O Despertar do Lobo escrita por Chase_Aphrodite, danaandme


Capítulo 8
Capítulo 07 – Too Much Feelings


Notas iniciais do capítulo

Dana passeando pela sala vestida com sua jaqueta vermelha da Emma Swan.

Chase: Pra que isso?

Dana: Você não leu aquele comentário? Você tá em perigo, Regina! Tô aqui pra proteger você!

Chase: Meu nome é Chase.

Dana (piscando os olhos continuamente e sacudindo uma espadinha de madeira): Não se preocupe! Não vou deixar nada acontecer com você, nem com sua coleção de quadrinhos, Regina!!!

Chase (revirando os olhos): Pronto. Agora ela arrumou uma desculpa perfeita pra fazer um cosplay SwanQueen...

Dana: Regina, faz lasanha pro jantar! Tô com fome! Ah, e pode mandar bala na torta de maçã, porque a mamãe não vem hoje!



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CANTINA DO LUI, SPENCER VILLE – 10 PM

Charles Fantini era um homem corpulento e barbudo, com quase 60 anos de idade, que frequentava o mesmo restaurante italiano todas as terças-feiras. Ele se sentava na mesma mesinha, no canto, ao lado de um pôster da Capela Sistina e pedia o mesmo prato todas às vezes. Quando a massa chegava ainda fumegando, ele cortava o macarrão várias vezes, trinchando a pasta no prato, antes de enfiar uma bela garfada de massa e molho ainda quentes na boca.

Quando sua esposa ainda estava viva, ela costumava lançar vários olhares repreendedores na direção dele durante o jantar, por causa de pedaços de macarrão que ficavam presos em sua barba, o que o levou a cortar tudo em pedaços pequeninos, para que nada ficasse pendurado na sua cara. Agora, mesmo após mais de dez anos da morte dela, o homem mantinha a mania de trinchar a massa, mesmo que comer daquela maneira fosse quase uma agressão física as suas raízes italianas.

— Papa. – uma bela e jovem morena de longas madeixas cacheadas, se aproximou da mesa do senhor Fantini, seguida por um rapaz robusto de óculos, olhos claros, cabelos castanhos e uma barba ainda por fazer, estilo Ryan Reynolds.

— Isabela. – cumprimentou Fantini limpando a boca com o guardanapo, só para ter certeza que sua grande barba estava livre de macarrão e molho. – Minha filha, algo de errado? Por acaso esse seu noivo idiota aprontou alguma? – perguntou o homem, franzindo a testa enrugada para o tímido rapaz que ajustava os óculos no rosto, parado com um olhar assustado ao lado de sua filha.

— Não, papa. Pode, por favor, parar de intimidar meu Fernando todas as vezes que o vê? – ela se sentou na cadeira vaga na frente de seu pai, puxando o guardanapo de suas mãos, somente para passá-lo no canto esquerdo da boca dele.

Não importava o quanto ele fosse cuidadoso. O molho sempre espirrava.

— Então o que aconteceu, bambina?

A moça se aproximou, sussurrando as próximas palavras, como quem tem medo de ser ouvida.

— O Alfa da Alcateia de Lima, finalmente despertou. Os Robson’s e os Kent’s, de Elida, já estão planejando a mudança de suas famílias. Eles já estão a caminho de Lima, e vão fazer o juramento de lealdade e pedir para fazer parte da Alcateia. Também ouvi que outras alcateias em Richland e Delphos também já estão se organizando para segui-la.

O homem respirou fundo, afastando o prato de massa inacabado para o canto da mesa. Isabela continuou:

— As histórias que chegaram aos meus ouvidos, contam que a nova Alfa é uma garota, uma adolescente de aparentemente dezesseis anos... e que ela foi capaz de se defender de um ataque, salvando sua companheira, sem nem ao menos se transformar, papa. Dizem que ela pode correr como um Lobo ainda na forma humana.

O senhor Fantini estreitou os olhos pensativo, se remexendo na cadeira.

Il lupo che cammina su due gambe.— o homem murmurou para si mesmo. Suas mãos estavam suadas e seu apetite esquecido. Não havia tempo para considerar suas opções, ele precisava pensar na segurança dos poucos membros do seu clã. Erguendo o olhar para sua tão preciosa filha, ele ordenou. – Reuna todo o restante da alcateia, nós vamos à Lima. Os descententes de Damarco devem prestar seu juramento ao Verdadeiro Grande Alfa.

