Aos olhos da guerra escrita por maddiesmt


Capítulo 10
Cap 8- Avanços- parte II


Notas iniciais do capítulo

Chegar a pag 100 da sua segunda fic é, no minimo, emocionante. To aqui meio abobalhada d ver o quanto td mudou e o quanto as coisa evoluiram...pra qm começou "De acordo com a realidade" (DACAR) com 694 palavras....hj postar um cap com menos de 3000 é quase impossivel. E td isso eu devo a vcs...e a essa obra q hj completa q 1 ano do começo de sua exibição.
Não existe isso de falar de MPDC sem falar d vcs...Lindos e Lindas que fazem meus dias mais felizes e mágicos. A novela pode ter acabado mas nos deixou essa amizade linda que nos faz reviver esse universo de bondade e fantasia que o mundo tanto precisa. E é por isso q hj...o meu agradecimento vai além dos autores, diretores, atores, produção...meu agradecimento vai pra vcs tb! Pq se MPDC tem a importância q tm pra mim hj ...é por vcs...q junto com toda a galera da produção fizeram da minha vida algo bem mais relevante do q eu pensei q um dia seria. A vcs o meu mtuuu obg. Feliz MPDC's day!

p.s: eu sei q tinha prometido a segunda parte pra ontem...mass...esqueci q minhas aulas iam começar...e n é q elas começaram msm..=/
Acho q vou ter q atrasar minhas fics a partir d agora...massss...n priemos canico q feriados estão ai para serem utilizados..=*



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Os olhos de Gina seguiam uma única e pequenina gota de água. Reparou no momento em que ela se desgrudou dos finos fios castanhos do rapaz e começou sua jornada por entre as tortuosas curvas daquele peitoral definido. E quanto mais a gota se afastava do seu lugar de origem, mais a moça sentia as bochechas queimarem.
Ela conseguia ouvir ao longe alguém a chamando. No entanto, o chamado era abafado pelas fortes batidas do próprio coração.
Ferdinando sentia os olhos dela passearem sem pudor algum por sobre seu corpo e sorriu ao pensar que ele não era a única vitima dos efeitos devastadores que ela surtia nele. Ele também tinha poder sobre ela....e resolveu que se utilizaria disso para lembra-la de que toda aquela tortura podeira acabar.
Aproveitou que os olhos dela ainda estavam perdidos nele e ousou conduzi-la, pela mão, para o interior do quarto.
Gina sentiu- se sair do equilíbrio apenas quando a mão dele tocou a sua. A sensação dos longos dedos dele cobrindo carinhosamente a sua pequena mão a fez prender a respiração e admirar a imagem de suas alianças reluzindo diante da luz que vinha do quarto.
Não soube dizer ao certo o que lhe acometeu naquele instante. Apenas que estava em mais uma daquelas viajens que a mente dá e que a faz viver na memória e apenas seguir passos automáticos na realidade.
Conseguia ouvir algumas expressões surpresas dos pais, conseguia sentir novamente o cheiro do chá tomado na cozinha, sentir o frio do inverno ser abolido pela quentura da sua própria casa. Lembrava-se de estar feliz...muito feliz e de contemplar essa mesma imagem...a de suas alianças, a prova máxima de que um dia ela soube o que era amar.
Fugiu das lembranças quando ouviu a tranca da porta e, então, percebeu onde estava.
–O que oce pensa que ta fazendo Ferdinando!- os olhos arregalados e as bochechas totalmente coradas denunciavam que ela não sabia exatamente o que fazer em relação a situação e as respostas do próprio corpo.
–Calma menininha...eu só tranquei a porta pra gente poder conversar tranquilamente, sem ser interrompido.
–Ara, e quem disse que eu quero conversar c’oce?- os olhos tornaram-se rebeldes novamente e o tom voltava a ser o de desprezo. Como ela conseguia trocar tão rapidamente de humor...ele não sabia dizer.
Ela retirou as mãos do enlace dele e cruzou os braços como uma criança que perdia uma corrida e achava tudo injusto.
