KARINA

— E aí, K? Vamos? — ele chegou perguntando. Eu olhei para o meu pai como quem diz “e aí? Como é que vai ser?”. Ele olhou para o Cobra, depois olhou para mim, para o Cobra de novo, voltou para mim...e então ele cedeu. — Tudo bem. Você pode ir. — ele disse e eu comemorei. — Mas... — estava muito bom para ser verdade. — Quero ela de volta 18:00. Ok? — ele disse olhando para o Cobra e apontando para mim. O Cobra assentiu e nós saímos. — E aí? Onde você quer ir? — ele perguntou. — Que tal...cinema? — eu sugeri e ele concordou.

Assistimos um filme de comédia, pois eu queria rir. Foi bem divertido. Depois que nós saímos do cinema ficamos meio sem rumo. Estava perto de 16:00. — Eu tive uma ideia. — ele disse sorrindo. — Vamos para aquele bosque que tem aqui perto? — ele sugeriu. Perto do cinema tinha um bosque; era pequeno, mas grande o suficiente para se perder. Antes tinham algumas atividades, só que depois ele ficou abandonado. Então, eu não sabia se era uma boa ideia, afinal, quase ninguém ia lá, mas eu concordei. Entramos no carro dele e fomos até o tal bosque.

COBRA

Eram mais ou menos 16:20 quando eu e a K chegamos no bosque, pois nós acabamos pegando um pouco de trânsito. Como eu imaginei, ele estava vazio. Nós fomos andando, tentando achar um lugar com um pouco mais de sombra. Eu percebi que a Karina estava meio apreensiva, como se ela não quisesse estar ali. — Nós não precisamos ficar se você não quiser. Eu posso te levar para casa. — eu disse para ela, que me olhou como se estivesse pensando se respondia sinceramente ou não. — Não é isso. Eu quero ficar aqui, mas é que...não tem ninguém. — ela parecia realmente preocupada pelo fato do bosque estar abandonado. — É, está vazio. Mas do que você tem medo? — eu perguntei meio sorrindo, afinal, era meio engraçado ela com medo de um bosque abandonado. Mas foi nesse momento que eu percebi. Ela não estava com medo de ficar sozinha no bosque abandonado. Ela estava com medo de ficar sozinha COMIGO, provavelmente no lugar que fosse. — Entendi. Você está com medo de mim. — eu não perguntei, eu afirmei, pois sabia que era exatamente isso. Tive mais certeza ainda quando ela olhou para baixo e não falou nada. — Vem. Eu vou te levar pra casa. — eu disse irritado enquanto puxava ela pelo braço.

Ninguém estava falou nada. O caminho inteiro foi completo silêncio. Quando nós chegamos, eu abri a porta para ela, mas ainda sem falar nada. Estávamos chegando na praça quando eu vejo que o Gael, a Bianca e o Duca conversando lá. Assim que eles avistam a gente já começam as perguntas. — Nossa! Não são nem 17:00 e vocês já voltaram. — o Gael falou satisfeito, mas ele percebeu que tinha alguma coisa errada quando nenhum de nós dois respondeu ele. — O que aconteceu? — o Duca perguntou confuso. Pelo jeito todos perceberam que tinha alguma coisa errada. Eu só queria sair logo dali. — Tchau, Karina. — eu disse irritado e fui para o QG sem responder a pergunta do Duca.

