Harukaze escrita por With


Capítulo 56
Capítulo 56




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Harukaze

Capítulo 56

Dizia o que vinha depois da dor

Antes de ignorar todo o mundo

Lembre-se que a lágrima do céu

Protegeu você daquela dor

E essa dor sempre irá te proteger

  A mochila abastecida com comida, água e roupas pesavam às costas de Haru à medida que se distanciava de Konoha. O pai ainda não havia voltado para casa, de modo que Haru optou por não procurá-lo e informá-lo sobre sua partida. O bilhete de Tobi o instruía a comparecer ao esconderijo às quinze horas, e por mais duvidoso que Haru estivesse, sentia-se bem ao caminhar pelas áreas nunca antes exploradas.

  O caminho era de terra batida, como se muitas pessoas tivessem passado por ela, montanhas íngremes se desenhavam ao longe onde os raios de sol batiam contra as pontas, deixando-as brilhantes. O silêncio era o seu companheiro e Haru não tinha pressa. De qualquer modo dera sua resposta a Tobi e ele o esperaria. Deveria gravar o caminho, pois regressaria a Konoha. Esse fora o trato com a Hokage, todavia Haru compreendia que talvez os planos pudessem mudar um pouquinho.

  Havia muito a aprender com Tobi, principalmente descobrir o fascínio que Kabuto tinha por Tsuhime, embora ele devesse perguntar à mãe sobre isso. Contudo sabia que ela jamais responderia suas perguntas, Tsuhime sempre fugia de sua curiosidade. Pensando nela será que havia acordado? Gostaria muito de tê-la visitado antes de sair, assim uma parte da preocupação que sentia desapareceria. Ele esperava que a mãe entendesse, que a Hokage e Kakashi tivessem preparado o terreno.

  As horas transcorriam rápidas, o por do sol iluminava o céu anunciando que em breve deixaria a noite citar o ritmo. Embora sons e olhos de bichos o acompanhassem em sua travessia, Haru ocupou-se apenas em encontrar o tal lugar. Tobi citara um esconderijo sob pedras, que seria facilmente reconhecido por sua erosão.

  E enquanto gradativamente Haru ficava a par do lugar, algo alertava sua mente: Aquele lugar desabara não por força da natureza, mas sim devido a forças externas. Alguém deslocara aquelas pedras, agora esverdeadas devido ao musgo. Parecia ter anos que visitante algum aparecia e Haru concluiu que Tobi gostava de escolher aquele tipo de estadia. Como se ninguém pudesse alcançá-lo. Mas Yatsuki Haru conseguia.

  Pulou de pedra em pedra até se encontrar em pé na mais alta. O vento balançou as folhas das árvores, soprando uma presença distinta. Elevou os olhos, deparando-se com Tobi a quatro metros dele, sentado em um galho de carvalho. Pensou se ele já o teria visto e ele não precisou de resposta. Embora não pudesse ver o rosto dele, Haru foi capaz de desenhar um sorriso nos lábios escondidos.

  — Olá, Haru. — A saudação saiu abafada pela máscara, causando tremor no menino. Tobi desceu, começando a caminhar na direção do filho. — Pensei que me faria ir buscá-lo.

  — Eu cumpro com as minhas palavras. — Haru rebateu, o semblante franzido de perturbação.

  — Estou vendo. — Agora alguns passos os distanciavam. — Me siga.

  Haru não disse mais nada e apenas andou ao lado de Tobi enquanto ele o conduzia por uma área ainda mais pedregosa e sombria. O caminho inclinou-se e abriu um corredor escuro e úmido. Haru já estivera em locais como esse, porém a aura que emanava da escuridão palpável o fez pensar que mais alguém os esperava. Aos poucos as paredes tomadas por negrume iluminou-se com as chamas das tochas, fazendo sua sombra tremular. Tobi não parecia incomodado e andava com maestria, familiarizado com o caminho.

