CAPÍTULO 7

Um borrão.

Tudo é um grande borrão. Negro e obscuro. Não há forças pra encontrar uma luz. Mas ela aparece. Se esforçando e atravessando barreiras até chegar aos meus olhos. Eu ouço vozes desconectas e em uma grande eco. As paredes são brancas e o teto de espelho, com várias luzes saindo dele, como holofotes.

– Ela acordou.

A voz de uma garota ecoa pelos meus ouvidos e tento focar minha visão destorcida.

– Eu chamo a enfermeira - Clove. Era a voz da minha amiga Clove.

– Aconteceu alguma coisa com ela? - Uma voz masculina vem ao fundo, como se estivesse fora da sala branca.

– Ela acordou. Mas acho melhor deixar ela descansar, está sob efeito dos remédios, ainda não disse uma palavra.

– Eu posso vê-la?

– Vou chamar a enfermeira, depois vemos isso Finnick.

Finnick?!

O que ele quer comigo? Sempre mal olhou na minha cara e sempre me deixava pensando o que foi que eu fiz. O que aconteceu pra que essa voz de preocupação viesse agora?

– Nossa bonequinha ruiva saiu do seu sono da beleza. - Vejo Katniss se aproximar de mim, sorrindo.

Pelo que observo estou em uma cama de hospital. Provavelmente na enfermaria.

– O que aconteceu? - Sussurro fracamente. Tento levantar o braço mas sinto uma pontada forte. Pelo menos três tubos estavam ligados no meu antebraço esquerdo.

– Não se lembra de nada Ann? - Mad arrasta seu banco até perto da minha cama. Me ajeito de forma desconfortável para sentar. Sinto uma outra pontada forte, mas na cabeça.

– Ei, fica paradinha ai ruiva. A enfermeira já vai chegar, Clove foi chamar.

– Por que estou aqui?

– Você deve ter batido a cabeça bem forte mesmo. - Mad da um sorriso triste.

– Essas meninas estão te enchendo anjinho? Posso expulsá-las, logo começa a primeira aula - Uma mulher loira de cabelos curtos passa pela porta seguida por Clove, que me lança um sorriso. Ela usava um uniforme branco e sapatos vermelhos. Era bem pálida. - Sou Lyme, enfermeira da AMA. Como se sente querida?

– Aula? Quanto tempo eu fiquei aqui? - Pergunto confusa.

– Você dormiu por um dia Ann. - Clove senta ao lado de Katniss.

– Mas... eu... como...

– Você desmaiou na noite da festa. O garoto de olhos verdes te trouxe pra enfermaria desacordada. Hoje é segunda feira. Você passou todo o domingo dormindo - Lyme diz bem devagar, como se eu tivesse alguma dificuldade para entender - Fizemos alguns exames enquanto você dormia. Registramos um alto teor alcóolico presente no seu sangue, mas não foi isso que te desacordou. Você usa algum tipo de medicação forte?

– Não... Apenas alguns remédios que meu psiquiatra passa. Tinha no passado distúrbio bipolar, mas é só isso. O psicólogo do campus autorizou o consumo.

– Tudo bem, se acalme! - Ela se senta na cama, colocando a prancheta no colo. - Conversamos com seu psicólogo. Ele realmente falou desses medicamentos. A quantidade que você toma é razoável, mas não suficiente para apagá-la por conta da mistura que o álcool fez. Você tomou algum a mais? Pode ser que tenha tomado sem querer. Precisamos saber a verdade. Se não podemos estar enfrentando uma coisa mais grave Annie.

– Eu... - As quatro olham para mim ansiosas - Eu... Eu tomei duas dozes de cada remédio...

– Annie! Você estava querendo se matar? - Clove grita.

– Não! Meu Deus! Não! - Sinto as lágrimas pinicando meus olhos - Eu... eu queria garantir que nada ruim poderia acontecer comigo. Vocês não sabem como é ruim saber que você pode ter um ataque a qualquer momento! Sair do controle e não ser mais você mesma.