BIANCA

Quando as aulas da Ribalta acabaram eu desci para falar com o Duca e vi o meu pai todo emburrado no escritório. Olhei ao redor e vi que a K não estava na academia como nos últimos dias. Com isso, eu já sabia mais ou menos qual era o motivo do humor dele. Fui até lá para descobrir exatamente o que estava acontecendo. — Oi, pai. — eu disse meio receosa de receber uma resposta não muito legal. — Oi, filha. — ele respondeu sem nem olhar para mim, mas pelo menos ele respondeu. — Porque essa cara? O que aconteceu? — eu perguntei meio preocupada. Ele olhou para mim, parecia estar pensando se me respondia ou não. Ele bufou e eu arqueei as sobrancelhas. — A Karina saiu com o Cobra. — ele finalmente respondeu. — Com o Cobra?! E como é que você deixa? Você sabe onde ela está? — eu perguntei gritando. Provavelmente, todos da academia estavam olhando para o escritório, mas eu não estava nem aí. — Calma, filha. Eu também estou nervoso. Eu deixei ela ir por que eu achei que seria bom ela fazer alguma coisa diferente. E não. Eu não sei direito onde ela está, mas eu disse que os dois tinham que voltar até 18:00. — ele respondeu mais calmo do que parecia estar. Eu estava mais tranquila.

Quando eram 16:50 mais ou menos, eu, o Duca e o meu pai estávamos conversando na praça. De repente eu vejo o Cobra chegando com a K. Meu pai também viu eles, pois logo as perguntas começaram. — Nossa! Não são nem 17:00 e vocês já voltaram. — ele disse com um sorriso de satisfação no rosto. Um sorriso que durou pouco. Nenhum dos dois falou nada, o que foi suficiente para que todos percebessem que havia alguma coisa errada. — O que aconteceu? — o Duca perguntou preocupado antes que eu pudesse fazer o mesmo. Mais uma vez, os dois ficaram quietos. — Tchau, Karina. — o Cobra disse irritado e foi embora sem responder a pergunta do Du. Fiquei me perguntando o que tinha acontecido nesse passeio, mas a Karina saiu andando para casa resmungando “eu sou uma idiota”. Nós três fomos atrás dela, que entrou batendo todas as portas possíveis e foi para o quarto. Eu olhei para o meu pai. Ele também estava confuso. — Eu vou falar com ela. — eu disse já indo em direção ao meu quarto.

KARINA

Eu só faço besteira mesmo. Ele ficou irritado comigo. Que bom! Agora ele não vai mais querer falar comigo. Assim que eu entrei no quarto eu já me joguei na cama. Enquanto eu socava o travesseiro com toda a força possível, eu ouvi o barulho da porta do meu quarto abrindo. — Karina. — era a Bianca. Eu continuei o que eu estava fazendo, na esperança de que ela fosse embora, mas era a Bianca. É claro que ela continuou me enchendo. — Karina! — ela gritou e eu olhei para ela. — O que você quer? — eu perguntei irritada. — Eu quero saber o que aconteceu. — ela respondeu se sentando na cama. — Aconteceu... que eu sou uma idiota. — eu disse e ela me olhou confusa. — Ele quis ser legal comigo e eu fiquei com medo dele. Ele percebeu ficou irritado e agora não vai mais querer falar comigo. — eu completei jogando o travesseiro socado na parede. A Bianca não respondeu. Eu sabia que ela não confiava nele e achava certo eu ficar com medo. Ela saiu e eu me deitei com a cara no colchão. Pude ouvir ela contando o que eu falei para o meu pai e para o Duca. Não demorou nem 1 minuto e eu ouvi os passos do meu pai se aproximando.

Depois de explicar várias vezes para os três que o Cobra não tinha feito nada, eu fui para a academia. Eu não podia socar o saco (de pancadas), as minhas “mãos inúteis” não permitiam isso, mas só aquele ambiente já era melhor do que em casa vendo a Bianca e o Duca se pegando sem o meu pai falar nada. Fiquei lá o resto do dia. Assim que cheguei em casa eu fui dormir. Era só o que eu queria fazer depois de tudo o que aconteceu.

Quando eu acordei no dia seguinte, eu já sabia o que eu tinha que fazer. Me levantei, fiz a minha higiene matinal, tomei café da manhã e saí. Estava passando pela praça para ir até o QG. Eu fui ver as horas no meu celular e acabei esbarrando em alguém. Pedro.