Harukaze escrita por With


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Esse capítulo é como se fosse o penúltimo da primeira etapa da vida de Tsuhime.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585683/chapter/10

Harukaze

Capítulo 10

Vou derramar minha tristeza

Eu não seria melhor se apenas olhasse para frente?

Bem, então eu acho que não posso ficar na frente

No meio de toda a penumbra do quarto, apenas o porta-retrato de gelo que Tsuhime havia feito brilhava. Era o único ponto de luz no local. A casa estava inteiramente mergulhada em um silêncio profundo, devastador e gentil. Contudo, Tsuhime encontrava-se distante, imaginando a história de Yume por trás daquele sorriso bonito. Não lhe parecia que sua mãe vivera uma paixão intensa ao lado de seu pai, Orochimaru, apesar de os olhos castanhos terem codificações que a levavam a repensar em suas conclusões. Acostumara-se ao estilo de vida do pai, e custar-lhe-ia acreditar que realmente nascera através do amor.

E, lá no fundo, Tsuhime sabia que era exatamente daquela forma.

Yatsuki Yume fora uma ninja médica que servia aos moradores não muito distante da vila que Orochimaru tentava fundar, a do Som. Conhecera o Sannin por insistência dele, alegando que ela poderia curar-lhe os braços que o Terceiro Hokage levara com ele ao morrer. Yume buscou todos os seus conhecimentos para trazer a vida aos membros daquele homem peculiar, que exaltava suas qualidades e a deixava confortável para testar teorias antes não praticadas.

Ao final, Yume havia aceitado a oferta de fazer mais e adquirir ainda mais poder a fim de exultar sua medicina, entretanto, as palavras de Orochimaru tiveram mais efeitos sobre ela e se viu perdida perante tanta inteligência. Engravidou e a criança logo se mostrou dona de outros propósitos para Orochimaru, e quando Yume percebeu as segundas intenções dele, perto de dar a luz, fora tarde demais. Assim que Tsuhime nasceu Orochimaru ordenou que Kabuto silenciasse Yume, fazendo jurar que jamais contaria a história a menina.

Era evidente que Orochimaru não nutria sentimentos paternais para com Tsuhime, seus gestos variavam entre interesse e conquista. Como o próprio Sannin alegara: Ela era a obra-prima. E faria de tudo para que ela continuasse sendo seu orgulho maior como o descobridor que gostaria de se tornar. Embora em seus cinquenta anos de idade, Orochimaru encontrava-se longe de dominar todas as técnicas do mundo. Sua meta infantil ainda não havia sido deixada de lado. E graças a Tsuhime, avançava um pouco mais a cada dia.

Porém, de nada ajudaria martelar tais ideias, portanto Tsuhime decidiu colocar o seu plano em prática. Procuraria Kabuto e aprenderia com ele ninjutsu médico. Essa era a primeira fase do que arquitetara nesses poucos dias de volta a casa. Calçou as botas e rumou para os corredores sombrios, onde somente as estacas de fogo crepitavam, deformando sua sombra.

O caminho era novo para Tsuhime, teria que usar grande parte da saída anterior para se lembrar qual lado deveria seguir. Optou pela esquerda, que por sinal alguns gritos invadiam aquelas paredes gélida de forma crescente. A ala totalmente desconhecida a abrigava, como se a guiassem todo o trajeto. Logo, a garota observava centenas de pessoas lutando entre si ferozmente, outros jaziam no chão. O sangue era constante ali, o que elevou uma onda de êmese à sua garganta.

— O que está fazendo aqui? — Kabuto perguntou irritado, agarrando o braço da menina com certa ignorância e a arrastando, de modo que ela não conseguisse ver o que acontecia daquele ângulo.

— O que está acontecendo ali embaixo? — Tsuhime rebateu, olhando assustada aquelas pessoas. As roupas que elas usavam não lhe soavam estranhas, pareciam com as roupas do laboratório. — Quem são aquelas pessoas?

