O Despertar do Lobo escrita por Chase_Aphrodite, danaandme


Capítulo 7
Capítulo 06 - O Despertar


Notas iniciais do capítulo

Chase entra na cozinha vestindo uma camiseta preta lisa.
Dana: Achei que hoje fosse a semana de Star Wars...
Chase: Dana eu vou te ensinar a cozinhar, não vou arriscar minha blusa do Darth Vader. E só pra falar, não é do Star Wars. É do Star Trek essa semana. Vamos começar simples okay? Primeiro colocamos a água para ferver...
DEZ MINUTOS E UM PRINCÍPIO DE INCÊNDIO DEPOIS
Chase (completamente enxarcada): Acho melhor voltamos para a história...



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Quinn se encolheu sobre o colchão. Ao lado da cama, em cima do criado-mudo, sua mãe havia deixado uma bandeja com o almoço. A comida que cheirava tão bem há algumas horas, jazia fria e o cheiro que por um breve momento havia preenchido o quarto, há muito tinha se dissipado. Assim como as lágrimas, que outrora rolavam initerruptamente pelo rosto alvo de feições delicadas da mais jovem herdeira do clã Fabray; a sempre tão confiante e orgulhosa Lucy Quinn.

Sua mãe a havia encontrado no chão do quarto/consultório do doutor Lopez. Quinn estava encolhida, abraçada ao próprio corpo, deitada sobre o piso frio. ‘Oh Quinnie, minha pequenina.’, as palavras de sua mãe só fizeram uma nova onda de lágrimas brotarem em seus olhos, enquanto ela dizia palavras desconexas entre soluços e murmúrios, expressando uma dor que parecia ter contaminado todo seu ser.

A simples ideia de tê-la como companheira, fez com que Rachel se sentisse tão enojada, que a morena não aguentou ficar mais nenhum segundo na presença dela. Nenhuma palavra; Nem mesmo um olhar de escarnio; Nada. A morena apenas deu as costas e foi embora. A retribuição de toda humilhação que Quinn lhe causara durante a vida.

Ela havia sido rejeitada.

E Rachel sequer a achou digna de nada mais que desprezo.

Ela não se lembrava direito de como deixou a casa dos Lopez. Sua mãe e sua irmã a carregaram por alguns minutos, até que finalmente seu pai a pegou em seus braços. Ela enterrou o rosto em seu peito, soluçando compulsivamente, escondendo sua dor, vergonha e humilhação. Seus dedos se fecharam com força sobre tecido da camisa que ele usava. Era uma das favoritas dele, ela e Fran haviam comprado como presente do dia dos pais, e agora devia estar arruinada.

Eles haviam voltado para casa logo em seguida, e desde então ela estava em seu quarto.

Sua mãe tinha tentado consolá-la, mas nada que ela dissesse era capaz de fazer a dor ir embora. Frannie também havia tentado animá-la, mas quando viu que Quinn não reagia, começou a ficar furiosa, dizendo que iria até a casa de Rachel ensiná-la como respeitar uma garota. Mas isso só fez com que mais lágrimas emergirem pelos já avermelhados olhos avelã-esverdeados, fazendo que Quinn chorasse ainda mais, enumerando os vários motivos que Rachel teria para nunca tratá-la bem.

Em algum momento, ela adormeceu.

No final da tarde sua mãe tentou persuadi-la a comer algo, mas mesmo que a comida parecesse realmente apetitosa, e o cheiro da lasanha preenchesse o quarto, Quinn simplesmente murmurou que não estava com fome, e se encolheu sobre as cobertas. Sua mãe deixou a bandeja sobre o criado-mudo, argumentando que se ela mudasse de ideia, a comida estaria ali.

Pela janela, podia-se ver o crepúsculo se estender sobre o horizonte, dividindo o dia em noite. Em breve a lua cheia apareceria no céu marcando o momento mais significativo de todos os membros da alcateia de Lima.

No entanto, tudo que Quinn conseguia fazer era olhar para o prato de comida sobre a bandeja.

‘Lasanha. ’ Seu prato favorito. Se mudássemos alguns dos ingredientes por produtos veganos, aquela lasanha seria o prato favorito de Rachel.

– Como eu pude ser tão cega? – Quinn limpou mais uma vez as lágrimas que escorriam por seu rosto. – E agora? O que eu vou fazer?

A porta do quarto se abriu lentamente para logo em seguida, a cabeça de Francine Fabray aparecer pela pequena fresta.

– Quinnie-bear? Posso entrar?

Quinn suspirou profundamente, fungando um pouco. Fran se adiantou até a cama, sem nem ao menos esperar por uma resposta, se deitando ao lado de sua irmãzinha caçula a tomando em seus braços. Quinn se aconchegou junto ao corpo dela, sentindo seus os dedos longos se emaranharem por seu cabelo, acariciando o couro cabeludo.

Elas ficaram assim por alguns minutos. Frannie observava o céu mudar de cor, assistindo as primeiras sombras da noite invadirem o quarto, enquanto Quinn escutava o coração de sua irmã bater junto ao seu ouvido.

– Nós precisamos nos arrumar. – Frannie falou baixinho, finalmente quebrando o silêncio.

Quinn se afastou, respirando profundamente mais uma vez.

– Eu... Eu estou horrível, Frannie. – Ela tinha certeza disso. Seus olhos ardiam e era obvio que estavam inchados e vermelhos. Quinn não queria ser vista assim. Por ninguém... Principalmente por Rachel.

Frannie sorriu tentando consolá-la.

– Não se preocupe maninha. Eu vim aqui para cuidar de você. – ela disse colocando uma mecha loira atrás da orelha de Quinn. – Não a nada que um pouco de gelo e maquiagem não resolvam mon petit agneau.

...

ALGUMAS HORAS ANTES

Rachel engoliu seco. Muito seco. Ela até sentiu sua garganta arder ferozmente, de maneira que seus olhos chegaram a lacrimejar por um segundo.

Parada na sua frente estava uma senhora extremamente imponente. Só a presença dela foi capaz de eriçar todos os pelos dos pés até nuca da morena. Algo que certamente não acontecia com muita frequência ultimamente. Mas, o mais irônico, era que apesar de ser uma completa desconhecida, Rachel sabia exatamente quem ela era e o que ela estava fazendo em sua casa. Afinal de contas, mesmo que ela não tivesse esbarrado ocasionalmente em toda a família Fabray há poucas horas, aquele olhar, aquela sobrancelha arqueada e aquele meio sorriso ameaçador, eram evidências suficientes para que ela fosse capaz de afirmar com absoluta certeza, que aquela senhora era a avó de Quinn Fabray.

– Acho que não fomos devidamente apresentadas, ma cherè. Eu sou Victória Adele Fabray, a avó paterna da Quinn.

‘Oh Deus, acho que agora sei perfeitamente de quem Quinn puxou esse jeito de falar, que ao mesmo tempo em que exala o quão petulante ela pode ser, também faz com que a voz dela seja tão envolvente quanto o canto de uma sereia. Mas, ao que parece Quinn aprimorou a técnica a níveis letais, já que ela dispensa o uso do francês. ’

– Não vai me convidar para entrar? – a senhora voltou a perguntar, enquanto a garota continuava a encará-la boquiaberta.

Rachel piscou algumas vezes, antes de gesticular para que ela entrasse, saindo do meio do caminho, dando passagem para a Victória. A suave fragrância do Chanel n°5 preencheu o ambiente, camuflando a essência de um poderoso Lobo, que emanava pelos poros daquela tão distinta senhora.

– Baunilha e jasmim? – Rachel murmurou para si mesma, um tanto chocada. A senhora Fabray se voltou para ela com uma expressão divertida no rosto.

– Sim, mas acredito que na presença da minha neta, o aroma do jasmim seja mais forte para você. – Victória percebeu as maças do rosto da garota se tingirem de vermelho, e voltou a erguer a sobrancelha.