– Ei, ei, ei! Shiii - Mad limpa minhas lágrimas que não paravam mais de sair - Nós não entendemos, mas estamos aqui pra você, tudo bem? Ficamos ontem o dia inteiro nesse quarto.

– Passaram o dia todo aqui? - Fungo.

– Todos os segundos - Kat também está com os olhos cheios de água.

– A não ser o almoço, o lanche, a janta e quando tivemos que pegar nossas roupas pra dormir aqui e se preparar pra aula de hoje. Tirando isso, estivemos aqui todo o tempo. - Clove sorri.

– Eu amo vocês meninas! - As lágrimas não paravam de sair dos meus olhos mas o sorriso estampado no meu rosto superava todo o choro.

Elas me abraçam desajeitadamente, acabamos rindo.

– Adorei esse momento de melhores amigas de vocês, mas as três mocinhas tem que ir para a aula. Annie, vou te liberar na segunda aula. Só precisamos checar uns exames e aplicar uns medicamentos e está liberada.
Vocês três, fora!

– Nós voltamos pra te buscar pra aula da Effie Ann! - Mad passa pela porta acenando.

– Lyme, será que não é melhor alguém ficar com ela? - Clove perguntas

– Sinto muito meninas, mas vocês tem que ir para aula.

– E se acontecer alguma coisa? Alguém precisa ficar de olho nessa doida ai! - Katniss diz risonha e eu gargalho.

– Eu posso ficar se quiserem...

Oh não!

– É, ele nem saiu daqui Lyme, tivemos que trazer comida para ele. Acho que eles merecem conversar - Clove insiste. Eu estou quase pulando da cama para impedir isso.

– São namorados?

– Não - Os três respondem.

– Bom mesmo, se eu ouvir qualquer barulho vindo desse quarto, você é um britânico morto! Vamos garotas, vão se atrasar!

Posso entrar em pânico? Claro que posso entrar em pânico! Não sei se isso ta acontecendo de verdade. Primeiro, ele ficou aqui o tempo todo, como ouvi Clove dizer. Agora pediu pra ficar no primeiro horário cuidando de mim. Quando ouço a maçaneta sendo aberta lentamente, encosto na cama e finjo que estou dormindo.

Ouço o barulho dele sentando na poltrona perto da cama e consigo sentir o calor do seu corpo. Ele suspira alto.

– Acho que você é a única pessoa do mundo que consegue dormir em menos de dez segundos - Ele diz divertido. Maldito sotaque britânico que me faz sorrir.

Abro meus olhos devagar, encaro seus olhos verdes cansados.

– O que faz aqui Finnick? - Tento soar séria.

– Não está feliz de me ver? - Ele sorri abertamente, dando lugar a duas covinhas fundas em cada bochecha. Esse garoto tem que parar de ser irresistível!

– Por que está aqui? - Insisto.

– Um simples " obrigada " já seria suficiente.

– Olha, eu não estou muito pra brincadeiras hoje. Acabei de acordar de um quase coma e estou muito cansada, então se não vai responder minhas perguntas, a porta está aberta.

Okay, eu nunca sou grossa. Sempre tento manter a simpatia até nos momentos mais difíceis. Mas se ele não vai colaborar, não tem motivos pra ficar aqui ao meu lado. Ele parece não se abalar com meu tom de voz.

– Se não fosse por mim, você estaria bem pior.

– Eu não pedi pra você me ajudar!

– É mas se não ajudasse você estaria jogada em algum canto naquela festa por que o idiota do seu ficante ia te largar aonde seja que ele estava te levando. As pessoas iam passar por você e pensariam que só deu um PT por causa das bebidas. - Ele levanta um pouco o tom de voz.

– Que ficante? Eu não fiquei com ninguém naquela festa.

– Ah, okay! Então eu peguei uma MCR atoa, obrigada por me avisar agora! Eu vi vocês, estavam bem agarrados e você vem me dizer que nem chegou a beijar aquele cara? Me poupe.

– Uma MCR? - lembro que Coin comentou sobre isso na palestra de início, algo como uma advertência - Por que você pegaria uma MCR?

