A Única Inocência escrita por Laís Bohrer


Capítulo 3
Eu não vou te deixar sozinho


Notas iniciais do capítulo

*Lay: Certo, ainda não terminei o quarto capítulo, mas mesmo assim o capítulo três já estava prontinho esperando para brilhar então aqui está. Obrigada a quem leu o último capítulo e obrigada a Liza S V sempre a primeira a ler ^^
Vejamos, esse capítulo também foi bem rápido de escrever apesar de ter ficado bem grande.
Ainda estamos na infância, logo chegaremos a adolescência, não sei se chego a escrever a idade adulta... Bom, deixaremos isso quieto.
Boa leitura.



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CAPÍTULO TRÊS

Eu não vou te deixar sozinho

Fina como mil agulhas caindo do céu, ela nunca tinha sentido nada tão frio como aquela chuva. Não havia mais tantas pessoas como há meia hora. A menina olhava com a cabeça abaixada para as flores que foram deixadas no chão, sentia pena das flores. Ela não teria gostado, mas agora estava há sete palmos da superfície, ninguém se importava de verdade.

Eles apenas queriam ser gentis.

– Eu não quero mais esse nome – ela disse com a voz fraca.

Não houve resposta. Ela apertou com força a bainha de seu vestido básico e preto.

– Não quero. – murmurou.

Aquela nuvem cinzenta passou abrindo espaço para os fracos raios solares que tocavam a terra.

Ela ainda preferia que estivesse chovendo.

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– Por favor, Noah! – insistiu Ryan pela enésima vez.

– Não. – Noah repetiu pela enésima vez.

O torneio de natação estava próximo e várias crianças de outros clubes da cidade iriam competir. Desde que o treinador – Sr. Porter – deu a notícia de que o clube de natação deles iria participar, Ryan esteve mais agitado do que nunca o que contribuía para o estresse diário de Noah Andersen.

Noah não sentia mais tanto ódio por Ryan como há cinco anos, mas o moreno realmente o irritava. El perguntava-se como as pessoas gostavam tanto daquele cara irritante. Noah não sabia mais se ainda havia aquela rivalidade de antes, estava satisfeito por ser o melhor em natação de seu clube.

No entanto mesmo com todo o crédito recebido, não queria fazer parte de nenhuma competição, queria apenas nadar.

– Só dessa vez e eu não te peço mais nada – Ryan implorava. – Nade apenas o revezamento comigo!

Em resposta, Noah abaixou seus óculos de natação e saltou na piscina como se não tivesse ouvido o que o moreno havia dito. Ryan ficou decepcionado, mas não irritado. Normalmente não era pavio curto. Estava acostumado lhe dessem tudo o que queria, a ser popular e sem querer ser o centro das atenções.

Não era um garoto mimado porque seus pais tinham uma boa condição financeira, mas Noah realmente parecia querer ele longe... E isso lhe dava vontade apenas de se aproximar.

Sabia da má fama que Noah tinha, mas ainda não tinha confirmado nada do que ouvira e acreditava que nunca chegaria a ter motivos para acreditar no que as pessoas diziam.

Com licença... – ouviu uma voz atrás de si.

Ryan virou-se para um garoto um pouco menor que ele, este tinha cabelos negros e olhos puxados combinando com suas feições asiáticas. Ele era magro e usava uma bermuda de natação com detalhes em azul. Em suas mãos ele segurava seus óculos de natação e uma touca escura.

Ele limpou a garganta e perguntou timidamente:

– Você... Vai nadar no revezamento?

Ryan coçou a cabeça, primeiramente processando a pergunta até que abriu um sorriso de orelha a orelha.

– Hummm – confirmou. – O problema é que não tenho um time completo ainda.

O menino asiático arregalou seus pequenos olhos o que não os fez ficarem tão maiores. Ele desviou o olhar tímido, abriu a boca para falar algo, mas nada saiu. Vendo o constrangimento do garoto, Ryan sorriu para o mesmo e inclinou-se para frente:

– Ei, ei – ele deu um de seus típicos pulinhos que soltava risada dos mais velhos. – O que você acha de competir no meu time?