–Ué...oce que bateu na minha porta.
Ele a fez lembrar do motivo da visita e ela resolveu retirar os olhos da visão que era o rapaz. Ele a desconcetrava e ela não queria correr riscos.Decidiu permanecer de costas para ele. Assim, julgava ela, era mais seguro.
–Mai eu so vim pra lhe agradecer pelo chá...mai agora eu penso que oce não merece agradecimento nenhum!
–Ara...mas porque Gina? O chá não tava bom?
–Não!- ela se arrependeu de ter falado rápido de mais e arranhou a garganta para tentar concertar o erro.- Digo...não tava perfeito mai tava bom.
Ele sabia que ela nunca foi perfeccionista e que aquela enrolação toda era devido ao grando orgulho que não deixava de ter.
Ele se aproximou dela sorrateiramente até afundar o rosto nos cachos que amava tanto e sussurrou em seu ouvido.
– E então?
–E então o que? – A ruiva estava perdida novamente. Aquela proximidade a deixava fora de si. O cheiro de frescor que a pele dele emanava a fazia lembrar de banhos demorados e o hálito quente dele em sua orelha a arrepiava de forma desconcertante.
Ele sorriu e e cerrou os olhos.
– Por que não mereço um obrigado?
–Porque? – ele deslizou os lábios na contorno de sua orelha e ela respirou fundo para manter a concentração.- Por que...
–É Gina...por que?
Foi a vez dele de repara nos trajes da esposa. Ela usava apenas um roupão de seda rosa bebê por cima da camisola fina. A cintura marcada pelo laço que a protegia dos olhos ambiciosos dele.
Grudou o corpo no dela e deixou as pontas dos dedos passearem por seu pescoço.
Gina viajou novamente. Conseguia lembrar desses carinhos e a falta que sentia deles. Seu corpo parecia necessitar do calor do dele e a fez inclinar em sua direção fazendo com que ele finalmente pudesse abraça-la por trás.
O engenheiro se deteve em trocar as mãos pelos lábios. E agora ela sentia um caminho úmido de beijos demorados no pescoço. Os braços do rapaz estavam fixos em sua cintura e a enlaçavam do jeitinho que ela se lembrava.
Ele sentiu ela relaxar em seus braços. Mais um pouco e ele a faria se lembrar de tudo com propriedade.
Subiu os beijos até chegar na orelha novamente e mordiscar o seu lóbulo direito.
–Nando...- ela se deixou sussurrar...e ele não pode evitar que o próprio corpo respondesse a esse chamado dela.
A moça sentiu a pressão aumentar, assim como muitas outras coisas, e voltou a realidade em um estrondo de fúria.
–Oce se afasta de mim Ferdinando! Oce enlouqueceu! Quer morrer quer?!- ela se desvencilhou e continuou virade de costas. Não queria que ele a visse corada.
O rapaz jogou a cabeça para trás, agarrou um travesseiro e o posicionou na direção mais viva do seu corpo. Não queria estragar mais ainda os avanços que andava fazendo e para tal, deveria esconder as reações que ela o provocava.
–Calma Gina...ta tudo bem. Eu não vou fazer nada c’oce!- a voz soava frustrada mais ainda sim era calma o suficiente para que ela não se alterasse ainda mais.
–Ah...mas não vai mermo! Se não eu lhe meto a piaba!
–Oce pode ficar tranquila que hoje eu não to querendo apanhar...não depois da noite que eu tive.
–Como assim?
–Eu quero lhe dizer Gina que, graças a nossa conversa da madrugada, eu dormi melhor do que na noite passada...e eu lhe agradeço por isso.
–Melhor é?
–É...por que dormir bem mesmo...eu sei que so vou voltar a dormir quando oce voltar a dormir nos meus braços.
–Ahh então oce num vai mais dormir bem mesmo...
–Isso é o que oce diz...
–Isso é o que vai acontecer!
–Tudo bem menininha...pense como quiser...agora me diga e oce? Dormiu bem?
