Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 26
Brandon


Notas iniciais do capítulo

E estamos chegando ao final de mais uma fanfic de League of Legends (as únicas que pareço conseguir terminar).

Como vocês podem ter notado (pela quantidade de personagens originais e a importância que dou a eles) eu gosto muito trabalhar com os meus personagens e minhas próprias histórias, embora eu pegue muita coisa emprestada da história oficial do LoL.

Sei que as vezes pode ser difícil acompanhá-los tendo mais destaque do que muitos personagens do jogo que tem uma backstory muito, muito bacana de explorar, mas vejo isso também como uma oportunidade de conhecermos novas histórias e novos pontos de vista sobre personagens já conhecidos.

Apesar das dificuldades, permanecemos juntos até aqui. Então obrigado a cada um de vocês que leu/está lendo, apoiou, criticou, me ensinou a usar vírgulas antes do “mas” (sério, eu não sabia). Tudo isso foi muito importante para mim e para o desenrolar da história, e espero que para vocês também.

Obrigado por tudo, e espero que gostem!

(Ainda teremos um epílogo na semana que vem)



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A fumaça e o fogo já tinham saído de controle, assim como a situação. Várias projeções de tela com exclamações vermelhas irrompiam na sua frente e o seguiam, mas Brandon não tinha tempo de vê-las. Não precisava delas para saber que as coisas estavam ruins. Muito ruins. Seu braço quebrado estava inútil e ele não precisava daquela dor excruciante para lembrá-lo disso.


O gosto de sangue enchia a sua boca assim como ele sentia o lado direito do rosto inchar. Tossindo muito e segurando o braço ruim, ele se dirigiu até o controle principal e digitou algumas coisas na tela com o braço que ainda funcionava. A queda, que quase não era sentida no castelo, foi retardada, mas ele sabia que era apenas temporário. A Ilha de Doran estava condenada.


Tinha uma salvaguarda, apenas uma, para aquele tipo específico de situação. Como o arrogante que tinha sido, não imaginava um cenário onde sua obra-prima despencasse dos céus. Por sorte, ele agora entendia. Tudo cai, tudo morre e tudo acaba. Aquela era a apenas a confirmação.


Um contador surgiu na sua frente, apenas as projeções dos números brilhando na sua frente, indicando o tempo restante. Seu tempo restante. Ele sorriu. Aquilo era libertador. Tinha quatro minutos antes de cair para a morte, o que significava que tinha três minutos para viver, e verdadeiramente viver. Sim, porque, talvez pela primeira vez, o cientista não precisava pensar no próximo passo, no próximo plano. Enfim, vida para o filho da morte.


– Quão ruim? – Riven perguntou do chão. Ele não tinha ideia de que ela estava consciente, mas duvidava que pudesse se mexer. Ele mesmo mal podia.


Tinham se conhecido, dias atrás, naquele mesmo castelo. Ele tinha lhe prometido uma fuga dali e, de certa forma, tinham conseguido. Brandon não acreditava em destino, mas aceitava aquela irônica coincidência: aparentemente, morreriam ali de qualquer forma. Por sorte, cientistas não viviam de aparências.


Erguendo o indicador para a noxiana, ele tentou um gracejo:


– Me dê um segundo que eu posso consertar a situação. – Então ele fez uma pausa para respirar fundo, o que era difícil com toda aquela fumaça. A dor do braço fazia sua cabeça girar. Prometeu a si mesmo que, caso sobrevivesse, não esqueceria aquela dor. Era um bom começo para evitá-la da próxima vez. – Não, não posso.


Ela o fitou. Os cabelos do cientista estavam tão embranquecidos quanto os dela:


– Brandon…


Ele já tinha percebido: - Não é nada… - “…que eu consiga consertar”, ele não completou. Não queria preocupá-la mais. A dor aumentava a cada segundo, assim como sua vida diminuía. O mundo se dissolvia ao seu redor e ele achou que fosse desmaiar. Como as coisas tinham acabado assim?


Antes…


Um dos desafios de construir uma ilha voadora era, basicamente, entrar e sair. A menos que você tivesse asas ou pretendesse viver ali para sempre, algo precisaria ser pensado a esse respeito. Brandon Beck tinha levado quatro meses projetando um sistema de teletransporte baseado em coordenadas. Algo inovador, mas longe de seu hall de grandes invenções. Até aquele momento.