...

RESERVA FLORESTAL DE LIMA – 10h45 PM

Rachel freou de uma vez, enfiando suas patas gigantescas na terra fofa. Ela podia ouvir Santana arquejando sonoramente, tentando recuperar o fôlego, há pelo menos, meio quilometro. Noah já havia desmaiado há mais de um quilômetro.

O Lobo Negro começou a saltitar feliz defronte uma sequoia gigante.

“Há! Quem é o Lobo campeão agora? Há! Não tem ninguém que consiga acompanhar a poderosa Rachel Berry, a Alfa mais ligeira de toda Lima.”, se fosse capaz, Rachel provavelmente estaria fazendo uma ‘dança da vitória’, mas se adaptando a suas atuais quatro patas, a Alfa continuava pulando de um lado para outro em frente a grande e majestosa árvore.

“Eu não ficaria toda cheia de si, se eu fosse você. A arrogância geralmente conduz a derrota, sabia?”, A voz aveludada praticamente cantou em seus ouvidos, fazendo com que o Lobo Negro virasse o focinho na direção dela.

Bem atrás de Rachel, parada ao lado da sequoia gigante, elegantemente sentada sobre as patas traseiras, estava a Loba Branca. Quinn a observava de queixo erguido, olhar orgulhoso e por incrível que pareça, não demostrava nenhum sinal de estar ofegante ou cansada.

Rachel estreitou os olhos para ela.

“Quando você me alcançou?”, o jeito que ela articulou as palavras denotava não somente certa incredulidade, mas como também, trazia um pouco de admiração por ver Quinn ali.

Inacreditavelmente, a Loba Branca arqueou uma sobrancelha. E levantando-se graciosamente, ela caminhou na direção de Rachel, com toda a atitude que demostrava o quanto ela também podia ser atrevida.

“Quem disse que cheguei a perder você de vista?”, ela continuou rodeando Rachel, que parecia hipnotizada por aqueles olhos avelã, repletos de riscos verdes. “Você devia prestar mais atenção ao seu redor, ô poderosa Alfa. Se eu estivesse má intencionada, poderia ter machucado você...”.

Oh, poderia?”, Rachel perguntou de volta. Alguma coisa no tom de voz de Quinn, fez com que a ousadia contida naquelas palavras, disparasse uma onda de calor pelas veias da Alfa.

A Loba Branca parou a poucos centímetros do focinho negro, que Rachel tinha propositalmente deixado ao alcance dela, fixando seus olhos no mar de íris castanho escuro que estendia diante de seu rosto.

"Oh sim, eu poderia.", ela sussurrou de volta, e então deslizou o focinho junto ao pelo negro do pescoço de Rachel, esfregando seu corpo no peito da Alfa, arqueando as costas tal qual uma gata, e passando por debaixo do queixo dela, enquanto continuava a dar passadas curtas sem realmente prestar muita atenção aonde ia. Por fim, a cauda branca chicoteou o focinho do Lobo Negro, que só então pareceu sair do transe que se encontrava.

"I-Isso. Foi. Muito. Sexy... Por favor, façam de novo...", a voz de Noah Puckerman retumbava na mente delas, espantando toda a tensão sexual que pairava no ar.

"Wanky. Quem diria? A Virgem Maria está pondo as garrinhas de fora.", a voz de Santana foi a seguinte.

"Quinnie! Se papai visse isso ele teria um infarto! Traga já esse seu rabinho ousado para cá agora mesmo, mocinha!", a voz esganiçada de Francine sobrepôs todas as outras.

Foi pior que um banho de água fria. A Loba Branca estava petrificada no lugar, com os olhos arregalados, completamente chocada com suas atitudes. O que raios havia acontecido com ela? No que estava pensando? Ela praticamente estava se oferecendo a Rachel no meio no mato!

‘Oh. Meu. Deus. Lucy Quinn Fabray, saia daqui agora!’