O outro parou por um momento e então retribuiu o sorriso do de olhos claros.

– Seria...

Antes que ele terminasse de falar, Ryan apoiou-se em seu ombro com um largo sorriso.

– Fechado então! – disse o moreno. – Que estilo você vai nadar?

– Bom... Eu... – gaguejou o asiático. – Eu gosto de nadar borboleta.

– Sério? – parou Ryan. – Eu vou nadar de costas e...

Ryan Cross se virou no instante em que Noah estava saindo da piscina. O moreno correu até o amigo e pôs a mão em sua cabeça o que irritou o loiro.

– Meu amigo Noah vai nadar estilo livre – confirmou, acrescentando com ênfase. -... No revezamento comigo, não é, Noah?

Noah suspirou.

– Desista, Cross – murmurou. – E eu não sou seu amigo.

Noah afastou a mão de Ryan e se afastou. O moreno ficou ali parado de frente para o outro, olhou para o de olhos puxados e deu um sorriso sem graça.

– Eh... Ele precisa de um pouco de motivação – explicou. – Ah, eu ainda não sei o seu nome.

O menino sorriu confortável.

– Sora Hayashi.

Ryan ergueu a mão e Sora apertou calorosamente.

– Meu nome é Ryan. – disse. – Ryan Cross.

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O lápis era como um dos membros de seu corpo que se movia agilmente com um comando de seu cérebro. Mesmo rapidamente, seus movimentos sobre o papel eram elegantes e precisos. Mordia seu lábio inferior enquanto estreitava os olhos azuis, atentos a cada detalhe, cada fio de cabelo, cada traço... Cinco anos atrás e ela ainda se lembrava de tudo. Durante esses últimos cinco anos esteve fazendo vários quadros com aquele mesmo rosto.

Seus cabelos loiros estavam presos em um coque desajeitado. Sua mão estava um pouco dolorida.

O garoto desconhecido que havia conhecido há cinco anos era uma lembrança triste e ao mesmo tempo alegre e assim que veio sendo seus desenhos nos últimos anos. Lembra-se de ter ouvido os gritos da sua mãe e os lamentos de seu pai. Lembrava-se do rosto horrorizado das pessoas e de pensar naquela hora: “O que estão olhando?”.

Ela lembrava-se perfeitamente da culpa naqueles olhos castanhos.

A culpa foi minha. Ela queria ter dito em voz alta, talvez tivesse feito alguma diferença. Gostaria de colocar-se na frente do amigo e levar aqueles olhares de desprezo no lugar dele.

Sentia falta do garoto desconhecido, sentia falta do seu amigo.

Ela poderia ter amigas se quisesse, tentou fazer amizades e conseguia atrair as pessoas facilmente, no entanto nunca se sentia confortável de verdade perto delas. Era como se ela fosse um fantasma perseguindo as suas colegas que de vez em quando pareciam realmente a ver.

A garota desconhecida soltou o lápis.

Pronto”, ela pensou.

Ajeitou-se na cadeira esticando sua coluna quando ouviu uma voz masculina atrás de si.

– Oh, está perfeito Laurent – o seu professor de desenho se aproximou. – Gostaria de explicar seu desenho para a turma?

Seu nome na verdade não era Laurent, esse era seu sobrenome o qual preferia que as pessoas a chamassem, afinal de contas havia abdicado o próprio nome uma semana antes de se mudar da cidade em que fez seu primeiro amigo de verdade.

O seu professor, Spencer, era muito legal com ela e um verdadeiro gênio – na opinião da loira – que gostava de ouvir sua opinião e pensamentos criativamente infantis.

A garota olhou para seu desenho a lápis onde estava o rosto do garoto desconhecido, uma lágrima caindo de seu olho direito e o braço erguido preso por uma corrente que ligava em um bracelete em seu pulso. Sua mão estava aberta no ar como se estivesse tentando alcançar alguma coisa. Um de seus joelhos estava colado em um solo enquanto o outro parecia se ergueu.

