A Única Inocência escrita por Laís Bohrer


Capítulo 2
Você não pode entender


Notas iniciais do capítulo

*Lay: E se você chegou aqui posso deduzir que gostou da ideia não é? Bom, lembrando que no capítulo anterior e na primeira parte desse, o Noah tem sete aninhos. E uma explicação sobre aqueles dois se despedirem logo ao pôr-do-sol seria aquela parte da música: "Mas no pôr-do-sol fui levado para longe" ou "E assim esse conto de fadas não é conhecido por ninguém, ele foi sugado pelo pôr-do-sol e desapareceu no ar.".
Vou deixar o link da música com a tradução nas notas finais para quem quiser ver
E aqui está o capítulo dois!
Boa leitura



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CAPÍTULO DOIS

Você não pode entender

Após aquele pôr-do-sol, a garota desconhecida nunca mais foi vista. A conversa com a tia Agnes depois do acidente martelava em sua cabeça inocente tomada agora pelos sentimentos de rancor e ódio por si próprio. Para Noah, ele quase tinha matado uma amiga. Pela primeira vez, ele deu atenção aos olhares discriminadores que lhe lançavam e pela primeira vez se importou.

Tia Agnes o puxava gentilmente em direção a sua casa, ela não soltou seu pulso em nenhum momento. O menino olhava para seus cabelos castanhos levemente grisalhos e ondulados presos por um elástico em um rabo de cavalo baixo, o rosto da mulher era cansado e cheio de rugas, os olhos eram escuros e estreitos, com um brilho triste enquanto ela abria os portões.

Noah sabia que a tia era assustadora, mas não suportava quando as outras crianças a chamavam de bruxa ou os mais velhos falavam mal dela. O garoto amava a tia porque ela não o abandonara como os outros, apesar de na maioria das vezes Noah desconfiar que ela preferisse que ele não existisse... No entanto ele não sabia das mágoas daquela senhora que ao olhar nos olhos de Noah e para seus cabelos cor de palha, via sua irmã caçula.

Sim, Noah parecia-se muito com a mãe, exceto a personalidade. A mãe de Noah fora amada por todas que conhecia e com Noah era exatamente o oposto.

Eles atravessaram o portão principal e a tia Agnes trancou as grades. Passaram pelo jardim, seguindo uma estreita trilha de pedra que levava a varanda de uma casa de dois andares com seu exterior revestido com madeira. Logo na entrada, um apanhador de sonhos estava pendurado antes da porta de madeira escura e vidro. Abaixo de seus pés, um tapete felpudo de cor neutra.

Ao entrar, a casa parecia mais escura do que nunca para Noah, ele se perguntou por que estava tão frio no local. O chão também revestido por madeira rangia sob seus pés descalços. Uma janela deixava a luz fraca do fim da tarde entrar. Tia Agnes fechou as cortinas verdes e leves. Noah olhou para a televisão velha em cima de uma escrivaninha cheia de bugigangas e livros. No centro da sala uma mesa baixa onde havia um vaso com rosas brancas do jardim da tia Agnes. Duas almofadas com forros de lã rosa dos dois lados, onde os dois sentavam-se para comer.

Tia Agnes sentou-se de joelhos e Noah sentou-se logo depois, eles ficaram em um longo silêncio até a mais velha dizer finalmente:

– Pode me contar o que houve?

Noah abaixou a cabeça, ainda tinha um rastro fraco da lágrima que havia percorrido por seu rosto, após um aperto na garganta ele tentou se controlar, mas logo seus olhos ficaram cheios da água.

– Noah, pode me contar. – a tia Agnes continuou com um tom gentil.

Mesmo assim Noah estava com medo. Se ele fosse expulso de verdade? E se a tia Agnes realmente o colocasse para fora de casa? Ele não tinha nenhum outro parente até onde sabia.

– Eu a empurrei – ele disse com a voz fraca. – Eu a empurrei da árvore. Eu não queria. Eu juro.