  Haru apressou-se a virar a direita antes que o perdesse de vista e o espaço amplo e frio o abraçou com uma lufada de perturbação. Em um canto da parede um trono branco reluzia na parca iluminação sem calor e comportava um homem idoso e de longos cabelos brancos. Quando ele levantou a cabeça o menino viu as linhas de expressão acentuadas e fundas. Contudo o corpo magro coberto por um blusão azul não lhe chamou tanto a atenção quanto os olhos. Embora a idade o arrastasse, os olhos pareciam jovens e perigosos, brilhando o Sharingan.

  Encarou Tobi, pedindo explicações, mas o homem fez um gesto para que se aproximasse. Haru caminhou passo por passo até ser capaz de ver que fios grotescos o ligavam a parece as costas dele, causando-lhe repulsa. Demorou-se ao analisar de que material era feito: De matéria viva.

  — Então é você. — A voz do homem sentado no trono ecoou pelo cômodo forte e atrevida. — É apenas um menino.

  Haru sentia que aquele homem podia facilmente lê-lo, intimidando-o com aqueles olhos. E sem que percebesse o seu Sharingan despertou, respondendo-o ao outro. Um leve repuxar de lábios curvou-se em um sorriso de satisfação.

  — Quem é você? — Haru questionou, ignorando o poder que emanava dele.

  — Não contou a ele? — O homem idoso retrucou, divertido. — Meu nome é Uchiha Madara, garoto. Vejo que não aprendeu nada sobre sua herança.

  — Isso porque eu não sou um Uchiha. — Sua réplica fez Madara franzir o cenho. — Ter o Sharingan não me torna um.

  — Está fazendo pouco caso? — Agora Madara lançou a interrogativa a Tobi, que apenas observava aquele primeiro contato. — Não deveria tê-lo deixado com aquela menina.

  — Se refere a minha mãe? De onde a conhece?

  — O bastante para saber que ela não seria capaz de criá-lo dentro das regras. Mas devo dar a ela um pouco de crédito, você tem personalidade.

  — Por que me trouxe aqui? — Haru encarou Tobi, que aparentava a menor vontade de se incorporar a conversa.

  — Porque eu pedi que o trouxesse. Queria conhecê-lo, Haru. — Madara sorriu, apoiando o queixo em um das mãos. — Os Uchiha se reduziram e com eles também o meu desejo. Mas vejo uma oportunidade agora e não deixarei que ela também se vá.

  — E o que eu tenho a ver com isso?

  — Ainda é cedo para falarmos sobre isso. Por enquanto tudo o que precisa saber é que desempenhará um papel importante.

  Dito isso Madara fechou os olhos, encerrando a discussão. Tobi chamou Haru e o conduziu para mais adentro da construção. Ali as luzes eram parcas, dando pouca ideia do que havia perto. Apenas quando Tobi acendeu uma tocha foi que viu portas. Então era ali que ele ficaria.

  — Madara não vai aguentar muito tempo. — Tobi confessou, instigando Haru a adentrar o quarto. Enquanto o menino o obedecia Tobi retirou a máscara, deixando seu rosto evidente. O lado direito sofrera traumas covardes, embora não o tivesse deformado.

  — Onde está Kabuto? — Haru perguntou deixando sua mochila na cama e voltou-se para Tobi, deparando-se com o rosto familiar. Sua semelhança com ele era assustadora. Poderia muito bem ver em Tobi como seria quando tivesse a idade dele. Será que Tobi se importava com questões assim?

  — Ocupado com algumas coisas. — Foi tudo o que ele disse, perdendo incontáveis minutos analisando o filho. Ele jamais pensou que deixaria um descendente, pelo menos não naquelas circunstâncias.

  — Ele não vai vir?

  — Por que quer saber?

  — Só quero perguntar sobre a minha mãe. O porquê de ele sempre ir atrás dela.

  — Eu posso te contar.

  Haru estreitou os olhos, desconfiado. Talvez a história da sua mãe tivesse muito mais ramificações do que possibilitara. E muito o estranhava se vir tão curioso sobre Tsuhime. Contudo imaginava que a mãe guardasse muito mais do que aparentava e não podia negar aquela chance.

  — Por que vocês têm tanto interesse na minha mãe?