– Por que eu bati no cara, Annie! Eu armei uma briga por causa de você! Agora se eu arranjar mais quatro daquelas coisas, eu seria expulso dessa caralha! - Ele se levanta rapidamente e fica de costas para mim, com as mãos nos cabelos.

– Eu... eu não sabia disso.

– É, eu sei.

– Eu não queria que vocês arranjasse problema por minha causa, me desculpe.

– Não, eu... tudo bem... eu agi por impulso, não pensei nas conseqüências. A única coisa que veio na minha cabeça era que precisava cuidar de você.

Essas palavras me fizeram estremecer. Ele realmente disse o que disse? Seus olhos não mostravam nenhum remorso pela frase dita, eles só imploravam por atenção e respostas. Um verde tão quase transparente e suplicante.

– Eu não entendo...

– Eu sei... Eu te devo muitas explicações...

– É... eu acho que sim.

O silêncio se foi feito. Ele se aproximou e sentou na cadeira uma vez que Madge estava sentada.

– Pergunte o que quiser.

– Agora?

– Agora.

– Okay. Vamos ver...hum... Ah, já sei! Será que você pode me arranjar um espelho? Tenho certeza que meu cabelo não está muito legal para eu sair daqui e ir para a aula. Nossa! Minhas roupas! Preciso de roupas limpas! Também quero saber por que me encarou estranho na primeira aula do Cinna! Tipo, você parou de falar do nada e eu fiquei muito sem graça! E também por que você me ignorou quando tentei falar com você? Eu fiquei muito mal aquele dia. Katniss me disse que quando foi falar com você no outro dia, você disse que era culpa dos meus olhos! Fiquei tipo WHAT? ele quer que eu arranque meus olhos fora? Isso é uma coisa que eu nunca faria! Sabia que eu adoro os seus olhos, eu sim arrancaria os seus pra colocar no lugar dos meus! Meu Deus, seu sotaque! Posso dizer que começo a sorrir toda vez que ouço o quanto você fala fechadinho e... - Ele começa a rir - O que foi?

– Por que não começamos com o espelho? - Suas covinhas aparecem novamente. Acompanho o sorriso.

P.O.V. KATNISS

– Sincronia? Serio? Vamos ter que encontrar uma música pra fazer uma sincronia de vozes? Cinna só quer nos foder!

– Não se esqueça, querida Clove, a porra tem que ser acapella! - Exclamo irritada.

– Ai gente, vai ser legal! - Mad sempre positiva - É só encontrar uma música bem legal e cantá-la sem música de fundo!

– Sua alegria me faz querer cagar Mad! - Clove diz e eu acabo gargalhando - Além de encontrar uma música, temos que dividi-la! Sabe o quanto isso é difícil?

– Pelo menos temos Cinna pra nos ajudar.

– Vamos buscar logo a Ann, a aula da Effie vai começar em cinco minutos.

– O que será que os dois conversaram tanto?! - Mad diz animada.

– Eu não faço a menor ideia, mas eu pagaria o que fosse pra ficar em um quarto com aquele britânico gostoso! - Clove nos olha com malícia.

– Se não aproveitou o bastante, eu termino por ela - Acompanho sua malícia.

– Vocês duas não existem! - Mad cora um pouco e nós duas gargalhamos.

– Mad você é tão inocente pra uma garota de 16 anos! - Digo abraçando sua cabeça.

– Inocente? Ela não estava lançando nenhum olhar inocente para o Gale durante a aula! - Clove aperta as bochechas rosas dela.

– O que? Eu... não...eu... Calem a boca! - Ela fica mais vermelha - Eu não olhei pra ele okay? Ele ficou me encarando!

– Já marcaram algum encontro...?

– Katniss!

– O que foi? Eu quero dizer pra explicar o que aconteceu na festa! Aquele beijo não foi nada inocente.

– Eu curti a coragem do australiano. Foi bem interessante...

– Vocês duas só me fazem passar vergonha! Sim, eu quero saber por que ele me beijou, mas ao mesmo tempo não quero ficar no mesmo lugar que ele, sozinha.