— Isso não é do seu interesse, agora volte para o quarto. — O espião andava furioso, levando a garota consigo em gesto rude. — Pensei que tivesse entendido minhas ordens.

— Não sou obrigada a te obedecer. Solte-me! — Tsuhime debateu-se, desvencilhando do agarre doloroso de Kabuto. — Eu moro aqui, tenho o direito de saber o que acontece.

— Você é apenas um experimento, como pode exigir explicações? — Os olhos ônix do ninja espião brilharam em desapreço, não se importaria em ser rude e usar de sua autoridade, cuja Orochimaru lhe dera permissão para utilizar.

Tsuhime calou-se imediatamente ao ouvir tais palavras, tão nítidas e ressoantes em seus ouvidos. Ela sabia que a pessoa, que julgava ter ganhado aquela luta insana, estava não só escutando como também vendo tudo que ocorria entre Kabuto e ela. Sentiu os olhos arderem, as lágrimas vieram involuntárias nublando-lhe a visão. Ela compreendia sua situação, contudo, jamais imaginou que escutar o que sempre soube doeria tanto dentro dela.

— Eu... Eu me enganei sobre você, Kabuto. — Ela não imaginava que sua voz sairia firme, embora algumas lágrimas teimosas tivessem manchado-lhe o rosto bonito. — Você é igualzinho ao meu pai.

— E o que mais esperava? — O ninja médico sorriu confortável com aquela discussão, afinal, cedo ou tarde Tsuhime teria que se colocar em seu devido lugar. Segurou o queixo da garota, obrigando-a a olhá-lo. — Como pode ver, eu também não me importo com você.

Ninguém precisava avisá-la que estava sozinha naquela casa gélida, regada de olhares mal intencionados e sentimentos mais baixos que uma pessoa poderia nutrir. Ela não tinha, ou melhor, não merecia qualquer tipo de tratamento educado porque não passava de uma mera obra-prima. E jamais evoluiria. Esse era seu fardo, e nesse momento ela decidi sustentá-lo, mesmo que meus ombros fossem pequenos demais para carregá-los. Meu caminho será sempre forjado na dor. Uma mera verdade que em todos esses anos negara a aceitar, mas que agora se agarrava a ele com todas as minhas forças.

— Não é dessa forma que nos dirigimos a uma mulher, Kabuto. — Uma voz completamente nova e desconhecida, firme e rouca, interrompeu entre eles, causando um leve arrepio no corpo de Tsuhime.

Os passos se aproximavam, e logo um rapaz de pele clara, cabelos negros e olhos vermelhos, cujos nunca tinha visto, entrou em seu campo de visão. Ela não o conhecia, porém pela forma com que ele e Kabuto se entreolhavam não restava dúvidas de que ali existia muito mais além do meu escasso conhecimento. Havia muitas coisas que Tsuhime ainda precisava descobrir.

— E você é outro que deveria aprender bons modos. — Kabuto sorriu presunçoso, ajeitando os óculos no nariz. De repente, aquele gesto idiota passou a irritá-la. E muito. — Orochimaru-sama não gosta que se intrometam em seus assuntos.

— Pouco me importa. — Uma resposta fria e calculista cortou o silêncio como lâminas, e estranhamente ela começava a se simpatizar por aquele homem. — Falando em bons modos, você também deveria aprender alguns.

— Você se acha no direito de me dar sermões, Sasuke-kun? Está aqui pelo mesmo propósito que aquelas pessoas.

Sasuke-kun? O famoso sobrevivente do clã Uchiha? Os pensamentos de Tsuhime se conturbaram. Pouco sabia sobre a tragédia que acometera o clã anos atrás, embora não fosse completamente leiga no assunto. Temos hóspedes, então Kabuto estava se referindo a Uchiha Sasuke? Papai, com toda certeza, continua assumindo uma postura inapropriada. Desta vez — se os rumores sobre os poderes dos Uchiha fossem verdade — ele não levaria muito mais aqueles conceitos à frente.