Por sua vez, a Alfa permanecia sentada na frente da sequoia, ainda um pouco atordoada com a audácia de sua parceira. Oh, aquilo tinha sido extremamente prazeroso, e sim, na opinião dela não tinha nada de inapropriado.

‘Na verdade, aqueles três Lobos metidos, parados a uns dois metros de onde estamos, é que haviam tido uma conduta inapropriada, interrompendo o meu momento com minha parceira. ’, disse uma voz um tanto irritada, em algum lugar da consciência da Alfa.

Rachel fixou seu olhar nos três Lobos intrometidos, abaixando-se nas patas dianteiras.

Noah arregalou os olhos.

"Corram.", a Alfa falou simplesmente, antes de se impulsionar em suas patas traseiras.

"Aaaaaaahhhh" foi à resposta de Noah, antes de disparar pela mata. Santana berrou algo que soou como um enorme palavrão em espanhol, antes de sair correndo. Ao passo que Frannie pulou para o lado, saindo do caminho e correu na direção de Quinn, se salvando da vingança da Alfa.

“Fujam covardes!”, o eco teatral na voz de Rachel, ressoou com um uivo por toda floresta, enquanto ela corria atrás deles.

“Deeeeessssscuuuuullllllllpe!”, Noah berrava correndo mais do que jamais correra na vida.

“Berry! Você vai vê só! Eu vou te achatar até você voltar ao seu tamanho natural, enana!”, Santana ameaçou, mas passou por Noah como uma flecha, abrindo o máximo de distância que podia entre ela e sua Alfa.

Alguns membros da alcateia pararam o que estavam fazendo para assistir a perseguição. Muitos deles rolavam no chão, rindo da situação. Helena e Brittany, que haviam ficado para trás, durante a primeira corrida, assistiram de camarote Santana Lopez se esconder tal qual um filhote, debaixo das patas de seu pai, enquanto Noah Puckerman tentava desesperadamente subir no tronco de uma árvore, na esperança de sair da linha de fogo.

...

Enquanto isso há poucos quilômetros dali, Quinn ainda tentava acalmar seu coração, que parecia querer sair por sua goela.

“Oh, Deus. Oh Deus. O que eu ia fazer? O que deu em mim?”, a Loba Branca andava de um lado para o outro, ao mesmo tempo em que uma Loba Acinzentada espelhava seus movimentos com um discurso semelhante.

“Oh, Deus. Oh Deus. O que você ia fazer? O que deu em você?”, Francine queria bater a cabeça no tronco da sequoia e livrar sua mente das imagens de sua irmãzinha caçula sendo deflorada no meio do mato. “Jesus, eu vou ficar traumatizada para vida toda, Quinnie!”

“Frannie, não sei o que aconteceu, era mais forte que eu! De repente eu estava lá sentada olhando para ela, e depois eu só queria... Oh, Deus. O que faço Frannie?”, Quinn arrodeava a irmã desesperada. O cheiro de Rachel havia embriagado todos os seus sentidos, chutando todo o bom senso pela janela. Ela tinha perdido totalmente o controle de suas ações... Quer dizer, ela estava consciente do que fazia, mas parecia que um desejo primário havia invadindo sua mente, e por alguns instantes, ela esquecera completamente de que a situação entre ela e Rachel não era tão simples assim.

“Deve ser a lua cheia.”, Frannie sacudiu a cabeça. “É, acho que é isso. Uma vez, ouvi à senhora Lopez dando alguns conselhos aos Jonhson, lembra? Os recém-casados? Ela disse algo sobre como a lua cheia deixava as fêmeas fora de si.”

Quinn arregalou os olhos cor de avelã.

“Eu estou no cio, Francine? É isso que você está dizendo?”

“Eu não sei! Eu realmente não estou preparada para ter essa conversa agora, Quinnie!”

Quinn começou a correr de volta para clareira.

“Eu quero meu pai.”, ela falou chorosa.

“Não, não, não. Definitivamente você não vai falar com papai sobre isso. Ele já deve ter ouvido toda a confusão de qualquer jeito, e o que ele não precisa é ver você chegando nesse estado! Todos vão pensar que você realmente chegou as vias de fato... E ele vai enfartar.”

“Então, eu quero minha mãe!”

“Ah não. Se você correr para mamãe, o papai vai pensar que você realmente chegou as vias de fato... E ele vai enfartar.”

