Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 25
Paz




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Udyr tinha vários talentos, e embora os exércitos noxianos desconhecessem ou ignorassem, ele era uma das pessoas mais importantes naquele campo de batalha. Na função de Andarilho Espiritual, o xamã caminhava entre os dois mundos: O físico e o metafísico, ou o dos homens e o dos espíritos.


Ainda que tudo isso soasse muito ioniano, Udyr pertencia, na verdade, a uma antiga casta de Freljord. Se o Andarilho Espiritual atualmente lutava por Ionia e suas causas, era graças a Lee Sin, o monge cego, que havia lhe mostrado o caminho para o equilíbrio quando tudo parecia perdido. Nem em seus sonhos mais loucos, Udyr imaginou que um dia lutaria contra alguém que não fosse a Bruxa Gélida. Esse dia, para o bem ou para o mal, tinha chegado.


Incorporando o espírito da tartaruga em uma grande aura verde que o envolvia como um escudo, ele jazia embaixo da água esperando pela aproximação dos navios noxianos. Ou pelo menos, essas eram as ordens da duquesa. E seriam cumpridas. Parcialmente. O xamã sabia que aquele exército apressado da duquesa tinha sido um erro. Muito contingente e pouca lealdade.


Por sorte, Lee Sin tinha outros planos para as habilidades de Udyr. Enquanto via um cardume passar do seu lado, ele se perguntou se aquilo daria certo. Era uma aposta arriscada.


Antes…
Noxus


– Você é louco. – Regnald constatou. Tinha ouvido o suficiente para saber que não daria certo. O cientista propunha uma quantidade absurda de “se” para que o seu plano funcionasse.


Brandon revirou os olhos, entediado. Nunca tinha sido totalmente compreendido, mas desde sua jornada pelo medalhão, aquilo de alguma forma o incomodava. Era estranho ser o mais inteligente, como se criasse uma barreira invisível entre ele e as outras pessoas.


– Isso já foi dito antes. – Concordou solenemente. – Mas você é uma das poucas pessoas em quem confio agora.


– E se ele não conseguir chegar? – O campeão perguntou através da máscara, levantando a cabeça brevemente, como se esperasse ver algo no horizonte, embora nada houvesse tanto em cima quanto embaixo. Estavam sozinhos e longe dos olhares curiosos do exército reunido na praça principal.


– Ele vai. Não o chamam de explorador pródigo sem motivo, você sabe. É um excelente mensageiro.


Regnald suspirou, vencido. Sabia que era a melhor chance deles: - Certo, mas eles vão dar pela minha falta. E isso não vai ser contornado tão facilmente quanto da última vez.


– No meio desse exército? Eu duvido muito. – O cientista opinou, estendendo o braço para Jax enquanto preparava o teletransporte. – Aceita uma carona?


Agora – Mar do Guardião (entre Noxus e Ionia)


Sivir era uma mulher das areias. Para ela, os navios eram traquitanas aquáticas tão incompreensíveis quanto o resto que não envolvia uma lâmina na ponta. Portanto, quando o capitão do navio gritava coisas como “Arriar a vela” e “Remos ao mar”, ela não se atrevia a fazer nada além de assistir. E que espetáculo ela via.


Desde cedo, era sabido pela mercenária que não se precisava entender para apreciar. Na verdade, muitas coisas lindas só as eram por não serem compreendidas. Ela própria era uma delas. Se os seus amigos conhecessem o seu passado por completo, ainda seriam seus amigos? A verdade muitas vezes afastava. Talvez por isso ela preferisse mentir.


“Uma tarde boa para morrer”, ela pensou consigo. A vela, com o símbolo noxiano estampado, fazia muito barulho enquanto se deixava ser conduzida pelo vento. E que vento! Seu cabelo escuro rebelava-se como se a ventania estivesse lhe dando vida própria e fazendo-o clamar por liberdade. Além disso, o próprio convés tremia com a correria da tripulação que estava sempre cumprindo ordens.