A respiração do garoto começou a acelerar, o desespero o tomou.

– Eu juro! – ele exclamou. – Até mesmo Elvis riu de mim, todos sempre riem de mim, por que tia? Eu não... Eu sou um monstro.

Tia Agnes estremeceu com a nostalgia a invadindo. Não era muito popular quanto sua irmã quando na idade de Noah. Sempre foi excluída, mas não podia dizer que entendia perfeitamente o que Noah dizia, mas sabia pelo menos como era parte daqueles sentimentos de rejeição.

– Noah, olhe para mim – ela se inclinou sobre a mesa, tocando o rosto do sobrinho. – Noah.

Lentamente o garotinho ergueu a cabeça, encarando os olhos da tia.

– Nunca, nunca mais diga uma coisa dessas, ouviu? – murmurou. – Você é um ótimo garoto, mas eles não sabem disso. Você não é uma pessoa ruim, está escutando? Não ligue para o que dizem.

– Mas ela era minha amiga – sussurrou ele.

– Eu sei, Noah... – ela acariciou seus cabelos encaracolados. – Eu sei.

Tia Agnes nunca se sentiu tão inútil antes.

Aquilo era tudo o que ela poderia dizer, então pegou o menino nos braços e deixou que ele soluçasse até horas mais tarde até que ele dormisse. Sentia sua dor. Sentia seu medo. Conhecia bem a solidão e ela apenas se tornava verdadeiramente ruim quando você reconhece o que é uma companhia e a perde. O mundo para e se torna mais frio, todos os acontecimentos parecem cruéis... Principalmente quando não se pode culpar ninguém além de si mesmo.

Era isso o que Noah Andersen estava fazendo.

Depois que a senhora o levara no colo para o quarto do garoto, pousando seu corpo pequeno e magrelo na cama, Noah abriu os olhos enquanto observava a silhueta de Agnes se distanciando dele. A porta se fechou e tudo ficou escuro.

Ele olhava para o teto, pela janela podia ver as estrelas, deitava no chão brincando com seu brinquedo favorito – o dinossauro Rex que viera de brinde em seu McLanche Feliz. Até cantou uma música em francês que sua tia Agnes havia ensinado. Tudo, mas Noah Andersen não dormiu novamente.

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Cinco anos depois, na manhã de seu aniversário de doze anos, Agnes falecera. Noah se lembrava da sua respiração fraca enquanto ela tentava sorrir para ele. As mãos esqueléticas pousavam sobre sua barriga. Ela estava deitada em sua cama e chorava.

– Feliz aniversário, Noah. – e ela fechou os olhos.

O garoto não conseguia entender ainda, chamou pela tia, tentou acordá-la, irritá-la, quebrou seu precioso quadro de Elvis Presley. Nada adiantou. Ela continuava dormindo e não iria acordar, Noah sabia.

Nisso, ele segurou sua mão gelada e despencou no chão, dos olhos não caiam lágrimas, mas agora ele se sentia mais sozinho do que nunca.

Não tinha mais ninguém... Ninguém.

O garoto então correu para fora de casa, passou rapidamente pela trilha de pedra e pelo portão de grades pintadas de verde, o escancarando. Ele tropeçava enquanto atravessava a rua. Um grupo de crianças se unia ao redor do carro do sorvete. Noah empurrou todas elas até alcançar o vendedor.

Alfred Porter era um homem de sessenta e três anos, usava óculos meia lua diante dos pequenos olhos castanhos e claros que sempre tinham o mesmo brilho enquanto olhava para a face de satisfação daquelas crianças. Era uma das únicas pessoas que não odiava Noah Andersen, na verdade ele não via motivo. Noah era um garoto comum e sua inocência o encantava.

O senhor assustou-se quando alguém segurou no tecido de suas calças. Era Noah, com os olhos vermelhos e as mãos trêmulas.

– Minha tia não quer acordar – ele falou.