– Pessoal! – Ele falou, quando encontrou o trio. Todos vivos e bem, apesar de um outro arranhão. Queria se preocupar, mas o tempo urgia. Pelo menos, era o que dizia para si mesmo, temendo a verdade: não se preocupava mais. Erguendo o seu cilindro de comunicação, falou: - Ok, Ellie, sua vez.


Para o nível de Brandon, Ellie não era particularmente inteligente. Tinha sido escolhida para administrar a Ilha de Doran ao seu lado por ser organizada, não pelo intelecto. Contudo, ela podia ser capaz de surpreendê-lo algumas vezes e ele agradecia por essa ser uma delas. Manipular o teletransportador debaixo do nariz (particularmente grande) de Tesla era um feito digno de ser lembrado por gerações. Caso sobrevivessem para contar.


A sensação de ser esticado, dividido em átomos e depois molecularmente reorganizado era relativamente agradável. Não era o seu meio de transporte preferido, mas tinham jeitos piores de morrer caso desse errado. Além disso, era rápido o suficiente para fazer qualquer futurista aceitar qualquer risco envolvido.


O castelo não estava como ele se lembrava. Se um dia o lugar pareceu com um lar, não parecia mais. Ele sabia que já devia ter se acostumado. O Instituto, Piltover, e agora, aquilo. As paredes de pedra negra não eram charmosas ou convidativas, mas sufocantes. Todo o lugar lembrava uma prisão. Uma onde ele não gostaria de estar.


Ofelia e Ellie manipulavam uma máquina construída quase toda baseada no antigo teleportador. Um pouco steampunk demais para os padrões do cientista, mas ele imaginou que não deveria julgar. Tinham feito mais que o suficiente, certamente mais do que ele esperava delas.


– Brandon! – Ofelia exclamou, sorrindo, quando o viu. Apesar do semblante levemente preocupado, ela continuava a mesma. Ele se perguntou se parecia diferente aos olhos dela.


Não conseguia tirar as palavras de Leona da cabeça, então tentou se concentrar em outra coisa, limitando-se a acenar para as amigas e voltando-se para o trio que o acompanhava:


– Sabem o que fazer. – Anunciou com firmeza e eles assentiram. Tinham passado por muitas coisas, mas estavam próximos do fim. Tão próximos…


– E o que nós fazemos? – Ellie perguntou, apontando para si e para Ofelia. Ela sempre fora durona, mas o período com Warlock tinha deixado-a particularmente mais furiosa.


O cientista se aproximou dela, abraçando-a. Não porque quisesse, mas por sentir que era o que ela precisava. Não tinha espaço para amizade, apenas estratégia. Sentiu-a tremer levemente, quase cedendo às próprias lágrimas enquanto tudo voltava à tona.


– Você já fez o suficiente. Estamos com você agora. – Seu olhar encontrou o de Ofelia e ele o desviou para o chão, bem a tempo de notar.


A primeira explosão veio de baixo. Ele enxergou o chão rachando um segundo antes da baforada de fogo e destruição alcançá-los. Antes mesmo do som gerado pela mesma perfurar os seus tímpanos ao ultrapassar o limite de décibeis que a membrana do ouvido suportava.


Um segundo. Tempo suficiente para segurar Ellie com uma força maior e se impulsionar na direção contrária, torcendo para que fosse o suficiente. Sim, torcendo, pois naquele segundo o cientista também podia se dar ao luxo de torcer. Não contra a explosão em si, mas contra os efeitos da mesma.


Ele sabia o efeito moral daquilo. Era como se estivessem em desvantagem, impotentes perante um inimigo natural e invencível: O fogo. Mas o fogo gerado pela explosão não era o seu inimigo, e sim o seu manipulador. Além disso, a estrutura ruía ao seu redor e era onde o perigo começava.


Pedras negras caíam ao seu redor e ele quase não ouvia o estrondo violento que elas faziam ao se chocarem contra a superfície áspera do piso. O buraco no chão se expandia como uma boca tencionando devorar tudo enquanto o calor das chamas lambia e mordiscava o seu corpo incomodamente.


