Curta escrita por Caderno Azul


Capítulo 2
Nada fácil


Notas iniciais do capítulo

N/A: Oi, estou de volta!
Como prometido, esse capítulo terá como foco narrativo a Ariana. Ah, o nome não vem da cantora, mas da personagem de uma fic muito boa que li, se chama "O destino guarda as estrelas".
Sem mais delongas, aqui:



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"Nada nunca foi fácil para mim." - Ariana.


Todos se entreolharam, confusos e incertos.

– Como isso aconteceria? Teríamos que contribuir com algo para participar? - perguntou Dorian cruzando os braços.

– Não, é algo que venho fazendo há algum tempo. Eu me reúno com vocês em alguns momentos como no jantar por exemplo. E pego relatos individuais todos os dias. - Marcos explicou escolhendo ser objetivo.

– Acho que não tem problema - James concluiu. - Seria legal ter essa recordação da viagem.

Os outros concordaram e marcaram para a primeira gravação ser no jantar. Como a mãe de Marcos trabalhava no hotel, ele tinha passe livre para circular por suas instalações.

Os vinte minutos passaram voando para Ariana, ela havia posto os óculos de grau para checar todos os papéis de reserva e os seus lembretes. Como ninguém mais parecia interessado na função, ela se ofereceu para cuidar dessa parte administrativa. Quando Marcos anunciou que havia chegado, rapidamente enfiou tudo na bolsa espaçosa e espiou pela janela.

O hotel fazia jus a sua imagem do prospecto que ela viu na agência de viagens. O prédio principal era espaçoso, numa bonita cor de cobre. Os telhados eram verdes e as telhas brancas. Parecia o lugar ideal para passar o verão. Depois de passarem pela guarita, puderam observar em letra de forma e tinta azul celeste "Hotel Antillas". Abaixo havia quatro estrelas indicando a classificação da hospedagem.

–Quatro estrelas? - reclamou Sutton colocando os óculos escuros. - Agora está explicado porque não tem wifi por aqui...

Peter olhou em repreensão para a namorada, mas já era tarde demais. Ariana tinha ouvido muito bem a amiga e baixara a cabeça. Ela havia tentado, de todas as formas, encontrar um hotel que se adequasse às necessidades de cada um e ao mesmo tempo ao orçamento do grupo, principalmente o dela que era de longe o mais apertado. Havia juntado todo o dinheiro que havia economizado do trabalho na boutique de roupas perto da faculdade. Havia inclusive deixado uma vaga de estágio passar para continuar com seu emprego de vendedora para pagar as parcelas da viagem. Além disso, a garota ainda havia trabalhado em turnos extras no Natal para ter um pouco de reserva. Tudo para agora estar ali, ouvindo Sutton reclamar.

Infelizmente, por mais que gostasse da amiga, sabia que ela não podia entendê-la. Sutton tinha tudo muito fácil e não dava valor a nada. Sua mãe viajava com ela desde que era pequena e já haviam conhecido vários lugares incríveis. China, Índia, Egito, Brasil. Lugares que ela só via pelos postais que Sutton lhe trazia.

–Esse é um hotel muito bom, senhorita - Marcos veio em auxílio de Ariana que lhe sorriu agradecida. - Vocês vão gostar muito daqui.

Peter não acreditou quando viu que James continuou a olhar em volta do hotel sem perceber ou se importar com um homem deliberadamente dando em cima de sua namorada. Ele teria ficado maluco se algum babaca viesse com esse papinho para Sutton.

–Espero - a própria comentou, conferindo o lobby do hotel.

Ao invés de um teto simples e retilíneo, em certo ponto havia uma abertura em círculo que só acabava no último andar da construção, onde o teto se fazia presente. Nesse espaço aberto havia uma tela de plantas entre os andares. Aquilo formava uma cascata verde do lobby até o teto do último andar. Ariana tinha se encantado pelas fotos na internet, porém a realidade era ainda mais bonita. Havia também poltronas brancas confortáveis espalhadas pelo salão e um balcão com o aviso "Recepção".

Ariana, decidida a não dar ouvidos para o pessimismo de Sutton se dirigiu até lá sendo seguida pelo grupo. Como não havia fila, eles foram logo atendidos.

–Vocês estão todos juntos. Os três quartos são um do lado do outro - a funcionária os informou com um sorriso cortês no rosto.

–Três? - Molly perguntou, achando aquilo estranho. - Mas e o Micael?