O resto da Liga estava um pouco mais quieto do que de costume, talvez tentando não atrapalhar, e Amumu, ela imaginou, provavelmente estava vomitando em algum banheiro ou deixando um rastro de bandagens e lágrimas pela parte inferior do navio. Longe dela interromper o que quer que seus colegas estivessem fazendo. A depender do resultado da batalha, poderia ser a última coisa que fariam.


Embora não quisesse se sentir particularmente confiante, Sivir não podia evitar. Não importava quantos guerreiros a duquesa Karma tinha conseguido reunir em uma já fragmentada Ionia, Noxus teria mais. Só nos remos daquele navio, ela conseguia contar aproximadamente duzentos homens. Duzentos homens socando a água com um pedaço de madeira de forma tão sincronizada quanto uma dança. Aquilo não era só força. Era disciplina. Se ela fosse renascer, torcia para que fosse em Noxus.


Se bem que, agora que ela refletia, Brandon também era noxiano. Teria ele, em algum lugar profundo de si, um ímpeto de guerra tão forte quanto o que ela ali via? Ou uma vida em Piltover tinha sido capaz de mudá-lo tão profundamente? O cientista era um bom lutador, entre outras coisas, mas não mostrava muitos traços disso.


– Um lugar de honra. – Malphite comentou, se aproximando da moça que praguejou mentalmente para si por não notá-lo. “Desde quando você anda com a guarda baixa?”, perguntou a si mesma em pensamento, antes de se virar para o monólito vivo.


– Um lugar de perigo. – Respondeu, referindo-se ao lugar onde estavam. Um empurrão certeiro e virariam isca de tubarão.


– Sempre quis saber como os mercenários lidam com o perigo. – Ela não viu maldade no comentário. Para uma pedra invocada do cosmos, Malphite tinha o rosto gentil.


– Normalmente, eles fogem do perigo. Não é lucrativo. – Ela sorriu, brincando com as palavras. Ser a referência do crime para o grupo era divertido.


– Lucrativo. – Ele repetiu, encarando o mar com aqueles olhos gentis de pedra brilhante. Na primeira vez que lutaram na Liga, ela tinha tentado, sem sucesso, arrancar um deles para vender.


– Então, onde você vê a honra? No cheiro de peixe podre ou…?


– Você também notou. – Ele a cortou, de forma perspicaz. Sivir esquecia de como aquele brutamonte de pedra era inteligente. – Há uma ordem entrópica aqui. É lindo.


– O que é lindo? – Ela perguntou, embora soubesse a resposta.


– O céu. O mar. Tudo que vive. Tudo que respira. – Ele virou a cabeça, produzindo o som característico de duas pedras se chocando. “Crac”. – Em suma, a vida.


Sivir se conteve em dizer que aquilo era uma guerra, o oposto de vida e beleza, pois sabia que em parte, o colosso tinha razão. Aquilo tudo tinha sido feito para ser admirado em momentos como aquele. “Talvez”, ela pensou, “só talvez, não tenha jeito melhor de morrer, afinal”.


Como se os céus a ouvissem, ela se viu afogando-se no fundo do mar junto com o resto do navio, agora partido em dois.


– - -

– Eles estão ousados. – Swain comentou de forma calma e interessada. O céu e a terra trocariam de lugar antes daquele homem perder a calma. – Estratégia interessante.


– Sim, afundar! Muito interessante! – Katarina ironizou, tentando se segurar em alguma coisa enquanto os navios afundavam ao seu redor criando ondas. – E como saímos?


– O céu está limpo. Nada de catapultas ou ataques aéreos. Isso veio de baixo. Atirem na água. – Ele comandou objetivamente, sem nenhuma alteração na voz.


– Não! – A assassina contestou, desesperada. – Temos homens na água.