Foi uma época difícil para Noah em que ninguém queria ajuda-lo. O senhor Porter o explicara com incrível facilidade o que havia acontecido. No dia seguinte, apenas eles dois apareceram no enterro da senhora Andersen e outra menina de cabelos curtos e ruivos, a sobrinha de Porter, Jasmine.

– Sr. Porter, o que é a morte? – Noah perguntou com a face séria.

Alfred hesitou.

– Não sei, Noah - disse o homem. – Alguns acreditam que seja o fim, outros dizem que é apenas o começo. Sinceramente, desejo que você demore em descobrir.

Jasmine Porter, a menina ruiva, olhava curiosamente para Noah. Ela tentava entender o que ele passava, mas era difícil conseguir isso. Jasmine era uma das melhores alunas de sua escola, simplesmente adorava aprender e entender as coisas, sempre tivera facilidade nisso, mas Noah Andersen era diferente.

Complicado. Admitia mentalmente.

Tentava se aproximar dele nos dias seguintes, mas o garoto tinha passado todos os dias olhando perdido para o túmulo, com as seguintes palavras saindo por entre seus lábios.

– O que farei? – ele perguntava.

Já tinha arrumado seu quarto, varrido a casa inteira, lavado todos os banheiros... Mas o único lugar em que não conseguia entrar era o quarto de sua tia. Ele até estudou durante as férias, tentando se concentrar em outra coisa, mas sempre acabava parando ali. No pôr-do-sol, ele ia embora.

No segundo mês de férias, Alfred Porter abrira um clube de natação para crianças e havia chamado Noah para ajuda-lo. O garoto aceitou, já que estava sendo pago.

Alfred se tornara seu responsável, mas Noah não queria fugir de sua casa. Ele cuidava das flores de sua tia e ia para a pracinha com menos frequência. Aprendera a concertar as coisas e às vezes conseguia um dinheiro extra pela vizinhança.

Ainda era desprezado pelas pessoas, isso não mudou.

Exceto Jasmine que ainda tentava entender.

– Como é não ter pais? – ela perguntou quando os dois foram à pracinha.

O cabelo curto e ruivo de Jasmine era um pouco cheio, seu rosto era cheio de sardas e seus olhos eram castanhos e claros como o do tio Alfred. Seu queixo era pontudo, a testa – que a irritava – era um pouco grande demais. Vestia um vestido rodado e laranja, suas sapatilhas vermelhas estavam um pouco sujas de terra.

Noah estava de pé em seu balanço, procurando o equilíbrio, ele não olhava para a garota.

– Nunca tive pais – ele disse. – Pra mim é normal.

Aos olhos de Jasmine, a resposta parecia terrível. Noah realmente sentia isso, claro que ele tinha curiosidade de saber como seus pais eram. A curiosidade de como seria uma vida com eles. Tudo isso era apenas um sonho em vão, ele percebeu há pouco tempo. Se sua tia Agnes não iria acordar, seus pais também não.

– Por que as pessoas falam coisas ruins de você? – perguntou.

Noah sorriu de lado, uma sombra atravessou o seu rosto.

– Elas não têm mais nada pra fazer – ele explicou.

– Eu não entendo – Jasmine admitiu.

– Claro que não. – Noah pulou de seu balanço. – Você nunca vai entender.

A ruiva sentiu uma pontada de decepção, mas não desistiria tão facilmente.

– Meus pais estão sempre viajando, mas eles sempre trazem presentes – ela contou. – Às vezes eu sinto falta, mas eles ligam às vezes...

– Então você está satisfeita com isso? – perguntou o garoto.

– Acho que sim... – ela deu de ombros, corando um pouco. – Mas sabe...

Noah se esticou.

– Sabe, você deveria gastar saliva com alguém se interesse com os seus problemas – falou Noah virado de costas.