– O clã Fabray é descendente da linhagem do Lobo da Lua, e cada clã possui uma fragrância característica da sua linhagem, mas você vai aprender a captar melhor cada nuance depois de sua primeira transformação. Contudo, não importa o que aconteça, ma cherè, a essência de Quinnie terá sempre um apelo maior sobre seus sentidos. O corpo dela irá chamar o seu através do cheiro, e é natural que isso seja algo inexplicavelmente intenso.

Victória teve que segurar o riso, mantendo a postura compenetrada diante da figura completamente apavorada, de olhos arregalados, boca entreaberta e cara vermelha, em forma de adolescente à sua frente.

– Eu presumo que esse deva ter sido o real motivo da sua tão abrupta partida da casa dos Lopez hoje mais cedo? – dessa vez, ela foi incapaz de conter um sorriso que nascia no canto de seus lábios, quando percebeu que Rachel enrijeceu bruscamente.

– Normalmente esse tipo de sensação só ocorre entre Lobos já transformados. O efeito afrodisíaco da essência que o corpo de minha neta exala na sua presença, deve acentuar o aroma do jasmim, que é característico do nosso clã, combinado ao cheiro do Ylang ylang, que apesar de ser um dos aromas afrodisíacos geralmente associados as parceiras dos Lobos Alfas, posso afirmar ser uma combinação extremamente rara. Em parte, porque o clã da lua pertence a uma das linhagens mais nobres de nossa espécie, e, portanto a mistura especifica entre essas duas essências, é uma das mais poderosas que conhecemos. Ninguém seria capaz de replicá-la, ou alterá-la. É o cheiro natural de minha neta, e não pode ser forjado ou modificado, é algo único que irá acompanha-la durante toda a vida, e ela não tem controle algum sobre o quanto você é afetada por isso.

Rachel abaixou a cabeça ainda mais envergonhada, porque por um instante, no meio da explicação dela, ela havia pensado na possibilidade de Quinn estar conscientemente usando desse artificio para brincar com seus sentimentos. Aparentemente, Victória Fabray era uma mulher extremamente perceptiva.

A senhora de porte esbelto, se mantinha de pé na sua frente. Seus olhos castanhos esverdeados lembravam os olhos de sua neta, mas havia uma nobreza que só as experiências conquistadas com o tempo poderiam garantir. Rachel a ouviu limpar sonoramente a garganta antes de continuar.

– Será que podemos nos sentar, minha cara futura Alfa? Creio que nossa conversa irá transcorrer mais calmamente se estivermos mais confortáveis.

Rachel acentiu brevemente, seguindo pequeno foyer que se interligava a duas salas maiores, do lado esquerdo a sala de jantar e do lado direito à sala de estar, num estilo tipicamente americano. Conduzindo a senhora Fabray até modesta, porém confortável sala de estar da familia Berry.

Não era um ambiente muito imponente, e a decoração era simples, destacando os tons pastéis. O ambiente era decorado com alguns quadros, um sofá grande de três lugares, outras três poltronas e tinha vista para a varanda integrada a sala, que dava para o quintal da casa, onde se podia notar uma mesinha no estilo vintage arrodeada por quatro cadeiras de encosto trançado.

Rachel indicou o sofá, se sentando na poltrona ao lado. Depois de sentar-se no lugar indicado com toda elegância de uma nobre dama, a avó de Quinn retomou a conversa num tom de voz ameno.

– Devo admitir que estou bastante admirada que você seja capaz de sentir esses traços de sua conecção com minha neta assim tão cedo. Na verdade, esse foi um fato que me deixou extremamente intrigada, quando ouvi os relatos da caçula dos Lopez, a jovem Santana, e como ela descreveu que suas habilidades de perceber Quinn pelo cheiro, foram justamente o que ajudaram a salvar minha neta do ataque daquele grupo de Lobos. Essa notável sintônia entre vocês me deixou muito curiosa. Pricipalmente porque pelo que contam, Quinn é a única capaz de acalmá-la quando a manifestação de seu Lobo emerge de sua forma humana.

Rachel franziu a testa. Ela tinha algumas lembranças disso, e já que obviamente sua teoria de que aquilo tudo não passara de uma alucinação já estava descartada, ela tinha que aceitar o fato que era preciso aprender a se controlar, se ela não quisesse machucar alguém.

– Eu... Eu ainda não entendo muito bem o que está acontecendo. Todos ficam me chamando de Alfa, e dizendo que sou um Lobo, e pelo jeito que me olham parece que não sou exatamente muito normal, e agora Quinn me faz sentir desse jeito e é estranho... Por que... Eu sinto que não vou conseguir me controlar ao lado dela... Se eu não tivesse corrido, eu acho que teria...

– Conhecendo bem minha neta, ela provavelmente pensa que o motivo de sua fuga foi outro. Ela estava muito abalada depois de sua partida, minha cara.

Rachel arregalou os olhos, sentindo seu coração afundar um pouco.

–Eu-Eu-Eu. Não. Eu só precisava sair dali. Aquele cheiro estava drenando toda minha sanidade. Não era certo. E eu não devia me sentir daquele jeito, e Quinn também, ela nunca me perdoaria se eu...

Uma mão delicada cobriu a sua, impedindo que ela afundasse ainda mais as unhas no estofado do sofá.

– O tempo para os esclarecimentos entre vocês duas virá em breve. Tente não confudir seus sentimentos por enquanto. Eu sei que minha neta não teve um comportamento adequado no passado, e que certamente existem muitas feridas que precisam cicatrizar antes que qualquer uma de vocês esteja pronta para enfrentar o que estar por vir, mas não esqueça. A conexão entre companheiros é algo especial, Rachel, muitos lobos não sobrevivem quando perdem sua outra metade. Lembre-se de que o rancor nunca será uma boa semente para ser cultivada. Não feche os olhos para a beleza das pétalas que aguardam pelo seu toque, só porque até agora seus dedos só alcançaram os espinhos.

Espinhos. Talvez o eufemismo da década. As torturas causadas pelos espinhos daquela rosa tinham marcado sua pele, deixando marcas profundas em seu coração, durante todos esses anos. Talvez fosse por isso que Quinn estivesse chorando. Descobrir que a pessoa que ela odeia, é a pessoa por quem ela deveria se sentir atraída deve ter deixado um gosto amargo na boca da Head Cheerio.

‘O rancor nunca será uma boa semente para ser cultivada. ’, Rachel pensou e respirou fundo.

Perdoar Quinn podia até ser fácil. Mas, confiar nela? Amá-la?

Só lidar com esse desejo, essa necessidade de tê-la ao seu lado já estava deixando Rachel maluca. Afinal, a morena sempre havia sido humilde o bastante para desejar somente uma simples amizade; uma troca de cortesias; uma conversa livre de hostilidade. Quinn sempre fora algo fora de seu alcance, e mesmo sempre caminhando ao seu lado pelos corredores, ela era intocável, inacessível. E há anos Rachel havia se conformado com isso.

‘Perdão’, a voz trêmula ecoou em seus pensamentos mais uma vez, num tom de súplica que atingia em cheio seu coração.

– Esses sentimentos, esses pensamentos que eu tenho a respeito dela, foram por causa disso? Quer dizer, só porque ela tem supostamente uma essência que me atrai, eu sinto essas sensações estranhas? E... Depois que eu mudar... E ela puder sentir meu cheiro... Só por causa disso, ela vai me querer?

Saber que Quinn poderia desejá-la simplesmente por causa de uma reação orgânica machucava um pouco. E mais uma vez, Victória Fabray pareceu entender exatamente o que estava se passando na cabeça da morena.

– Não é assim tão simples Rachel. Não é algo unicamente orgânico. Nossa ligação com nossos parceiros transcende a esfera dos desejos carnais. A conexão vai muito mais além. Talvez se você abrir seu coração, e se permitir sentir, você finalmente possa enxergar o sentido em tudo que as une. Será que você pode realmente afirmar que ficaria satisfeita somente com a amizade dela?

Rachel tinha um milhão de perguntas na ponta da língua, mas as batidas na porta a obrigaram a deixá-las de lado por enquanto. Passando pelo foyer, ela abriu a porta da frente de uma vez, sem se incomodar em checar quem era. E quando ela se deparou com as duas figuras paradas nos degraus da escada, seu queixo voltou a cair.