Peter, percebendo que se aquilo não fosse resolvido, acabaria tendo que dividir o quarto com Sutton e seu irmão se apressou em olhar para o papel nas mãos de Ariana.

–Deve ser algum engano – cerrou os dentes. Atrás dele podia sentir Sutton bufando.

–Não há engano nenhum - a recepcionista disse ao checar em seu computador. - A reserva é para três quartos. Dois deles com uma cama de casal e o outro com três camas de solteiro.

– O quê?! - Sutton se meteu e avançou, arrancando o papel das mãos de Ariana.

–Sutton - Peter sibilou, tentando controlar a garota, mas ela não lhe deu ouvidos:

–Olha, não tem como nos conseguir outro quarto? Houve realmente algum engano - ela gesticulava com os braços - Se o problema for dinheiro, eu posso...

–Sinto muito, mas o hotel está lotado - a funcionária a cortou e não havia mais nenhum sorriso em seu rosto.

Dorian sentiu que estava no momento de ser a voz da razão.

–Gente, estamos de férias, vamos curtir. E já que temos esse problema com os quartos, por que não fazemos um rodízio? - ele sugeriu com a voz leve. - Cada dia um casal vai dormir no quarto triplo com Micael e assim todos vão ter um pouco de privacidade quando quiserem. Isso se tiver tudo bem para você.- completou encarando o irmão de Peter.

O garoto sacudiu os ombros, insatisfeito em ser a quinta roda.

–Por mim, tranquilo - falou tentando se manter indiferente.

Até mesmo Sutton concordou que aquela seria a melhor solução. Um pouco mais tranquilos, o grupo se despediu de Marcos e marcaram a primeira gravação no jantar, dali algumas horas. No caminho para os quartos Molly aproveitou para fazer graça com o estado decrépito de sua bolsa de viagem, arrancando risadas de todos.

Apenas Ariana estava distraída, olhando através do vidro do elevador panorâmico para a imensidão verde e azul que era o hotel. Cercado por bangalôs, palmeiras e piscinas, era o paraíso que tinha imaginado.

–Tudo bem, gente - ela disse de forma objetiva quando estavam prestes a se separar. - Vou tomar um banho e me arrumar para o jantar, mas daqui uma hora eu estarei no bar do lobby para conversarmos sobre os restaurantes que queremos ir aqui do hotel e os passeios que vamos fazer. - Percebendo que seus companheiros não estavam muito animados para aquilo, acrescentou. - Vamos lá, gente! Vai ser como tirar um band-aid.

–Você quer dizer doloroso e ardido? - implicou Molly, mas Ariana sabia que não havia maldade envolvida quando ela falava.

–Não, palhaça. Vai ser rápido e indolor - ela se consertou entrando no quarto com James. Ele tinha outros planos para as primeiras horas no hotel e principalmente na cama do quarto.

Contudo, Ariana foi irredutível aos pedidos do namorado. Tomou um banho rápido, se maquiou com habilidade sem cair no erro de exagerar e escolheu o vestido vermelho que mais gostava. Era bom que ainda não estivesse bronzeada, analisou criticamente seu reflexo no espelho, assim a cor do vestido contrastava com a palidez de sua pele. Anunciou que ia sair quando o namorado mal tinha entrado no banho.

–Você percebe que está deixando isso aqui para depois? - ele a provocou apontando para seu peitoral.

Por mais que Ariana achasse o namorado bonito, teve que rir com aquela visão. A cena era cômica demais.

–Você percebe que se eu não fizer isso e depender do pessoal, vamos acabar comendo Ruffles todos os dias, né?

–Um preço que eu estava disposto a pagar - ele retrucou e sabendo que ela não mudaria de idéia, entrou no chuveiro sentindo a água quente levar os rastros daquele dia.

–Mas eu não. - Ariana o lembrou. - Tem idéia do quanto quero provar os restaurantes daqui?

Não houve resposta da parte dele e ainda sorrindo para si mesma, a garota saiu do quarto com o cuidado de não bater a porta com força.

Sem paciência para esperar o elevador e com muita energia para gastar, Ariana tomou as escadas chegando rapidamente ao bar do lobby. Não se surpreendeu ao perceber que era a primeira a chegar. Mas em compensação, havia se arrumado no tempo recorde de trinta minutos.