–Eu...é....sim...eu inté que dormi. Bem..bem... bem..não foi..
–Mas dormiu?
–Sim.
–Então é isso Gina...oce só vai voltar a dormir bem quando voltar a dormir nos meus braços.
–Oce ta amaluquecendo de vez!-
–To...to mermo e é oce que ta fazendo isso comigo!
Como um momento de carinho virou uma briga sem fundamento? Ele não sabia dizer...mas entendia que se não se controlasse perderia tudo o que havia construído nos pequenos gestos.
–Eu?! Oce ta mais é besta Ferdinando! Agora oce abre essa porta senão eu vou gritar!
A moça não podia acreditar que tinha se deixado trancar no quarto com o rapaz novamente. Havia prometido para si mesma, não cair nessa tentação novamente como havia feito quando ele a levou para conhecer o quarto dele na mansão.
O rapaz respirou fundo e, ainda agarrado ao travesseiro, se dirigiu a porta e a destrancou.
–Oce pode ir.
Ela lançou um ultimo olhar pelo corpo do engenheiro e corou novamente ao notar a o travesseiro servindo de escudo.
Saiu rapidamente fechando a porta do próprio quarto no mesmo estrondoso barulho que o rapaz do quarto ao lado.
*
As horas passavam de forma sonolenta. Juliana ja não sabia o que fazer para animar o marido e a falta de uma ocupação especifica a deixava totalmente cabisbaixa.
Como sentia falta de lecionar. De ensinar o abc para seus pequeninos e comemorar suas vitórias. Preenchia essa falta com afazeres domésticos e aproveitava a companhia taciturna do seu amor.
Ja estavam em silencio a quase duas horas e ela não estava acostumada a viver de quietude. De vez em quando tentava puxar conversa mas percebia que ele preferia ficar mudo. Não insistiria uma hora ele iria lhe contar o que havia de errado.
Já Zelão poderia dizer que o silencio era mais seguro do que dar voz a seus pensamentos. Se bombardeava de futuros e perguntas sem respostas.
Imaginava uma vida amarga. A esposa ao seu lado, abdicando de certos privilégios para viver uma vida de enfermeira.
Era bem a cara de Juliana se doar pelos outros...mas ele não queria ser mais um na sua lista de caridades.
A ouviu tentar uma conversa novamente. Era a quarta ou quinta vez que ela iniciava uma conversa aleatória e ele apenas se deixava levar por monólogos de sim, não e ocê que sabe Juliana.
–Amor...você não acha que ta silencio demais por aqui?
O rapaz apenas balançou a cabeça e a deixou continuar.
–Eu ainda não vi a Gina hoje e me pergunto se aquele grito no meio da noite foi mesmo só um pesadelo. Nossa...e quando ela se lembrar? Eu nem sei o que vou dizer pra ela quando ela descobrir que ela perdeu o bebê.
Silencio.
–Eu poderia ter evitado isso...mas só de pensar que nesse momento nós estaríamos vivas e vocês não...bom só esse pensamento ja me faz ter certeza de não ter nenhum arrependimento.
Ele deixaria que ela falasse...mas não pode deixar de pensar que seria bem mais fácil se tivesse morrido naquele ataque.
Esses pensamentos suicidas não eram nem um pouco saudáveis mas os tinha desde que a conhecera. Julgava o amor pela professora algo tão incrivelmente forte que preferia morrer ao ve-la infeliz e isso era mais uma das razões para terminar aquele casamento sem futuro.
Juliana esperava que ele falasse algo. Que a confortasse e que dissesse que ela não tinha culpa nenhuma.No entanto, a professora teve que se conformar com o silencio do marido.
Da poltrona onde estava, a moça conseguia ver os olhos baixos do rapaz. Uma fortaleza que antes era tão misteriosa e que a levava para longe da realidade, agora parecia apática. Olhos de uma escuridão que a lembrava de um céu sem estrelas mas que se iluminava quando a via. Hoje, ela não conseguia ver nada além de uma tristeza infinita em um olhar opaco.