– Não. Não! – Brandon exclamou, apesar do barulho e destruição, quando o viu. – Não você!


Aung Suu Warlock tinha vindo para a batalha final.


Agora…


“Não posso desistir agora.”


Ele ofegava. Seu corpo implorava por descanso. Era como se mil agulhas o espetassem simultaneamente em cada lugar que doía. Cada sentido de seu corpo o traía, conspirando para que ele se rendesse ao cansaço logo.


Um passo. Depois o outro. As pernas bambeavam em uma luta para sustentarem-no. Em sua jornada, ele tinha valorizado muitas das coisas que possuía enquanto lentamente as perdia. Mas nunca antes algo tinha feito tanta falta quanto a habilidade de cura que tinha. Era ela que o permitia levantar quando não tinha mais esperança ou força. Apenas ela.


Um passo apressado em falso e ele ameaçou cair quando Riven surgiu, cedendo o pescoço de apoio para o braço do cientista enquanto enrolava o braço ao redor de seu tronco. Ela arriscou um sorriso diante do olhar surpreso dele. E juntos, arriscaram seus passos pelo castelo, dando apoio um ao outro.


Antes…


– E enfim, isso acaba. – O ioniano falou, flutuando alguns metros sobre o cientista caído e sobre o buraco que tinha feito. – Sem armadilhas. Sem truques baratos. Eu e você, como deveria ser.


Seu ouvido zumbia embora ele ainda pudesse ouvir o ioniano. Ele sentia uma desmaiada Ellie sobre si, embora não tivesse sinal dos outros. Não se atreveria a olhar para os lados. Não contra Warlock.


– Warlock, você não sabe o que está fazendo… - Ele tentou argumentar em vão.


– Eu estou salvando o mundo! – Warlock berrou em fúria, liberando, talvez involuntariamente, uma quantidade massiva de energia roxa ao seu redor e derrubando mais da estrutura já comprometida. – Salvando-o de pessoas como você! Você!


Ele disparou várias bolas de energia e Brandon sentiu que o fim tinha chegado. Tentou se colocar sobre Ellie para protegê-la, mas o seu próprio medalhão foi mais rápido. O escudo solari foi ativado sobre os dois, protegendo-os das rajadas de energia do ioniano.


O cientista ergueu a mão e viu o próprio medalhão disparar através dela uma rajada dourada contra Warlock que foi arremessado na parede oposta, ou no que sobrava dela de pé. O cientista olhou para a própria mão, surpreso. De certa forma, fazia sentido, tinha adquirido aquele medalhão para deter o ioniano. Porém, aquele poder lhe causava uma sensação de estranheza, como se dele não fizesse parte.


Movendo a mão com um gesto, ele removeu os escombros atrás de si, revelando Kristofer, Vayne e Riven quase intactos e conscientes:


– Uau. – Riven deixou escapar, enquanto Vayne erguia uma sobrancelha por trás dos óculos vermelhos. Se Kristofer tinha se impressionado, não deixava mostrar, embora tivesse um sorriso satisfeito no rosto.


Então Brandon notou o que os impressionava. Seu corpo brilhava em dourado como um sol em ascensão e exalava uma aura quase restauradora.


– Vão deter Tesla. Eu cuido disso. – Ele informou, abrindo uma passagem para eles apenas com um gesto.


Agora…


– Ativar protocolo Casamata. – Brandon falou para o computador, que piscava luzes vermelhas.


– Seu código de identificação? – A voz virtual respondeu.


Sua memória fugia. Tantos códigos, alarmes, portas e coisas para se ver. Coisas para se fazer.


– RG-3K. – Uma voz falou atrás de si, fazendo o computador mudar suas luzes de vermelho para verde, iniciando o protocolo. – Você nunca muda as suas senhas?


Kristofer parecia pior do que eles dois, com um feio ferimento no abdome, e ainda assim carregava uma Vayne inconsciente. Ele suspirou ao ver as projeções dos números. Metade de seu tempo tinha esgotado, estavam mais próximos do que nunca de cair. O tremor do lugar estava cada vez mais intenso.


Antes…


– Kristofer! – O rosto de Tesla se iluminou ao ver seu ex-companheiro. – Você voltou, irmão!


