No final da estrada escrita por Carolina Carvalho


Capítulo 3
Três




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Na segunda-feira, Lauren e Rosalya foram juntas até o hospital. A biopsia não demorou muito e, depois, as duas ficaram algum tempo esperando o resultado sair na sala de espera. Não trocaram uma palavra sequer pois estavam receosas e ansiosas com o resultado. Assim que o médico apareceu, elas se levantaram prontamente e foram conduzidas até a mesma sala em que Lauren tinha recebido a notícia que estava com um tumor.

– Bem, - o médico começou assim que as duas se sentaram – é um assunto delicado para se tratar, mas acho que devo ser direto com vocês. – Ele parou e as encarou durante alguns instantes. – É câncer.

Lauren imediatamente parou de respirar. Rosalya instintivamente agarrou a mão da amiga.

– O tumor tem 3 centímetros – prosseguiu o homem. – Poderíamos retirá-lo mas seria inútil porque ele já se espalhou para o fígado. Não dá pra operar nesse caso. Portanto, sua única opção agora é o tratamento. Você precisa vir aqui uma vez por semana para fazê-lo. – Ele fez uma pausa. – Se tiverem qualquer pergunta, por favor, perguntem.

Lauren continuou quieta. Encarou as próprias mãos repousadas nas suas coxas, uma das mãos de Rosalya agarrada a da direita. Não queria morrer apesar de saber que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Depois de um bom tempo em silêncio, murmurou:

– Quanto tempo?

– Desculpe, eu não ouvi – o médico disse.

– Quanto tempo eu tenho? – Lauren perguntou mais alto, agora olhando para o homem.

– Desculpa, eu não posso te...

– Quanto tempo?! – Ela agora já tinha uma lágrima rolando no rosto. O outro engoliu em seco.

– Não dá pra dizer com precisão, mas eu diria... Uns 6 meses.

6 meses. Talvez menos. Agora que sabia mais ou menos sua “data de validade”, não sabia o que fazer da vida. Antes, tinha tudo planejado: depois de se formar, iria se estabelecer em um bom emprego e, assim que tivesse um bom salário, se casaria. Gostaria de ter uns dois filhos e, quando já estivessem crescidos, envelheceria feliz ao lado do marido enquanto seus netos brincariam nos quintal da sua casa. Mas toda essa vida perfeita e feliz não iria se concretizar. Não tinha mais motivos para estar ali. Não teria a menor diferença se ela morresse dali a 6 meses ou em 5 segundos.

– Esse tratamento – ela continuou ao mesmo tempo em que enxugava as lágrimas insistentes com as costas da mão -, ele tem algum efeito colateral?

– Alguns pacientes sentem dores, enjoos e vomitam.

– Meu cabelo vai cair?

– Não.

Ela não conseguiu pensar em mais nada que quisesse saber. Pelo menos, nada relevante.

– Você pode vir aqui às quartas? – o médico perguntou enquanto folheava algumas fichas.

– Pode ser à noite?

Ele assentiu, fez algumas anotações e acompanhou as duas até a saída do hospital. Rosalya pediu um táxi pelo telefone e ficaram aguardando ali em frente.

– Você quer que eu fique com você em casa? – Rosalya perguntou.

– Não. Eu quero ficar um pouco sozinha. Só queria te pedir pra você não contar isso pra ninguém. Nem pro Leigh, nem pro Alexy, nem mesmo pros seus pais.

– Não vou contar, prometo – disse a platinada.

Lauren suspirou, olhou pro chão e voltou a encarar a amiga.

– O que que eu faço agora, Rosa?

– Bom – Rosalya cruzou os braços. – Eu acho que a primeira coisa que você deve fazer é contar pra sua família.

– Como eu vou contar isso? – Lauren perguntou em pânico. – Meus pais poderiam ter um troço!

– Mas é preciso – Rosalya segurou as mãos da outra. – Se quiser, eu vou junto com você.

Lauren balançou a cabeça.

– Não. Eu tenho que fazer isso sozinha. Mas, antes, eu preciso arranjar coragem.

– Não arranje coragem tarde demais, tá bom?

Lauren assentiu.

– Rosa – Lauren disse depois de um certo tempo -, o que você acha que eu devo fazer agora?

– Tudo.

O táxi chegou e as duas o pegaram. Rosalya desceu primeiro e Lauren ficou refletindo no resto do trajeto. Sempre pensou duas vezes antes de fazer as coisas. Raramente obteve resultados negativos com essa atitude, mas começou a se perguntar se estava perdendo alguma oportunidade agindo assim. De qualquer forma, gostaria de ouvir outra opinião.

#

No dia seguinte, Lauren, Rosalya e Alexy estavam em frente ao prédio da universidade em que estudavam após terminarem uma prova. Lauren sabia que tinha ido mal. Quase não tinha estudado. Não conseguia mais se concentrar tanto nos estudos o quanto gostaria.