– Toda guerra tem suas baixas. – Ele menosprezou, apontando para os marinheiros nos canhões. – Atirem


E conforme os canhões e catapultas disparavam na água, Udyr precisava de cada vez mais velocidade para desviar. “Estão atacando a própria gente?”, ele pensou, incrédulo. Não tinha previsto aquilo. Cada vez que o xamã trocava de forma via o oxigênio ficar mais escasso. Urso, fênix, tigre, nada adiantaria contra aquele poder de fogo.


Os navios de pé se organizavam mais uma vez, disparando cargas de artilharia concentradas. “Não, minha presença aqui está matando essas pessoas. Malditos sejam, noxianos.”, ele pensou, nadando de volta para o litoral de Ionia, a poucos quilômetros dali. Tinha falhado.


– Ha! – Draven rugiu de prazer. Era possível ver o contorno do espírito da tartaruga que envolvia o Andarilho Espiritual, agora que ele não estava escondido. – Olhe como ele está fugindo! Covarde!


– Não por sua causa. – Katarina murmurou, procurando sobreviventes que emergissem.


– Você quer brigar, ruivinha? Posso te providenciar outra cicatriz, se quiser. – O irmão de Darius respondeu, ouvindo o comentário.


– Tenta. – Ela ameaçou, puxando uma faca do coldre. – E essa vai ser a sua lembrança póstuma.


– Chega. – Darius colocou o seu grande machado entre os dois. – O sabor de uma vitória nunca é demais para ser apreciado.


– Péssima. Combinação. – Uma voz surgiu no navio, molhando o convés de água e sangue. – Garotinha de fogo e um oceano. E você…!


Sivir tinha trazido Annie e Amumu a bordo, por muito pouco. Parte de suas roupas estavam chamuscadas, mas isso não a impediu de ir pra cima de Swain.


– O que você estava pensando?! Pode ter matado centenas ali!


– Se voluntariaram para isso. – Ele respondeu com desprezo, quase ignorando a campeã.


– Eu vou chutar a sua bunda voluntariamente, seu… - Katarina a agarrou antes que ela piorasse as coisas. Ao redor, ela via os sobreviventes sendo recolhidos pelos navios remanescentes, além do seu próprio.


– Sério? Vai ficar do lado dele? – A mercenária exclamou, como uma criança, sendo erguida pelas vestes. Ou pelo que sobrava delas.


– Qual é. – Katarina sussurrou, sendo também encoberta pelo conjunto de vozes que se amontoava no convés. Uma mistura de excitação com ansiedade. Apesar de tudo, tinham vencido a batalha. – Não estraga as coisas. Não agora.


– Se você acha que eu vou agir como um cachorrinho obediente… - Ela advertiu, embora tenha reduzido o tom de voz. – Então, você não me conhece, Katarina.


E, se desvencilhando de forma errante, foi checar o estado das crianças. Crianças. Katarina tinha que manter aquilo em mente enquanto lutassem. Embora Amumu tecnicamente tivesse centenas de anos e Annie fosse uma poderosa maga, eram crianças ainda. Não estavam prontos para aquilo. Talvez ninguém ali estivesse.


– - -


Karma sabia que tinham perdido a primeira demonstração de força. Havia assistido de seu trono improvisado na praia o xamã batendo em retirada. Ainda assim, não pode deixar de se decepcionar com a palavra que ele trouxe ao tocar os pés na superfície:


– Falhei.


“Sim, falhou”, ela pensou consigo, “talvez tenhamos falhado todos”. Embora não fosse se dar ao luxo de desistir:


– Não lhes deem desembarque. Queimem o que puderem e lancem contra a praia. – A duquesa ordenou, ainda sobrava muito daquele exército. Se sequer chegassem na praia, não seria um bom confronto para Ionia.


– Podemos ajudar. – Uma voz sugeriu por cima dos acampamentos. Quando virou a cabeça para cima, Karma não pôde evitar uma careta. Seu dia estava piorando.