– Ai Clo, acho que nosso destino é ficar solteira e ser cupido das branquelas!

– Nós podíamos abrir aquelas capelas em Las Vegas, que casam as pessoas! Eu seria a casamenteira e você o anjinho que fica do lado " abençoando " o casal! - Clove brinca.

– Amiga, ta fechado. Mas qual vai ser o primeiro casamento? Da Madge ou da Annie?

– Eu odeio vocês! - Mad grita rindo.

– Nós sabemos - Dizemos em uníssono.

– Mas falando em encontros, quando você vai conversar com o Peeta sobre o que você viu? - Mad pergunta.

– Por que eu deveria conversar com ele? Ele não me deve nenhuma explicação.

– Sei lá... Você pareceu meio abalada.

– Primeiro: eu não fiquei abalada! Eu só fiquei surpresa. E segundo: ele pode beijar, agarrar, transar com quem ele quiser! Eu não sou nada dele e ele não é nada meu. Somos amigos.

– Por pouco tempo...

– Ah não vem não Clove! Quem ficou amaldiçoando a Glimmer o domingo inteiro por ter dormido com o Cato?

– Eu não fique amaldiçoando aquela loira oxigenada! Eu apenas apontei os fatos do por que ela é tão arrombada! Se ele gosta de espaço pra entrar, o canadense encontrou a piranha certa!

– Chegamos!

Entramos na enfermaria e encontramos Lyme na recepção. Ela nos entregou alguns remédios que Annie deveria tomar e pediu para que ficássemos de olhos no que ela estava ingerindo. Ela liberou nossa entrada para o quarto de Ann. Quando entramos, Finnick e ela estavam rindo de alguma coisa. Ela já estava de roupa trocada e com os cabelos arrumados. Na noite anterior, Clove foi buscar nossas coisas no dormitório e acabou trazendo algumas coisas da Annie, caso ela acordasse para as aulas de hoje.

– Oi meninas! - Annie se levantou da cama, já sem os tubos de soro em seu braço.

– Se divertiram crianças? - Clove sorri maliciosamente.

– Morena, calada! - Annie aponta o dedo para ela - Vamos, a aula de Effie já vai começar.

– Você vem Finnick? - Pergunto para ele que ainda estava sentado na cadeira que ficava perto da cama.

– Claro! Só vou pegar umas coisas no meu dormitório e já vou para o auditório. Avisem os caras para que parem de chorar pela minha ausência.

– Okay. Nos vemos na aula! - Mad acena para ele.

– Obrigada. Por ficar aqui comigo, quero dizer. E por tudo. - Ann se aproxima dele.

– Só observo... - Sussurro para as outras duas curiosas.

– Não precisa agradecer. - E de repente a ruiva o abraça.

O estranho foi que ele se assustou um pouco. Mas logo fechou os olhos e a puxou para mais perto pela cintura, apoiando seu queixo na cabeça vermelha alaranjada dela.

– Se ela fica desse tamanho perto dele, imagina você Clove. - Digo e ela me da um soco no braço.

– Eu não queria atrapalhar o momento romântico de vocês, mas estamos atrasadas! - Clove anda até os dois e puxa Annie pela mão, arrastando-a para fora da sala.

– É Clo, desse tamanho. - Aproximo minha mão do chão, fazendo a referencia do tamanho dele ao lado do Finnick.

– Vai tomar no cu Katniss!

Todo o caminho até o auditório foram apenas de perguntas. Mas a resposta da Ann para todas elas era " Mais tarde eu conto ". Quando chegamos no auditório, todos os alunos da nossa turma já estavam lá, menos Finnick. Quando entramos, a maioria deles olhou para nós.

– Mad, avisa os meninos que o Finnick já está vindo. Preciso falar com uma pessoa. - Digo indo em direção ao loiro.

Ele estava com óculos escuros e parecia desmaiado na poltrona. O cutuco.

– Gloss! Acorda!

– Hãn? Kat?