– Cheguei a pensar que vocês duas não viriam nunca! – Victória Fabray exclamou, logo atrás de Rachel, gesticulando para que as duas senhoras entrassem.

– Você sabe como Ingrid demora para se arrumar. Ela consegue se perder no próprio closet! – reclamou à senhora de traços latinos e olhar austero. Ela tinha feições fortes e era a mais baixa das três, e aparentemente tinha o mau humor de Santana (ou Santana tinha herdado o mau humor da avó?). Passando por Rachel sem nem ao menos dirigir-lhe o olhar, ela jogou uma sacola pesada nos braços de Victória e rumou para a sala de estar, dizendo estar cansada e necessitando de uma boa massagem nos pés.

– Será que você podia ser um pouco mais educada, Rosalinda Lopez? Essa é a casa de sua Alfa, sabia? – a outra senhora de simpáticos olhos azuis implicou, tocando gentilmente o ombro de Rachel. – Olá, minha querida. Eu sou Ingrid Pierce, avó da Brittany, e aquela mal-educada é Rosalinda Lopez, a abuela de Santana.

Ingrid acariciou rapidamente o rosto de Rachel, que ainda estava boquiaberta perante suas tão inesperadas convidadas. Depois, ela passou pela adolescente tomando para si a sacola enorme, que Victória estava tentando equilibrar nos braços desde o momento que Rosalinda praticamente a jogou em cima da matriarca da família Fabray.

– Deixe isso comigo, Vicky. Deus sabe que suas costas não são mais as mesmas desde aquela bendita aposta que você e Rose inventaram de fazer... – Rachel mordeu os lábios observando Victória, notando o quão semelhante era a expressão de emburrada entre avó e neta.

– Eu ganhei. Valeu o esforço. – retrucou Victória sorrindo maliciosamente, algo que só fez Rachel lembrar mais uma vez da neta da mulher. Ingrid revirou os olhos e dando uma rápida olhada ao seu redor, apontou em direção à sala de jantar e perguntou a Rachel se a cozinha ficava naquela direção. Quando Rachel fez menção de acompanhá-la, Ingrid a dispensou gentilmente dizendo que era melhor que ela ficasse de olho nas outras duas senhoras, que agora estavam na sala de estar.

– É melhor você fazer companhia aquelas duas teimosas, Rachel querida... Não é muito bom deixá-las sozinhas por muito tempo, ou então teremos duas lobas velhas revirando a casa e quebrando a mobília, feito dois filhotes descontrolados.

Arregalando os olhos para as íris azuladas, Rachel se recordou das brigas homéricas travadas entre Santana e Quinn pelos corredores do colégio, e sem perder mais nem um minuto, saiu em disparada pela porta da sala de jantar para salvar os móveis da sala de estar.

...

Leroy Berry chegou em casa depois de um dia exaustivo no consultório, com todas as intenções de tomar uma ducha, jantar e dormir. Ele entrou de uma vez em casa e passou pelo foyer em direção as escadas. Só quando chegou ao quinto degrau, ele parou e retrocedeu devagar até a entrada da sala de jantar. Piscando os olhos continuamente o homem encarou espantado à grande ceia posta à mesa, e as quatro pessoas que o encaravam de volta com diferentes expressões em seus rostos.

Sentada à cabeceira estava sua filha Rachel, visivelmente congelada no lugar, com o garfo a caminho da boca. À direita dela estava uma senhora de aparência imponente e olhos castanhos esverdeados, que se estreitaram por um breve momento na direção dele, para depois assumirem uma postura quase que desafiadora. Sentadas à esquerda estavam outras duas senhoras, também desconhecidas, uma delas era morena, aparentava ter origem latina e tinha um sorriso suspeito no rosto, enquanto a outra senhora sorria com uma simpatia contagiante, quase como se esperasse que ele se juntasse a elas.

– P-Pai?

– Rachel, eu não sabia que tínhamos convidadas. – Leroy passou a mão pelos cabelos um tanto confuso. Ele tinha consciência de que nos últimos meses, seus esforços para superar seu divórcio haviam causado um distanciamento enorme entre ele e sua filha. Isso não era algo que ele tivesse orgulho, mas uma parte dele não podia evitar lembrar-se de Hiram todas as vezes que via Rachel, e isso ainda doía muito. Ele sabia que estava sendo um covarde e um péssimo pai para ela, abandonando sua filha num momento tão frágil. Só que, por mais que quisesse, por enquanto, não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.

Mesmo assim, ele esperava que se Rachel fosse ter uma crise de rebeldia, essa crise viesse na forma de festas, gritos, notas baixas ou qualquer outro ato tipicamente adolescente. O que ele nunca imaginou foi encontrar sua filha sentada com três senhoras idosas numa mesa tão farta como num Dia de Ação de Graças.

– Senhor Berry, é um prazer finalmente conhecer o pai de uma garota tão adorável como Rachel. – a senhora desconhecida número 1, a de olhos esverdeados, falou num tom pomposo, se levantando. – Eu sou Victória Fabray e essas são Rosalinda Lopez e Ingrid Pierce. Nós resolvemos agradecer Rachel por ser tão prestativa conosco em suas atividades junto ao Centro Comunitário de Lima, oferecendo-lhe um jantar especial.

Agora Leroy estava ainda mais confuso. Rachel estava fazendo serviço comunitário?

–Como? Eu não... Err... Rachel você é voluntária? Desde quando?

– Ah, ela começou recentemente. Espero que o senhor não se incomode, Rachel é uma de nossas voluntárias de mais prestigio. Ela tem tanto potencial. – a senhora de olhos azuis, que ele achava se chamar Ingrid, falou docemente.

– Lógico que não me incomodo. – Por fim Leroy conseguiu caminhar em direção sua filha, que ainda o encarava como se tivesse sido apanhada fazendo uma travessura. - Na verdade, estou surpreso por ela não ter me contado... Mas... Eu também tenho estado muito ausente ultimamente... – ele limpou a garganta encabulado. – Bem, querida, por favor, me conte sobre esse trabalho que você está fazendo.

– Ahhhhhh... É... Uhhhh. – Rachel balbuciou constrangida.

– Ela cuida de velhos. – Rosalinda disparou, com um sorriso maquiavélico, que colocava Santana Lopez no bolso. E apontando para Victória que parecia querer fritá-la com o olhar, continuou – Mais precisamente da minha amiga Vicky aqui. Sabe, Rachel tem sido um anjo, ela a ajuda com todas as limitações que a idade impôs a esses ombros cansados, não é mesmo, Vicky querida?

Rachel pensou ter ouvido à senhora Fabray ranger os dentes ruidosamente, mas aparentemente, seu pai não havia notado, porque se voltou com os olhos cheios de orgulho em sua direção.

– Oh, Rachel. Filha, eu nem sei o que dizer.

Enquanto ele se aproximou, abraçando sua filha ternamente, Rachel pode ver a avó de Quinn estreitar os olhos de uma maneira ameaçadora para a avó de Santana, que parecia extremamente satisfeita, até levar um cutucão da avó de Brittany, que a olhava de cara feia.

– Oh, mais que cena adorável. – Rosalinda falou esfregando o braço esquerdo onde Ingrid havia cutucado. – Mas, já que o senhor está aqui, será que poderíamos pedir um favor?

Leroy se virou para a senhora Lopez, deixando uma mão sobre o ombro de sua filha. Sentindo a garganta seca, Rachel agarrou o copo d’água na sua frente e começou a tomar vários goles.

– Nós vamos ter um evento de grande importância esta noite no Centro Comunitário. Uma festa para terceira idade. É um baile anual, onde podemos jogar bingo, dançar...

– Ah, tem um concurso de tortas! – exclamou Ingrid.

Pelo canto dos olhos, Rachel viu Victória revirar os olhos.

– É... E um concurso de tortas. – continuou Rosalinda. – Bem, Rachel ajudou bastante na organização, mas é normal que alguns dos voluntários estejam presentes no evento para auxiliar alguns dos convidados, e às vezes levar para casa aqueles que se excedem, ou que são teimosos demais para admitir que precisem de um andador. – ela lançou um olhar que fingia a mais sincera preocupação na direção de Victória. Leroy seguiu o olhar dela até a senhora Fabray e assentiu com a cabeça.