Pairando em esferas de energia negra, estavam Zed e Syndra. A duquesa não tinha a lista pessoalmente, pois eram assuntos da capitã de guarda, mas certamente estava diante dos inimigos públicos de Ionia número 1 e 2. Então, por que estava tão grata?


Se compartilhavam da sensação, seus aliados não demonstravam. Irelia foi a primeira a pular para recebê-los da melhor forma que ela sabia: Com uma lâmina. Syndra poderia tê-la parado em pleno ar quantas vezes quisesse, mas Zed tinha pedido para que não. O ninja acreditava que podia resolver aquilo sem derramar sangue entre os próprios ionianos.


– Sem derramar sangue, hein? – A soberana sombria se queixou, quando a lâmina do punho de Zed se chocou contra a de Irelia, produzindo um sonoro ruído metálico.


– Talvez um pouco. – Ele respondeu, atarefado em se defender dos golpes da capitã de guarda. Apenas se defender. Se fosse Syndra, a essa altura já teria perdido a paciência e mandando a ioniana até a água voando.


– Chega! – A voz da duquesa ressoou, fazendo Irelia, por instinto, costume ou medo, parar. – Se vocês vieram para lutar pela nossa causa, são bem-vindos.


– Isso é loucura! – Shen interveio, sem muito sucesso.


– Se tem alguma reclamação, guarde-a para depois. Caso sobrevivamos. – Ela fez um sinal, dispensando o ninja com a sua raiva e mágoa enquanto Zed e Syndra cautelosamente se juntavam às fileiras. – E o resto de vocês. Continuem queimando, preparem também as catapultas. Os navios deles estão mais lotados agora.


– Estamos todos loucos. Loucos pela fúria da guerra. – Akali murmurou, diante daquilo tudo. Se tinham um objetivo original, ele estava há muito perdido.


– Ainda assim… - Ela ouviu Lee Sin sussurrar, sem saber de onde. – Você recusa a nossa oferta.


Antes
Ionia


– Ouça, quando você tiver o número necessário de pessoas, use isto. – Brandon ergueu um pequeno controle com um único botão. – Vai ativar a coisa toda. Lembre-se de que eles precisam estar bem posicionados.


– Você construiu um dispositivo que regula algo que nem existe ainda? – Regnald questionou espantado. Estava sem a máscara, já que ninguém ali podia vê-los.


– Não! Não, não, não, não. – Brandon tentou sorrir amigavelmente, soando mais frio do que a máscara de Jax que o ex-conselheiro usava. – Construí um regulador para algo que nunca vi, mas sei que existe. Pedi pessoalmente para construírem. E quando chegar…


– Se chegar. – Murmurou Regnald, dessa vez arrancando um sorriso gentil de Brandon. Simples, mas gentil.


– Vai chegar. Acredite em mim, eu sou um gênio. – Ele parou para pensar. – Sim, um gênio. Boa sorte, Reg.


– E você? – O ex-conselheiro perguntou abruptamente, antes que ele se fosse. – O que vai fazer agora?

– Buscar meus amigos e marchar para a Ilha de Doran. Tenho a minha própria guerra pessoal para lutar e, quem sabe, salvar todos vocês no processo.


Agora
Ionia – Praia do Placídio


As chamas dançavam e brincavam no litoral quando Swain e seus homens receberam a primeira onda de boas vindas. Ionia lançava, através do fogo, tudo que podia lançar contra eles. Flechas, esferas negras, pedras gigantes incandescentes pelas catapultas. Além disso, o litoral estava banhado pelas chamas que, se fossem um pouco mais alimentadas, poderiam estar vivos.


– Eles não vão aguentar por muito tempo. – Darius informou, preocupado. Malphite e Tibbers, o urso de pelúcia magicamente transformado em um pacote de destruição flamejante em escala real, seguravam as investidas o máximo que podiam, tentando minimizar os danos aos navios, assim como os outros atacavam as pedras e flechas, na esperança de reduzir-lhes o poder antes que os atingissem.