– Não somos irmãos. – Cortou, avançando sobre o console.


– Ah, você quer fazer isso do jeito difícil. Que seja. – O cientista mau sorriu, apanhando uma pistola que disparava lasers e pressionando o seu botão, alvejando todas as direções que podia.


Vayne rolou pelos cantos da sala, desviando dos disparos ao seu redor enquanto Riven se defendia com a espada, novamente reconstituída pela sua técnica de vento. Kristofer, por outro lado, apenas continuava avançando, sem se importar com a linha de fogo. Era um soldado. Uma arma. Apenas atirava na direção que lhe apontavam. Mesmo quando um dos disparos atingiram o seu ombro, ele não parou.


– Não se mexa. Está jogando um jogo muito perigoso, Kris. – Tesla gargalhou, direcionando o indicador para um botão em especial no console. – Posso matar todos lá embaixo antes mesmo dessa guerra começar.


– Vá em frente. – Ele replicou seguramente. – Em seguida, o que acha que eu faço com você?


– Você? Ainda não ficou “bonzinho” depois de andar ao lado da guarda do arco-íris? – Cuspiu com desdém.


O canto da boca de Kristofer tremeu e nem ele sabia se era escárnio ou fúria: - Viktor não é nosso aliado. Ele está nos usando. Ou pior, sendo usado.


– Foi isso o que te disseram?


– É a verdade. – Respondeu, levantando as mãos, esperando inspirar alguma confiança.


Foi quando Tesla atirou de tão perto que ele não pode deixar de ser atingido. O laser perfurou seu abdome fazendo-o gritar enquanto queimava-o por dentro.


Vayne e Riven investiram contra Tesla, que ativou um campo de força repelindo-as com o toque de um botão:


– Vocês ainda não entenderam. Esse é o meu território, não o de vocês. – E gargalhou, pronto para apertar o botão do console.


Do outro lado do castelo, Brandon e Warlock trocavam rajadas de energia entre si. Mesmo sendo um novato no quesito de “manipular energia quântica e usá-la para alvejar outra pessoa”, ele estava se saindo muito bem. Seus esforços se dividiam entre acertar Warlock e proteger Ellie dos danos colaterais que ele causava na estrutura.


Tinha também que se preocupar com Ofelia. Tinham se separado na explosão e ela poderia estar em qualquer lugar abaixo dali. Infelizmente, Warlock não tinha as mesmas preocupações. Na verdade, ele não tinha mais preocupação alguma. Brandon percebeu que estava lutando contra um homem que já tinha perdido tudo.


– Você acha que pode me vencer? Você?! – O ioniano vociferou, lançando mais energia pela sua Força da Trindade na direção do cientista. – Eu fui iluminado em tantos caminhos! Vi tantas coisas! Eu sou Warlock!


Pela primeira vez, a energia que Warlock manipulava tomou forma. Lentamente, algo se formava com o poder que ele se liberava. Primeiro, uma garra para logo dar espaço a uma mão inteira e dela surgir um corpo.


A criatura de energia roxa investiu contra Brandon que viu o seu escudo Solari se partir contra a manifestação física do poder da Trindade. A bestialidade atacava como se tivesse vida própria e cujo único propósito fosse ceifar tudo que se movesse. O frenesi assassino tomava conta do monstro que emulava as emoções de Warlock.


Brandon fez um gesto, colocando Ellie em uma bola de energia antes de arremessá-la para longe, em segurança. O que lhe custou segundos indispensáveis que lhe fizeram se arrepender quando a criatura lhe atacou com uma garra pela lateral.


O medalhão reagiu por conta própria enviando uma explosão de energia pelo seu braço a fim de repelir o ataque da besta, atirando cada um deles em direções opostas. A próxima coisa que ele sentiu foi o peso das rochas caindo sobre si e a dor que tomava o seu braço, quebrado pelo acúmulo excessivo e inesperado de energia.


“O que você está fazendo?!”, uma voz em sua mente o repreendeu e ele sabia do que ela falava. Tinha aberto mão da vantagem tática para proteger Ellie e isso quase lhe custara a vida. Ainda assim…


“Não posso deixar de proteger os meus amigos!”, ele respondeu para si mesmo, esperando que fosse suficiente. Tentou se mexer e viu que não podia. Estava quase completamente soterrado.