  — Que tal começarmos pelo início? — Tobi arrastou uma cadeira e sentou-sede frente para Haru. À luz do fogo o menino se assemelhava com a criança que havia sido e os olhos que o inspecionavam pareciam ser capazes de ver o passado, repreendo-o pelo homem que se tornara. — A sua mãe nunca foi uma pessoa comum, Haru. Desde antes de Tsuhime nascer, o seu avô, Orochimaru, já aguardava para ver que criança sua mãe seria. Kabuto disse que Yatsuki Yume, sua avó, possuía as mesmas condições que sua mãe, mas eu tenho minhas próprias suspeitas. Acredito que Orochimaru injetou algo em Yume sem que ela soubesse.

  — O quê? — Haru inquiriu curioso, pela primeira vez descobrindo mais sobre a mãe. Sua história completa.

  — Seu avô era fanático por Kinjutsu, e sempre buscou dominar todas as técnicas do mundo. Ele não sabia se iria funcionar, mas Yume não deixou que ele percebesse que algo dentro dela começou a mudar. O bebê que ela esperava foi afetado e ela percebeu as segundas intenções do marido. Yume tentou fugir com esperança de afastar Tsuhime dele, contudo não funcionou. Ela entrou em trabalho de parto e, assim que a criança nasceu, Yume foi assassinada.

  — Quem matou ela? — O menino sentiu o peso daquele passado, mesmo que não tivessem entrado na história da mãe.

  — Yakushi Kabuto. — Tobi respondeu sem rodeios, vendo que o filho não ficara surpreso. — A criança foi a satisfação de Orochimaru e fizeram de tudo para que ela sobrevivesse sem a mãe. Quando sua mãe completou cinco anos, as experiências começaram. Por mais catorze anos Orochimaru preparou Tsuhime para receber o gene do segundo Hokage, Senju Tobirama. Contudo, três anos antes Tsuhime fugiu e se abrigou em Konoha. — Tobi cogitava se deveria mencionar Shino. Optou por deixá-lo de fora. — Sua estadia não foi longa e Kabuto a levou ao laboratório, onde ela sofreu com mais experiências até que Orochimaru julgasse que ela estava pronta. Depois do sucesso, sua mãe fugiu e conseguiu se manter afastada do pai porque ele permitiu.

  — Ainda não entendo... Onde você entra nessa história? Como foi que você a conheceu?

  Tobi sorriu com a perspicácia de Haru.

  — Quando Orochimaru foi morto. Sua mãe nessa época já estava se aproximando de Kakashi, mas se soubesse o que a esperava não teria ido atrás de respostas. Todos nós estávamos loucos para colocar as mãos na genética dela.

  — Por quê?

  — Porque com ela poderíamos nos adaptar a tudo. Poderíamos testar quantas genéticas fossem possíveis que ainda assim não sofreríamos nenhum colapso. A sua mãe não sabe o poder que tem.

  — Sempre tem um “mas”. — Haru rebateu, nos lábios um sorriso mínimo. — Você não foi capaz de machucá-la, não é?

  Tobi capturou o tom provocativo na voz do filho, rendendo-se a uma breve risada. Aquele menino era mesmo esperto.

  — Você está certo. Eu não pude machucá-la, ela fazia com que eu me lembrasse de alguém do passado. — Tobi confessou baixo, como se contasse um segredo. — Optei pelo caminho mais fácil. Eu sabia que a linhagem Uchiha sobrepujaria a todas as tentativas do organismo dela de não aceitá-lo. Então...

  — Não diga! Eu já entendi! — Haru gesticulou, o rosto vermelho de vergonha. — E daí eu nasci.

  — Estragou a melhor parte da história. — Tobi piscou, esquecendo-se momentaneamente do foco principal.

  — Foi por isso que você se aproximou de mim, assim ficaria perto da mamãe. Você gosta dela.

  — Eu acho que sim. — Tobi se ergueu, cansado de permanecer na mesma posição. — Mas ela se casou com Kakashi, o que foi um bônus. É como Kabuto diz: Ela nunca nos decepciona.