Decidiu que se não fizesse algo, e logo, poderia perde-lo para a conformidade de não querer lutar contra tudo aquilo.
Queria se sentir estrela dos olhos dele novamente e faze-lo acreditar que seu amor estava além de qualquer barreira.
–Amor...- A voz saiu doce
–Sim.
–Sabe o que eu tava pensando?- ....doce até demais.
–Não.
–Que a gente podia...se divertir um pouco sabe...tomando cuidado claro..por causa dos pontos.- ela saiu da poltrona e se juntou a ele na cama. Engatinhando em sua direção com um sorriso malicioso no rosto e ideias pouco puras na mente.
Zelão pareceu notar a mudança no tom de voz, a movimentação dela e quando a olhou nos olhos, sentiu cada pelo do corpo se arrepiar.
–Juliana...- ele engoliu em seco. O coração disparado no peito e a boca ficando seca. Parecia que havia voltado para o tempo em que namoravam e ele ficava admirando a esposa de longe.
–Eu acho que sei como a gente pode se divertir.- A moça resolveu compartilhar do mesmo cobertor que o cobria e deixou as mãos correrem soltas pelo corpo do esposo enquanto lhe beijava delicadamente o rosto, o queixo, o pescoço e ia descendo devagar.
O capataz sentia o corpo tremer de ansiedade e reparou que não eram apenas os membros superiores que formigavam.
Esse pensamento o paralisou. Estava realmente se sentindo vivo? Estava realmente respondendo aos estímulos dela?
As mãos da moça passaram por sobre suas pernas e ele se concentrou. Fechou os olhos e tentou senti-la novamente...mas não obteve resposta. Ilusão...era apenas mais uma ilusão que a mente lhe pregava.
Não sabia o que fazer. Sentia-se um bobo por ter acreditado, mesmo que por um breve sengundo, que tudo poderia ser diferente. E se sentia mal por ve-la se esforçar tanto para um objetivo inútil.
Seus pensamentos e os atos da esposa foram interrompidos por batidas na porta.
Juliana soltou um suspiro frustrado e o rapaz apenas suspirou aliviado. Se ela continuasse ele seria obrigado a para-la e sabia que poderia magoa-la com isso.
A moça arrumou-se e dirigiu –se para a porta relutantemente. Respirou fundo e a abriu.
Encontrou um médico com sorriso nos lábios e o violeiro sentado em uma cadeira de rodas e com um rádio nas mãos.
–Supresa!- Os dois jovens falaram em uníssono.
–Mas o que é isso?!- A moça ja não estava mais tão chateada e agora olhava com certa curiosidade para os dois.
Renato empurrou a cadeira, em que Viramundo se encontrava, para dentro do quarto e anunciou o plano de mais cedo.
–Bom...não queremos que nosso paciente fique recluso a esse quarto quando tem uma grande e bela casa para ser explorada. Então eu e Viramundo fomos ao hospital para ver se encontrávamos uma dessas belezinhas aqui..e não é que achamos?!
–É e nós achamo também esse rádio que é pra mode a gente ouvir umas musicas.
–Mas vocês se arriscaram voltando pra lá! Aquele prédio esta quase pra cair.
–A Juliana...isso é bobagem. O importante é que estamos bem e conseguimos o que queríamos.
A moça estava realmente emocionada. Era a primeira coisa que faziam por ela e por aqueles que amava, em séculos.
Não se conteve e abraçou o médico. Sentia o carinho por ele aumentar a cada dia. Ele estava se mostrando o excelente profissional que era e um grande amigo.
–Meu deus! Obrigada!Muito Obrigada!!
Renato não esperava por isso. Quando saiu para conseguir a cadeira de rodas, não pensou em te-la de volta ou fazer com que seus sentimentos se confundissem novamente. Ele apenas queria trazer um pouco de felicidade e reafirmar para todos, inclusive para si mesmo de que poderia ser superior ao passado e maduro o suficiente para manter uma amizade com a ex e com o esposo dela. No entanto, no momento em que sentiu os braços dela se entrelaçarem em seu pescoço em um abraço forte, ele descobriu que havia caído na própria armadilha e isso estava errado. Muito errado.