– Isso o deixa fraco. – Ele ouviu a voz de Warlock dizer do outro lado, como se soubesse o que ele pensava. – Esses laços. Essas ligações. Vamos cortá-los.


E ele removeu as pedras com um gesto, revelando o cientista caído. Brandon olhou para cima. Sempre estava olhando para o ioniano de cima e ele sempre estava daquele jeito. Imponente, mesmo quando inferior ou errado. Sempre imponente.


– Onde eu aperto para calar a sua boca? – Ele replicou, irritado. Tocou de leve o braço apenas para senti-lo doer em toda a sua extensão. Estava em mais desvantagem do que nunca.


Warlock o olhou com compaixão: - Está tudo bem, Brandon. Ignore a dor, deixe tudo ir. Já vai acabar e eu estou tomando conta de você. Eu estou tomando conta de Runeterra.


– É… - Ele concordou ironicamente, se levantando com o braço bom. A essa altura, já deveria ter se regenerado, mas o zumbido em seus ouvidos continuava e o braço continuava inútil. – Você é uma péssima babá.


Warlock voou em sua direção tão rapidamente que ele não teve reação alguma até ser jogado de costas contra a parede, com o ioniano pressionando o seu pescoço com o antebraço.


– É assim que você acaba. Sozinho. Sangrando. No seu castelo voador, o símbolo de toda a sua arrogância. Pode ouvir isso, Brandon? O barulho da morte se aproximando? – Ele perguntou, aproximando a mão roxa do rosto do cientista.


Bzz


– Na verdade… - Brandon respondeu, afastando o rosto. – Esse me parece outro barulho.


Warlock gritou de dor quando a faca de estática o espetou por trás, desferindo uma carga de eletricidade extremamente potente que o fez cambalear para o lado desorientado e cair no chão. Alguns centímetros atrás de onde ele estava, Brandon viu Ofelia segurando a faca que ainda emitia seus sons.


– Por que você guarda isso aqui? – Ela perguntou, segurando o cabo com força para não encostar acidentalmente nas lâminas.


– Para esse tipo de ocasião. – Respondeu secamente, segurando-a com o braço bom para saírem dali, antes de perceber que as pernas também não estavam em seu melhor estado. – Você está bem?


– Você está perguntando isso para mim? Olhe o seu braço…! – Ela tentou tocá-lo com suavidade, mas ele segurou a sua mão. Pela primeira vez, seus olhos se encontraram sem que ele recuasse.


– Eu estou bem. – Ele afirmou, incerto.


Ela passou a mão em seu rosto cheio de fuligem e poeira, com a mais leve sugestão de tristeza em seus olhos.


– É sempre assim com você. – Ofelia fungou, recuando para que ele não a visse chorando. – Mesmo com todas as coisas terríveis dos seus últimos anos, você continua se recusando a nos deixar ajudar. Só dessa vez, Brandon, você não pode me deixar fazer parte de sua vida?


Sua reflexão durou menos de um segundo, pois Warlock gritou nas suas costas: - Esse homem não tem mais vida!


Seus construtos de energia tomavam formas cada vez mais elaboradas. Machados, espadas, maças, às vezes os três simultaneamente. Também tomavam formas de pessoas, brilhando em roxo, todos avançando sobre Brandon.


O cientista empurrou Ofelia para trás com o braço bom, se jogando indefeso sobre os construtos do ioniano, torcendo para que o medalhão não o deixasse morrer, e ele assim o fez, criando um escudo que, embora poderoso o suficiente para protegê-lo daquela investida maciça, consumia tanta energia que ele se sentia sendo sugado.


– Essas são as pessoas que morreram sob sua responsabilidade, Brandon Beck. Você se lembra delas? De cada uma delas? – O ioniano provocou, enviando uma horda cada vez maior.


E Brandon lembrava deles. A maioria era de invocadores da batalha de Icathia, mortos lutando contra os Trolls do gelo, ganhando tempo para que a Liga o resgatasse. Tinha se comprometido a lembrar o nome de cada um, mas agora mal lembrava o seu número. Apenas os rostos desapontados traziam alguma familiaridade.