Ela assentiu com um sorriso.

A garota se ergueu da cadeira com o desenho em mãos.

Lembrou-se no caminho para frente da classe, uma lembrança estranha que inspirou o desenho: Depois da morte da sua avó – a melhor pessoa do mundo na opinião da menor – dizia que queria anular o próprio nome que foi em homenagem a sua avó. Seus pais irritados com isso a levaram em um psicólogo e o mesmo havia dito:

– Ainda dói? – perguntou um senhor de cabelos brancos e olhos claros.

A garota assentiu.

O homem ergueu-se e caminhou pela sala, quando voltou tinha uma boneca em mãos.

– Me mostre na boneca, onde exatamente está doendo. – pediu.

Hesitando por um segundo, a garota desconhecida ergueu o dedo fino e pálido, tocando na região acima da barriga da boneca, bem aonde deveria estar um coração. Depois disso o psicólogo disse:

– Deixem que ela faça o que queira – ele olhou para os pais e depois para ela. – Alguns fardos nós levamos para a vida toda sem precisar. Você é jovem demais, não precisa levar isso.

Depois de um tempo de conversa, seus pais se convenceram de que fosse melhor assim desde que sua filha estivesse bem.

Ela se comoveu com a compreensão deles, mas uma hora o psicólogo a chamou:

– Um dia você vai ter que superar, saiba disso. Não podemos fugir para sempre ou simplesmente nos esconder em um vazio na nossa identidade, certo?

E aquilo martelava na sua cabeça até então.

Quando a garota ficou de frente para sua turma todos se inclinaram em suas cadeiras, parando seus desenhos e conversas paralelas. Sempre interessados nos incríveis desenhos da loira.

Ela engoliu seco esperando a ordem do professor:

– Pode começar Laurent.

Ela respirou fundo e abriu a boca.

O silêncio preencheu a sala, seria possível ouvir até mesmo a ponta de um lápis em impacto com o chão. A garota se encolheu um pouco confusa como se de repente tivesse acordado em um lugar diferente da sua cama.

As pessoas olharam confusas.

Ela não era de travar, na verdade sempre se dera bem com um público.

– Laurent, não se acanhe – disse o professor, gentil. – Pode explicar sua obra de arte.

Alguns garotos começaram a rir dela em um canto.

Ela tentou de novo – abriu a boca para falar, forçou sua voz, mas nem um pio havia escapado. O desenho do garoto desconhecido caiu no chão lentamente como uma pena. Seus joelhos fraquejaram e lágrimas escaparam de seus olhos. A garota tentou gritar, mas apenas um fraco guincho agudo e irritante havia saído.

Foi então que o professor notou o que estava acontecendo e alarmou-se. A preocupação se espalhou por entre os que assistiam a apresentação.

A garota desconhecida estava em silêncio, afogando-se em lágrimas mudas.

Superação, esse era o significado do desenho.

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Sora Hayashi sentou-se em um banco no corredor quando viu seu novo amigo Ryan passar em sua frente correndo atrás de Noah Andersen.

Estremeceu quando Ryan parou e sorriu para ele:

– Até amanhã, Sora!

Mas ele estava tão avoado coma ideia de participar de um torneio que não ouviu o que o moreno de olhos claros dissera. Assentiu com a cabeça e deu um sorriso amarelo. Não sabia o porquê tinha ido falar com Ryan sobre o campeonato de natação e estava inseguro desde que o garoto tinha olhado para ele com aquele sorriso confiante.

Lembrou na expressão fria que Noah carregava e de se assustar ao encarar aqueles olhos escuros. Seus pais sempre diziam que deveria ficar longe de pessoas como Noah, mas nunca diziam o real motivo exceto é claro que Noah tinha um problema contagioso – no entanto o loiro parecia bem, nada fora do normal exceto aquele olhar.