Lembrando que estava num hotel All Inclusive com bebidas liberadas resolveu pedir um mojito e ir para a parte descoberta do bar. Lá se acomodou em uma das mesas enquanto admirava o céu no cair da tarde. O drink era a única companhia que precisava.

A noite se aproximava deixando os vestígios amarelados que só um pôr-do-sol poderia fornecer. Aquela imagem combinada com a do largo terreno do hotel com palmeiras e piscinas a embriagava mais que o drink que em suas mãos.

–Cheguei atrasado?

Ariana se virou para ver quem falava. Com uma blusa social e o cabelo ainda molhado do banho, Micael tinha as mãos nos bolsos da calça enquanto sorria tímido.

–Na verdade você é o primeiro a descer - ela confessou voltando a beber um pouco do seu drink. - Por que não pega um mojito para você? Eu vou ficar bem com meus papéis - ela disse apontando para os prospectos de restaurante e outros avisos que havia reunido numa pasta.

Micael negou com a cabeça e se sentou:

–Não, valeu. Já bebi a cerveja do quarto enquanto esperava a madame sair do banho. - disse mexendo no cabelo molhado. Então com um falsete, arriscou uma imitação de Sutton - "mais uma pessoa para dividir o chuveiro e competir o espelho".

Ariana gargalhou com aquilo, ela conseguia imaginar a amiga demorando horas no banho.

–Isso é a cara da Sutton. Não me surpreende nada que você tenha corrido para sair do quarto. - comentou olhando novamente para o céu. Tinha medo de piscar e perder aquela imagem. - E o seu irmão, como está lidando com isso?

–Não sei, ele está dormindo. Desistiu de esperar por ela sair do banheiro - relatou e então franzindo a testa. - Como você conseguiu se arrumar tão rápido? Todas as garotas que conheço demoram horas!

Ariana, em tom confidencial, confessou:

–Vou te contar um segredo: quando garotas estão no banheiro se arrumando, metade do tempo passa apenas com fofoca e outra metade com indecisão a respeito da roupa, do sapato, da maquiagem, do penteado. Eu perco muito tempo divagando... Mas hoje achei que seria um desperdício de tempo ficar no quarto quando temos isso aqui – e para finalizar, mostra o final do pôr-do-sol.

Micael teve que se controlar para não engolir em seco. Ele sabia que Ariana era bonita, mas agora com o vestido vermelho que marcava suas curvas, com o sorriso relaxado e os cabelos soltos ela emitia algum tipo de fascínio. Ele só queria ficar ali a escutando falar.

Ou eles podiam ir para algum quarto vago...

Não.

Micael se deteve aí. Desviou os olhos do decote da garota antes que ela percebesse. O que ele estava fazendo? Ela tinha um namorado. E eles estavam juntos há cinco anos. Além disso, ele não tinha vocação para ser o babaca a correr atrás de mulher comprometida.

–Eu gostei muito do hotel, você não devia ligar para o que certas pessoas pensam. - Micael a aconselhou. - E afinal, estamos viajando para outro lado mundo para ficar pendurados na internet? Porque era isso que aconteceria se aqui tivesse wifi.

–É verdade - concordou Ariana e seu sorriso murchou. Lembrar-se do estresse de mais cedo não lhe fez bem.

Então viu que Dorian e Molly se aproximaram deles de braços dados e seu rosto voltou a se iluminar.

Quando finalmente todos chegaram e se acomodaram com as bebidas na mão, já havia escurecido. Uma parte de Ariana lamentava que os amigos tivessem perdido aquela imagem. Mas outra parte, a egoísta, gostava de pensar que o pôr-do-sol seria algo seu para guardar. Uma recordação exclusiva de Arália.

Quando Sutton finalmente chegou, Ariana resolveu colocar os óculos de grau e falar sem rodeios:

–Agora que todos estamos aqui vamos rever os planos - ela pegou sua pasta e analisou os papéis. - Temos quatro restaurantes para conhecer. O romântico, restaurante gourmet. O Connuco, de frutos do mar. O Don Perlone, o italiano. Claro que tem o buffet também. Esse nós vamos conhecer hoje, já que temos que fazer as reservas dos outros pela manhã.

–Se não vamos para nenhum restaurante hoje, porque estamos perdendo tempo aqui? - perguntou Sutton.

Ariana estava impressionada com o mau humor da amiga. Não se parecia nem um pouco com a dócil garota que havia conhecido na escola anos atrás.