– Bom dia Bela Adormecida! - Sento do lado dele - Matou a primeira aula, que feio!

– Essa ressaca de merda não vai embora do meu corpo! - Ele resmunga.

– Quem mandou beber igual um condenado. Eu e Clove ficamos preocupadas com você. Não voltou mais com as nossas bebidas.

– É... me desculpe por isso. Eu acabei tomando as bebidas de vocês. - Ela tenta sorrir, mas faz uma cara de dor.

– Da próxima vez, já sabe seu limite! A não ser que queira sair da AMA! O que sabemos que é impossível, por que tem uma diretora chamada Coin que te ama do fundo da alma.

– Não diz isso que eu vomito em cima de você agora!

– Você não teria coragem! - Passo a mão em seus cabelos, de forma amigável. Sinto o olhar de Peeta queimar em mim, quando o observo pelo canto do olho.

– Bom dia meu queridos! Hoje vai ser um grande, grande, grande dia! - Effie entra no auditório acompanhada pelos seus ajudantes. Vejo Finnick entrar atrás dela. Ele olha para mim e pisca de um olho só, me fazendo rir.

– Vou lá sentar com as meninas. Depois nos falamos.

– Vai lá, girl on fire.

Vou andando até as garotas, com o seu olhar em mim. Por que ele não está com a Delly? Ela não vai gostar muito disso, de ele ficar me encarando. Dito e feito. A loira aguada já estava grudada no pescoço dele.

– Sentem-se! Temos uma grande notícia para hoje! - Effie esbravejou no palco - Finalmente escolhemos qual será o tema do nosso musical! Espero que gostem tanto quanto eu! É um grande sucesso atual e todos ficaram entusiasmados!

– Sobre o que a maluca da peruca rosa está falando? - Levo um susto com a voz de Johanna atrás de nós.

– Sobre esse musical doido que ela está montando.

– Será que ela não vê que somos cantores, e não a porra de uns atores de teatro? - Ela resmunga.

– Acho que é mais que óbvio que todos vocês já tenham assistido algum filme animado da Disney - Effie saltita pelo palco - E esse ano estaremos estrelando o brilhante... - Ela começa a bater os saltos no chão, fazendo suspense - Frozen!

– Só pode ser brincadeira. - Ouço Johanna dizer.

As três vadias dão gritos de alegria, o que foi bem estranho. Eu amo a Disney, e eu amo Frozen, mas não sei se isso vai dar muito certo.

– Ah meu Deus! Eu amo Frozen! - Mad bate palminhas.

– Eu preciso fazer o papel do Olaf! - Digo e ela ri.

– Eu entendo a empolgação de vocês! Eu também fiquei assim. - Effie completa. Na verdade acho que só eu, Mad e as outras três ficamos felizes, já que o resto da turma ficou com cara de tédio.

– Effie, quando vai ser o testes dos papéis? - Glimmer pergunta.

– Ah minha querida, não haverá testes! - Ela diz como se fosse a coisa mais normal do mundo - Nós sabemos que todos aqui não vieram para cá com a função do teatro, ou seja, são inexperientes. Eu e os outros professores envolvidos decidimos escolher o papel de vocês por aparência, tom de voz e personalidade.

– Isso não é meio... injusto? - Clove pergunta - Por que tem pessoas aqui que só querem ser figurantes!

– Ah querida, todos aqui terão papéis importantes, mas nem todos vão cantar. Alguns mais importantes que outros, mas os figurantes serão alunos meus, também iniciantes. Thom, ligue os slides.

– Eu to vendo que isso vai da merda. - Annie diz.

– Muito bem queridos! Foi um pouco difícil decidir os papéis mas já estão todos com seus devidos personagens. Tivemos que fazer umas mudanças, mas logo entenderão. Primeiramente, a Anna é a meio que mais aparece e canta. Temos duas ruivas nessa turma, Annie e Finch. Então resolvi olhar o histórico de vocês garotas.

– Oh não... - Ann coloca o rosto nas mãos.

– O que foi? - Clove pergunta.

– Você vai ver agora...