Zelão observou a cena ainda um pouco zonzo. Não sabia ao certo o que pensar. Apenas sentia aquele bichinho do ciúme corroe-lo e infecta-lo de maneira profunda.
Não deixou de imaginar que o médico seria a melhor opção para a esposa no momento. Um profissional competente com uma família abastada....e, acima de tudo, com plena capacidade de dar a ela o que ele não poderia : filhos e uma vida feliz e independente.
Viramundo saiu da cadeira em que estava para, também, ser abraçado pela professora. Um abraço rápido mais que fez Zelão perceber que qualquer um, menos ele, era capaz de dar a ela a vida que ele não poderia.
–Você viu amor! Agora a gente vai poder sair desse quarto e eu vou poder te mostrar a casa e você vai poder almoçar com todo mundo na sala e...
–Ô to bem onde eu to. – os olhos estavam fixos nas pernas. Ele não conseguia enxergar nada além delas no momento.
–Mas amor a gente pode...- a moça insistia enquanto se sentava ao lado do marido na cama.
–Eu ja lhe disse que to bem aqui.
–Zelão...me escute...como seu médico eu acho muito bom você sair um pouco desse quarto. Não agarre seu diagnostico como definitivo...tente lutar contra isso, em alguns casos o quadro pode ser reverter.
–Eu não preciso da sua pena doutor
–Que isso Zelão! O doutor Renato so fez uma gentileza e...- a moça não podia acreditar que estavam tendo aquela discussão. Ja haviam conversado tanto sobre modos e gentilezas.
–Não se preocupe Juliana e melhor eu deixar vocês dois a sós... ainda tenho que ver se a Gina está bem depois do pesadelo que ela teve hoje. Vamos Vira?
–Vamo doto..ieu vou ver se consigo fazer esse troço funcionar inté procês.
Os rapazes saíram mas não trancaram a porta deixando uma brecha acidental. Juliana voltou a atenção para o marido e tentou entende-lo.
–Mas o que foi aquilo Zelão?
–Ieu só disse a verdade
–Mas precisava ser assim?! O Renato se arriscou indo lá pra conseguir essa cadeira pra você....você podia ser ao menos educado com ele!
Nesse momento, Renato se aproximou novamente. Tinha esquecido de dizer que mais tarde voltaria para fazer os curativos e parou para ouvir a discussão depois que seu nome fora citado.
–Educado?! Juliana! Aquele doutorzinho so que se aproveitar da minha situação para lhe conquistar de novo!
–Mas você não tem ideia da tamanha besteira que esta falando Zelão!
–A e?! Então me diga que não é verdade? Me diga que não seria mais fácil me largar e ficar com ele?
Ali estava ele, um caipira entregando de mão beijada a esposa para o médico. Ele sabia que a melhor maneira de fazer Juliana ter um final feliz era se bancasse o grosso e a jogasse nos braços do doutor de vez.
–Seria mais fácil mas não seria mais feliz! Você não entende que eu te amo?! Que eu faço qualquer coisa por você! Eu não me importo se não teremos filhos, ou se as coisas serão difíceis! EU NÃO ME IMPORTO! Eu so quero ter você Zelão! Só quero ter você perto de mim. É só você que me faz feliz, que me faz ser mais eu do que qualquer outra pessoa ja fez!
–Eu sou um invalido Juliana!Você não merece ficar com um inválido!
–Você é meu marido! E eu te amo! Ponha isso na sua cabeça!
Com isso Juliana finalizou a discussão. Renato ouviu seus passos se aproximando e correu para se esconder em um pilar próximo. A viu sair do quarto com lágrimas nos olhos e decidiu que seu lugar...ja não era mais ali.
*
Viramundo nunca teve conhecimentos tecnológicos mas sabia o suficiente para colocar um velho rádio para funcionar.
Sorriu ao perceber que conseguiu a estação que queria e comemorou com alguns passos de dança.
Apenas parou quando ouviu uma risada ecoar pela sala.