– Eu entendo. Por favor, Rachel não precisa me pedir permissão para isso. É lógico que eu não negaria que você ajudasse uma senhora tão adorável.

Rachel quase engasgou com a água. Por um segundo, ela pensou ter visto os olhos avelã relampejarem com um brilho ameaçador.

– É muito gentil de sua parte. – Victória concluiu sorrindo docemente. Sua voz aveludada camuflava perfeitamente a ira que estava fazendo seu sangue ferver. – Rachel, cherè se você puder adiantar suas bagagens. Nós faremos companhia a seu pai enquanto ele janta.

Respirando aliviada por finalmente sair da ‘Zona cero’, Rachel subiu correndo as escadas para empacotar algumas roupas. Pelo menos, ela fora poupada de tentar explicar a seu pai, que quando a lua cheia aparecesse no céu naquela noite, ele teria um Lobo enorme dormindo na cama no lugar de sua filha.

...

As anciãs guiavam Rachel pela floresta, enquanto os últimos raios de sol penetravam na floresta antiga que circundava Lima. A morena suspirou. Depois de pararem rapidamente na casa dos Lopez, para deixarem a mala de Rachel no quarto de hóspedes, elas haviam seguido andando pelo bosque que rodeava a casa e adentrando a floresta.

Rachel ainda não tinha visto ninguém além das três anciãs. Elas haviam explicado que isso também fazia parte da cerimônia de transformação, e que somente na hora dos juramentos era que ela estaria de frente a sua alcateia.

A morena respirou fundo. A ideia de se tornar líder de uma alcateia ainda era um tanto surreal. Mas apesar disso, a perspectiva de lidar sozinha com essa confusão de sentimento que a atormentava era ainda mais confusa.

Dentro de sua mente a imagem do rosto angelical de Quinn coberto de lágrimas, acrescentava ainda mais dúvidas em seu coração. Aquilo era uma bagunça. Lobos, alma gêmea de Quinn Fabray. Sem querer, ela pisou sobre um galho caído, que quebrou, ecoando um suave creck por entre as árvores.

– Cuidado querida. – Ingrid disse virando-se. Seus olhos azuis suaves, quase infantis alertavam. – As ninfas não gostam quando quebram seus galhos.

“Ninfas?!” – pensou indignada. Mas, mesmo assim começou observar o chão onde pisava tomando cuidado até mesmo com folhas secas. – “A última coisa que preciso agora é uma ninfa zangada comigo”.

Existe apenas um problema de andar observando o chão. Não se vê o que está bem à frente. Dessa forma acabou por trombar com Victória Fabray. A anciã lhe lançou um olhar repreensivo. Engoliu em seco. Olhos castanho-esverdeados a olhando com repreensão não era algo tão novo para ela. Mas, fazia lembrar Quinn. A dor da loira, por alguma razão a machucava. Era seu dever protegê-la. Era? Talvez. Talvez não. Tudo ainda estava tão confuso...

Uma pequena clareira estendia-se a sua frente. E um enorme salgueiro erguia-se em seu centro.

– Vamos, sente-se, por favor. – Ingrid pediu indicando para encostar-se contra a árvore. Seu nariz retorceu-se de leve. Mais ordens. Respirou fundo tentando permanecer calma. Havia algo dentro de si pronto para despertar. E sabia, inconscientemente, que jamais havia nascido para receber ordens. Sentou-se se encostando contra a madeira do tronco. Algumas folhas caiam perto de seu rosto, mas não chegavam a tocá-lo.

Rosalinda tocou no tronco sorrindo para árvore ancestral.

– Olá velha amiga. – após uma breve pausa continuou. – Sim está é a nova Alfa. Imagino que já saiba o que venho lhe pedir. Por favor?

As senhoras seguraram a respiração durante alguns segundos. Depois sorriram.

– Obrigada. – Rosalinda agradeceu, e com bastante cuidado retirou um ramo da árvore.

– O que foi isso? – Rachel perguntou. A mulher falava com árvores. Por Deus, em que loucura havia se metido?

– Nunca arranque algo da natureza sem pedir antes Rachel. Ela não gosta. Com permissão, o equilíbrio é mantido. E não é necessário se preocupar que ela vá se voltar contra você. – Victória respondeu.

Ingrid pegou o ramo das mãos de Rosalinda e começou a envolvê-lo com um ramo de sálvia. Depois colocou preso a uma flor de lótus e a um lírio. Acendeu os ramos e deixou a fumaça clara e perfumada envolver o ar.

– Para purificação. – esclareceu ao observar os olhos curiosos de Rachel.

De fato, o cheiro era adocicado. Lembrava um pouco o perfume de Quinn logo que sai do treino das Cheerios e...

Suspirou. Novamente. Quinn e seu rosto coberto de lágrimas. Por sua causa. Por sua culpa. Porque nunca podia controlar sua boca grande?

Victória ajoelhou-se em sua frente e Rachel ficou ereta, se sentindo tensa a com a proximidade da senhora. A Fabray tocou na chama, e em seguida nas duas flores, antes de seus dedos mornos tocarem em sua testa gentilmente.

Ateh. – os dedos passaram e ficaram na direção do mediastino, logo acima de seu coração.

Malkuth – suavemente passou para o ombro direito.

Ve Geburah – sem retirar os dedos de sua pele, passou para o ombro esquerdo.

Ve Gedulah – tocou com cuidado o ponto entre seus seios.

Leolam. Amen. Abençoada seja, Rachel Barbra Berry.

Rachel respirou fundo mais uma vez. E conseguiu sorrir para a senhora que lhe abençoava.

– Sei que é judia criança. Porém, saiba. Não importa o nome que chame por Deus em sua oração. O Deus Allah, o Deus Yahvéh, o Deus Cristão... Todos são o mesmo Deus. Sob nomes diferentes. Aceite a benção de coração aberto.

Rachel assentiu sorrindo.

– Hoje, nos lhe daremos três presentes. – Rosalinda disse. – Depois chamaremos os espíritos ancestrais, para que eles lhe ofereçam os deles.

Ingrid, a mais velha das três foi a primeira a se aproximar. Com cuidado cobriu os olhos da jovem Alfa com as mãos.

– Espíritos dos Antigos Lobos, ouçam o meu pedido. Concedam a Alfa o Prajna. A sabedoria que purificará sua mente, esclarecendo sua visão de todas as coisas.

Uma leve brisa acariciou os ramos do salgueiro, como uma resposta.

Rosalinda foi a segunda a se aproximar. Colocou as mãos sobre seu coração.

– Espíritos dos Antigos Lobos, ouçam o meu pedido. Concedam a Alfa o Sila. A ética e moral que a abstém dos hábitos nocivos.

Um vento acariciou os ramos do salgueiro. Mais uma resposta.

Victória foi à última a se aproximar. Colocou suas mãos sobre a cabeça de Rachel mantendo as mechas longe de seu rosto.

– Espíritos dos Antigos Lobos, ouçam o meu pedido. Concedam a Alfa o Samadhi. A disciplina necessária para que domine a própria mente.

Um vento forte, que assovia dentre as árvores, quase como um uivar, atingiu o salgueiro. Outra resposta.

Ingrid abriu a bolsa que trouxera tirando uma vela amarela e posicionando ao leste. Acendeu a chama com cuidado.

– Ar. – chamou – Venha, por favor. E traga consigo, clareza e compreensão. E que estas, acompanhem a jovem Alfa, durante toda sua jornada.

Rachel conseguia sentir o vento rodopiando ao seu redor.

Rosalinda posicionou uma vela vermelha ao sul. Acendeu com cuidado, para que o vento que soprava não impedisse.

– Fogo. Venha, por favor. E traga consigo, força e coragem. E que estas, acompanhem a jovem Alfa, durante toda sua jornada.

Um calor gostoso, como sentar-se à frente da lareira envolveu a morena.