– Não precisam. – Swain comentou, analisando calmamente o cenário, como se estivesse olhando para um quadro e decidindo o que o agradava e o que não o agradava. Se chegassem na praia, venceriam. A questão era como chegar, aquilo decidiria tudo. – Mande virarem os navios, precisamos de uma rota alternativa. Também envie aquele bufão demoníaco, o que fica invisível. Mande-o buscar alguma brecha na segurança deles, por dentro.


– Sim, senhor. – O guerreiro grandalhão assentiu solenemente, antes de ir cumprir as ordens.


Do outro lado do inferno criado pelas chamas, a duquesa não parava de gritar. Precisava mantê-los estimulados a deter o avanço daqueles navios. Cedo ou tarde eles tinham que ceder.


– Aconteça o que acontecer, não os deixem chegar na praia! – Exclamava, ajudando a recarregar bestas e catapultas para levantar a moral do exército. Seu exército.


De uma distância segura, Regnald assistia a tudo. A tarefa de Brandon tinha sido uma espada de dois gumes, embora o transformasse em herói se desse certo, tinha limitado-o a espectador. Era angustiante e quase insuportável assistir aquele combate se desdobrando.


Dali, longe do suor, do sangue e do calor da batalha, ele via o cenário de forma mais abrangente. Era quase como uma partida de xadrez, e afinal, o que era uma guerra senão o embate entre duas mentes? Um pouco mais, um pouco menos. Aquele não era um pensamento feliz, pois resumia quase todos os combatentes ali em peões, ele, incluso.


“Não”, pensou, “talvez eu seja um bispo”. Movia-se pelos campos cortando caminho, atravessando ambos os lados da guerra com facilidade, bem como fazendo contato entre eles. No seu tempo de conselheiro, ao lado do falecido Kiersta Mandrake, tinha visto muitas batalhas e embora o morticínio fosse traumatizante, ele nunca tinha mudado profundamente. Não tanto quanto Brandon?


O que o cientista teria visto? Por onde teria andado enquanto fugia? Não, Brandon Beck não fugia. Ele estivera, ainda que não tivesse total consciência disso, apenas se reorganizando. Se preparando. Regnald sabia que o cientista nutria alguma coragem. Mostraria o rosto para o mundo até morrer, em vez de se esconder atrás de uma máscara. “Jax”, desdenhou brevemente do nome adotado, “Não sou mais Regnald, tampouco sou Jax. O que eu sou então? Uma piada de mau gosto?”


Antes que os navios de Noxus terminassem de manobrar, ele percebeu que não conseguiriam o desembarque. A área da floresta seria a sua perdição, sendo emboscados no momento que descessem, e Swain era inteligente o bastante para saber disso. A duquesa Karma fazia questão de lembrá-los que jogavam pelas regras da casa.


Dali, Jax via a verdade, tal como ambos os estrategistas, a praia era o único meio de vencer ou perder aquela guerra. Restava saber o que o homem faria para contornar aquele problema. O próprio Regnald tinha suas dúvidas sobre como proceder naquela situação. O melhor, é claro, seria recuar, algo impensável para Swain.


Ele queria muito que o orgulho daquele homem fosse a sua derrota, mas para perder ali teriam que fazer um esforço muito grande. Dali distante, Regnald não podia ouvir muito do que era gritado, não pôde ouvir, portanto, quando Zed se preocupou com Syndra:


– Não se esforce demais. – Ele advertiu. Tinha medo de quando ela ficava incontrolável, assim como seu poder. – Não está lutando sozinha.


– Eu sei. – Ela se esforçou para sorrir entre as esferas que conjurava contra os navios noxianos. – Tenho você, afinal.