O resto ele nunca tinha visto, supôs que tinham sido ionianos. Mortos em incursões que ele tinha permitido que acontecessem. Sua vontade enfraquecia a cada espectro de cadáver que socava o seu escudo de energia, que enfim se partiu em milhares de pedacinhos de energia quântica antes de se desfazerem no ar sem deixar nenhum vestígio.


– Diga, Brandon. – Warlock falou, colocando o pé sobre o peito do cientista caído. – Você algum dia se importou com essas pessoas? Ou elas eram pequenas demais? Menores do que você? Assim como eu?


– E-Eu me importo! – Contestou, mal tinha forças para tentar se libertar.


– Diga que se arrepende. Diga que… Oh, isso não vai funcionar duas vezes, mocinha. – E em um estalar de dedos, uma mão de energia roxa saltou do chão, agarrando Ofelia que se esgueirava novamente por trás do ioniano. – Eu tive um vislumbre da sua mente no Instituto. Foi como ver a mim mesmo alguns anos no passado.


– Warlock, ela não faz parte disso. Isso é entre mim e você. – Ele pediu, por mais que a voz em sua consciência contestasse: “espere ele se distrair com ela, então ataque-o!”.


Warlock continuou como se não o ouvisse: - Eu a amava. Caroline, era o seu nome. Você sabia disso, Brandon? – Então se virou novamente para Ofelia. – Caroline Suu Warlock. Eu a amava tanto quanto você ama o seu querido cientista, ovelhinha.


– Então faça essa história ter um final diferente. – Ela argumentou, presa no aperto da mão gigante. – O que Caroline ia querer?


– Ela quereria que eu tivesse piedade. – Warlock falou, contemplativo. – Misericórdia. Eu te darei uma escolha, ovelhinha. Você escolhe quem vive e quem morre aqui hoje.

– - -


– Não posso deixá-lo fazer isso. – Kristofer segurou a mão de Tesla antes que ele tocasse no botão. O próprio laser havia cauterizado o ferimento feito, embora a dor fosse sem comparação.


Tesla rugiu, socando-o três vezes na ferida, mas Kristofer não recuou. Não importava realmente se ele estava ou não do lado deles, sempre odiara Tesla e aquilo era mais do que o suficiente para não recuar.


Com o pé, jogou Tesla pelo console ativando vários botões simultaneamente enquanto o corpo do vilão atritava contra eles. Um dardo veio rapidamente em sua direção, e ele quase não teve tempo de tornar sua pele invulnerável. Não perderia dessa vez, não decepcionaria o seu mestre. Quando deu por si, Riven estava sobre ele, com a espada vindo em sua direção.


Ele rebateu a espada com a própria mão ou, pelo menos, tentou, conseguindo apenas não ser ferido pelo golpe. Lembrou-se que não tinha sua força aumentada enquanto estava invulnerável e a raiva borbulhou em seu âmago.

“Você não pode bater em um de nós, pois vai apanhar do outro. E seu orgulho te impede de ficar só na defensiva por muito tempo, não é?”, as palavras que Ezreal e Sivir tinham dito um ano atrás, um pouco antes de Kassadin nocauteá-lo por trás, ressoavam em sua mente. Como tinha sido derrotado por um trio de idiotas? Não deixaria a história se repetir.


– Insetos! Todos vocês! Meros insetos! Vou matar cada um de vocês! – Ele urrou, alterando para a força ampliada e arremessando um pedaço do console na direção de Riven, que foi pega de surpresa.


– Vayne, cuidado! – Kristofer alertou, prevendo o que ia acontecer a seguir, mas era tarde demais. Tinha acabado antes que ele pudesse ver.


Quando não manifestava sua força ou invulnerabilidade, Tesla tinha outro dom: a velocidade. Vayne não teve tempo de ouvir os avisos ou rolar para outro lado antes de Tesla enfiar uma faca em suas costas e seu corpo cair sem vida.


Kristofer tentou detê-lo, mas Tesla era rápido demais. Alternando para força novamente, ele socou uma coluna, fazendo o lugar ruir sobre eles, sabendo que quando alternasse para invulnerabilidade, sobreviveria àquilo.