“FRANCINE! VOCÊ NÃO ESTÁ AJUDANDO!”

“Pode falar baixo comigo, mocinha! Eu já vou ter que fazer terapia por sua causa!”

...

Metade da alcateia rolava de rir assistindo Santana e Puck pulando no meio da floresta nas pastas traseiras, feito dois poodles superdesenvolvidos.

“Por quanto tempo temos que ficar assim, Alfa?”, choramingou Puck. “Isso vai acabar com minha reputação.”

“Ah, só por mais alguns minutos. Acho que vocês estão quase aprendendo que não devem se meter em assuntos que não são do interesse de vocês.”, cantou Rachel.

“Me aguarde, enana.”, resmungou Santana.

“Mudei de ideia. Que tal voltarmos até a clareira desse jeito? Aposto que muita gente vai gostar de rir um pouco.”, considerou Rachel.

“NÃO.”, os dois exclamaram juntos.

Rachel deu uma olhada ao redor. O clima era de absoluta descontração. Muitos risos, Lobos rolando no chão, outros trazendo suas caças para dividir com aqueles que não quiseram sair daquele lugar. Pelo canto dos olhos, ela viu que Brittany aparentemente tinha achado a ideia de pular nas patas traseiras bastante divertida, porque tinha resolvido se juntar a sua parceira, pulando na frente dela com as patas dianteiras sacudindo na frente do corpo, e com a língua de fora. O que gerou mais risadas, e incentivou alguns Lobos a se juntarem a bagunça.

Há alguns minutos, ela havia sentido Quinn e sua irmã se afastando na direção da clareira. De certa forma, ela se ficou um pouco aliviada. O comportamento da loira a tinha pego de surpresa e sinceramente, Rachel não sabia como fora capaz de se controlar.

‘Quando a avó dela disse que o corpo de Quinn iria me chamar, eu não pensei que ela estava falando que ela literalmente iria usar o corpo para me chamar... ’, Rachel suspirou fundo. Ela não estava irritada, nem chateada com Noah ou com Santana, na verdade, o castigo havia sido mais uma forma de limpar a mente do que qualquer outra coisa.

“Okay. Okay. Vocês podem parar se quiserem.”, a Alfa disse quase engasgando de tanto rir, quando três Lobos mais jovens começaram a querer criar uma melodia em forma de uivos para acompanhar os pulos dos Lobos-poodles.

“Essa foi à caçada mais divertida de todas!”, Brittany se aproximou de Rachel pulando. “Você é a melhor Alfa do mundo, Rach!”

Atrás dela, Santana e Puck sacudiam as cabeças.

...

A noite havia sido maravilhosa, e sua alcateia terminou há caçada um pouco depois da meia noite. Quando eles voltaram, aqueles que tinham ficado na clareira haviam montado um pequeno acampamento para aguarda-los. Tinham algumas cabanas de armar onde alguns clãs conversavam, enquanto algumas mães embalavam as crianças de colo e os idosos tiravam um cochilo. As anciãs recepcionavam os Lobos que se aproximavam, lhes entregando mudas de roupas e mandando os Lobos para o lado do descampado próximo as árvores, enquanto as Lobas seguiam para o lado de que ficavam algumas rochas próximas ao rio.

Rachel se aproximou para receber sua muda de roupas e foi recepcionada por Victória Fabray, que antes de entregar os shorts e a blusa que ela havia separado, agarrou sua orelha, dando um puxão severo.

— É bom se comportar, ma cherè. A primeira vez da minha neta não vai ser no meio do mato, entendeu? - Rachel ganiu baixinho inclinando a grande cabeça negra e passando a pata no focinho. E apesar de saber que, tecnicamente, quem havia começado tudo tinha sido Quinn, ela resolveu que não valia a pena ir contra a anciã. Então, a Alfa pegou as roupas com a boca e tratou de sair dali rapidinho.

Foi então que apareceu o primeiro problema.

Por mais que Rachel tentasse, ela não conseguia voltar a forma humana.

Todas as vezes que ela achava que estava conseguindo, algo dentro dela gritava que não era seguro, e que ela precisava ficar alerta. E bem diferente do que ocorrera durante o ritual de transformação, agora, suas tentativas de retornar a forma humana estavam causando dor. Muita dor.