  Haru guardou silêncio, rebatendo internamente as revelações de Tobi. E havia um teor rancoroso quando ele mencionou o nome de Kakashi.

  — Você sabia que isso ia acontecer. Sabia que Kakashi e mamãe se gostavam. Por quê? Por que precisou ter sido ela?

  — Eu já disse o motivo.

  — Mas não é só isso.

  — Você é igual a sua mãe. — Tobi retrucou, recolocando a máscara. — Por enquanto isso é tudo que precisa saber.

  — Espera! — Haru correu antes que ele saísse, segurando-lhe o braço. — Por que aquele homem queria me conhecer?

  — Não é óbvio? — O tom de voz dele havia mudado, se tornando mais grossa pela abafo da máscara.

  — Não! — O menino exclamou, irritado pelas perguntas retóricas dele.

  — Então descubra por si mesmo, mas não demore muito. O mundo continua girando e não vai esperá-lo.

  Aquela foi a última conversa que teve com Tobi aquele dia. Não se preocupou em sair do quarto para jantar, trouxera comida suficiente, e Haru não queria compartilhar minutos de silêncio com Madara. O semblante malicioso do homem tatuava seus pensamentos e não sentia outra coisa por ele a não ser timidez. A forma como ele o tratou ainda o chateava, como se sua presença importunasse ou manchasse a fama dos Uchiha, o que eles haviam sido quando estavam em seu auge. E, para acrescentar, Haru fizera descaso do sangue que corria em suas veias. Envergonhara os Uchiha.

  Mas ele não o era e ter o Sharingan provava que, mesmo que gritasse ser um Yatsuki, suas palavras apenas soavam como murmúrios. Ele tinha orgulho de seu sobrenome, ainda mais sabendo o quanto sua avó Yume quisera manter sua mãe longe de todo sofrimento. Será que ela choraria por ver que seus esforços foram em vão? Era o que Haru questionava. Os Yatsuki também eram fortes e lutavam por seu destino, então ele precisava aderir àquela vivência e honrá-la.

  Demorou-se mais tempo em seus devaneios, mal percebendo que a madrugada fazia alta. O céu escuro solitário sem o brilho das estrelas. Gotas finas e geladas se desprendiam das nuvens, logo se acentuando. O vidro da janela embaçou devido a sua respiração, instigando-o a usá-la para explorar o lugar.

  A casa, se poderia chamá-la assim, não deveria ser muito ampla. A falta de objetos que dividissem o cômodo o fez concluir aquilo. Era apenas um lugar para descansar o corpo, sem nada que os prendessem. Não era um lar, essa era a palavra certa para definir. Haru seguiu as paredes, usando-as como guia em um labirinto de escuridão. Seus olhos, mesmo que pudessem detectar movimentos antecipados, foram incapazes de sondar cada canto, deixando-o responsável por descobrir por si mesmo.

  — Por que tudo tem que ser tão escuro? — O menino reclamou, encostando a mão em uma maçaneta fria. Girou-a, deparando-se com uma sala vazia. — Tantos cômodos e não têm nada?

  Ele continuou avançando, encontrando outros lugares como aquele. Até que o som crepitante do fogo contra madeira o alertou. Manteve-se escondido ao ouvir vozes baixas, confidenciando segredos.

  — Já esperamos tempo demais, é hora de acabarmos com isso. Se eu não morrer não serei capaz de renascer. — Madara disse, tossindo seco. — Anuncie a grande guerra na reunião das Cinco Grandes Nações. Apresente-se, dê a eles oportunidades para revidar.

  — E quando a Haru? — Tobi quis saber, causando surpresa no menino. — Ele será capaz de evoluir?

  — A lei é clara, embora com você tenha sido diferente. Os olhos dele não evoluirão sem um incentivo. E podemos contar com outro ponto interessante.

  Ficou claro para Tobi o que Madara retrucou, vendo a ansiedade vibrando nos olhos vermelhos. Talvez Haru tivesse subestimado aquela posição de Tobi, contudo só lhe restava arriscar.