–Pra um músico...oce é um péssimo dançarino Vira.
–O Gina...eu não sabia que oce tava ai.
A moça tinha definitivamente se apoderado do guarda -roupa do quarto em que estava instalada.
O longo vestido de um azul perolado tinha mangas compridas e a cintura marcada. Como sempre ela tirara os laços e o excesso de anáguas. Ainda sim, o vestido não poderia ter ficado mais perfeito.
Vira sorriu ao encontrar a amiga um pouco mais animada e menos confusa.
–Ieu não guento mais ficar naquele quarto. Queria ta nas roças do pai...lidando na terra.
–Oce sabe que ieu também sinto falta disso?
–De vera?
–Craro!...mai oce sabe o que sinto farta mermo?- ele se sentou no sofá da sala e ela o acompanhou sentando ao seu lado.
– O que?
–É da minha Milita.
–Ocê gosta por demais dela né?
–Como nunca gostei de ninguém nessa minha vida!
–Ieu admiro muito esse seu sentimento.
–É o mesmo que o dotor Nando sente por oce...oce sabe disso né?
–Intão porque que oce não ta com ela?- ela iria fugir do assunto...não precisava que mais alguém falasse dele..não depois da cena no quarto.
O rapaz entendeu o recado silencioso e resolveu cumprir com as vontades da amiga.
–Ara...por que eu tive que vir pra guerra...e ieu to morrendo pensando que ela ta la preocupada cum eu.
– E oce não pode escrivinhar uma carta não?
–Eu inté poderia...mas quem que iria entregar? Nois ta só nessa cidade Gina...
–Ieu queria saber quando que nois vai poder vortar.
A música mudou para uma moda que eles costumavam cantar nas roças e ela sorriu. Lembrou-se de imediato das aulas do amigo.
Eles começaram a cantar com o rádio e Vira sorriu ao perceber que ela se lembrava. Não fez alarde disso ja que pensou que poderia estragar o momento de volta de memórias perdidas.
O que eles não perceberam era um par de olhos azuis que acabava de chegar na sala e observava a cena com certa raiva.
Ali estava ela, sua esposa. Lembrando-se de pedaços esquecidos que não o incluíam e o pior, que incluiam um certo violeiro.
Voltou para o quarto esquecendo do almoço, da alegria da noite bem dormida e apenas se concentrando na cena que acabara de ver.
Quando a música cessou Gina e Viramundo não conseguiam parar de rir. Lembravam-se de um episodio que envolviam lama e uma certa inabilidade em capinar. Foram interrompidos pela chegada de um Renato um tanto cabisbaixo e um anuncio sobre a guerra no rádio.
–Interrompemos essa transmissão para um anuncio oficil do exercito brasileiro. Com a palavra o sr excelentíssimo presidente.
–Caros patriotas. Temo dizer que a guerra está longe de chegar ao seu fim e para isso pedimos que, aqueles que ainda não foram alistados o façam imediatamente. Estamos ampliando também a idade...e a partir de agora os jovens de 16 e 17 anos estão livres para se alistar e defender o nosso país.
Devo anunciar também que o exercito está em busca dos desertores e esses irão responder por crimes contra a nação.
Assim gostariamos da colaboração e apoio da população para que logo consigamos livrar nosso pais das ameças e assim possamos retormar a paz.
O rádio voltou a ficar mudo e Vira concentrou-se em concerta-lo.
Gina estava paralisada com a informação. Não sabia que guerras eram assim tão sangrentas.
Ja Renato havia enfim achado a solução para seus problemas...e concentrava-se em como iria dar tal noticia.
–Ieu vou pegar um óleo na cozinha pra ver se consigo dar um jeito nessa tranca do rádio. – Vira anunciou sua saída e deixou Renato e Gina em silencio.
O médico limpou a mente das certezas que tinha e resolveu adiantar os deveres médicos e se certificar de que não deixaria nada em estado grave.