Por ter sido a última a ir se trocar, justamente para ter certeza que todos haviam retornado sãos e salvos, Rachel havia ficado sozinha na área reservada para a transformação das mulheres.

O desespero de não conseguir voltar a sua forma humana começou a tomar conta de sua mente, ao mesmo tempo em que a angustia de querer proteger sua alcateia a dividia no meio. Rachel deitou exausta sobre a areia fria, tremendo e com a visão fora de foco. Depois do que pareceu uma eternidade, Quinn corria na direção dela, seguida por sua avó, e sua mãe.

— Eu disse mamãe! Pude sentir. Ela não está bem. – a loira se ajoelhou ao lado do enorme Lobo Negro, correndo suas mãos pela pelugem escura, procurando pelo motivo do sofrimento de Rachel. – O que ela tem?

Judith Fabray se aproximava devagar, se apoiando numa belíssima bengala de madeira, por causa de sua perna debilitada. Ela olhou preocupada para sua Alfa.

— Acho que ela não consegue voltar a forma humana. Victória, o que faremos? – perguntou à senhora Fabray se voltando para sua sogra em busca de ajuda.

A anciã olhou para o Lobo Negro que agonizava no chão e depois para sua neta, cujos olhos brilhavam com lágrimas que ameaçavam cair a qualquer instante.

— Quinn. Ajude sua parceira.

A garota sacudiu a cabeça sem saber o que fazer.

— Eu não sei como, Grandmerè.

— O Lobo se recusa a voltar à forma humana, porque acha que vai deixar a alcateia desprotegida. Já vi acontecer antes. Você precisa acalmá-la, Quinn. Precisa tranquiliza-la até que ela consiga relaxar e se transformar de volta.

Quinn não sabia o que fazer, nem mesmo o que dizer. Como ela seria capaz de acalmar uma pessoa que certamente não queria por perto? E o cheiro de Rachel também não estava ajudando, porque tudo que ela podia pensar era em se acomodar junto ao Lobo.

Rachel ganiu de dor mais uma vez, e Quinn abraçou a cabeça da Alfa, a puxando para seu colo.

— Calma. Por favor, calma. Vai ficar tudo bem, Rachel. Você só precisa relaxar. – foi puro instinto. Quinn sussurrava palavras reconfortantes junto às orelhas do Lobo, chamando baixinho por Rachel, pedindo que ela relaxasse. Suas mãos acariciavam os tufos negros, o focinho entanto ela olhava diretamente para aqueles grandes olhos castanhos, instruindo sua alma gêmea a relaxar o corpo. – Nós vamos ficar bem. Você vai proteger a todos nós agora. Mas primeiro você precisa se controlar. Relaxe, Rachel. Volte a sua forma humana, eu estou aqui esperando por você.

As patas traseiras e dianteiras começaram a encolher lentamente, e o quadril diminuiu. Pouco a pouco o ser humano ia tomando forma, transformando a pelagem negra em numa pele morena sedosa. Rachel se encolheu mais uma vez, fechando os olhos, antes de sentir o crânio se reestruturar. No minuto seguinte, a morena abriu os olhos, encontrando o rosto de Quinn próximo ao seu, enquanto sentia sua mão acariciando sua bochecha.

— Está se sentindo bem? – ela perguntou docemente.

— Meu corpo doí. E eu estou com frio. – Rachel murmurou exausta.

Victória se adiantou cobrindo a Alfa com uma manta. Judy trouxe as roupas que haviam sido largadas sobre uma pedra próxima e pediu que Quinn se afastasse um pouco para que Rachel se vestisse.

A loira piscou os olhos, desviando o olhar da garota em seus braços, só então assimilando que Rachel estava nua por debaixo da manta. Ela se levantou, e virou de costas, esperando que sua mãe e avó ajudassem a Alfa com as roupas.