–Porque, diferente de algumas pessoas, Ariana só está tentando ajudar.

A voz de Micael chocou a todos, mas ninguém pensou em contradizê-lo. Eles concordavam com suas palavras.

–Se ela quisesse nos ajudar, não teria nos colocado num hotel com apenas dois computadores. Tem ideia da fila que eu tive que enfrentar para conseguir mandar um e-mail para minha mãe? - Sutton revidou.

–Eu pensei que você tivesse demorado tanto tempo no banho - Ariana voltou a falar, dessa vez num tom mais hostil. - Ao menos, foi o que você nos disse quando chegou com uma hora de atraso.

–Meninas - Molly teve que erguer a voz antes que as duas começassem a brigar. - Olha o lugar maravilhoso que estamos! É loucura discutir uma com as outras por esses motivos bobos. Eu voto por amanhã irmos ao italiano e pronto.

E dizendo isso, ela colocou o drink na mesa dando a questão por encerrada.

–Digo o mesmo - falou James que não suportava intrigas e briguinhas.

–E o gourmet pode deixar para depois. Não estou com paciência para um jantar cheio de etiqueta e mimimi - pediu Peter sorrindo. - Até porque de mimimi já tenho a birrenta aqui.

E abraçou a garota que apesar de dar alguns socos em seu braço, aceitou o enlace.

–E os golfinhos? - Ariana voltou a perguntar. - É que aqui tem um programa para nadar com os golfinhos e tomei a liberdade de inscrever todos nós.

Nesse momento opinião se dividiram. Enquanto Sutton e Molly mal podiam esperar para o dia chegar, os homens não pareciam tão entusiasmados assim.

No meio do debate para decidir o dia que deveriam marcar o passeio Marcos chegou e, sem que eles percebessem, começou a gravar. Gostava da espontaneidade. E havia conseguido ângulos excelentes de Peter discursando e de Molly zombando dos garotos. Foi só quando Micael percebeu sua presença que ele foi obrigado a se revelar.

Para sua sorte, nenhum dos jovens se aborreceu em ser filmado sem saber.

–Boa noite, senhores. Vejo que todos já estão prontos para o jantar - Marcos os cumprimentou. - Por que não fazemos rapidamente os takes individuais?

–Posso ser a primeira? - Molly pediu. - Estou morrendo de fome!

Uma sensação que todos dividiam. Como só haviam comido no avião e haviam chegado à duas horas, o estômago vazio já dava sinais de protesto. Infelizmente estavam bebendo há alguns minutos e o efeito das bebidas deturpava o bom senso. Ariana e Molly principalmente, pois foram as que começaram a beber mais cedo.

–Claro, vamos gravar naquele canto afastado do Lobby, ao lado do vaso de orquídeas - informou Marcos com a câmera na mão.

Molly, tentando não cambalear, seguiu Marcos até o lugar indicado. Sentou-se sem saber o que fazer. O vestido nude parecia sumir em sua pele clara e ela imediatamente se lamentou por aquela escolha de figurino. Sutton e Ariana ficariam maravilhosas em seus takes, a primeira com o vestido preto de paetê e a segunda com o vermelho-sangue.

Tentou evitar se comparar com as amigas, mas sua mente já a torturava com a imagem das outras meninas, em sua cabeça infinitamente mais atraentes.

Suspirou.

–Pronta? - perguntou Marcos e ela assentiu. Ele apertou o comando de gravar e fez as perguntas. - Como está sendo a viagem até agora?

Molly mordeu os lábios. Sabia que deveria tentar ser diplomática como Dorian, mas a bebida lhe incitou a dizer mais que devia:

–Hoje foi um dia tenso. Para ser sincera, as coisas estariam melhores se Sutton e Ariana parassem um pouco de se implicar.

Do outro lado da câmera, Marcos sorriu. Ele não esperava que fosse tão fácil arrancar algo de interessante e logo no primeiro dia.

–Por que isso? - ele continuou a questionar.

–Bom, estar com a Sutton é sempre um prato cheio para o drama. Eu adoro isso. Acontece que eu gosto da agitação, não me levo tão a sério assim. Ariana não, ela sempre foi muito focada e acho que irresponsabilidade a irrita.

–Então você diria que Sutton é irresponsável? - Marcos concluiu.

Molly franziu a testa.

–O quê? Não. Eu não disse isso - Imediatamente se consertou com pavor só de pensar na reação da garota se ouvisse uma coisa dessas.

