Before - League of Legends II escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 27
Epílogo




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O memorial, erguido no centro da cidade em sua fundação, tinha ficado um pouco maior. Sivir sabia que eles pretendiam fazer com que aqueles nomes fossem imortalizados. Os eternos heróis de Runeterra. Mas ela via a verdade. Tinham sido sacrifícios. Peões em um jogo fútil. E ela não gostava nem um pouco disso.


Cravado na pedra de mármore negro, entre outros tantos nomes, estava o dele. A mercenária passou a mão calejada por ele, mas sabia que, mesmo vivo, o cientista não voltaria. Conhecia a sensação, pois também não queria mais ficar.


– Três semanas. – Uma voz comentou do seu lado. Era Katarina. – Ainda assim, parece que foi ontem.


– Que você estava defendendo seus companheiros de Noxus? Sim, parece. – Sivir retrucou, sem fazer menção de olhar para a companheira.


– Guarde as garras, Sivir. Eu estava nos defendendo. – Pouco depois de tocar o ombro da mercenária, percebeu que tinha cometido um erro. O soco que recebeu em seguida foi apenas a confirmação.


Como uma exímia arremessadora de adagas, ela não estava acostumada a receber socos. E aquele tinha sido particularmente doloroso. Como se toda a raiva e tristeza de Sivir tivessem se convertido em força. Uma multidão que prestava homenagens no memorial se voltou para assistir a briga.


– Metade dessas pessoas – Ela apontou para os nomes no memorial, virando-se para a assassina que não manifestava vontade de devolver o soco. - estão na conta de vocês. E o fato de você ainda estar aqui, de participar disso, é um lixo.


Ela estava pronta para arremessar sua lâmina de quatro pontas na noxiana quando Ezreal surgiu em um brilho dourado com a translocação arcana, originada pela energia da sua Manopla:


– Não fazemos isso com os companheiros, Sivir. – Ele argumentou, segurando o pulso da amiga. O explorador tinha assistido o suficiente daquilo para saber que não terminaria bem.


– Fale por você. – Rosnou, fazendo força para se soltar do aperto. Quando Ezreal tinha ficado tão forte?


– Eu estou falando pelo Brandon. – O explorador sentenciou, sem hesitar ou soltá-la.


Ela o encarou por alguns segundos, até ele perceber que era seguro largar. Então Sivir saiu, a passos longos, abandonando Katarina, Ezreal e uma perplexa e murmurante multidão de espectadores. Ele tinha visto a raiva e o fogo morrerem nos olhos da amiga lentamente e percebeu que não tinham perdido apenas vidas naquela guerra. Os laços entre eles tinham sido quase todos quebrados.


Enquanto ele estendia a mão para Katarina, do outro lado, Jax se aproximava de Sivir:


– Você não deveria chamar tanta atenção. – Aconselhou o campeão por trás do capuz roxo e ouviu a mercenária soltar um “tsc” como resposta. – Suponho que não a queira conosco então.


– Não confio nela. – Sivir se resumiu a dizer.


– Falando em confiança… - Ele se apressou em mudar de assunto. – Isabel Adhit quer se unir a nós.


– Ela é só uma criança. – A mercenária se espantou. – Já não temos crianças o suficiente morrendo em nossas batalhas?


– Também temos metade do Instituto dominada pela Rosa Negra enquanto você bate e recusa qualquer um que possa nos ajudar. Não vamos vencer desse jeito. – Regnald se exasperou sob a máscara de Jax. Seus esforços de conciliação e recrutamento pós-guerra o deixavam cada vez mais cansado e irritado. E a atitude de Sivir não ajudava a melhorar.


A aparição de Bardo tinha sido crucial para o desfecho positivo da guerra, mas passadas aquelas semanas, as pessoas começavam a esquecer daquilo, embora os territórios ionianos ainda estivessem sendo devolvidos à medida que a duquesa Karma integrava suas fileiras à Liga. Por algum motivo, aquela vitória não era tão saborosa quanto deveria. Regnald ainda se sentia manipulado.


– Só estou dizendo, ela é muito nova. – Argumentou, amenizando o tom de voz, o que fez Regnald sorrir por trás da máscara.


– Quantos anos você tinha quando começou a explorar em Shurima?


– Como se eu fosse um bom exemplo. – Ela resmungou, olhando para o chão entristecida. – Nenhum de nós é, Jax. Não como ele. Ele não era como nós. Gente como nós luta batalhas. Vence batalhas. Ele era alguém muito diferente. Ele inspirava. Ele não estava interessado em vencer batalhas. Ele estava disposto a sacrificar tudo para fazer desse lugar um lugar melhor.


– Você não acha que ele está vivo? – O campeão questionou.


– Não. – Respondeu com mais sinceridade do que gostaria de acreditar. – Mas não seria a primeira vez que eu me engano sobre aquele idiota. – Ela passou a mão pelo cabelo antes de mudar de assunto. – Piltover respondeu?