A última lembrança que Rachel teria daquele momento, seria do rosto excessivamente corado de Quinn. Depois disso, ela estava muito exausta para lembrar-se dos detalhes do que aconteceu. A Alfa sabia que havia insistido de ir andando até o jipe, onde o senhor Fabray aguardava para levá-la até a residência dos Lopez onde ela ficaria hospedada. E mesmo em meio aos protestos de Quinn e sua mãe, Rachel caminhou sem ajuda até o veículo. A última coisa que ela queria era preocupar sua alcateia, saindo dali sendo carregada por alguém. Victória compreendeu isso no mesmo minuto, mas sua nora e neta não ficaram satisfeitas com a explicação.

Ela não se lembrava de mais de nada que acontecera depois que ela entrou no jipe.

Mas, ao acordar sozinha na enorme cama King Size do quarto de hóspedes na casa dos Lopez, Rachel teve duas sensações: a primeira foi que cada osso de seu corpo parecia ter sido triturado e depois colado no lugar; e a segunda, foi uma solidão terrível, por causa da ausência de Quinn.

Parece que sua transformação havia aumentado à necessidade de tê-la ao seu lado.

‘Perfeito. ’, ela pensou com ironia.

Esticando-se mais uma vez sobre o colchão, para checar as horas no relógio digital no criado mudo, Rachel grunhiu inconformada, já eram quase nove horas, ela havia perdido mais um dia de aula e podia dar adeus ao seu registro perfeito.

Argh. E ainda tinha seu estômago, que agora estava roncando como nunca. Parecia que ela não se alimentava há dias. Rachel até que resistiu à vontade de comer carne fresca durante a caçada, inicialmente horrorizada por estar realmente desejando cometer um ato de tamanha violência contra um ser vivo inocente, mas ela estava começando a ficar ciente de que talvez esse novo estilo de vida iria obrigá-la a fazer algumas concessões.

Se lavando rapidamente, para depois escovar os dentes, ela trocou o pijama (que ela não se lembrava de ter vestido), por uma calça jeans, um top preto e uma blusa frouxa de decote canoa com mangas curtas, calçou as únicas botas de cano médio que ainda cabiam em seus pés, deixou os cabelos soltos e ondulados sobre os ombros e saiu do quarto em busca de algo para comer. Ela não sabia exatamente onde ficava a cozinha, considerando que da última vez que estivera ali, sua pressa de sair da casa não lhe deu chances de planejar um tour pelas dependências da residência dos Lopez.

Suspirando profundamente, ela seguiu pelo corredor do segundo piso, passando por várias portas de madeira, do que acreditou serem os quartos da família. Era um tanto incômodo estar andando a reveria pela casa de Santana. Ela nunca havia imaginado estar numa posição onde sua presença na casa da Cheerio fosse requerida, quanto mais desejada. Mas também, ela nunca poderia imaginar-se numa situação onde ela, Rachel Barbra Berry, fosse algum tipo de líder profetizado de uma enorme alcateia que deveria assumir seu lugar de direito ao lado de sua bela prometida, AKA garota mais popular da escola, que infernizou sua vida durante toda sua existência, ao mesmo tempo em que se manteve virgem e imaculada a sua espera. Pensando bem, acordar no quarto de hóspedes na casa de Santana Lopez não era tão estranho assim.

Ainda perdida em pensamentos, Rachel acabou topando com um pato de borracha, e para não levar um tombo, ela acabou se escorando na quina da parede mais próxima.

'O que diabos está fazendo um pato de borracha no meio do corredor?'

Então, em meio a seu discurso mental de como um simples brinquedo jogado ao acaso poderia causar um acidente de grandes proporções, ela ouviu a única voz que seria capaz de acalmá-la em qualquer situação. Uma voz aveludada, que conseguia transformar todas as palavras proferidas por ela em melodia. Curiosa, Rachel se esgueirou até perto da porta de onde a voz vinha e apurou seus ouvidos para escutar a conversa que acontecia lá dentro.

— Está mais calma, Quinnie? - era a voz de Victória Fabray.

A garota pareceu suspirar pesadamente. Rachel podia imaginar claramente seus belos olhos revirando em frustração.

— Sinceramente? Não, Grandmerè. Ainda parece que falta um pedaço de mim.

— Quinnie passou a noite em claro. E ela não comeu nada ontem, e também não tinha apetite algum nessa manhã. Eu e Russel ficamos bastante preocupados, por isso depois de falar com Victória, achamos que trazê-la aqui, para mais próximo de onde Rachel estava talvez pudesse ajudar. Quer dizer, nós sabíamos que elas teriam uma ligação intensa, mas não tínhamos noção que seria algo assim. – disse Judy Fabray.