Jasmine se assustou com a reação de Noah que se lembrou da amiga que perdera cinco anos antes. Quando ele era grosso, ela sempre ria ou retrucava. Aprendeu que isso se chamava paciência. Algo que ele não conseguia ter com Jasmine.

Para Noah, Jasmine Porter era uma garota irritante e fofoqueira que gostava de se meter em seus problemas. Sabia que ela não fazia aquelas perguntas por que se importava. Tudo era pura curiosidade da ruiva e isso irritava o garoto. Odiava quando ela ficava o perseguindo de um lado para o outro.

Era totalmente diferente da garota desconhecida.

Não achava aquela Jasmine inteligente, apenas muito metida.

– Noah! – ela gritou enquanto ele andava com as mãos atrás da cabeça.

Ele não parou.

– Você não pode falar assim com as pessoas! – ela ralhou com ele. – Por isso que ninguém gosta de você.

E foi ai que ele interrompeu seu caminho, sem virar-se para ela, ele disse:

Você não sabe de nada.

Então Jasmine ficou tão vermelha quanto seus cabelos. Ela inflou o peito e cruzou os braços.

– Eu sei mais do que você, pra sua informação – interviu. – Minhas notas são todas altas e eu estudo muito e o que você faz? Fica chorando pelos cantos como um cachorro perdido!

– Realmente, nada. – Noah rangeu os dentes, finalmente olhando nos olhos dela.

A garota se assustou com aquele olhar sobre ela. Sentiu... Medo de Noah, como se ele fosse um animal selvagem muito engraçadinho, mas ela havia mexido com ele e sentia que não deveria tê-lo feito.

– Nunca pedi para que você se metesse na minha vida – ele murmurou ameaçadoramente. – Você devia segurar sua língua grande ou na próxima vez eu juro que te quebro, testuda.

Oh, aquela foi à gota da água para a Porter.

Jasmine torceu o nariz como se o garoto fosse uma coisa muito repugnante, sentiu a raiva crescer dentro de si. Quando discutia, gostava de achar argumentos inteligentes e retrucar o que a pessoa dizia, mas quando falavam de sua testa, Jasmine perdia o controle a procura da satisfação.

– Por isso você nunca vai arranjar uma namorada! – ela gritou. – Seu... Ogro!

Ela saiu batendo o pé no chão com água nos olhos.

Noah abaixou os braços, ele não ligava para nada do que a ruiva falara. Estava acostumado com esse tipo de tratamento. Com o passar dos dias, Noah apenas vinha digerindo a realidade. Começava a arranjar brigas com outros garotos na escola. Irritava as professoras e aprontava muito para chamar a atenção das pessoas.

O Sr. Porter o ensinou a nadar e todos os dias o garoto ia ajudar depois das aulas. À tarde, mais crianças do ensino fundamental iam para lá, algumas não conheciam Noah enquanto outras tinham até um pouco de medo dele.

Noah aprendeu rapidamente todos os tipos de nado e ninguém podia negar como ele era rápido na água, mas seus estilos de nado preferidos eram o livre e por segundo vinha o de costas.

Incrível! – disse uma voz acima de sua cabeça. – Noah, não sabia que era bom assim.

O garoto havia acabado de emergir, erguendo seus óculos de natação para acima da cabeça. Ele desanimou ao ver quem falava com ele.

– Ryan Cross – lembrou o nome.

Ryan Cross não era tão ruim assim, mas para Noah era. Ryan tinha cabelos lisos e castanhos, sua pele era bronzeada, os olhos eram verdes e claros como a água do mar mais puro. Era alto e... “Perfeitinho”. No entanto se havia alguma coisa que Noah conseguia superar Ryan, era na natação.

Noah segurou-se na escada e puxou o corpo para cima, tentando ignorar Ryan.

– Você parece um golfinho! Ou um tubarão! – falava o moreno. – Eu li muito sobre natação, mas digamos que não adianta muito...

Noah parou e encarou os olhos verdes do Cross, desconfiado.

– Por que está me contando isso? – perguntou Noah.