–Nesse caso, acha Ariana certinha demais? - Marcos prosseguiu agilmente.

–Não! - Molly exclamou veemente, mas a bebida fazia efeito em seu sistema e confundia seus sentidos. – Eu... Eu não sei. Quero dizer, qual foi sua primeira pergunta mesmo?

Marcos sorriu, tinha conseguido tudo que queria da garota.

–Por hoje é só - ele anunciou com um sorriso. - Pode chamar o próximo?

Molly se levantou e caminhou hesitante até a mesa onde os amigos estavam. Ela se sentia tão estúpida. O que exatamente havia acabado de fazer?

Ariana era a próxima, ela andou saltitante até o seu lugar e abriu um grande sorriso para a câmera. Mais uma vez, a bebida agia por trás das cortinas.

–Olá, estou pronta - ela disse e Marcos voltou a gravar.

–Como é seu relacionamento com Sutton?

Ariana arqueou as sobrancelhas. Por que aquilo era necessário para o filme? Pensou em interrompê-lo, mas como o vídeo já estava rodando, não queria atrapalhar.

–Somos grande amigas - falou com convicção.

–Acha que ela enxerga da mesma forma?

Que tipo de pergunta é essa?; Ariana desejava falar.

Ao invés disso, o que saiu foi:

–Às vezes acho que quando ganhamos tudo de mão beijada, não aprendemos a dar valor a nada. Talvez esse seja o problema da Sutton. - ela percebeu o que havia dito e tentou consertar. - Quero dizer, não que seja culpa dela. Não escolhemos nossos destinos, certo? Talvez só sejamos diferentes. Nunca nada foi fácil para mim. Uma relação legal com a família, dinheiro, ter um namorado, fazer amigos, carreira.

E com essas palavras, o sorriso no rosto de Marcos desapareceu.

Conforme Ariana abria o coração para a câmera a sua frente, o homem se sentia cada vez pior. Ele achou que não seria grande problema enrolar turistas para arrancar verdades e transformar o curta em um verdadeiro reality show pronto para ser comercializado por aí.

Achou.

Mas cada palavra inocente que escapava da boca de Ariana era um novo lembrete do tipo de pessoa que ele estava se transformando. Percebeu com pesar que não seria nada fácil produzir aquele curta.

E ainda assim, o faria.




Finalizados os takes daquele dia, os jovens foram jantar. A comida do buffet, claro, provocou algum comentário depreciativo da parte de Sutton.

Molly havia enchido o prato com a massa de bolonhesa fervendo. Ariana tinha planos de experimentar depois. Todavia, como aquela era a noite da comida mexicana, colocou vários nachos com direito a uma recheada cobertura de queijo por cima.

–Eu jamais colocaria algo disso para dentro sabendo que amanhã vou ter que ficar de biquíni - Sutton falou, mostrando com orgulho seu prato de salada e peixe.

–Birrenta, deixa as meninas comerem o que quiserem - Peter pediu.

–Para você é fácil falar - a garota retrucou. - Pode comer o quanto quiser e nunca engordar uma grama. Mulheres retém gordura com muito mais facilidade. E você realmente acha que acredito que está comigo apenas pela minha beleza interior?

O tópico do assunto chamou atenção dos homens.

–Você tampouco está comigo apenas pelo meu suntuoso bom humor - Peter observou sério. - Então estamos quites.

–Não, porque amanhã estarei com setenta por cento do meu corpo descoberto. Caso alguma piranha ache que está acima de mim, vai atacar no que é meu. E de todo modo, se eu virar uma baleia gorda, você vai me trocar por uma versão mais magra de moi. - explicou Sutton deixando todos na mesa abismados.

–Não é possível que você pense assim - disse Dorian horrorizado com aquela linha de raciocínio.

–Eu só falo verdades, estou sendo realista - a garota se defendeu.

Ariana e Molly, antes tão animadas para atacar a comida, depois do discurso tinham algumas reservas. A insegurança as havia contaminado.

–Mas talvez você esteja superestimando um simples prato de massa - Micael opinou. - Quer dizer, isso não tem o poder de transformar ninguém em "baleia gorda" - ilustrou as aspas com as mãos.

–Principalmente vocês que não tem problema com peso - acrescentou Dorian, preocupado que Sutton enchesse a cabeça de Molly com ideias desmioladas.