– Heimerdinger quer nos ajudar, mas está ocupado demais reconstruindo Piltover. Além disso, ele está formando um grupo para enfrentar Viktor. – Explicou. Como era próximo de Lee Sin, um dos cônsules da paz, tinha muito contato com o yordle. – Brandon estava certo, deixamos ele crescer demais.


– Parece que todos estão escolhendo seus lados. – Ela comentou ao ouvir aquilo. – Isso não te assusta?


– Um pouco. – O campeão admitiu. Nem todos os problemas podiam ser resolvidos batendo nas pessoas com postes de iluminação. Ao notar o olhar triste na amiga, ele deu um soco leve em seu ombro. – Ei, vamos ficar bem. Não estamos sozinhos.


Ele puxou um pedaço de papel preenchido com assinaturas. Projeções de tela podiam ser invadidas pelas Rosas, mas aquele tipo de registro era confiável. Sivir olhou para os nomes e sorriu. Ainda restava alguma esperança.


– - -


Vayne tinha esquecido como era ter uma boa cama. Desde que abandonara a vida de aristocrata para se tornar uma caçadora de monstros e vingar o seu pai, tinha largado também os pequenos confortos que faziam a vida valer um pouco mais a pena. Não se permitiria depender deles novamente, mas os aproveitaria.


Ela olhou pela janela do quarto que tinha recebido na Torre de Doran e percebeu que já estava entardecendo. Tinha passado o dia deitada na cama. Novamente.


Com um toque em uma projeção de tela, ela transformou uma das paredes em um espelho e abriu o guarda-roupas que tinha recebido. Dezenas de vestimentas para escolher entre pijamas, roupas formais, trajes de batalha e outros. Ela realmente sentia que podia se acostumar com aquilo.


Levantando um pouco a parte de trás da sua camisa azul, ela virou as costas para o espelho, deixando a cabeça de lado para que pudesse vê-las. Fazia aquilo todos os dias, como um ritual. Nenhuma marca. Nenhuma cicatriz. Nada.


– Ainda se perguntando o que aconteceu? – Uma voz suave a repreendeu gentilmente. Ela não se virou, apenas levantou os olhos para ver o reflexo de quem lhe falava, embora levemente assustada.


Como a caçadora que era, Vayne nunca esquecia uma fisionomia. E tinha certeza de que, mesmo sem tal habilidade, jamais esqueceria uma figura bizarra como aquela. O homem tinha cabelos flutuantes cinzentos assim como sua barba, ambos desafiando a gravidade como se estivessem vivos. Como se não bastasse, o velho usava um roupão e pairava sobre o chão com um grande relógio e engrenagens nas costas.


– Quem é você? – Ela perguntou, tentando não mostrar sua surpresa.


– Meu nome é Zilean. – O velho se apresentou, fazendo uma reverência para Vayne, que se virava para olhá-lo pessoalmente. – Sou um membro da Liga, embora tenha andado… distante, ultimamente.


– E o que você quer aqui, Zilean?


– Ajudá-la. – Ele respondeu com simplicidade, sorrindo amigavelmente, embora ela agora notasse algo além da gentileza do homem em sua voz. Cansaço. – Uma faca a perfurou como você certamente se lembra. Você morreu.


Os pelos da nuca dela se arrepiaram e ela engoliu em seco. Nunca tinha dito isso para si mesma em voz alta. Nem mesmo pensado. Pensar materializaria e imortalizaria aquilo como um fato, algo que ela não queria.


– Mas, obviamente, você está viva agora. – Ele agitou as mãos, como se tentasse animá-la. – Então, o que a aflige?


– Eu estou viva. – A atiradora repetiu lentamente.


– Sim. – O guardião do tempo concordou.


– Mas não deveria estar. – Ela completou, encarando-o no fundo daqueles olhos velhos.


– Sim. – Ele concordou novamente, dessa vez, entristecido. – Receio que Brandon Beck tenha invocado uma magia temporal além de seu controle. Foi imprudente, sem dúvidas.


– O que ele fez? – Ela perguntou, se aproximando mais dele, como uma criança curiosa. – Eu quero a verdade, Zilean.


– Nem todos estão preparados para a verdade. – O velho a advertiu.


– Tente. – Vayne o desafiou, com um brilho nos olhos que o fez suspirar, vencido.


– Ele fez, digamos, em termos que a senhorita possa compreender – Ela levantou uma sobrancelha, mas não disse nada. - rachaduras, entre o que foi, é e será.


– O que significa que…? – Ela perguntou impaciente, mas o guardião do tempo ergueu a mão para que ela esperasse.


– Nada deixa de existir. Não se destrói completamente nada. O que podemos fazer é mudar quando ou onde as coisas existem. Em outras palavras, uma troca. No momento em que a senhorita renascia, outra pessoa morria pela mesma faca.


Vayne ficou boquiaberta: - Aquela garota…?


– Ofelia. – Ele a corrigiu, embora o tom gentil não desaparecesse.


– Ofelia. – Ela repetiu, tentando não perder o próprio raciocínio. – Ela deveria estar viva e eu deveria estar morta?


– Disse-me que queria a verdade.