  — Farei isso.

  — Apenas não se apegue a ele, talvez ele não sobreviva. Tudo o que importa é o Projeto Olho da Lua.

  — Eu sei o quanto ele significa. — Havia rancor na voz de Tobi, como se ele tivesse fechado os punhos e desafiasse seu inimigo.

  — Em breve tudo estará terminado.

  Haru recuou antes que os homens o percebessem, sua mente ligada na conversa nada atrativa. Deveria ter pensado que não seria tão simples e agora que escutara tanto Madara quanto Tobi não o deixariam voltar a Konoha. “Deve ter outro jeito de avisar eles sobre isso”, discutiu consigo andando de um lado para o outro. Um trovão sacudiu o solo acima deles e Haru temeu que as pedras deslizassem. Em todo caso esse era o menor dos problemas agora.

 (...)

    Cauteloso como aprendera a ser, Haru não permitiu que Tobi e Madara percebessem que escutara aquela conversa, embora estivesse curioso quanto ao tal “Olho da Lua”. Em suma era um nome cafona, mas ele não duvidava. Poderia esperar coisas grandes e complicadas dos dois. E também ouvira algo como “Grande Guerra” e “Cinco Grandes Nações”. Embora ainda não compreendesse as proporções dos planos, Haru sabia que não seria boa coisa. Algo estava acontecendo, aguardando o momento certo para começar.

  Tsunade e Kakashi deveriam estar ansiosos por sua volta, contudo o menino não conseguiu tentar nenhuma forma de contato. Ao menor piscar de olhos via Tobi ou Madara com os olhos fixos nele e tornava-se incapaz de simplesmente dar as costas a eles. Um fato que constou aquela manhã: Ele não gostava de Madara. O homem tinha formas estranhas de encará-lo, sorrindo sem o menor desperdício de palavras, como se soubesse de um segredo que ele desconhecia. E talvez fosse exatamente isso, ou ele não estaria o observando como um animal faminto.

  — Venha aqui, gaki. — Madara chamou, o rosto cansado apoiado nas mãos. A cada hora que passava o Uchiha parecia mais velho e prestes a dar adeus a este mundo. E Haru esperava que acontecesse logo.

  Haru ergueu-se, deixando ali seus materiais de treinamento que Tobi disponibilizara, e caminhou destemido em direção a Madara. Os olhos dele o percorriam de cima a baixo, como se duvidasse que o seu tamanho fosse aquele. Percebeu que as expectativas do Uchiha mais velho nele eram grandes e ele não gostou do fato de ter que agradar a mais uma pessoa.

  Parou a alguns passos de Madara, esperando pelo próximo falar ou gesto. E este veio pesado contra o seu peito, os dedos nodosos e de pele seca agarraram a sua blusa como se quisesse arrancá-la. Segurou o pulso dele, tentando fazer com que o soltasse, porém apenas incitou o Uchiha. O puxão o pegou desprevenido e se viu muito mais perto de Madara, a respiração falhada atingindo o seu rosto.

  Madara capturou sua atenção, forçando o seu Sharingan a despertar. O Uchiha mais velho constou apenas dois dos três pontos característicos da Kekkei Genkai, ainda uma ofensa a todo poder que percorria as linhas de chakra daquele garoto. Perguntou-se se teria tempo de ajudá-lo nesta questão ou se Tobi assim o faria. Restava-lhe algum tempo antes que seu corpo não aguentasse mais a sua teimosia.

  Por ser um Uchiha, um dos que mais conhecia como funcionava o Sharingan e o mais antigo, seria fácil deixá-lo a beira do desespero por alguém que ama e, pelo modo que Tobi lhe contara em como o garoto era apegado à mãe, não teria tanto trabalho, afinal. Apenas teria que ser paciente, mais do que lhe cabia. Talvez não precisasse avançar tanto, o garoto contribuiria sozinho para a desestabilização emocional.