Do outro lado, Darius gritava ordem atrás de ordem. Um lapso de concentração podia significar a derrota naquele ponto do combate. Se apenas o maldito xamã espiritual não tivesse derrubado tantos navios…


– Acalme-se. – Swain ordenou. Sim, ordenou. A fase do aconselhamento tinha passado. Precisavam de firmeza e comando, não de conselhos. – Estamos vencendo.


– Como podemos estar vencendo? Olhe em volta! Estamos sendo massivamente atacados! – Darius protestou. Estavam tão próximos das chamas que sentiam o seu calor. O guerreiro noxiano estava assando dentro da própria armadura.


– Sim, estamos. E sim, estamos recuando. – O estrategista concordou. – Por que você acha que eles poupariam forças? Essa é a nossa batalha, Darius. Catapultas cedem, assim como humanos fraquejam. Cedo ou tarde, eles recuarão, não nós. E uma vez que comecem a correr, não pararão mais.


– E quanto aos nossos homens repelindo as investidas deles? Eles também fraquejarão.


– Bravos sacrifícios. – Swain comentou, desinteressado. – Bravos… e substituíveis.


Ainda que contrafeito, Darius admitiu para si mesmo que Swain tinha razão. Os ionianos estavam acuados naquele pedaço de terra que defendiam, e não o contrário. Venceriam. Pelo menos, até Arquimedes aparecer no céu.


A nave era diferente de qualquer coisa já vista em Runeterra, pois não era o trabalho de um único homem. Tendo sido construída durante todo o último ano por Corki, Heimerdinger e Jayce, era a última palavra na inovação aérea. Ao vê-la no horizonte, Zed percebeu que tinha razão. Os céus já tinham sido dominados:


– Foco nos controles, Corki! – Jayce advertiu para o yordle que parava, com satisfação, para olhar as reações das pessoas abaixo. – Como estão nossos níveis de flutuação de energia?


– Não vamos explodir em pleno ar, o que é um começo. – Heimerdinger respondeu com a sua voz fina. Sua cadeira tinha cinco almofadas por cima, para que ele pudesse alcançar os consoles.


– A menos que nos ataquem em pleno ar. – Jayce resmungou, se virando para Ezreal. – Sua vez.


O explorador sorriu, desaparecendo em um flash de luz dourada e reaparecendo alguns metros abaixo, em uma queda livre.


– O que é aquilo? Exijo saber, o que é… - Swain exclamava. Pela primeira vez, algo estava saindo de seu controle. Não tinha sido avisado, não estava preparado. Pior. Não tinha previsto.


– É… é… - O capitão do navio, de pose de seus binóculos, murmurava, surpreso.


– É o quê, seu paspalho? Fale!


– É um garoto, senhor. Tem um garoto caindo do céu.


Ezreal colocou os óculos de proteção nos olhos, sempre quisera experimentar uma queda daquelas. Sua manopla reluziu à luz do Sol como se estivesse tão animada quanto ele. A grande mochila que ele carregava o impedia de ter levado um paraquedas, mas não fazia mal. Morrer não estava em seus planos.


– Certo! Natal antecipado, pessoal. – Murmurou para si, antes de ativar uma função da manopla que fez sua voz ressoar por todo o campo de batalha e além. Regnald já corria para os acampamentos ionianos, mal sendo notado. Todos os olhos estavam voltados para o céu. – Meus amigos, posicionem-se!


Quando ele jogou a mochila, despejando o seu conteúdo, aqueles que tinham sido avisados aproveitavam o segundo de vantagem que tinham para tentar apanhar os capacetes. O resto estava aturdido demais para fazer alguma coisa.


– É agora. – Lee Sin falou para Akali, antes de saltar e pegar o seu capacete, sem colocá-lo na cabeça.


Vários outros fizeram o mesmo. Udyr, Regnald, Sivir, Annie, Amumu, Fiddlesticks. Cada um pegando o seu e não fazendo mais nada senão aguardar.