– Ah? – Ryan piscou e então riu. – Foi mal, é um defeito. Eu falo demais por vezes.

Ele é um pouco diferente do que imaginei. Noah se tocava que era a primeira vez que falava com o moreno.

Na verdade, sempre invejara Ryan Cross por ser inteligente e chamar atenção normalmente. As pessoas sempre estavam falando dele e falando muito bem, tanto que Noah tinha vontade de vomitar. Ryan era gentil com todos, mas seu sorriso era falso, sorria por sorrir e isso irritava o loiro. Ryan tirava boas notas, sempre tinha o cabelo arrumado e roupas limpas. Era tão... Irritante o fato de ser melhor que Noah. Nas aulas de música com seu violino... Noah tinha dificuldade até para tocar triângulo. Ou cantar, Noah era totalmente desafinado. Nos outros esportes como futebol ou vôlei onde Noah sempre levava uma bolada na cara.

– Ei, ei, ei! – Ryan pulava. – Nade comigo, por favor.

– Não.

– Por favorzinho?

– Sem chance. – Noah caminhava em direção aos vestiários.

– E um revezamento? Uma competição? – insistia Ryan.

– Eu não gosto de você

Ryan reclamou:

– Que cruel, Noah!

E uma lâmpada parecia acender acima da cabeça de Ryan no caminho.

– Oh, você deve estar com medo de perder para mim...

Noah não respondeu, apenas jogou uma toalha em cima da cabeça depois de vestir suas roupas. Jogou uma mochila por cima dos ombros e passou pelo balcão, onde o Sr. Porter estava.

– Tchau, Sr. Porter. – ele disse para o mais velho.

– Tchau, Noah! – acenou o senhor. – Não se esqueça de jantar!

– Tááá! – gritou de volta Noah.

Logo depois, Ryan Cross passava tentando ajeitar suas roupas no caminho.

– Oh, tchau Ryan... – Alfred disse.

– Boa tarde, senhor! – Ryan exclamou enquanto corria atrás de Noah.

O garoto de cabelos cor de palha caminhava tranquilamente pela calçada, no fundo se sentia com a moral alta – afinal, Ryan Cross estava praticamente implorando de joelhos algo para Noah que sentia-se satisfeito em decepcionar o moreno.

No entanto, Ryan não ia desistir tão facilmente.

– Ei, vamos embora juntos! – ele disse.

– Não precisa – Noah resmungou.

– Certo! Então vamos.

Uma veia saltou na testa de Noah. Desejou que as férias tivessem durado mais. Já não bastava ver Ryan na escola, agora tinha o clube...

Ryan não parava de falar nem por um minuto e Noah desejava que o menino sumisse. Segundo o que tinha ouvido do moreno, ele morava apenas há um quarteirão de sua casa. Foi quando os garotos chegaram à rua em que Noah morava.

Eles atravessaram a rua e Noah abrira o portão ignorando o garoto ao seu lado.

– Bom, até amanhã Noah! – Ryan acenou. – E... Eu ainda não desistirei.

– Faça o que quiser – Noah disse.

– Tchau!

Então Noah passou pela trilha de pedras e somente ao parar de frente para a porta de entrada na varanda, percebeu que estava sorrindo.

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Jasmine Porter olhava com receio para a grande piscina no clube. Seu tio usando um boné azul gritava para as crianças e apitava enquanto seu assistente, um jovem chamado Derek Thompson, ajudava os iniciantes. Naquele dia, Jasmine havia prendido seus cabelos ruivos em marias-chiquinhas. Balançava as pernas em uma cadeira no canto do clube.

Sempre ia ver Noah nadando, ela achava que ele realmente parecia-se com um golfinho na água. Tinha uma paixão infantil naquela época, apesar de Noah não gostar dela, a ruiva ainda não havia percebido.

