso fosse possível! Eu estava desmoronando á tempos, com aquelas lembranças e imagens me perturbando e com aquela pena dos outros e a verdade absoluta me envolvendo como um manto. Seth nunca foi meu.

“Se alguém tem alguma culpa aqui, é você.” Ela caçoou de mim e eu abaixei a cabeça para ela

“Eu sei

“Inútil. Ridícula. Infeliz” Ela cantou em seu microfone os insultos, parecendo me sacudir por dentro inteira e eu me encolhi mais e mais em minha mente. A cena mudou novamente, exatamente como aconteceu com aquele negocio de labirinto, mas agora eu estava em uma prisão. Eu andava por um corredor estreito e sujo, arrastando os pés que somente agora eu percebi que estavam acorrentados por fortes correntes de ferro preto.

Á minha frente, andava uma garota encurvada como se estivesse abaixada para andar em um teto mais baixo que sua altura permitia, gingando em passos lentos. O cabelo marrom grudento e ensebado de óleo parecia que nunca vira água antes e as roupas pareciam pedaços de saco de batatas.

Enquanto andavamos, a unica coisa que iluminava o corredor estreito e bolorento era as luz fraca e fria do sol que entrava de cada cela que passavamos na frente. Eu podia ver que em todas as celas havia uma pessoa trancafiada, parada no meio do recinto como uma estátua, me olhando passar, com os cabelos jogados sobre o rosto. Exatamente como em um filme de terror.

E de algum jeito eu sabia que todas aquelas garotas presas nas celas, eram alguma parte de mim. Todas trancafiadas dentro de minha própria mente.

“Sua Imprestável, Ande logo!" Eu ouvi a voz rouca vindo da direção da garota em minha frente, que enquanto falava não olhava para mim. "Porque você fica tentando pensar com o coração? Quantas vezes já provei a você que esse é o trabalho da MENTE!”

“Me desculpe...”

“Não é para mim que tem que pedir desculpas” Ela bufou brava e se virou de supetão para mim, tentando rearmar a coluna torta com o tempo para ficar da minha altura e encarar meus olhos. E eu reconhecia aqueles olhos dela em qualquer lugar.

“Para quem devo pedir desculpas?” murmurei quase sem som, me encolhendo como um cachorrinho sobre seus braços magros e ossudos que me apertavam pelo colarinho de uma roupa que eu não reconhecia ou lembrava de ter vestido.

“Vou precisar listar, sua egocêntrica?” Ela riu alto antes de me agarrar pelos braços e arrastar mais rapido pelo corredor, gingando como um macaco “Seth, Jonathan, Renesmee, Sue, PAMELA, CAROLINE...”

“Me desculpa!” eu berrei, chorando mais sobre seu aperto doloroso exatamente onde as mãos de Seth haviam me machucado antes.

“Eles não estão escutando... Mas estão sentindo o que você causou neles.” Ela parou colocando os labios nojentos e meus ouvidos, sussurrando no meu ouvido “Olhe para você. Isso é pouco para o que deveria acontecer!”

Eu fiquei quieta, soluçando e me encolhendo o maximo longe que ela me permitia.

“Mas o que eu fiz? O que?” eu murmurei, tentando tampar meus ouvidos e não deixar que sua voz sibilante e horrivel me alcançasse.

Ela soltou uma risada alta e eu tremi ao ouvi-la. Voltamos a andar pelo corredor negro.

Vamos pelo começo?” Ela perguntou ameaçadoramente “Jonathan... Ah, O santo Jonathan. Você sabia, não sabia? Desde que você viu ele entrando dentro de seu closet. Você já sabia que ele te amava, mas mesmo assim... Você preferia alguém que nem conhecia, afinal, para que se preocupar com os sentimentos do seu melhor amigo, não é?”

Eu solucei balançando a cabeça tentando negar de algum jeito, mas quando eu fui falar ela parou em minha frente, abrindo uma das celas que somente agora eu vira que era a ultima.

“E depois Seth... Seu grande amor!” Ela riu novamente passando a mão pelo meu ombro “Que linda maneira de demonstrar um amor... Primeiro Forçando-o e mentindo...!”

Então, sem avisos prévios, ela me empurrou para dentro da cela, e eu caí no chão imundo.

“Mas eu... Eu...“ Murmurei desesperada, me virando rapidamente para a garota identica a mim, que agora dizia ser minha nova carcereira.

Eu o que? Admita de uma vez!” ela esgoelou, trancando com um puxão a cela e colocando a cabeça entre as grades somente para continuar a me atormentar com mais ardor “A CULPA É TODA SUA! SUA! E SUA!

— EU SEI, EU SEI, EU SEI! — Eu sentei no gritando, agarrando meus cabelos puxando com força, querendo que aquela voz caísse da minha cabeça.

— Ei, Ei, Ei... Calma... — Jacob murmurou e senti braços quentes ao meu redor, me embalando. — Shiii...

E minha visão ainda pertencia á aquela figura sombria que era minha carcereira. Meus ouvidos ouviam em ambos os lugares, diferente de como quando aconteceu no labirinto. Agora, minha visão pertencia á minha mente, meus ouvidos para os dois e meu corpo para a vida real. Eu sentia os braços quentes de Jacob me embalando, murmurando ajuda em meu ouvido, enquanto eu estava encolhida em uma cela imunda com aquele ser grotesco me jogando insultos e me lembrando das piores cenas de minha vida.

Dizendo que eu não era nada e que apodreceria ali.

— Eu sei... Eu sei... — Sussurrei, sentindo várias lagrima lavarem meu rosto, mas sem ve-las embaçando minha visão.

“Por culpa sua...” Sussurrou a voz mais uma vez.

Não adiantava eu tentar negar, a voz estava certa... A culpa era minha se agora eu havia condenado todas as minhas partes para uma prisão perpétua. A culpa era minha se havia feito todos sofrerem...

Somente minha, e não havia "mas".

— É minha... — eu sussurrei, agarrando meus joelhos e prendendo minha cabeça entre as pernas.


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