Seus pensamentos voltaram para o campeonato e em como Ryan e Noah eram bons... Bons o bastante para deixar Sora completamente para trás.

Eu só vou atrapalhar. Ele pensou.

– Talvez eu deva desistir... – ele cogitou em um murmuro.

E naquele momento, Alfred Porter estava lá.

– Eu ouvi você dizer desistir? – ele disse do balcão.

Sora se assustou, esqueceu que não era o único ali. Era a última criança restante esperando os pais, mas se esqueceu totalmente do técnico Porter. Tinha ouvido falar de seus pais que o mesmo já havia sido um nadador de nível mundial, mas ao encarar aqueles olhos castanhos e claros, Sora via apenas um senhor gentil que não poderia ser nem um pouco competitivo.

O quanto às aparências poderiam enganar?

– Soube que você vai participar do torneio com Ryan e Noah – comentou o mais velho.

Sora não sabia o que responder, mas ficou surpreso quando ouviu o homem dizer com tanta certeza.

– Ryan parece ter gostado de você – continuou. – Mas ninguém gosta de pessoas que desistem.

– Eu não vou desistir! – exclamou repentinamente o garoto e então se encolheu. – Eu... Só estava pensando.

O Sr. Porter parou e encarou o pequeno Hayashi.

– Sora, esse é o seu nome, certo? – perguntou.

O menino assentiu um pouco rápido demais.

– A maior parte das coisas que fazemos começa em pensamento – acrescentou o velho. – Você deveria tomar mais cuidado com o que pensa.

Sora engoliu seco enquanto se perguntava se desistir era realmente a melhor opção. Lembrou-se do sorriso de Ryan, ele realmente confiava em uma pessoa que tinha acabado de conhecer e essa pessoa sendo Sora teria que responder essas expectativas da melhor maneira.

Pelo menos era isso o que ele almejava naquela hora.

– Eu não vou mais pensar nisso – sacudiu a cabeça jogando seus cabelos lisos e escuros para o lado.

Alfred sorriu.

– Era o que eu queria ouvir – murmurou alto suficiente para Sora ouvir. – Boa sorte, Sora.

E nisso Sora avistou seu irmão mais velho esperando do lado de fora, sentiu uma enorme volta de sair gritando que ele ia vencer não importa o que acontecesse. Não ia ficar para trás. Uma atitude nada típica de Sora que sempre fora tímido, mas para trabalhar em equipe ele teria que superar isso.

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Tudo o que Noah Andersen queria naquele momento era ficar sozinho, mas Ryan não desistiria tão fácil e o loiro sabia disso. Ryan era para ser seu rival e agora estava ali perturbando para que nadasse com ele em um revezamento e o pior de tudo era que aquela não era uma brincadeira de mau gosto, percebeu nas últimas semanas.

Ryan andava há poucos passos atrás dele, sua presença lhe deixava irritado como antigamente quando tinha sete anos e dizia que quando fosse maior do que Ryan Cross o quebraria. Agora cinco anos depois, Noah era realmente maior do que Ryan, em pensamentos gostaria de segurá-lo pela gola de seu casaco de marca e espancar sua face até o moreno ficar irreconhecível.

Mas Noah não iria fazer isso, na verdade não queria mesmo. Sempre sentira inveja de Ryan por ser querido e talentoso, não via motivo para alguém do porte de Cross estar falando com alguém como ele, mas ali estava Ryan há dias implorando para que Noah emprestasse sua velocidade na água.

Seria apenas interesse? Ryan deveria estar querendo atenção de todos de novo. Mesmo que Noah o ajudasse a ganhar, Ryan levaria todos os créditos. Ele tinha certeza e isso o deixava com raiva.

Por outro lado ultimamente, ele veio pensando se seria realmente legal trabalhar em equipe. Ryan já até conseguira alguém para nadar borboleta. Sora Hayashi, ele sabia quem era.

Sora Hayashi era um garoto de feições asiáticas que Noah nunca tinha ouvido dizer uma única palavra. Sempre quando olhava para Noah, parecia assustado.