Ryan Cross nadava na raia ao lado de Noah, ambos no mesmo estilo livre. Movendo as pernas como lâminas de tesouras e os braços batendo na água, alternando entre um e outro. Noah já tinha voltado e segundo depois, Ryan estava lá, recuperando o fôlego.

Ela queria ter a coragem de Ryan para se aproximar de Noah. Suspirou.

– O que acha de tentar, Mine? – o Sr. Porter se aproximou dela.

Ele trajava uma sunga verde e uma camisa polo, ao redor do pescoço tinha um apito de metal. Na cabeça, seu típico boné azul. Tinha um sorriso encorajador na face. Apesar de estar na faixa dos sessenta, Jasmine não o achava velho.

– E-Eu... Não posso – gaguejou abaixando a cabeça.

Sr. Porter a observou enquanto ela mexia as mãozinhas nervosamente.

O homem pousou sua enorme mão na cabeça da sobrinha.

– De qualquer jeito, quando quiser superar seu medo... – ele acrescentou. – Estarei sempre aqui.

Jasmine ergue os olhos e sorriu.

– Eu prefiro continuar no chão.

Sim, ela odiava a água quando esta a dominava. O jeito como o mar podia ser violento e arrastá-la para longe, ou quando uma piscina a engolia pedindo sua resistência. Ela não conseguia resistir, apenas se desesperar. A sensação era de estar encurralada.

O Sr. Porter riu, mas a deixou em paz.

Enquanto isso Ryan Cross puxava seu corpo para cima na escada de saída, mas ele apenas ficou ali enquanto Noah recuperava o fôlego. Algumas crianças gostavam de observar. Algumas invejavam a velocidade dos dois, principalmente de Noah.

– Caramba, você me deixou pra trás – Ryan sorria agarrando a escada. – O que acha que apostarmos com o de costas?

– O que acha de calar a boca? – Noah dizia.

– Que cruel... – disse Ryan sem graça, mas ignorou o comentário de Noah.

E nisso Noah se agarrou a escada de saída, Ryan achava que ele estivesse saindo, no entanto o loiro ficou ali. Os pés acima da água.

– Então... – Noah virou o rosto para Ryan, a face rígida. – Vamos?

Ryan se animou.

– No “três”? Ok! Um... – ele começou. – Não pense que vou pegar leve com...

Três! – Noah exclamou.

Então ele se jogou para trás, Ryan gritou em protesto, mas dois segundos depois ele jogou-se também. E pela primeira vez, mesmo com aquele espírito competitivo, Noah acreditou que não estava tão sozinho.

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Noah teve um sonho.

Em seu sonho a garota desconhecida surgia em sua frente, mas ele não conseguia ver seus olhos. Sim, seus olhos estavam cobertos por uma estranha sombra. O céu era laranja e Elvis sorria logo atrás dela.

A garota se apoiava em seus joelhos. Os braços estavam sujos de terra e sangue escorria da sua cabeça como naquela noite. Seus cabelos albinos estavam emaranhados e caiam como cascatas em seus ombros.

Então ela sorria, sua voz ecoava como em um grande túnel:

Vamos embora juntos.

E ele acordava suando frio em sua cama.


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Notas finais do capítulo

Six Trillion Years and Overnight Story: https://www.youtube.com/watch?v=_dXYyhWaPuo

Eu sempre imagino o Ryan loiro, mesmo sabendo que ele é moreno e o Noah eu imagino moreno mesmo ele tendo cabelo cor de palha. Não cometam o mesmo erro T-T
O capítulo três está pronto, mas só vou postar quando terminar o quatro, lembrando que ainda tenho uma outra fanfic para terminar.
Esta história está saindo muito rapidamente, eu não vejo a hora e nem os minutos, parecem alguns segundos e BOW, um capítulo de onze páginas.
Este teve oito páginas e 3.438 palavras... Sim, eles estão ficando grandinhos, desculpe-me por isso.
Enfim, espero que tenham gostado e deixe sua opinião ^u^
Beijos Azuis e até!



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