Akali olhou para Lee Sin e, embora quisesse, seu grito nunca saiu. O palhaço se materializou do nada, apunhalando o monge.


– Heh. Isso parece perigoso. Hahahaha. – Riu-se o palhaço, dançando no chão enquanto o monge sangrava, pego de surpresa.


– Akali! – Regnald gritou, naquela voz tão confiável. Tão sincera. E ela sentiu, naquele momento, todos os olhares sobre si. Os bons e os maus. O capacete de Lee jazia no chão e ela sabia o que ele queria. Sabia o que dela precisavam.


Ainda que descumprindo ordens e talvez traindo tudo pelo que acreditava, ela pulou na direção do capacete, agarrando-o com força, como se sua vida dependesse disso. Neste exato momento, Regnald apertou o controle que Brandon lhe dera.

Antes
Noxus


– Bom trabalho detendo o Warlock. Isso significa que você não precisa mais de nós? – Ezreal perguntou, através da projeção de tela. Estranhamente, ele parecia desapontado.


Brandon estava no escritório de DuCouteau, Darius tinha acabado de sair. Ele tinha estado prestes a desistir, mas o guerreiro, bizarramente, lhe ajudou a extrair alguma coragem. E se Darius entendia de alguma coisa, era coragem, então Brandon imaginou que seria sábio escutar.


– Preciso. – Ele afirmou. Amaldiçoava um mundo onde parar uma guerra era mais difícil do que começá-la. – Aqueles capacetes contra controle mental que eu pedi, estão prontos?


– Sim, mas só pudemos fazer alguns, estamos quebrados, sabe?


– Alguns bastam, desde que estejam na frequência correta. Leve-os até Ionia, é onde ele tem mais chance de aparecer. – Brandon pediu, através da projeção que formigava um pouco. O sinal estava realmente horrível em Piltover.


– Ele? Ele quem? – Ezreal perguntou um segundo antes de Brandon desligar a projeção desmontando o console que a suportava. Tinha pouco tempo para construir algumas coisas com aquelas peças.


Agora


A canção era bela. Uma melodia harmoniosa sem letra, inspirando calma e esperança nos corações de quem a ouvia e derrubando uma leve neve entre o mar e a praia. Respirar era mais fácil. A fumaça e o fogo tinham se extinguido. E quando os inimigos perceberam que estavam sem obstáculos entre eles, o portal surgiu. E dele Bardo surgiu.


Ele olhou ao redor. Todos estavam paralisados apenas pela sua presença. Ele não falava. Ele nunca falava. Apenas balançava os seus sinos. Por dentro, por trás da máscara dourada que usava, ele estava sorrindo. Caminhando levemente apesar de seu tamanho, o protetor andarilho pegou o capacete de Akali, que o cedeu de boa vontade, sem reação.


Era a primeira vez que alguém conseguia reproduzir a sua canção. E ele notava como os humanos conseguiam, de alguma forma, fazê-la parecer mais bela. “Ora, que humano inteligente”, Bardo pensou, em sua forma avançada de consciência, “decorou os padrões dos meus sinos.”


Com um esforço maior do que imaginava, Bardo pronunciou suas primeiras palavras na língua mortal:


– Brandon. Beck.


Swain já tinha ouvido falar sobre Bardo. Como uma lenda. Uma canção de ninar. Uma história. Um conto. Vê-lo ali, em toda a sua extensão, em todo o seu poder, foi o bastante para saber que tinha perdido. Tinha sido enganado por um cientista caipira qualquer. A fúria em seu âmago era tanta que ele jurava matá-lo em uma oportunidade futura.


Não se fez necessário. Alguém gritou “olhem!”, enquanto apontava para cima e milhares de cabeças se viraram para o céu em tempo de ver o monte de terra, pedra e aço despencando do céu rapidamente, na direção do mar. A Ilha de Doran tinha caído.


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