Continuo sorrindo e olhando seu rosto enquanto ela dorme. É quase uma dor física vê-la nessa situação, machucada e um pouco pálida, e eu tenho certeza que daria qualquer coisa para vê-la abrir os olhos e sorrir para mim outra vez.

Aqueles olhos tão verdes e o sorriso sincero pelo qual fui hipnotizado desde a primeira vez que a vi. “Você não faz ideia”, eu não fazia mesmo. Aquele rosto maravilhoso que era capaz de expressar todos seus sentimentos e o corpo que eu amava e conhecia cada centímetro. Até mesmo a cicatriz no peito, por onde sua vida quase se esvaiu uma vez, mas que agora era mais uma prova de sua força.

–Força essa que me faz te amar ainda mais e que me faz ter certeza que você vai sair dessa e voltar pra mim- digo a ela. - Sabe, nós ainda não terminamos aquela conversa, e não acho que dê para eu fazer isso sozinho- acrescento, a voz mais embargada e lágrimas voltando aos meus olhos.

Aquela conversa. Precisamos ter a chance de terminar aquela conversa, de viver aquilo. Tiro meus pensamentos desse assunto e tento me lembrar exatamente como tudo deu tão errado.

FLASHBACK ON

Após comprarem o tão desejado café, Beckett e Castle foram ao distrito e começaram a montar o quadro. Depois da dose de café ambos estavam mais alertas, assim como as teorias de Castle se fizeram mais presentes.

–Sério, Castle?- Kate ri- Você vai transformar um homicídio aparentemente comum em um trabalho da CIA?

–Exatamente, é por ninguém desconfiar que se torna tão fácil!- ele exclama, animado- Se transforma algo complicado e que aponta diretamente pra eles, em algo comum e óbvio. É perfeito!

–Tudo bem espertinho- Esposito, que se aproximava com Ryan diz- como você explica os vizinhos terem ouvido uma briga de casal poucas horas antes da nossa vítima ser morta?

Castle pensa por um segundo e diz: - Ela descobriu que o namorado era um agente da CIA e ia entregá-lo aos seus contatos obscuros. Por isso teve que calá-la.

–Odeio arruinar sua felicidade bonitão, mas esse cara- Ryan coloca a foto no quadro- não parece um agente da CIA pra mim.

Os dois olham para a foto e fazem uma careta.

–Uh, definitivamente não- Beckett diz

O homem na foto era, em todos os aspectos, assustador. Era branco e musculoso, com tatuagens cobrindo quase toda a parte visível de seu corpo. Mas o mais apavorante de tudo, o que fez os detetives se arrepiarem, era seu olhar, que mesmo apenas por foto era de gelar o sangue.

–Uau- Castle murmurou, mas não abandonou totalmente sua teoria- talvez seja um disfarce.- ele disse fracamente, com os olhos ainda fixos na fotografia do suspeito.

–É, quem sabe- Beckett revira os olhos- meninos, vocês vão buscá-lo?

Eles assentiram e foram para o elevador. Kate se virou para Castle, que estava pensativo: - Tudo bem?- ela perguntou.

–Sim- ele a olhou- só fico imaginando por que uma garota fica com um cara assim.

–Quem sabe- ela suspirou- talvez ela também não fosse tão boa assim.

Ele assentiu e os dois foram investigar as outras provas. As câmeras não deram em nada produtivo, assim como o celular da vitima. Entretanto, ao checar a conta bancaria Kate viu algo curioso.

–Castle, quanto ganha uma caixa de supermercado?

–Eu não sei, acho que não muito... Por quê? Encontrou algo?- Ele perguntou se animando.

–Talvez, digamos que ou nossa vítima ganhou na loteria ou ela estava envolvida com algo não muito legal.

–Deixa eu ver- ele se colocou atrás da cadeira dela.

–Olha só, ela tem um saldo de quase 100 mil dólares e a maior parte vem sendo depositado dessa conta- ela apontou- nas últimas semanas. Vou pedir para rastrearem a conta e acharem o dono.

Beckett se levanta e Castle a segue. Após alguns minutos rastrearam a conta até Arthur Marshall, que tinha várias acusações por trafico e agressão.

Castle se espantou e perguntou: - Por que a namorada de um traficante estava recebendo tanto dinheiro de um rival?

–Talvez ela estivesse vendendo informações?

–Isso explicaria a briga que os vizinhos ouviram, se o namorado descobriu...

–E o assassinato também... Parece um bom motivo pra mim. - Beckett diz.

Eles sorriram um para o outro, mas Castle franziu a testa.

–Ou talvez, o Marshall a tenha matado. Ela pode tê-lo chantageado com algo- ele diz.

–Droga!- ela reclama- bem, vamos começar pela primeira hipótese. É só esperar os meninos com o suspeito.