–Mesmo porque o que aconteceria conosco se ficássemos grávidas? Eles nos largariam? - disse Ariana sorrindo. - Ficaríamos verdadeiras baleias gordas.

–Nessa caso, sempre tem a empregada - brincou James rindo da própria piada.

Um momento de incômodo silêncio se seguiu depois daquela declaração.

Ariana o encarou com raiva. Sem avisos, ela arrastou a cadeira se levantando de forma abrupta, atraindo os olhares de metade do salão. Com a face rubra, deixou a mesa rumo ao banheiro feminino.

Molly e Sutton trocaram olhares e quase como se alguém as tivesse coreografado, seguiram a amiga ao mesmo tempo.

–Cara, isso não foi legal - comentou Peter, comprimindo os lábios.

–Não foi mesmo - concordou Dorian - Devia ir até lá e pedir desculpas.

James não se abalou.

–Não, daqui a pouco ela esquece.

–Ela parece bem chateada - Micael comentou.

James finalmente se irritou com todos dando palpite na relação que tinha com Ariana.

–Eu cuido da minha namorada, valeu?

Os outros simplesmente ergueram as mãos para cima num sinal mudo de desistência.

Depois de alguns minutos as três garotas voltaram. Ariana tinha os olhos vermelhos, o que denunciava que havia chorado. Tanto Molly quanto Sutton lançavam olhares reprovadores a James, que fez questão de ignora-las.

Quando o grupo chegou à discoteca, Ariana não parou de pedir drinks. E assim que eles chegavam, os drenava com poucos goles. Estava determinada a se embriagar.

James, preocupado com o comportamento da namorada, a puxou para um canto.

–Você sabe que eu não falei sério mais cedo.

–Tem ideia de como aquilo me envergonhou? - ela gritou furiosa. - E depois do que aconteceu...

–Para! Nós prometemos não falar daquele assunto nunca mais, se lembra?

Ariana assentiu querendo encerrar logo a conversa. A bebida a impeliu para a pista de dança.

–Quero dançar! - ela exclamou jogando as mãos para o alto.

–Não, você bebeu demais.

James tentou segurá-la, mas Ariana já havia se desvencilhado e agora caminhava para a pista ao lado das amigas.

Ela conhecia a música que tocava, era de um filme que ela e James assistiram juntos. Se beber, não case. Ironicamente o motivo da briga tinha um pouco a ver com machismo e piadas idiotas.

James adorou o filme. Ariana odiou.

Não queria pensar no namorado naquele momento. Queria esquecer tudo que a fazia mal. Deixar do lado de fora o tóxico que impregnava sua vida.

Agitando os braços para o lado e mexendo a cintura do modo mais desavergonhado que já deve ter feito, começou a dançar no ritmo da batida. Molly e Sutton a acompanharam. O som começava a entrar em seus poros, fazer parte dela. Deixou que o som a movesse. Deixou que a adrenalina corresse pelas veias.

Enquanto a batida ditasse seus movimentos e seu corpo vibrasse com a música, estaria bem. Ela se sentia confiante, como se nada mais pudesse atingi-la. Era a famosa euforia causada pela bebida.

Mas por aquela noite, Ariana não se importaria em sucumbir ao efeito do álcool. No meio de seu transe, mal percebia que um par de olhos estava cravado em suas curvas e em cada movimento que fizesse.

E esses olhos não pertenciam a James.


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Notas finais do capítulo

N/A: Oii!
Muito obrigada quem leu e quem comentou! Os capítulos saem segunda e sexta!
Cora, muito obrigada pela capa, eu adorei! :)
Se tiver algum errinho, me avisem. Eu reviso, mas algo sempre passa..

Agora, tenho informação extra:

Se alguém quiser acessar o site do hotel que eu me inspirei é esse aqui: http://www.melia.com/pt/hoteis/cuba/varadero/melia-las-antillas/index.html

A cascata verde que Ariana fala que viu:
https://fbcdn-sphotos-h-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xpf1/v/t34.0-12/10945928_808740085858718_726375101_n.jpg?oh=33c21a57eac06abebb1fb15cd3acea2d&oe=54C8939A&__gda__=1422430791_f806fae976af9a1f0d64603f26e7f832

Aqui a música que ela dançou no final do capítulo, Right Round:
https://www.youtube.com/watch?v=TDq4kXCskgM

PS.: Pretendo criar uma página no facebook para a história. E lá vou colocar essas informações extras, o trailer e muito mais.



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