– Tinha umas questões muito difíceis, admito – dizia Alexy. – Mas, no geral, a prova não estava tão complicada. Acho que tirei uma nota boa. E vocês?

– Não sei – disse Rosalya. – Me deu branco em algumas perguntas.

Lauren se sentiu culpada. Com aquela história toda de sua doença, acabou atrapalhando a amiga com os estudos.

– E você, Lauren? – perguntou o azulado.

– Não consegui estudar direito. Não devo ter ido bem.

– Tá falando sério? – ele disse descrente. – Você é umas das pessoas mais estudiosas e inteligentes que conheço. Nunca ouvi você falar que foi mal em alguma prova. Só em Modelagem III, mas essa matéria dá pra relevar, o professor implicou com você. Por que você não conseguiu estudar?

Lauren se sentiu incomodada com a pergunta e tratou de pensar logo em uma desculpa.

– Ah, eu acabei recebendo a notícia que um parente meu tá doente. Fiquei preocupada.

– É um parente próximo?

– Ah... É uma prima. Eu me dou bastante com ela.

– Entendi. Mas é algo grave?

– Câncer – a loira respondeu sem pensar e logo se arrependeu. Rosalya a olhou rapidamente, imaginando se ela pretendia contar tudo para o rapaz.

– Nossa, que merda – Alexy disse. – Entendi, então. Mas não deixa isso te atrapalhar, tá? A vida não para pra ninguém, não importa o que aconteça.

Ele abraçou Lauren bem forte para confortá-la. Ele costumava ser um amigo bem carinhoso e ajudava os outros sempre que precisavam. Às vezes, ao tentar ajudar, acabava atrapalhando, mas nunca o fazia de propósito.

– Obrigada, Alexy – a loira disse tentando conter o choro. – Você é um excelente amigo.

– Não tem de quê – ele disse e a soltou. – Se quiser conversar comigo, é só avisar, tá bom?

Ela assentiu.

– Alexy, se você tivesse só mais um dia de vida, o que você faria? – ela perguntou.

Ele a encarou franzindo o cenho. Mas, em seguida, relaxou o rosto.

– Eu não sei. – Ele se espreguiçou e ficou olhando para o céu enquanto pensava. – Não dá pra fazer muita coisa em um dia. Mas eu iria tentar aproveitá-lo ao máximo. Comeria o que quisesse e compraria muitas roupas. Ah, e vestiria elas, é claro. Mas se eu tivesse mais tempo, gostaria de viajar, conhecer todos os lugares que tenho vontade de ir. Não hesitaria em gastar dinheiro. E também pararia de ficar com o primeiro cara que conheço.

– Por quê? – Lauren perguntou. Alexy nunca foi de se fazer de difícil; se ele ficasse a fim de alguém, ficava com a pessoa, sem enrolações.

– Porque eu tenho aquele sonho clichê de ter alguém ao meu lado – ele respondeu. – Gostaria de me apaixonar. Mas, dessa vez, queria que desse certo. Sei que parecesse que eu não me preocupo com isso, mas eu penso nisso mais do que vocês imaginam.

Rosalya e Lauren se entreolharam. Jamais pensaram ouvir isso de Alexy considerando o tipo de vida que ele levava.

– Meninas, eu realmente tenho que ir – ele disse ao conferir a hora no celular. – Vejo vocês amanhã.

Assim que Alexy se afastou, Lauren pegou o próprio celular da bolsa e começou a digitar uma mensagem.

– O que você tá fazendo? – Rosalya perguntou.

– Você se lembra daquele cara que eu fiquei na boate?

– Lembro! – Rosalya disse espantada por ter se esquecido dele durante tanto tempo. – Ele falou com você depois daquele dia?

– Ele me mandou uma mensagem me convidando pra ir num show da banda dele no sábado, mas eu disse que veria se dava pra ir.

– Ele tem uma banda?! – Rosalya estava cada vez mais animada.

– Sim, ele é da banda do irmão do seu namorado.

– A BANDA DO LYSANDRE? – gritou a platinada.

– Fala baixo, Rosa! – Lauren botou a mão na boca da outra. – É, do Lysandre! O nome dele é Castiel. Inclusive, ele estuda música aqui na universidade.

Rosalya abriu a boca para gritar novamente mas se conteve.

– Você ficou com o Castiel? O Castiel?! Aquele garoto de cabelo vermelho?

– É, ele mesmo. Você o conhece?

– Claro! Ele é o melhor amigo do Lysandre.

– O que você acha dele? Acha que eu devo ir?

– Bom, o Castiel tem um temperamento difícil, não é fácil lidar com ele. Mas é uma boa pessoa. Acho que você não tem nada a perder.

Com essa resposta, Lauren terminou de escrever a mensagem e a enviou.

– Então está decidido: eu vou no show ver o Castiel.


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