A sensação de perigoso a preencheu, e por alguma razão ela sabia que daqui uns poucos anos aqueles olhos a amedrontariam. Deu um passo para trás, tomando o cuidado de se manter afastada o suficiente deles. A aura que se formava não soava amistosa, e o ar mal alcançava seus pulmões.

— Ora, ora... Parece que você arranjou um guardião, Hime-chan. — Novamente Kabuto proferia o apelido que a jovem odiava, fora dado exclusivamente por Orochimaru. O teor debochado e cínico perturbavam a marca em seu pescoço. Dores começaram a querer domá-la e, em uma tentativa de desviá-las, fechou os olhos.

— Pare de me irritar, Kabuto. — E aquela dupla voz apossou a fala de Tsuhime, levando-a a um teor assustador. Instintivamente levou uma das mãos ao local da marca, vendo ali que poucas formas tatuavam sua pele. O chakra começava a se esvair. — Ou dessa vez vou ceder e será bem mais trabalhoso para você.

Kabuto suspirou, levantando as mãos em sinal de paz. Retirou-se de perto de Tsuhime, indo ao encontro da mulher que seria o novo corpo de Orochimaru. Seu humor não era suficiente para cuidar da garota nesse momento, ainda mais se ela resolvesse se deixar levar pelo Selo Amaldiçoado. Talvez fosse interessante vê-la lidar com isso sozinha, afinal, ele sabia o que iria acontecer e seria, no mínimo, divertido.

Tsuhime deixou escapar um gemido de dor, enquanto travava uma luta interna entre o selo. Não cederia, não daria o prazer a Kabuto de vê-la agonizar como tantas outras vezes. Encostou-se a parede, porém havia algo que também a segurava. Como um porto seguro, um bálsamo em meio a toda a tempestade que a cercava. Forçou os olhos a se abrirem, deparando-se com Sasuke próximo a ela, um dos braços apoiando-a pela cintura. A confusão era nítida em seu semblante quando o Uchiha a sustentou e começou a caminhar com ela de volta a ala dos quartos.

Embora não devesse aceitar, Tsuhime simplesmente sentiu-se incapaz de negar. Enlaçou-o pelo pescoço, buscando conforto. Algo em Sasuke fazia-a lembrar-se de Shino, e naquele momento imaginou que realmente fosse. Que realmente estava nos braços daquele que, definitivamente, havia plantado um sentimento dentro dela que jamais conseguiria se livrar. Mesmo que ela quisesse.

Gentilmente ele a colocou na cama, porém a mente de Tsuhime encontrava-se longe demais para agradecer. Depois que se vira resguardada novamente, as dores da alma reabriram suas feridas. Sentiu-se pequena, abandonada como nunca antes, mesmo que a presença de Sasuke ainda a fizesse companhia naquele quarto, cujo estava mais gélido do que de costume.

— Logo, não vai doer mais. — A voz firme e sempre imparcial de Sasuke tirou-a de seus devaneios. — Você vai se acostumar.

— É mesmo? — Tsuhime rebateu de forma irônica, encolhendo os joelhos e abraçando-os. — Têm acontecido tantas coisas ao mesmo tempo... — E de repente, os olhos amarelados da garota se fixaram no rosto de Sasuke, como se ali estivesse escondido qual passo teria que dar de agora em diante. — Essas marcas... Eu sinto que tentam assumir o controle, e tenho medo de sucumbir a elas.

— Então, seja mais forte que elas. — E as palavras repercutiram, mesmo depois de Sasuke ter deixado-a sozinha.

Um conselho que animaria qualquer pessoa, que a colocaria disposta a assumir o controle de sua própria vida. A garota sorriu triste, ela nunca se tornaria a pessoa que o Uchiha desperdiçara tal frase. Por quê? Porque Yatsuki Tsuhime não era livre, não tinha controle de seus próprios passos e, principalmente, não era forte. Ela depositava sua confiança nos outros, e esperava que seguissem juntos, que emprestassem suas forças para que ela se forjasse as sombras dos demais.