Com a serenidade que apenas um médico tinha, Renato começou a conversar com a ruiva e, aos poucos, foi examinando a moça sem que ela percebesse. Perguntou sobre as dores, os sonhos e tornou a tranquiliza-la sobre tudo. Era um excelente médico...um dos melhores. E merecia bem mais do que andava tendo.
Ja na cozinha Viramundo percebeu o prato feito mas ninguém por perto para degusta-lo. Pelas suas contas, apenas uma pessoa não tinha almoçado na casa ainda.
Pegou o prato e o levou para o dono.
Ferdinando andava de um lado parao outro no quarto. Tentava, em vão apagar a cena que acabara de ver. Precisava calar esse impulso maluco que o alertava de uma ameça próxima. Ele não tinha motivos para desconfiar ou apra ter medo...ou será que tinha?
O nó na garganta o deixava quase sem ar e ele afroxou um pouco a gola da blusa linho que usava.
Ouviu as batidas na porta e correu para a mesma esperançoso. Precisava que fosse ela. Pelo bem da sua sanidade.
–Boa tarde dotô Ferdinando! Ieu vi o prato la na cozinha e resolvi trazer aqui pro senhor causo de que eu acho que se esqueceu não foi não?
Ferdinando respirou fundo. Parecia que o universo não o estava ajudando a ficar calmo...pelo contrario...ele conspirava a favor da raiva presa dentro de si.
–Oce não precisava se incomoda não Viramundo...causo de que eu vi uma coisa que me fez perder a fome.
–Mai foi alguma coisa seria? Ieu posso lhe ajudar?
–Pode sim Vira...pode começar ficando longe da minha mulher.
O queixo do violeiro caiu e os olhos se arregalaram.
–Oce pode ficar tranquilo doto que a Gina é so minha amiga mesmo.
–A é? E oce pensa que ela acha isso? Oce tem certeza?
–Mai craro que eu tenho doto Nando. Eu amo a minha Milita!
–Não estamos falando de você violeiro. Estamos falando da minha mulher e do quão confusa ela ja está. Oce num acha que, c’ocê rondando ela, será mais ela se confundi e acabar não lembrando de nada?
–Ieu penso que
–E oce não acha que esta se envolvendo demais nessa história?
–Ieu só queria ajudar...e
–Pois então me ajude ficando longe da Gina.
Com isso, o engenheiro fecha a porta de maneira violenta. Estava se controlando para não partir para cima do violeiro que se fazia tão inocente.
Viramundo, por sua vez, estava chocado. Não sabia ao certo o que havia feito de errado...mas sabia qual era o próximo passo certo que daria.
A tarde transcorreu bem, o médico ja havia trocado os curativos de todos e ja havia tentado conversar com Gina sobre o pesadelo da noite anterior.
Apos o jantar, o rapaz ja tinha consciência do que faria e pediu para conversar com todos.
Mesmo relutante Zelão permitiu o uso da cadeira e agora todos se encontravam na sala, esperando o anúncio do médico.
–Meus caros eu os chamei aqui por que tenho um anuncio a fazer. Amanhã, após fazer a ultima troca dos curativos e retirar os pontos, eu e Viramundo partiremos para o meu posto médico no acampamento de guerra. Vira provou ser um ótimo ajudante e vai me auxiliar por la. Creio que meu dever aqui ja esta completo e penso que tenho mais almas para salvar do que atrapalhar. Portanto deixarei os medicamentos e algumas orientações. Vocês não ficaram desamparados. Sempre que e puder escapar trarei noticias e suplementos. Apenas peço que não se exponham e tenham cuidado ao sair. Estamos em guerra e todos fora dessa casa são inimigos. Não queremos ser encarados como desertores e muito menos membros de alguma oposição.-a voz do médico estava fria e racional. Ele explicava detalhadamente o que cada um deveria fazer mais todos tinham apenas uma pensamento em mente: ficariam sozinhos naquela casa...e teriam que lidar com seus medos e dificuldades sem a racionalidade do médico e a amizade do violeiro e o principal : teriam que lidar um com o outro sem promover uma guerra dentro da própria casa.


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