– Descobrimos que nossa querida Annie Cresta é filha de um grande diretor de cinema! Supomos que tenha alguma experiência com a atuação! Então Annie, o papel da Anna de Arendelle é seu. Venha pegar seu roteiro aqui no palco com a Seeder. - Uma fora da Annie apareceu no telão e ao lado a imagem da personagem Anna.

– Mas Effie, isso não é justo! Finch tem tanto talento quanto essa ai. O pai dela não tem nada haver com essa peça! - Glimmer diz com raiva enquanto Annie pegava seu grande roteiro.

– Glimmer! Eu sou a responsável por essa peça e a escolha dos atores é minha! Não me interrompa novamente! Continuando! Temos três loiras na turma, incluindo a senhorita Rambin, a senhorita Undersee e a senhorita Cartwright. Analisamos todas as semelhanças físicas e notamos que a Elsa tem olhos azuis, ou seja, Delly, o papel é seu. - Uma foto de Delly aparece no telão e a imagem da Elsa ao lado.

– Droga de olhos esverdeados! - Mad se xinga baixo.

– Hey, relaxa, você vai ter um papel bom!

– Agora o Kristoff! Temos também três loiros na turma. Infelizmente nenhum deles tem os olhos castanhos do personagem, mas os olhos mais escuros que temos é o do senhor Ludwig. Cato, você pegará o papel do Kristoff.

– Só da bosta pra mim! - Ele resmunga alto e todos riem, menos Effie.

– Ah meu Deus... - Annie cobre a boca com a mão.

– Temos somente um quase ruivo nessa turma. O papel do Hans fica com Finnick. Venha pegar o roteiro.

– Espera! Eu vou ser aquele que não beija a Annie? - Finnick mais afirma do que pergunta.

– E eu vou ter que beija ela? - Cato diz. - Meu papel não é tão ruim assim então...

– Cafajeste... - Clove grunhe.

– Sim garotos. Vamos continuar...

– Eu não vou beijá-la?

– Não Finnick, Hans destrói o pobre coração apaixonado da Anna.

– Nada que já não tenha feito antes... - Digo baixinho.

– Marvel vai ser nosso boneco de neve, Olaf!

– O que?!? Por que eu??

– Pela sua personalidade querido, percebi isso por causa das piadas sem graça que você faz.

– Mas eu queria ser o Olaf... - Choramingo baixo.

– O troll Grand Pappie será você Gloss. Antes que pergunte, é por causa do seu tamanho.

– Sem problemas... - Ele diz meio dormindo.

– Uma das mudança que fizemos é que Oaken, o grandão da loja, será uma garota. Finch, você é a única ruiva que sobrou, então, o papel é seu!

– Isso é ridículo! - Foxface reclama com a voz ardida dela. Sim, nós quatro apelidamos a outra piranha por que ela tem uma cara de raposa.

– E a outra mudança é fizemos com que o Duque de Weselton virar Duquesa. Glimmer, você será a vilã da história. Será a Duquesa de Weselton.

– Você vai fazer com que eu seja um homem que virou mulher? Que insulto!

– Mas você já não é um traveco? Nossa querida, me desculpe! - Clove diz alto. Todos estão se matando de rir.

– Sua vadia nanica, eu vou...

– Parem com isso! Se não vou tirar as duas da classe! Os quatro trolls principia serão Katniss, Peeta, Madge e Gale! Depois vocês dividem os casais como preferirem. Haverá uma pequena modificação na voz de vocês durante a peça, pra ficarem parecidas com a do filme.

– Nós seremos os trolls Mad! - Olho para ela, com o beiço para baixo.

– Pelo menos não somos travecos! - Ela diz e começo a rir.

– Johanna, você será a Gerda, a " conselheira " da Anna.

– Aquela gorda que trabalha no castelo?

– Pode se dizer que sim, é um papel muito importante e...

– Ta ótimo!

– Okay então. E por fim, pela falta de garotos para fazer o Rei, Marvel, antes de se transformar no Olaf, você será o Rei, junto com Clove, que será a rainha.