– Então, com quem você mora? – perguntou Ryan repentinamente após um minuto de silêncio.

Noah parou de caminhar.

Ele não sabe. Concluiu mentalmente.

Respirou fundo, sua boca estava seca, então voltou a andar ignorando a pergunta de Ryan que continuo o seguindo. Estavam perto da casa dos Andersen quando as pernas de Noah hesitaram e seguiram na direção oposta aos portões verdes. As vezes quando estava sozinho em casa conseguia ouvir a voz de sua tia Agnes ecoando pelos corredores, era apenas impressão, apenas os fantasmas que restaram de suas lembranças.

Era a mesma coisa quando ia para a praça, as vezes confundia alguma menina com a garota desconhecida – há um tempo ele parou de correr atrás delas e ser xingado pelas pessoas que não sabiam o conflito que havia em sua mente.

Jasmine ia visita-lo às vezes, levando comida da casa dela para ele. Ele não gostava, mas ela fazia questão de vê-lo comer tudo. Então quando ela ia embora ele dizia: “Agradeça a quem quer que tenha te mandado aqui” e ele podia ver o susto que ela levava, como se ele tivesse lido sua mente.

Noah caminhou até parar embaixo de uma gigante árvore no meio da praça. Cinco anos antes, quando tinha sete anos, chamava aquela árvore de Elvis e o culpara por rir dele quando derrubou a menina da árvore. Hoje em dia Noah assumia que era apenas uma árvore e nada mais, que continuaria sorrindo eternamente para a desgraça e a beleza do mundo.

Ele se sentou no chão deixando sua mochila e a pendurando em um galho baixo.

Não ousou olhar mais para Elvis, afinal se olhasse veria aquela garota – ou o fantasma dela – de novo, sorrindo para ele ou chorando enquanto sangue escorria de sua cabeça.

– Noah? – Ryan chamou.

Noah não respondeu, ficou com a cabeça abaixada.

Uma brisa suave ergueu um pouco de poeira do chão.

– Por quê? – perguntou o loiro erguendo os olhos para Ryan. – Por que você está aqui?

Ryan hesitou.

– Por que eu sou...

– Alguém como você que é tão popular – disse Noah se levantado. – Com tantas pessoas interessantes, por que está falando comigo?

Eles estavam um de frente para o outro. Os ombros de Ryan ficaram tensos, sua vontade era de desviar o olhar de Noah. Sim, ele poderia estar com varias pessoas menos Noah. A verdade era que Ryan nunca demostrou interesse em Noah, tinha sido um daqueles que o ignoraram... Pelo menos, deveria ser isso o que Noah estava pensando.

– Uma vez, Amber Bagot estava implicando com uma menina do orfanato – lembrava Ryan – Você disse que ia quebra-la por isso e no dia seguinte colou chiclete no cabelo dela.

Noah o olhou confuso.

– Eu achei aquilo legal. – Ryan sussurrou com um leve sorriso.

O garoto loiro estreitou os olhos para Ryan, desconfiado ele deu uma curta risada.

– Há algum tempo eu decidi que odiava você – contou Noah. – Esperava que você me odiasse também.

– Eu sei – disse Ryan.

Noah hesitou.

Sabe?

Ryan assentiu.

– Eu entendo você Noah – acrescentou o moreno dando um passo para frente.

Nisso, Noah deu um passo para trás.

– Não entende nada – disse ele ao recuar, suas mãos em frente ao corpo como se estivesse se defendendo. – Como pode entender? Você sempre tem várias pessoas ao seu redor, nunca esteve sozinho porque as pessoas sempre querem estar perto de você, você sempre satisfaz as pessoas apenas sorrindo daquele jeito falso!

Ryan parou arregalando os olhos em surpresa. Era verdade que ele sorria por sorrir, sentindo obrigação de fazer aquilo... As pessoas acabavam o levando como uma pessoa simpática. Um garoto perfeito que ele não era.