–Eu não ficaria muito animada com isso- Castle comenta, olhando em direção ao elevador.

Ryan e Esposito vinham na direção dos dois. Nenhum suspeito.

–Não o encontramos.

–Droga!- Kate repete. Enquanto voltava para o computador e procurava algum outro endereço, Castle contava para os meninos o que haviam encontrado.

Depois de algum tempo Beckett encontra um endereço mais antigo, uma casa que segundo as informações, havia se transformado em um espécie de depósito.

–Aposto que sei o que encontraremos depositado- Espo comenta enquanto os quatro seguem até seus carros e vão até o local.

Quando chegam, descem dos carros com armas já em punho. O depósito aparentemente se encontrava vazio –de pessoas- mas ao saírem escutaram passos apressados como se alguém estivesse correndo.

Eles ainda se viram a tempo de ver o suspeito correndo em direção a um carro, que o esperava com outro homem ao volante.

–NYPD! Parado!- Espo grita em vão.

–Ele vai fugir.

O carro dos suspeitos acelera e Beckett murmura: - Não vai não. - e corre em disparada em direção ao próprio carro, deixando os amigos e marido apavorados e chamando seu nome ao perceber o que ela faria.

A detetive acelerou o carro e seguiu os suspeitos, enquanto os outros corriam até o outro carro.

–O que diabos ela está fazendo?- Castle pergunta sem tirar os olhos do carro da esposa.

Eles saíram em disparada atrás dos outros dois carros, e assistiram impotentes quando tudo deu errado.

Apenas umas quadras de onde a perseguição havia começado, Beckett começou a perder o controle do veículo.

–Ela está rápido demais- Ryan diz baixo, porém nervoso.

A detetive zigazeava rapidamente pelas ruas, os suspeitos a apenas alguns metros de distância, quando ao virar uma esquina e tentar uma ultrapassagem, o carro capotou.

O tempo pareceu congelar por aqueles segundos em que o carro estava no ar para Castle, para logo depois se acelerar, como se alguém apertasse a tecla “avançar” em um controle remoto.

Rapidamente os meninos saltaram do carro e correram em direção ao acidente- os suspeitos completamente esquecidos- gritando ordens e falando com a emergência pelo celular. Entretanto, tudo o que Castle se dava conta era do amor de sua vida desacordada naquele carro.

FLASHBACK OFF

Rick POV

–Você quase me matou do coração- sorrio tristemente.

Fico a observando durante mais algum tempo até a enfermeira me expulsar, alegando que ela precisava fazer alguns exames e que Kate precisava descansar.

Vou andando até a sala de espera e posso ver que todos continuam ali, mesmo depois de horas. Eles me olham quando me aproximo.

–Como ela está?- É Lanie quem pergunta.

O médico já havia atualizado a todos sobre o estado de Kate, mas eles pareciam querer ouvir de mim.

–Dormindo- eu suspiro e me sento entre minha mãe e Alexis. Estou completamente esgotado. - Como se nunca fosse acordar.

–Oh querido, ela vai acordar- minha mãe diz.

–Ela vai- Jim concorda- ela é forte, tem que sair dessa.

Olho para o homem e vejo que está tão acabado quanto eu. A filha era a pessoa mais importante de sua vida. A única coisa que tinha.

Fecho os olhos e encosto a cabeça na parede.

–Vocês deviam ir pra casa, não vai ser possível vê-la hoje de qualquer maneira- digo. O médico liberou apenas uma pessoa pra entrar hoje, e graças aos céus não houve discordância quanto a ser eu. Não que fosse adiantar muito.

–Você devia ir descansar também- Ryan fala.

–Não vou sair daqui. – digo baixo, porém decidido.

Tudo fica em silencio por alguns segundos, até que eles parecem aceitar a ideia e se levantam.

–Está bem, nós vamos- Espo diz e me abraça- amanhã bem cedo estamos de volta, qualquer coisa liga, a qualquer hora. E cara, a polícia conseguiu pegá-los. Eles vão passar um tempo generoso na prisão.

Isso me alivia um pouco. Pelo menos iam pagar.

Todos me abraçam e saem. Minha mãe e Alexis são as últimas.

–Você vai ficar bem?

–Eu vou meu amor- sorrio para a minha filha e a beijo- podem ir.

Ela ainda me olha por um segundo, mas assente.

–Tudo bem, eu amo você- ela diz.

–Eu também te amo.

–Okay querido, amanhã vou trazer algumas coisas para você e para Katherine, sei que não vai pra casa- minha mãe me abraça e as duas saem também.

Finalmente sozinho, me sento novamente e fecho meus olhos, encostando a cabeça na parede fria, esperando a enfermeira voltar e me dizer que posso voltar ao quarto e ficar ao lado da minha esposa. Eu não sairia daqui.