– - -


Warlock repeliu o ataque desesperado de Brandon, dissipando a fraca porção de energia que ele conseguia atirar como se fosse insignificante:


– Então, o que vai ser, ovelhinha? Você ou ele? – Warlock perguntou, animado com a expressão que ela fazia.


– Se eu decidir morrer, você promete que ele vive? – Ela perguntou, cautelosamente, ignorando os protestos do cientista:


– Ofelia, não, não!


– Um deus cumpre as suas promessas. – Warlock respondeu calmamente, olhando maldosamente para Brandon.


– Faça. – Ela se resumiu a dizer, sorrindo corajosamente para o cientista.


Quando a fúria de Brandon irrompeu, o tempo ao redor se estilhaçou e a própria ilha tremeu como se estivesse submetida à fúria de algum deus. Passado, presente, futuro, tudo se resumia ao grito furioso do cientista.


Pela primeira vez em um ano, seus poderes temporais retornavam.


Agora…


– Você pode ir com elas. – O cientista apontou para a casamata que continha Riven e Vayne, ambas dormindo. – Ou ficar aqui comigo.


– E morrer? – Kristofer replicou, fazendo um gesto de dispensa com a mão. – Não, obrigado.


– Talvez. – Ele comentou, sonhador. O horizonte era muito bonito, ainda que estivesse quase despencando daquele céu como o indigno que era. – Vou apostar nas minhas chances.


– Você é louco. – Kristofer afirmou, fechando a casamata consigo do lado de fora. – Não vou negar que eu gosto disso.


O contador chegou a zero. A ilha enfim caía totalmente, assim como uma lágrima do cientista. Era o fim.


Antes…


– Você quer poder, Warlock? – Ele perguntou, lançando rajadas do próprio medalhão no ioniano. Os cabelos outrora negros, agora brancos como nuvens. – Isso é poder! Poder ilimitado!


O ioniano não esperava tamanha força. Seus construtos eram irrisórios contra o poder que Brandon invocava de sua adormecida cronodisplasia. A energia temporal liberada não rachava estruturas e sim o próprio tecido da realidade. O tempo estava quebrando como vidro.


Ofelia assistia a tudo de um canto, após ser soltada pelo construto de mão de Warlock, que tinha assuntos maiores para se preocupar. Ela sabia que precisava deter Brandon, já tinha testemunhado os seus poderes em ação antes e não queria ver aquilo de novo.


– Brandon! Você precisa parar! – Ela exclamou, mas ele não ouviu. – Brandon!


Ofelia correu em sua direção, desesperada. Tinha que fazê-lo ouvir, fazê-lo parar.


Com um sorriso enlouquecido, o cientista rachou o espaço ao redor de onde Warlock existia, vaporizando tudo como se nada fosse. Então, a tempestade temporal passou. O cientista parou, ajoelhado no chão, fitando as próprias mãos. Tinha acabado.


Olhou para onde Warlock antes estivera e viu os estragos que tinha feito. Pedra, pó, aço, carne. Tudo tinha sido consumido da mesma maneira. O tempo sempre consumia tudo. Era invencível e indomável.


– Brandon. – Ele ouviu algo mais que um murmúrio, um sussurro fraco e quase sem vida. Com o braço bom de apoio, levantou-se para checar o que o tinha chamado. Era Ofelia.


Ele não a tinha visto enquanto descarregava sua fúria, mas agora a via. Um pequeno, mas fatal, ferimento causado por uma de suas rachaduras temporais. Ele sabia que ela quase não o sentia, embora sentisse a sombra fria e aconchegante que ele próprio sentira várias vezes: a morte.


– Não se mova, eu posso consertar isso. – Mas sabia que não podia. E ela também.


Ofelia passou a mão pelos cabelos brancos do cientista: - Do jeito que estavam quando eu te reencontrei. Você se lembra?


– Lembro. – Ele segurou a sua mão. – Você estava linda.


– Mentiroso. – A moça riu, antes de completar. – Você é um péssimo mentiroso, Brandon Beck.


Ela tossiu um pouco de sangue e ia ficando cada vez mais pálida.


– Eu tento. – Ele justificou, mexendo a mão dela com a sua enquanto sentia o rosto ficar quente. – Ei, não durma. Fique mais um pouco comigo.