– Então, é minha culpa? – Vayne perguntou. Zilean a encarou de cima. “Tão jovem”, ele pensou tristemente. Uma de suas habilidades era ver o futuro das pessoas, assim como o passado.


– Não, claro que não! – Exclamou, quase alegremente, se virando para sair, embora a porta estivesse na direção oposta. – Senhorita Vayne, poucas vezes vi alguém ter tanta sorte assim. É um milagre. E se aprendi algo com milagres, é que devemos aproveitá-los. Ofelia era uma boa pessoa, e uma amiga. Se quiser culpar alguém, culpe a vida, pois ela sempre é a culpada pela morte. Contudo, não acho que atribuir culpas seja um bom modo de viver. – Ele riu baixinho. – Deus sabe como não.


– Uma última coisa! – Ela gritou, quando o velho começou a desaparecer. – Brandon! Ele está vivo?


Zilean a olhou uma última vez…


“– O clima parece agradável aqui em cima. – Ele comentou para Brandon, que estava deitado no cume de um pequeno pico com os olhos fechados. A brisa era o bastante para mover as folhas e o cabelo branco do cientista, mas não para incomodá-lo.


– Imaginei quando você apareceria. – Brandon suspirou, com os braços dobrados apoiando a cabeça na grama. – Eu não vou voltar, Zilean.


– Não pretendia te convencer. – O velho respondeu astutamente, antes de ficar sério. – Você invocou um deus. Para parar uma guerra.


– Não seja tão estraga prazeres. Você sabe que eu só uso as minhas melhores ideias. – Ele sorriu, embora Zilean visse através do sorriso que, definitivamente, não era um sorriso.


– Isso não passará despercebido, Brandon. – Ele alertou, genuinamente preocupado. – Uma pessoa que deveria estar morta, está viva.


– Do que você está falando? – Ele abriu os olhos e se levantou parcialmente, com as pernas ainda deitadas.


– Você nem mesmo sabe o que fez. – Zilean notou, nem um pouco impressionado. Diferente dele, Brandon nunca tinha mostrado interesse em dominar aqueles poderes. Apenas suprimi-los. – Onde está Kristofer?


– Por aí. – Comentou, despreocupado, olhando ao redor. – Ele sempre volta.


– Brandon, esses últimos dias foram terríveis para você. Eu entendo. Mas se você não começar a tomar cuidado, eles se tornarão ainda piores. Quantas vezes você ressuscitou nesses últimos dias? E agora, roubou mais uma alma dos braços dos Kindred. Eles sabem. Eles estão vindo atrás de você.


– Kindred. – Ele repetiu aquele nome. Os Caçadores Eternos. A morte em pessoa, na forma de lobo e ovelha. – Isso é só um conto infantil. E mesmo que eles sejam reais, eu vou encontrar um jeito de vencer. Sempre encontro.


– Contra Lissandra, você pode ter impedido os Glacinatas de voltarem pelo portal. Contra Cho'Gath, derrubar aquela grande torre com ele em cima pode ter bastado. Contra Warlock e Tesla, você pode ter invocado as magias mais ancestrais que podia e isso certamente bastou. – O guardião do tempo enumerou os desafios superados pelo cientista. – Contra os Kindred? Corra. Corra e se esconda. Corra e nunca pare.


Brandon fez uma careta e voltou a se deitar para sentir a brisa de primavera, ignorando o ancião que depois de algum tempo fez menção de sair:


– Não conte a ninguém que eu estou vivo, Zilean. – O cientista advertiu. – Ninguém.”


– Sinto muito, mas não. – Ele mentiu para Vayne, assim como mentiria para qualquer um que perguntasse. Era o mínimo que podia fazer por aquelas pobres almas. O futuro podia ser visto. E todos eles já estavam condenados.


– - -


– Sally… - A voz metade máquina, metade humana, gemeu. A dor era insuportável e seus equipamentos de suporte de vida estavam falhando.


– Eu estou aqui, mestre Viktor. – A moça adiantou um passo, preocupada.


– Tesla… Onde está Tesla? – Ele perguntou, pela décima vez naquela noite.


– Tesla está morto. – Ela respondeu quase automaticamente, se adiantando, mais uma vez, para consertar a memória de Viktor. – Droga! Os implantes não estão dando certo, mestre. O que eu devo fazer?


Estavam reduzidos a viver em um ferro-velho de Zaun, pois a Liga os procurava. A Rosa Negra buscava sua revanche pelo arauto das máquinas ter dado poder a Warlock. Sally se sentia traída. Primeiro Kristofer tinha sido capturado, agora Tesla tinha morrido. Estava sozinha.


– Minha… Minha consciência… Salve-a, Sally. Inicie o projeto NOVAS. – Ele ordenou, buscando resquícios de firmeza na voz mecânica que falhava. Antes de seus olhos fecharem, ele viu a assistente assentindo. Renasceria mais forte em um novo corpo. E então, traria a evolução para todo o mundo. – Eu… voltarei…


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Notas finais do capítulo

Before - League of Legends também voltará! :D

Obrigado por acompanharem até aqui.



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