Olhou a fotografia de sua mãe. Embora os tempos dentro daquela casa estivessem difíceis, Yume continuava sorrindo. O brilho nos olhos castanhos alegres, determinados, fortes. Talvez, não fizesse mal se moldar através daquela imagem. Embora tentasse esquecer, Tsuhime havia feito uma promessa a ela mesma; Seus sonhos ainda a perseguiam, eles acreditavam que um dia iria realizá-los. Então, por que não poderia se dar um pouco mais de valor?

Caminhou até o espelho, analisando a forma como se apresentava: O semblante amedrontado, os olhos de pupilas dilatadas demonstravam os incômodos que trancafiariam para sempre dentro dela, a postura defensiva que tanto lhe desagradava. Estava na hora de mudar. Era hora de ser forte. Se não fosse por si mesma, Tsuhime arranjaria motivos. E o principal ela já tinha.

Não tinha certeza de como Shino reagiria ao vê-la de novo, porém com aquele prévio encontro Tsuhime pôde constar a mágoa que ultrapassava os óculos escuros. A personalidade de Shino ainda era um enigma para ela, contudo, se arriscaria para conquistá-lo, ser digna da total confiança que antes ele lhe oferecera.

E se tudo já estiver perdido? Uma das perguntas que martelava em sua mente como um disco arranhado. Ela tinha medo de perder Shino e tudo de bom que ele atribuíra em sua vida em pouquíssimos dias ao lado dele. Contudo, nada mudava o fato de suas suposições serem baseadas em um grande “E se?”, o que consequentemente a acalentava. Fugir daquela casa agora se tornara uma tarefa complicada, e também Tsuhime não se sujeitaria a tal ocasião. O que quer que Orochimaru tivesse guardado para ela, aceitaria. Domaria seu destino, todavia ela sabia que a jornada seria árdua e longa.

— Soube que entrou na ala dos prisioneiros. — De braços cruzados, em seu novo corpo, Orochimaru observava a filha. Porém, os movimentos involuntários e trêmulos dos ombros não passaram despercebidos. Ele ainda causava-lhe as mesmas sensações. — Quem lhe deu permissão, Tsuhime-chan?

Do reflexo do espelho, Tsuhime temeu a imagem que se prostrava atrás dela. Aquele corpo já não era o mesmo, então Orochimaru havia feito mais um ritual e pelo o que pôde perceber aquele era o terceiro apenas em um mês. Jamais se acostumaria.

— Eu ouvi gritos e me assustei. — Ela respondeu simplesmente, forçando-se a permanecer de frente para o pai.

Orochimaru não rebateu tal queixa, apenas caminhou até estar suficientemente próximo da garota para tocar-lhe o rosto. A pele macia, tal como de Yume.

Sim, ele havia gostado de Yume, embora não tivesse chegado a amá-la. Ela se comportou muito bem como sua esposa, servindo-o e cuidando com dedicação até Tsuhime nascer. Depois, de repente, Orochimaru percebeu que Yume já não era mais necessária para ele. Ficou realmente orgulhoso ao constar que sua herança havia se sobrepujado na filha. E ainda o era.

— Papai... — A garota começou tímida. — É verdade que eu sou apenas um experimento? Você não se importa comigo?

— Claro que me importo, Tsuhime-chan. — Orochimaru sorriu, embora calor algum pesasse sobre seus lábios. Deslizou os dedos entre os cabelos igualmente negros da filha. — Você, algum dia, irá acabar com meu sofrimento.

Tsuhime não compreendeu o que Orochimaru queria dizer, porém, depois daquele dia, tudo ficou diferente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Críticas construtivas e sugestões é sempre bem vindo.
Até sexta!
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harukaze" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.