Victória colocou a vela azul a Oeste.

– Água. Venha, por favor. E traga consigo, sabedoria e tranquilidade. E que estas, acompanhem a jovem Alfa, durante toda sua jornada.

O cheiro salgado e refrescante do oceano preencheu o olfato sensível da garota. Já não podia ver Ingrid, que estava na parte de trás do Salgueiro. Ao norte. Uma vela verde foi acesa. E sua voz melodiosa chegou aos ouvidos de Rachel.

– Terra. Venha, por favor. E traga consigo, empatia e estabilidade. E que estas, acompanhem a jovem Alfa, durante toda sua jornada.

Cheiro de grama recém-cortada substituiu o cheiro do oceano. Rachel sorriu fechando seus olhos. Uma paz tomava conta de si, como há muito tempo não fazia.

As três senhoras colocaram uma base de porcelana que apoiava uma vela arroxeada sobre seu colo, e juntas disseram.

– Espírito. Venha, por favor. E traga consigo, amor, compaixão e sinceridade. E que estes, acompanhem a jovem Alfa, durante toda sua jornada.

O ar pareceu tornar-se elétrico, como se a mais pura das energias o percorresse.

– Espíritos dos Antigos Alfas. Escutem nosso chamado. Rachel Berry começará sua jornada. Estejam com ela, guiando-a. Estejam com ela, correndo. E vivam, mais uma vez, através dela. Pedimos que Fenrir, o Grande Lobo, abençoe suas caçadas e todos os seus dias de loba.

Ingrid ajoelhou-se em sua frente.

– Rachel. Para liberar o Lobo dentro de si, é preciso permitir que a energia corra livremente através de você. Dentro de cada um de nós, existem sete chakras. Chakras são centros de energia, que a distribuem através de todo o corpo humano. Quando nada nos afeta, os chakras permanecem desbloqueados. Porém, a vida é cheia de complicações. Essas complicações bloqueiam a passagem de energia, e impedem que seu Lobo saia. Se aceitar, agora liberaremos todos os seus chakras. Depois fará o juramento. E então, seguiremos para encontrar com toda a alcateia. Você aceita?

– Sim. – Rachel respondeu de imediato. Precisava libertar-se. Precisava compreender. Conheci a si mesma. Ou talvez não? Talvez sempre soubesse que nunca atingirá todo seu potencial, e que ainda faltava algo. Precisava alcançar tudo. Precisava conseguir isso. E mais, precisava entender o olhar magoado de Quinn Fabray.

Ingrid lhe sorriu docemente colocando a palma de sua mão sobre sua bochecha.

– O primeiro é o Chakra da Terra, localizado na base da espinha. Ele lida com a coragem e é bloqueado pelo medo. Diga, minha Alfa, o que você teme?

Rachel fechou os olhos buscando em sua mente seu maior temor. A imagem veio em sua mente em segundos. Naquele dia na floresta perto do colégio... Se tivesse demorado apenas mais alguns segundos... Uma visão de Quinn morta e ensanguentada lhe assombrava.

– Não poder proteger aqueles que eu amo... – vieram num sussurro, sem que ela desse conta do que falava.

– A morte virá a todos nós. Seu dever como Alfa é nós proteger. Mas não se esqueça. A morte faz parte da vida. Mesmo a morte daqueles que dão sentido a nossas vidas.

Rachel respirou fundou. E sentiu a energia fluir com mais intensidade dentro de si. Ingrid sorriu para ela e Rachel indicou que continuasse. Sentia-se melhor. Mais... Corajosa e forte.

– O segundo é o Chakra da Água, localizado abaixo do umbigo. Ele lida com o prazer e é bloqueado pela culpa. – Ingrid respirou profundamente. – Rachel... Do que você sente culpa?

A garota fechou os olhos. Muitas coisas. O divórcio dos seus pais, seu isolamento social, Quinn ter se machucado...

– Eu machuco todos que amo... Eu sou como um porco-espinho. Qualquer um que se aproxima de mais sai ferido... – sussurrou lutando contra lágrimas. Havia destruído tantas coisas... O amor perfeito de seus pais, quase havia matado Quinn, Doutor Lopez e sua filha...

– Todos merecem amor Rachel. Até o mais áspero dos porcos-espinho. Não se culpe pelo que não tem controle. E aceite. As coisas aconteceram, como deviam acontecer, e em seu tempo preciso. Não pode permitir que arrependimentos e remorsos sobre o passado lhe impeçam de ver o futuro. É preciso que você mesma, se perdoe.

Rachel inspirou. A energia ganhou mais força em seu corpo. Enquanto ainda de olhos fechado, Ingrid trocou de lugar com Rosalinda.

A voz da latina surpreendeu Rachel que abriu os olhos lentamente.

– O terceiro é o Chakra do Fogo, localizado no estômago. Ele lida com a força de vontade e é bloqueado pela vergonha. Do que você mais tem vergonha querida? Quais são suas maiores decepções com você mesma?

Rachel tornou a fechar os olhos. O cansaço e a fome começavam a surgir em seu corpo. Concentrou-se. Lembrava-se do olhar de medo das pessoas ao seu redor quando acordou. Do monstro que havia se tornado.

– Eu nunca quis ser...

– O Lobo é uma parte de você Rachel. Não podemos ter vergonha de algo que compõe nosso próprio eu. Jamais seja seu pior juiz. Torne-se sua melhor defensora.

Rachel sorriu. Podia abraçar aquele seu lado sobrenatural? Poderia abandonar tudo por algo tão... Místico? Um rosto surgiu entre a névoa de dúvida de sua mente. Um sorriso de Quinn Fabray.

Sim podia.

A energia aumentou a força, esquentando-a e carregando consigo uma parte do cansaço. Abriu os olhos, sorrindo para Rosalinda.

– Podemos continuar.

A senhora latina assentiu satisfeita.

– O quarto é o Chakra do Ar, localizado no coração. Ele lida com o amor e é bloqueado pelo pesar.

Os olhos de Rachel marejaram. Sua família havia sido destruída. Primeiro por um divórcio. E depois, pelo distanciamento de ambos os pais.

– O amor é uma forma de energia. E da mesma forma que a energia jamais deixa de existir, apenas assume, novas formas.

Os rostos de seus pais desapareceram de sua mente. E diversos outros começaram a surgir. Ela sentiu a presença de várias outras pessoas que aguardavam por ela. Rachel sentiu a ansiedade deles, a vontade de encontrá-la, a sensação de conforto que eles sentiam, por ela, finalmente, estar presente entre eles. Sua alcateia. Eles estavam perto dali, ela podia senti-los.

Uma energia reconfortante preencheu Rachel, aquecendo seu coração. O amor aquecera. Rosalinda trocou de lugar com Victória, e quando a jovem Alfa abriu seus olhos, deparou-se com os característicos olhos Fabray.

– O quinto é o Chakra do Som, localizado na garganta. Ele lida com a verdade e é bloqueado pelas mentiras que contamos a nós mesmos.

– Eu nunca quis apenas ser uma estrela... Aceitação sempre foi meu verdadeiro sonho.

– Não há vergonha em querer ser parte de um todo. É por isso que quando a alcateia junta, podemos nos comunicar. Diferentes corpos, unidos em uma mesma mente coletiva.

Rachel podia sentir que agora fazia parte de um todo. Um enorme todo em que ela atuava como peça central. E isso era, de certa forma, reconfortante.

Nunca havia sentido tanta energia fluir dentro de si. Sentia-se mais poderosa. Como se lentamente despertasse algo, há muito tempo adormecido dentro de si.

– O sexto é o Chakra da Luz, localizado no centro da testa. Ele lida com o discernimento e é bloqueado pela ilusão. A maior ilusão é a da separação.

Rachel respirou fundo. – Somos um.

– Sim Rachel. Somos um. – Victória concordou. – Lobos, humanos, ninfas, espíritos... Fazemos parte de um mesmo todo. Formando um gigantesco organismo único.

A morena sorriu. Um grande todo. Que apenas nós podemos imaginar como separado.

A energia fluiu com quase força total levando embora a fome e o cansaço. Rachel sorriu para si mesma, parabenizando-se.

