O final de semana passou lento. Até demais. Reita não veio me visitar, e eu não sabia porque, afinal, ele prometera que o faria. Não pude evitar um pinguinho de desapontamento que apareceu em meu peito.

Eu pensei em algumas possibilidades do que poderia ter acontecido. O que me veio à cabeça foi: ele podia ter esquecido. Não. Ele podia estar doente. Não, ele avisaria. Ele podia ter tido outro compromisso. Não.

Não consegui pensar em nada durante horas tentando. Fiz várias coisas tentando distrair minha mente, mas nada. E foi durante um turno na lanchonete que eu percebi o que deveria ter acontecido.

Para Reita não ter me avisado nada, deveria ter acontecido algo muito grave, algo que o impossibilitasse de fazê-lo. Comecei a me desesperar.

Corri até Uruha.

-Uruha, preciso que me libere mais cedo hoje! Pode fazer isso?

-Posso sim, mas o que houve? - vi a preocupação estampada em seu rosto e tratei de explicar.

-É que eu sinto que algo deve ter acontecido com o Reita! Ele falou que viria me ver final de semana, mas não veio. Hoje já é domingo à noite e ele nada me avisou!

-Ok, Ruki, está liberado. Vá até a casa dele ver o que aconteceu.

-Sim, eu vou. - e saí correndo de lá, o mais rápido que pude.

Já eram quase 20:00 h, e lá estava eu, correndo por aquelas ruas, que para mim, não tinham fim. Eu corria e corria, mas parecia que sua casa não chegava nunca.

Até que pude ver a conhecida "mansão" de longe, vagamente. Apertei meus passos em direção a ela. Levei mais alguns minuto para chegar.

E apressadamente, comecei a apertar a campainha, um pouco deseperado. Eu estava tão nervoso, e a mãe de Reita demorava a atender. Ela já sabia sobre nós, e ela nos apoiava sempre. Reita preferiu não contar para seu pai.

Agora, eu tinha certeza que algo tinha acontecido com ele.

Depois de algum tempo esperando no portão, eu pude ver a conhecida senhora vindo lentamente até mim. Ela abriu o portão e pude ver uma triste expressão em seu rosto.

-Senhora... - eu disse, num tom triste, não querendo pensar no que havia acontecido.

Ela nada disse, apenas me convidou a entrar. Eu a segui pelas pedras que nos levavam até a entrada principal da casa, e entramos.

Logo que o fizemos, ela se virou para mim, e pude ver que haviam lágrimas em seus olhos. E logo percebi as minhas próprias escorrendo por meu rosto. Algo havia realmente acontecido.

-Ruki... - ela disse, já chorando muito, e correu para me abraçar. Retribuí seu abraço necessitado, e com esse gesto, percebi que o pai dele não estava ali. Do contrário, ela não agiria daquela maneira. Ela continuou. - Ah, Ruki, ainda bem que você veio, querido... Não sabe como foi difícil.

-Eu imagino, senhora...- falei sinceramente, chorando. Estava doendo tanto em mim...

-Ele foi espancado pelos garotos com quem andava. Ele esperou por você aqui, ele vai ficar feliz de vê-lo.

-Q-quando? - eu estava chocado.

-Ontem, depois do baile, na porta de casa. Eu cheguei de carro e o vi caído.

-Por favor, lhe imploro, me leve até ele... - eu disse, minhas lágrimas incontroláveis, minha respiração descontrolada.

Ela pegou em minha mão, e juntos, subimos até o quarto de Reita. A porta estava fechada, mas logo a senhora a abriu. Antes de eu entrar, ela se virou para mim e disse:

-Vou deixá-los a sós. - eu entrei e ela fechou a porta atrás de mim.

E então, eu finalmente tive coragem de olhar para ele. E mesmo com minha visão distorcida pelas lágrimas, eu pude ver que ele estava terrível.

Caminhei lentamente até a cama, onde ele se encontrava, deitado. Ele estava dormindo. Tinha um dos braços engessado, a perna direita envolta por uma atadura, uma gaze presa na bochecha, os lábios inchados e machucados, e bandeides espalhador por todo o corpo.

Meu coração se afundou em lágrimas, e eu junto com ele, não podendo evitar a culpa e a pena que se formavam dentro de mim. Sentei-me calmamente na cama para não acordá-lo. Mas logo não pude evitar que isso acontecesse, pois minhas lágrimas começaram a pingar sobre seu rosto.

Era a primeira vez que eu o via sem faixa. Ele era tão perfeito. Meu coração parou por um segundo, até que vi seus olhos se abrindo lentamente.

-Ruki... - sua voz estava rouca, muito baxa. - Eu sabia que você viria. Eu te esperei o dia todo... - eu beijei seus cabelos, logo em seguida deitando de leve meu rosto em sua cabeça.

-Shhh, eu sei meu amor... já passou... Eu estou aqui agora... Com você... - depositei outro beijo em sua cabeça. - Me diga, por que fieram isso com você? Por que foram tão cruéis...

-Eu... - falou com dificuldades. - Eu adimiti... A-adimiti que te amo... - fiquei chocado. Ele assumiu nosso relacionamento? E ficou desse jeito por causa disso. Eu não acreditava. Ele só poderia estar louco! Ah como eu queria que tudo tivesse acontecido comigo, e não com ele.

-R-Reita... Por que fez isso? Olha como ficou... - a dor partia meu coração, dilacerava-o. Chorei mais ainda...

-Eu fiz porque eu te amo. Não me importo de estar assim... - ele se remexeu um pouco, e um fraco gemido de dor ecoou de seus lábios. - Ruki, abre essa gaveta do criado-mudo... Tem uma coisa nela pra você.

Obedeci prontamente. Abri a gaveta e ali dentro o encontrei. O lencinho lilás que ele havia me dado. Eu nem havia percebido que o perdi. Eu sou mesmo um idiota.

-V-você deixou cair no baile... eu peguei e quero te devolver...

-Mas... Ele é seu...

-Eu quero que você fique com ele...

-Obrigada... É importante pra mim...

-Você é importante pra mim... Eu te amo...

-Eu também te amo... - e beijei de leve seus lábios.

O abracei com cuidado para não machucá-lo, e ficamos ali, assim, por um bom tempo, enquanto uma última lágrima escorria por meu rosto.