  Lembrava-se de como tudo mudara com a morte do irmão Izuna, lembrava-se de como foi difícil aceitar que o seu melhor amigo não trilharia o mesmo caminho que ele, que os Senju fossem de fato como diziam. E como odiava, também, o fato daquele menino estar na sua frente, rejeitando uma herança que ele batalhara tanto para ser aceita no Mundo Shinobi, uma herança que levara a rivalidade a modificá-lo, a tirar a pessoa que era o seu porto seguro. Aumentou a força do contato, fazendo Haru reclamar com a dor em sua pele. Não, Haru abraçaria a Maldição do Ódio, assim como ele fora forçado a abraçar.

  Contudo, não era somente o sangue Uchiha que preenchia o sangue daquele garoto. Talvez se apenas o fosse Madara poderia amenizar aquela repulsa, recusar a vontade de fazer aquele pequeno insolente a avaliar a importância daquela genética. Quantas pessoas matariam para ter o poder de olhos como os seus? Era inaceitável!

  — Me solte! — Haru engasgou, a dor cerrando seus olhos. Ele não fraquejaria diante de Madara, não mesmo!

  — Acha que é o bastante recusar o presente que Tobi te deu? — As palavras pegaram Haru de surpresa, estagnando seus movimentos de abrir os dedos de Madara.

  — Ainda fala dos Uchiha? — Haru não soube dizer de onde saía à coragem para confrontá-lo, mas ali estava ela. A raiva o desinibia, tomando atitudes que normalmente não tomaria. — Eu já disse que sou um Yatsuki.

  — Os Yatsuki nem mesmo são reconhecidos. — Madara alfinetou.

  — Não precisamos de reconhecimentos como vocês, Uchiha. — Haru sentiu o aperto em seu peito se fortificar, o suor se juntava em sua testa embora não sentisse calor. A presença daquele homem, todos os anos de experiência, esmagava a sua ofensa como uma mosca irritante.

  — Você se orgulha desse sobrenome medíocre? Sabe quantos de nós morreram para que fôssemos aceitos? Ainda tem a cara de pau de afirmar que não quer se envolver nessa história?

  — Você pode se prender no passado se te conforta, se isso te ajuda a criar um futuro. — O menino exerceu mais força na ordem de fazer Madara soltá-lo. Conseguiu apenas que a pressão diminuísse. — A questão é que eu não faço parte dele. Eu não tenho culpa por ter nascido com o Sharingan, não tenho culpa por querer proteger aqueles que eu amo sem passar por cima de ninguém!

  — Diz isso porque não enfrentou sozinho aqueles que te abandonaram. Não precisou se retirar por saber que somente com a força é que obtemos resultados.

  — Eu tenho uma forma diferente de obter resultados, Madara. — Pela primeira vez Haru disse o nome daquele homem, a sonoridade ecoando pela sala ampla.

  Os fios grossos que ligavam Madara a parede viva se esticaram quando ele se inclinou. Haru pôde se ver refletido nas orbes vermelhas e ficou admirado por vê-las assumir um grau avançado. Era como se flores tivessem sido tatuadas, um desenho bonito e capaz de fazer a pessoa mais forte do mundo reverenciá-lo. Entretanto, também percebeu que ele estava chegando ao seu limite.

  “Madara não aguentará por muito tempo”, fora o que Tobi lhe dissera. E se cumpria.

  — Nada vai adiantar. No final se agarrar ao fato de ser um Uchiha será sua única forma de salvar aqueles que ama.

  — O que quer dizer? — Haru franziu as sobrancelhas, não gostando do rumo daquela conversa.

  Contudo, Madara não lhe respondeu. Os dedos nodosos o soltaram e o braço caiu pesadamente ao lado do braço do trono, a cabeça pendeu para baixo, fazendo os cabelos longos taparem-lhe o rosto. Haru não precisava tocá-lo para saber que a alma dele não estava mais naquele corpo, e no primeiro momento a ficha não havia caído. Apenas quando mais uma presença se juntou a ele foi que tomou ciência do ocorrido: Madara morrera.

  — Já não era sem tempo. — Tobi exclamou, demarcando a nova etapa daquele marco.

  O projeto Olho da Lua teria início.


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