As três anciãs sentaram-se em frente a Rachel observando-a atentamente.

– Este é o mais difícil dos chakras. – alertou Ingrid.

– Exigirá muito auto sacrifício. – Rosalinda emendou.

– Mas, saiba. Confiamos em você. – Victória terminou.

Rachel assentiu. Sentia-se determinada e pronta.

– O sétimo e último é o Chakra do Pensamento, localizado no alto da cabeça. Ele lida com a Energia Cósmica Pura e é bloqueado pelas ligações terrenas. – falaram juntas. – O que te liga aqui Rachel?

Mais uma vez aquele sentimento estranho tomou posse de seu peito, e Rachel encontrou o conforto junto à lembrança daquela que domou o Lobo que dormia dentro dela, no toque de mãos suaves, numa presença que a fazia se sentir plena, num sorriso que mesmo que nunca tivesse sido dirigido a ela, conseguia acalmar a fera, mesmo antes que Rachel soubesse que podia ser domada.

– Quinn... – disse em um sopro.

– Precisa permitir que a liberdade de sua mente. Somente assim o Lobo virá. Precisa fazer por você querida. Quinn só pode te acompanhar até aqui.

Foi estranho, assim que a anciã proferiu que Quinn não podia acompanhá-la, uma sensação estranha começou a se espalhar pelo corpo e pela mente de Rachel. Uma angustia inexplicável, que ameaçava tirar o fôlego da jovem Alfa. Por mais que ela tentasse se concentrar, e afastar a imagem da garota de sua mente, a ansiedade de estar na presença dela sufocava seus sentidos. Havia uma tristeza que não pertencia exatamente a Rachel, que parecia flutuar junto ao seu peito, e esse sentimento a distraía. Mesmo assim, a jovem Alfa continuava tentando. Depois de um longo tempo, que não podia ser mensurada em horas ou minutos, ela sentiu outra presença se aproximar. Rachel tentou se agarrar a essa presença, mas a chegada desse outro alguém à sua mente, também trouxe várias outras presenças. Tentando se desfazer de cada uma delas, se concentrando somente naquela que ela havia sentindo ser a mais forte, Rachel se concentrou ainda mais. E por um breve momento, todas as outras sensações sumiram, abrindo espaço para que ela se deparasse com a imagem de um gigantesco Lobo Negro, que a observava com curiosidade, de dentro de uma jaula escura, preso por grossas correntes de prata. Logo em seguida a imagem de Quinn invadiu sua mente e Rachel ouviu quando a voz do Lobo se juntou a dela chamando em uníssono.

“Minha”.

Finalmente, a energia fluiu livremente em Rachel. A morena nunca havia se sentido tão forte. Tão poderosa. Tão confiante de si. Uma nova Rachel nascia ali.

– Minha Alfa... – Victória chamou. – Está pronta para fazer o juramento?

Rachel assentiu levantou-se virando seu rosto a árvore. Ajoelhou-se observando seus altos galhos. Nunca havia ouvido as palavras. Mas sabia dizê-las, como um conhecimento há muito esquecido que havia, de repente, retornado.

A noite chega, e agora começa a minha caçada. Não terminará até a minha morte. Protegerei minha parceira, protegerei minhas terras, protegerei a minha alcateia e todos os seres que com ela convivem. Protegerei as Anciãs, o Conselho, e os Não-Transformados. Viverei e morrerei no meu posto. Sou a espada na escuridão. Sou a vigilante da Lua. Sou o fogo que arde contra o frio, as estrelas que iluminam a noite mais sombria, o uivo que acorda os que dormem, o escudo que defende os reinos sob sol e lua. Dou a minha vida e a minha honra à Alcateia de Lima, por esta noite e por todas as noites que estão para vir.

– Levante-se Rachel Barbra Berry. – Ingrid pediu. – A Verdadeira Alfa da Alcateia de Lima!

Rachel ergueu-se e as três senhoras a abraçaram.

– Vamos querida. – Abuela a chamou. – Sua alcateia lhe espera.

...

A lua cheia surgia gloriosa no céu. Era quase como se estivesse reverenciando os acontecimentos dessa noite. Quinn sentiu a mão de Fran apertar a sua gentilmente, tentando, de alguma maneira, confortá-la.

A excitação entre os membros da alcateia era palpável. A clareira estava repleta com todas as famílias Lobo de Lima, e algumas outras que viviam no Condado de Allen, em cidades próximas como; Perry, Monroe, Cairo, Fort Shawnee e Sugar Creek. Vários murmuravam ansiosos, todos curiosos para ver Rachel, a Alfa que já se sabia ser capaz de proezas nunca vistas antes.

– Eu soube que ela salvou a companheira de um ataque de quatro Lobos, sem nem ao menos se transformar. – sussurrou uma garota há alguns metros de Quinn.

– É tão romântico, não acha? – outra garota com uma voz sonhadora comentou. – Quinn Fabray tem tanta sorte de ter uma companheira tão destemida.

– Eu não diria tanto. – disse uma terceira garota, que Quinn reconheceu a voz no mesmo momento, era uma das suas Cheerios, Nicole Thompson. A garota se aproximou das outras duas, e sussurrando continuou. – Vocês sabem que Quinn é a Head Cheerio e HBIC da minha escola, e até ai tudo bem, porque era exatamente isso que todos nós esperávamos de alguém como ela. Mas, o que vocês aparentemente não sabem ainda, é que durante todos esses anos, ela tratou Rachel como uma pária. Quinn Fabray definitivamente humilhou sua companheira desde o primeiro minuto que a conheceu... Eu quero só vê como a HBIC vai agir, agora que sabe que além de ter publicamente desprezado sua alma gêmea por tanto tempo, essa dita alma gêmea ainda por cima é uma garota.

Quinn engoliu seco, sentindo as lágrimas queimarem em seus olhos. Ao seu lado, Francine virou de uma vez na direção das garotas, e lançando um olhar congelante na direção de Nicole, disse quase que rosnando.

– Ei Thompson, é melhor não falar daquilo que não entende. Eu não gosto de fofocas, sabe? Principalmente quando são a respeito da minha irmã.

Nicole se encolheu entre as outras duas garotas, literalmente colocando o rabinho entre as pernas. Frannie ergueu a sobrancelha e levantou o queixo antes de se virar mais uma vez para sua irmã, sussurrando ao seu ouvido.

– Não preste atenção no que ela disse, esse assunto é algo entre você e sua companheira. A opinião de ninguém mais importa.

Quinn piscava os olhos, impedindo que as lágrimas se formassem em seus olhos. Ela respirou fundo varrendo seus arredores com o olhar. Muitos dos presentes em algum determinado momento a haviam cumprimentado a distância, acenando e sorrindo. A grande maioria demonstrava um respeito sem precedentes, inclinando levemente a cabeça quando olhavam na direção dela. Entretanto, aqueles que frequentavam a William McKinley High, observavam-na com muito mais interesse. Certamente, alguns deles estavam esperando que ela jogasse um slushie no rosto da Alfa assim que ela se transformasse.

– Hello garotas, podem começar a festa. O Puckassaurus chegou.

Noah Puckerman apareceu do nada, passando a mão pela cintura de Quinn e de Frannie, se colocando entre as garotas com uma das expressões das mais inapropriadas no rosto.

– Vê se me esquece, Puckerman. – disse Quinn acertando uma cotovelada certeira bem nas costelas do garoto.

– Oh, Q-babe. É por isso que eu sou caidinho por você. Com esse seu gênio todo, você deve ser daquelas garotas que deixa um cara em chamas.

Quinn arregalou os olhos para ele, no mesmo instante que Francine agarrou o rapaz pelas orelhas.

Imbécile! O que acha de repetir isso na frente de nossa Alfa, hein?

Puck se contorcia de dor, enquanto Frannie ameaçava arrancar a orelha dele fora. Quando ele finalmente se desculpou, e teve sua tão preciosa orelha libertada, ele sorriu para Frannie, agitando as sobrancelhas.