– A rainha não fala nada né? - Ela pergunta para mim e eu concordo - ADOREI!

– Que ótimo Clove! Agora vocês todos estão dispensados. Na próxima aula faremos a leitura dos textos e os que cantarão, Cinna irá trabalha com vocês! Tenham um ótimo dia!

Levantamos e começamos a ir em direção a saída, folheando o roteiro.

– Vocês sabem que os trolls se beijam né? - Ann comenta.

– O QUE? - Eu e Mad gritamos. É, eu realmente não lembrava dessa parte do filme.

– Qual o problema loira, nada que você e Gale já não tenham feito. - A voz de Cato nos faz virar para encará-los.

– Cato, cala a boca. - O australiano da um soco no ombro do canadense - Oi Madge.

– Oi...

– E então aguado, aproveitou a sua noite? - Clove diz na cara de pau.

– Oh se aproveitei, aquela garota é incansável! - Ele ri sozinho - Por que pergunta baixinha, ciúmes?

– Ciúmes é a última coisa que vou sentir de você idiota.

– Então amor ainda é possível!

– A única coisa que você vai sentir é o tapa que eu estou prestes a te dar! Seu panaca.

– Katniss...

Peeta me chama e aponta com a cabeça um canto mais afastado, já fora do auditório. Eu não sabia se iria até sentir alguém me empurrar. Fui atrás dele, que já estava encostado na parede. Parei em sua frente com os braços cruzados. Ele apenas ficou me olhando por um tempo, ergui a sobrancelhas.

– O que você quer...?

– Olha, o que você viu na festa, não foi nada do que você está pensando!

– O que? O beijo nada inocente que você estava dando na Delly? Nada do que eu estava pensando? Eu realmente não estou entendendo onde você quer chegar Peeta.

– Eu não queria que aquilo tivesse acontecido, eu só...

– Você não me deve nenhuma explicação. Não faz nenhum sentido você ficar tentando se redimir por uma coisa que eu não tenho nada haver. Se você, sei lá, não gostou do beijo, devia falar com ela, não comigo.

– Eu preciso que você entenda que eu e ela não existe nada!

– E qual o problema de existir? Peeta, eu não sou nada sua! Somos colegas de sala, talvez até chegamos a ser amigos. Você está agindo como se tivesse me traído ou sei lá! Você pode ficar com quem quiser, não precisa ficar me devendo satisfação pra tudo que você faz.

– Por favor, vem comigo! - Ele tenta me puxar mas eu solto minha mão da dele.

– Não temos mais nada pra conversar. Vou para o refeitório com as garotas. Se quiser que eu te passe o vídeo da apresentação, só mandar uma mensagem, você tem meu número. Ah, quase esquecendo! Parabéns pelo show, foi muito bom mesmo. Era por isso que eu estava te procurando na noite da festa. E se não tem mais nada, eu já vou indo.

– Me encontra na sala 3 de instrumentos, as duas e meia.

– Eu não...

– Por favor! É a única coisa que eu te peço! Por favor Katniss! - Seus olhos azuis brilhantes suplicam por atenção. Abro a boca pelo menos umas duas vezes, mas nada sai de dentro. - Por favor!

– Tudo bem! Argh, você consegue ser insistente quando quer...

– Obrigado, obrigado, obrigado! - Ele me pega de surpresa quando me abraça e me levanta do chão.

– Hum... Peeta, as pessoas estão olhando.

– Oh, desculpe! As duas e meia, sem falta! Promete?

– Prometo - Riu da sua cara de bobo. Seu sorriso está tão aberto que duas covinhas bem pequenas aparecem do lado de baixo da boca.

Vou em direção as meninas que estão me olhando risonhas.

– Curiosas por natureza ou adquiriram com o tempo?

– O que foi isso tudo?

– Sei lá, esse garoto é meio doido.

– Um doido lindo! - Clove malicia.

– Totalmente irresistível! - Mad comenta.

– Gato de morrer! - Ann completa.

– Odeio vocês!

– Nós sabemos! - Dizem em uníssono e caímos na gargalhada.