– Eu não quero morrer. – Ela lamentou, com as lágrimas enfim rolando. Tinha sido brava enquanto podia. Agora, provavelmente sentia o seu corpo traindo-a. – Será que eu vou pro céu?


– Ofelia, eu não acredito em… - Ele começou, mas parou ao ver o olhar esperançoso e lacrimoso dela. Leona estava errada, afinal. Ele ainda a amava. – Sim. Vai ser a primeira da fila.


Ela devolveu o sorriso que o cientista lhe dava, e esse foi o seu último. Assim como a lágrima derramada por ele era a primeira em muito tempo.


– Eu te amo. – Ele sussurrou, sabendo que ela não ouviria. Nunca mais.


Foi quando todo o castelo começou a tremer.


– - -


– O que está acontecendo? – Vayne perguntou, sem o ferimento nas costas e cercada por rachaduras vindas de lugar nenhum.


– Brandon está acontecendo! – Kristofer explicou, irritado. Não esperava aquilo, embora fosse sua culpa indiretamente. Tinha dado aqueles poderes ao cientista anos atrás. – Fiquem longe das rachaduras.


Após um tempo, as rachaduras tinham consumido todos os escombros e revertido algumas coisas. O vidro das janelas tinha virado areia e Vayne, antes morta, tinha ganhado uma segunda chance. Então tudo se normalizou, passando tão rápido quanto tinha chegado.


– Alguém detenha-o! – Riven exclamou, do outro lado da sala. Quando Kristofer se virou, Tesla já estava alcançando o botão, aproveitando a distração. O disparo tinha sido efetuado.


– Venci. – Tesla afirmou, satisfeito.


– Comando manual 12: Desativar travas. – Uma voz ecoou pelo castelo. Era Ellie. – Brandon, essa é a última vez que vvocê vai me ouvir. Então, eu queria agradecer por tudo. Tudo mesmo. Estou orgulhosa de dar o troco nesses bobões.


– O que ela está fazendo? O que ela está fazendo?! – Vayne exclamou, sentindo todo o castelo tremer novamente.


– Parando o disparo da única forma que pode! – Kristofer explicou, se segurando no que podia. – Manualmente.


– Isso significa…


– Que ela vai morrer para que milhares vivam. Sim. – Kristofer admitiu. Tinham falhado e ela pagava aquele preço. Se lembrou do motivo de não ser heroico. Os heróis nunca venciam.


– Não! – Tesla exclamou, ativando um outro botão. – Se eu não terei a glória, nenhum de vocês ter…!


E ele explodiu em uma rajada dourada quando Brandon entrou na sala, com um olhar mortal, tomado pela ira:


– Já estava cansado desse cara. – Olhou ao redor, um pequeno incêndio começava e o aviso do botão de Tesla tinha sido breve: autodestruição.


Quando parte do castelo explodiu e a ilha começou a cair, Brandon percebeu que seria o fim definitivo.


Agora…


A força do impacto era devastadora. Uma grande onda tinha sido formada, mas estava distante o suficiente dos navios noxianos para constituir uma ameaça, embora as marolas por ela formadas tivessem alcançado mesmo aqueles navios.


Nada poderia sobreviver àquilo. Exceto a casamata previamente preparada. E um gênio bem preparado.


– Uau. Tem certeza de que elas sobreviveram? -Kristofer comentou, da distância onde estavam, a queda parecia feia.


– Sim. – Ele respondeu, retirando o medalhão do pescoço. A bolha de energia quântica que os salvara da queda tinha sido sua última utilidade. No momento que ele o retirou, seus ferimentos voltaram a se curar. Mas não a sua cronodisplasia. – Heh.


– Brandon…


– Tudo bem, eu já esperava por isso. Não importa mais. Brandon Beck está morto. Pelo menos, para o mundo. – Ele sentou na grama da montanha onde estavam. – Eu nunca a disse que a amava.


Kristofer se sentou ao seu lado: - Lamento. – E então ficaram um bom tempo sem falar nada. – O que você acha que vai acontecer com o mundo agora?


Ele pensou por alguns segundos antes de responder: - Liga das Lendas.


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