– Quer saber? Vale muito mais a pena ver duas garotas gostosas como elas se pegando por ai, do que ter que ficar imaginando o que aconteceria se um dia isso acontecesse... Yeah babe, eu vou me divertir muito com isso! Vida longa a pegação Faberry! – e antes que Frannie conseguisse alcançá-lo, o garoto fugiu correndo, deixando Francine fumegando de raiva.

Votre harceleur de l'enfer! Quand je ai mis mes mains sur vous Puckerman, vous le regretterez!

Francine continuou xingado toda a linhagem do garoto, enquanto Quinn procurou consolo, mais uma vez, olhando para lua. A loira mordeu o lábio, em breve a cerimônia de juramento se iniciaria e ela estaria frente a frente com sua Alfa, sua companheira... Sua inimiga? Ela deixou a mente vagar pela mata ao seu redor, em algum lugar ali perto, estava Rachel. Uma sensação estranha percorreu seu corpo e como se tivesse sido trazida pelo vento, Quinn ouviu uma voz altiva sussurrar ‘Minha’ junto ao seu ouvido. Ela sentiu seu corpo tremer e se apoiou em sua irmã quando suas pernas bambearam. Francine olhou-a preocupada, mas no instante seguinte, todos na clareira trocaram olhares entre si, tendo sentido a onda de energia gigantesca que pulsava em algum lugar na floresta.

Quinn prendeu a respiração. Estava acontecendo. Rachel estava despertando.

...

As anciãs guiaram Rachel, embrenhando-se mais na floresta, agora iluminada fracamente pela luz do luar. Aos poucos, começou a escutar o som de água corrente.

– Um rio. – identificou. As anciãs sorriram-lhe. De fato, era um rio. O borbulhar das águas cristalinas contra as rochas, moldando o curso que há tantos anos o rio seguia. Mas, algo estranho... O som parecia vir de mais debaixo. A explicação veio pouco tempo depois.

Estava em um pequeno morro, quase um planalto. O rio descia seu curso por baixo, e ali as suas margens estavam pessoas. Muitas pessoas. Algumas pedras subiam, como uma escada espiralada, parecendo um caminho até estar suficiente perto. As anciãs lhe guiaram a beirada do planalto.

– Nossa Alfa – Victória disse alto – está pronta para receber seus juramentos de fidelidade.

As pessoas começaram a se mexer no mesmo instante, se organizando numa longa fila. Rachel pode notar que todos vestiam uma espécie de toga, a grande maioria vestia diferentes tons de cinza. Russel Fabray encabeçava a multidão. Ele vestida uma toga simples, na cor cinza claro, que cobria seus ombros. Utilizando o caminho de pedras, o então líder da Alcateia, abdicou do cargo, ajoelhando-se defronte Rachel, com mão direita cobrindo o punho esquerdo, e fixando seu olhar nos olhos castanho-escuros, jurou.

Fidelis ad mortem.

Rachel lentamente cobriu seu punho direito com a mão esquerda, espelhando os movimentos dele.

Fidelis ad mortem. – repetiu.

Russel lhe ofereceu um sorriso antes de descer e reassumir seu lugar a margem do rio.

Rachel pode sentir a aura de cada um que se apresentava a ela. E não demorou muito para que ela entendesse que aqueles primeiros eram os membros do Conselho. A essência deles emanava certa pompa, e alguns poucos emitiam níveis exacerbados de orgulho, ou arrogância. Ainda sentindo a energia vinda de cada um que se apresentava a ela, a Alfa assistiu a todos repetirem os gestos de Russel Fabray, e se ajoelharem a sua frente e jurarem fidelidade. Até a Morte. Quando o último membro do conselho se levantou, retornando ao seu lugar junto à margem do rio, Rachel a viu.

Quinn também trajava uma toga, mas diferente das dos demais, seu traje era mais curto, e tinha só uma manga, que deixava um de seus ombros exposto. O tecido era do mais puro branco, e suas bordas haviam sido adornadas com uma fita dourada, a saia era elegantemente plissada, e se estendia exatamente até o meio de suas estonteantes e perfeitamente torneadas coxas. Seus cabelos escorriam de um coque, descendo em cachos dourados por seus ombros. Um simples cordão dourado, com um pingente no formato de uma lua semi-crescente enfeitava seu pescoço, refletindo a luz do luar. Ela parecia uma Deusa grega. Mas, sua Deusa não sorria, e toda a alegria presente no rosto de Rachel sumiu, ao perceber que aqueles lindos olhos esverdeados estavam levemente inchados e um pouco vermelhos. Ela havia chorado. E aquilo não lhe agradava nem um pouco. Então Quinn se ajoelhou na sua frente, e vê-la numa posição de submissão a deixou ainda mais irritada.

Quinn não deveria se ajoelhar. Para ninguém, nem mesmo para ela.

Fidelis ad mortem. – Quinn jurou. Sua voz ainda trêmula pelo choro.

Rachel repetiu o gesto e o juramento. Mas quando esticou a mão para tocar no rosto angelical, Quinn já havia se levantado, se afastando rapidamente ao ouvir a última sílaba deixar os lábios de Rachel. A morena pode sentir a tristeza que inundava a aura da loira, mas naquele momento não havia nada que pudesse fazer a respeito. Então, permitiu que ela fugisse. Não a pressionaria, porém, precisavam falar.

Fechando os olhos por um breve momento e respirando profundamente, Quinn caminhava a passos rápidos até seu lugar à margem do rio. Ela mal tinha olhado para Rachel durante o juramento, completamente sem forças para ser rejeitada ali. A presença da morena parecia cada vez mais forte, e a cada minuto seu corpo experimentava uma dor quase física por estar tão distante dela. Era como se todo seu ser pulsasse desesperadamente para juntar-se a Rachel. Quinn podia ver a fila diminuindo, e ela sabia que o que estava para acontecer em seguida, faria com que a ânsia de estar junto a morena aumentasse ainda mais, porque quando Rachel finalmente libertasse o Lobo que estava aprisionado dentro dela, ela seria totalmente capaz de sentir a essência que as ligava como parceiras.

Caleb se levantou, sorrindo para sua Alfa. Ele havia sido o último da alcateia a jurar lealdade à Rachel, e ela pode sentir o quanto ele se orgulhava de sua posição. O rapaz continuou sorrindo enquanto se encaminhava para o ponto mais longe da pedra. A satisfação de fazer parte daquela família sobrepunha qualquer hierarquia que lhe fora imposta.

Finalmente Rachel pegou das mãos de Ingrid o Athame cerimonial. Sem sorrir, deixou a luz de a lua refletir na lâmina, permitindo que toda a alcateia visse. Levou a sua palma de mão esquerda e a cortou superficialmente. O sangue pingou três vezes na pedra antes de mostrar a todos a palma cortada.

Fidelis ad mortem. – jurou. – O que está morto, não pode morrer, mas volta a se erguer mais duro e mais forte.

Não havia como voltar atrás agora. Ela era a Alfa. E aquela agora era sua alcateia. Todos se curvaram perante ela.

A contagem regressiva a sua primeira transformação havia começado.

Rachel sentou-se respirando fundo. Sua mente foi levada para longe. Via-se em um enorme corredor que parecia coberto por água. Ela começou a andar. Seus passos ecoavam altos. Ao virar do corredor prendeu sua respiração. Barras de aço gigantescas a separavam de um gigantesco Lobo Negro.

– Mas o que...? – ela engasgou surpresa. O Lobo que havia aparecido em sua mente ao liberar o último chakra não parecia tão grande como o que estava na sua frente.

Esse Lobo era quase do tamanho de um cavalo, e era imponente, quase assustador. Seus olhos castanhos pareciam refletir os seus como um espelho, mas algo neles parecia trazer à tona mais sabedoria e voracidade de um guerreiro valente. Era evidente sua nobreza e porte magnânimo.

– Rachel... Finalmente. Há anos espero por esse momento. – a voz do Lobo era poderosa e retumbava em seu corpo.

– Quem é você?