Era inteligente, talentoso, carismático aos olhos das pessoas, mas no fundo era tudo uma brincadeira. Tudo falso.

– Você me enoja, Cross! – Noah gritou.

Os olhos pareciam arder de raiva em direção a Ryan.

Ao contrário do que pensava, Ryan não perdeu a cabeça e nem ficou chateado, seu próximo gesto foi muito mais surpreendedor.

Ele sorriu.

Noah se assustou e logo voltou a ficar com raiva.

– Eu vou quebrar os seus dentes se continuar rindo de mim – ameaçou.

– Não estou rindo de você – Ryan deu dois passos. – Estou rindo pra você.

Uma nova brisa sacudiu as folhas do alto das árvores, estas caíram sobre eles anunciando o primeiro dia do outono. O pôr-do-sol havia chegado e Noah se lembrou daquela garota mais uma vez. Ele se lembrou do sangue, das pessoas que o xingavam... Diziam para ele morrer.

Nunca ligou antes, por que agora?

– Noah... – chamou Ryan.

– Eu estou sozinho – Noah sorriu de um jeito triste, ele tremia. – Não sobrou ninguém para rir para mim.

E caiu de joelhos, amaldiçoando a si mesmo ao fazer isso – se ajoelhando diante daquela pessoa. Noah se sentia fraco e estúpido.

– Ninguém. – continuou.

Como é não ter pais? A voz de Jasmine ecoou em sua mente.

– Eu não tenho mais família – disse.

E as folhas se ergueram com o vento.

Ryan deu mais um passo e se ajoelhou pousando uma mão no ombro do garoto loiro.

– Vamos ser amigos, tudo bem? – disse gentilmente.

– Não quero amigos se for pra perdê-los depois. – murmurou Noah. – As pessoas que são preciosas pra mim sempre vão embora...

Noah não chorava, mas Ryan sim. Sentia-se culpado por não ter se aproximado antes quando tinham sete anos. Ele, como os outros, tinha medo de Noah. As pessoas se aproximavam dele primeiro, não sabia como fazer amizade. As pessoas o procuravam, mas mesmo assim, Ryan se sentia sozinho... Como se todos os laços que juntara fossem frágeis demais.

Mas no momento em que ele puxou Noah e o abraçou calorosamente, Ryan tomou uma decisão e então fez uma promessa da qual aquele outono foi testemunha:

– Eu não vou te deixar sozinho, Noah! – Ryan gritou enquanto fungava.

Noah não correspondeu o seu abraço, estava chocado demais para fazer qualquer coisa. Nunca havia recebido um abraço daquele jeito desde o dia em que tia Agnes o puxou para casa quando ele empurrou a menina desconhecida. Não... Ainda era algo novo. Aquele era o abraço de um amigo que o entendia.

– Ei... – Noah disse fracamente para si mesmo. – Por que estou chorando?

E uma lágrima silenciosa caiu de seu olho direito, diferente de Ryan que soluçava freneticamente. Mas mesmo assim, estava chorando também e logo mais lágrimas caíram, mas Noah não estava triste. Na verdade não se lembrava de ter se sentido tão feliz antes.


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Notas finais do capítulo

*Sora é uma palavra japonesa para "céu".
* Me deu uma agonia quando a garota desconhecida (Laurent) perdeu a voz, essa parte é baseada naquela parte da música:
(Estava proibido de falar com você, mas...
"Eu quero saber qual o seu nome."
"Desculpe, mas eu não um nome e nem uma língua"
Não tem nenhum lugar no mundo a que eu possa chamar lar
E mesmo assim "Vamos embora juntos"
Você me levou longe.)

"Vamos embora juntos", eu fiz referência a essa frase no primeiro capítulo onde a garota desconhecida diz isso ao nosso protagonista.

Sim... Ryan é muito sensível, no começo eu achava que ele era metido, antes que ele aparecesse, mas eu comecei a gostar dele.

Acho que é só isso,
espero que tenham gostado.
Beijos Azuis



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