Acordei na cama de Blair, estava muito confusa, não sabia se era real o que vi, ou se era um sonho, eu ainda estava com uma certa moleza no corpo, ouvi vozes fora do quarto, devagar me levantei e abri a porta, estava uma loucura, havia policiais e alguns enfermeiros descendo e subindo a escada.

Minha mãe e Blair estavam viradas de costas para mim, conversando com a xerife:

– Sabe que a Alice pode ser acusada de tentativa de homicídio ne? – A xerife falou olhando para mim.

– Não, ela não...não sabe de nada – Minha mãe falou.

– Como pode ter tanta certeza? – A xerife questionou.

– Porque ela estava dopada – Blair gritou.

– Como é? – Gritei me intrometendo.

– Alice? – Minha mãe falou.

Blair colocou as mãos no rosto e suspirou. Eu estava muito brava, mas também muito preocupada com a Missy, não tinha tempo para discutir essa insanidade:

– O que aconteceu com a Missy? – Perguntei.

– Ela tentou se matar – Minha mãe respondeu.

– Como? – Perguntei.

– Não sabemos ainda, mas de algum jeito ela se enforcou, você gritou, não sei como, mas gritou e Blair foi ver o que aconteceu quando viu que Missy não estava na cama – Ela respondeu.

– Ela está bem? Aonde ela está? – Perguntei desesperada.

– Ela foi para o hospital com Andrew, estava desmaiada – Minha mãe respondeu.

– Eu vou para lá! – Falei.

– Nós todas vamos – Blair falou.

O carro estava em completo silêncio, não podia suportar olhar para elas, assim como elas não conseguiam olhar para mim. Fiquei pensando no que aconteceu, tenho certeza que Lily fez aquilo. Quando chegamos no hospital Missy estava deitada ao lado da minha avó, ela não abria os olhos:

– Alguém tem que dormir aqui, caso ela acorde – Minha mãe falou.

– Eu fico – Falei.

– Certeza? – Blair falou.

– Sim, ou vocês vão me dopar e me levar para casa? – Falei.

Voltamos para casa, peguei algumas coisas da Missy, brinquedos, Pandora, revistas e voltei sozinha para o hospital. Não havia ninguém no corredor, estava escuro, a luz estava piscando, entrei no quarto escuro e liguei a luz, Missy ainda estava dormindo, e minha avó também, coloquei a Pandora ao lado de Missy e sai para comprar algo para comer na máquina que tinha no começo do corredor.

Coloquei o dinheiro na máquina e me abaixei para pegar a barra de cereal, quando me levantei vi o reflexo de Lily bem ao meu lado, me virei e a vi entrando no quarto, corri aquele corredor escuro e quando abri a porta não havia ninguém, me sentei ao lado de Missy, e dormi.

No dia seguinte acordei com a Missy pulando na cama:

– Oi dorminhoca – Ela falou rindo.

Sorri imediatamente, ela estava bem, não me perdoaria se algo acontecesse a ela, liguei para minha mãe e na mesma tarde conseguimos tirá-la de lá.

Fomos nos despedir da vovó, dei um beijo em sua testa, e Missy falou tchau de longe, sussurrei no ouvido dela se ela poderia me falar agora quem a atacou aquela noite, mas nenhuma palavra, então quando eu ia me virar, ela levantou o braço tremendo e apontou para Missy que segurava a Pandora.

– Estou com medo – Missy falou.

– Tudo bem, vamos embora – Falei pegando em sua mão gelada.

Minha mãe pediu pizza aquela noite, foi um pouco quieta, todos se olhavam mas ninguém falava:

– Tem sonífero nessa pizza também? – Falei.

– Eu sinto muito filha – Minha mãe respondeu.

– Isso, foi um absurdo mãe! – Gritei.

– Eu não fiz por mal! – Ela gritou.

Joguei a fatia de pizza no prato, me levantei, fui para meu quarto, bati a porta e coloquei meus fones, algum tempo depois me virei e vi Missy parada na porta do meu quarto:

– Que susto Missy – Falei.

– Posso dormir com você? Estou com medo – Ela falou.

– Claro, deita ai – Falei.

No meio da noite senti Missy se levantando, achei que fosse um surto de sonambulismo novamente, então a segui, ela desceu a escada, e foi para o porão, acendi a luz e entrei com ela.

Missy ficou parada olhando para parede, então quando toquei seu ombro apenas seu rosto virou, seus olhos ficaram brancos, ela começou a gritar e a luz apagou, eu caí e me encolhi no canto, não acreditava que isso estava acontecendo de novo, fechei meus olhos e abaixei a cabeça:

– O que está fazendo ai? – Missy perguntou.

A luz tinha voltado, e Missy estava normal, ainda tremendo eu subi com ela e não dormi o resto da noite. No dia seguinte acordei com um bilhete em minha testa:

‘’Mamãe saiu para ajudar Andrew a fazer uma surpresa para nós, porém não quer falar com você e eu fui para faculdade’’ – Blair.

Amassei e o joguei no chão, abri a porta e vi várias folhas do caderno de Missy espalhado pelo chão, de como nós morreríamos, fui recolhendo um a um até chegar na porta fechada do quarto dela, quando eu abri a porta Missy estava com uma tesoura na mão cortando cada parte de Pandora, soltei as folhas e tirei a tesoura da mão dela:

– O que é isso? – Gritei.

– Uma boneca – Ela sorriu.

– Você a ama – Falei.

– Você tinha razão, não preciso mais dela, sou grandinha já – Ela falou.

– E por que espalhou essas folhas pelo corredor – Falei.

– Desculpe – Ela falou abaixando a cabeça.

– Esquece, você está com fome? – Perguntei.

– Sim! – Ela falou.

Esquentei a pizza do dia anterior e sentei na mesa com ela:

– Missy, por que foi para o porão ontem? E por que tentou se matar? – Perguntei.

– Alice, não é obvio? A Missy se foi há muito tempo – Missy respondeu sorrindo.