Eu sou a metade de você que estava adormecida. Venha. Está mais do que na hora da linhagem dos primogênitos de Fenrir reclamar o que é seu. Liberte-se Rachel. Nós somos um só. E esta noite vamos renascer perante os nossos. ’

Rachel olhou para as próprias mãos e se viu acorrentada também. O Lobo a observava e a morena sentiu a força percorrer seus braços, com um único gesto ela quebrou as correntes em seus braços e puxou a porta daquela prisão, se colocando diante da fera gigantesca.

Tudo escureceu.

A morena abriu os olhos lentamente, sua alcateia se mantinha ajoelhada no descampado à sua frente. Entre eles, Rachel viu o Lobo Negro caminhar em sua direção. A morena sorriu, erguendo o queixo. Finalmente, seus corpos se fundiram.

Seu crânio começou a deformar-se, alongando, aumentando sua mandíbula, dentes nascendo, crescendo, afiando-se. Vértebras cervicais começaram a surgir em seu pescoço, esticando-o. Sua coluna vertebral tomou a posição horizontal e começou a alongar-se após seu cóccix formando uma longa cauda, todos os seus ossos rapidamente quebrando-se, retorcendo-se assumindo novas formas.

Os órgãos rapidamente acomodaram-se a diferença de formato do corpo.

Os músculos cresceram, fortificando-se, dando forma e tamanho.

Uma camada de grossa de pelos negros como a noite começou a surgir de Rachel.

Nada doía. Tão confortante quanto adormecer. Tão natural quando andar. Diante dos olhos da alcateia, surgia um Lobo de pelagem escura como o céu noturno. Seu porte não se equiparava a nenhum outro.

Todos os presentes a olhavam estarrecidos. Algumas crianças pequenas sorriam apontando e enfatizando para seus pais que Rachel era um Lobo enorme, enquanto outros membros mais velhos tentavam sem sucesso, esconder sua surpresa. Rachel ouviu Noah Puckerman dizer ‘Wow. É isso aí minha princesa judia! Você arrasa!’, ela também pode ver o sorriso de Caleb, que parecia ocupar toda sua face. Desviando o olhar, Rachel buscou por Russel Fabray.

“Pode me ouvir?”, ela perguntou e viu Russel assentir positivamente. Então se voltando para toda a alcateia ela continuou. “Que as mães com crianças pequenas, as grávidas, os jovens ainda não transformados e os idosos permaneçam aqui.”, depois ela olhou para as anciãs. “Cuidem daqueles que não podem estar conosco essa noite. Estarei ouvindo, se precisarem, eu virei imediatamente.”

O Lobo Negro desceu o caminho de pedras e parou junto a Russel.

“Sua esposa também deve ficar. E se quiser, sinta-se livre para fazer companhia a ela.”, Rachel comunicou se afastando.

Russel abaixou a cabeça, agradecido. Apesar de gostar das caçadas, ele não gostava muito de abandonar Judy. Ele estava realmente impressionado. O primeiro ato de Rachel como Alfa havia sido cuidar daqueles que por ventura não estavam capacitados para segui-la numa caçada. Ela havia pensado no conforto dos mais fracos e indefesos. O senhor Fabray sentiu a mão se sua esposa se fechar sobre a dele, e soube no mesmo instante que sua companheira também havia aprovado a decisão da Alfa.

Um pouco mais distante dali, Quinn observava o Lobo Negro com admiração. Seu coração batia forte em seu peito e seus olhos não eram capazes de desviar o olhar. Nunca em sua vida, ela havia visto nada tão bonito. Rachel era o Lobo mais perfeito que ela já vira. O cheiro dela inebriava seus sentidos, e sua respiração acelerou. Quinn podia sentir que todos na clareira já se sentiam mais seguros só por causa da presença dela. Bastava olhar o poder que sua Rachel exalava e...

‘Espera. ’

Não. Rachel jamais seria sua. Ela jamais a perdoaria. Quinn havia perdido seu final feliz. A loira baixou os olhos sentindo uma nova onda lágrimas cair de seu rosto. Uma dor enorme ameaçou dilacerar seu peito e mais uma vez, ela buscou apoio em Francine, que ainda olhava para Rachel de boca aberta.

A morena seguia caminhando por entre sua alcateia, ela estava extasiada com a transformação. Seus sentidos estavam mais apurados, trazendo uma nova maneira de ver e sentir tudo ao seu redor. Ela tinha nascido de novo, e nossa nova vida o mundo parecia mais vivo.

Mesmo no breu da floresta, sua visão permitia que enxergasse de longe detalhes que jamais pensou em ver. Tantos detalhes, tantas cores; Sua audição parecia percorrer quilômetros. Um bebê ressonando, algum jovem digitando em seu celular, o andar de alguém na rua há vários quilômetros dali... Sons de corações batendo; Seu nariz agora lhe permitia sentir toda floresta. O cheiro do salgueiro, sabugueiro, carvalho, eucalipto, flores, gramas, um delicioso perfume adocicado... Tudo se misturava com o cheiro de humanos, de sua alcateia, de criaturas que corriam pela floresta; Suas garras cavaram na terra levemente sentindo-a. A maciez da terra embaixo de suas patas, a vida que se expandia secretamente por debaixo dela, raízes crescendo, animais cavando, completamente enterrados. Um pulsar. Um pulsar poderoso que parecia tomar todo seu corpo. O planeta Terra pulsava, como um enorme coração.

“Todos parte de um mesmo enorme organismo”.

Jogou sua cabeça para cima e uivou.

Ao ouvir o uivo de sua Alfa convocando-os a caça, todos os Lobos que estavam aptos a acompanha-la, começaram a transformar-se. Foi nesse momento, que uma linda e jovem Loba Branca chamou a atenção de Rachel.

‘Quinn. ’

O Lobo Negro uivou novamente. Seus instintos guiaram suas atitudes, quando tomou impulso saltando uma distância bastante significativa, para pousar suavemente perto de onde estavam as duas herdeiras do clã Fabray. A Loba Branca deu um passo para trás, enquanto a outra loba cinza-claro inclinou a cabeça para o lado, curiosa.

Os olhos castanho-escuros se fixaram nos castanho-esverdeados, se aproximando lentamente. Rachel teve que abaixar a cabeça para poder encará-la, e quando estavam próximas o suficiente, ela sentiu seu corpo reverberar.

“Caminhe ao meu lado.”, a voz de Rachel ressoou na mente de Quinn, fazendo o coração da loira pular uma batida.

“Hey, Jew-Alfa-Princess eu aposto que pego um cervo bem antes de você!”, a voz de Noah Puckerman interrompeu o momento entre elas, fazendo Rachel revirar os olhos.

“Não provoca, Pucktário. Eu sou a loba mais rápida nessa bagaça e você vai comer a minha poeira.”, uma loba castanho escuro cruzou o caminho dele, fazendo jus as suas palavras e jogando terra na cara do Lobo de pelo malhado e focinho branco. “Você tem cor de roupa suja, Puckerman!”, e depois Santana saiu correndo, sendo seguida por Brittany.

“Alguém tem que ensinar a ela a ter um pouco de humildade.”, disse Rachel sacudindo a sua grande cabeça de Lobo. E olhando mais uma vez para Quinn, ela disparou até a floresta, ultrapassando Santana em segundos e chutando um bom bocado de poeira na focinha dela.

O resto da alcateia uivou em conjunto e começou a correr atrás da nova Alfa de Lima.

A Primeira Caçada havia... Iniciado.


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Notas finais do capítulo

Chase: Temos algumas notícias para dar... Com final de fevereiro e volta às aulas mudaremos o dia de postagem de quarta para sexta-feira.
Dana: Quer dizer que a próxima postagem vai demorar mais do que 15 dias? Chase nos vamos apanhar e...
Chase: Não! Por que graças a minha planilha eu previ isso. Ou seja, na realidade vocês ganharam uma postagem um pouco mais cedo. O próximo capítulo sairá dia 27 de fevereiro, sexta-feira, logo na semana que vem!
Dana: Acho que com essa você vai conseguir mais membro para o culto dos adoradores da planilha hahahahahahaha
Ei... Quero aprender a fazer sopa de batata!
Chase: Ai Deus...