No tom de voz dela notava-se o quando a situação era séria. E só então, as palavras da mãe de Quinn pareceram se fazer entender. Rachel encostou ainda mais o ouvido junto à porta. ‘Quinn estava mal porque estava longe dela?’

— Vocês deviam ter deixado à menina ficar aqui ontem à noite, desse jeito, ela não estaria parecendo um zumbi. - Rosalinda reclamou irritada. - Tome minha querida, esse chá vai fazer com que se sinta melhor.

Rachel pode ouvir o tilintar da porcelana, e Quinn agradecendo timidamente. A voz dela estava mesmo parecendo fraca.

— Rose, você não se lembra do que aconteceu ontem? A menina não está em condições de ficar sozinha com sua companheira. – a avó de Brittany se pronunciou pela primeira vez.

— No estado que a Alfa chegou ontem, elas não teriam tido esse problema. Quinn poderia até ter sacudido a garota, mas não teria acontecido nada entre elas.

Um barulho de louça tremendo, seguido por uma tosse seca, antecedeu o tom desesperado da voz da jovem apavorada.

— A senhora acha que eu teria feito algo? – Quinn perguntou num tom de voz agudo.

— É provável que sim. Julgando pela maneira que você chegou ao acampamento ontem...

‘Como Quinn havia chegado ao acampamento ontem?’, Agora Rachel queria se chutar por não ter acompanhado a garota no caminho de volta.

— Oh, querida não precisa ficar assim. – Judy falou suavemente, sua voz ainda derramava preocupação pelo estado de sua filha. – Não há motivos para se sentir envergonhada, é natural.

Rachel soube que Quinn estava novamente à beira das lágrimas, mesmo antes de ouvi-la fungar.

— Eu não consigo dormir ou comer direito, porque estou constantemente lutando contra essa ansiedade de não tê-la por perto... E quando estamos juntas, fico tão nervosa que mal consigo organizar meus pensamentos! E ainda tem essa sensação de que um imã gigante está me puxando para junto dela. Senão fosse por Frannie e os outros, eu... Eu não sei o que eu teria feito mamãe.

O coração da morena escorada à porta pareceu afundar. ‘Quinn estava tão constrangida por se sentir atraída por ela que isso estava afetando sua saúde?’

— Quinn. – a voz de Rosalinda chamou pela garota. – Sei que pode parecer cedo para você, mas sua metade loba deve achar que já esperou tempo demais, e é evidente que essa metade de você deseja sua companheira nesse sentido agora. Eu não ficaria surpresa se a Loba Branca desejasse procriar o quanto antes.

Rachel arregalou os olhos, encarando a porta de madeira na sua frente, inconscientemente, levando a mão à virilha. Dentro do quarto, um engasgo precedeu o som da porcelana se partindo no chão.

Oh Díos, isso estava na família há gerações. – a avó de Santana choramingou.

— Bem, eu adoraria ter pequeninos correndo pela casa, mas eu esperava planejar um enxoval de noivado, antes do da maternidade, Quinnie.

— MAMÃE! – a voz dela foi tão aguda que chegou a doer nos ouvidos sensíveis da Alfa. – Rachel é uma garota! Ela não poderia... Poderia? Oh Deus, poderia.

‘QUÊ?’, o grito morreu na garganta da morena quando ela ouviu Ingrid rir baixinho, antes de responder.

— Quinn querida, não é a primeira vez que algo assim aconteceria. Veja o caso de Santana e Brittany. Apesar da forma humana de minha neta ser definitivamente feminina, sua forma lupina é a de um Lobo... Do mesmo jeito que nossa Alfa.

Rachel engasgou. Agora suas duas mãos vasculhavam sua virilha em busca de algo que ela não tenha notado. ‘Isso já está extrapolando os níveis do bizarro!’

— De algum jeito, nossa espécie tem que garantir sua sobrevivência, querida. Mas, ao que parece, a Loba Branca não quer esperar que a forma humana da Alfa desenvolva suas habilidades de entrar em harmonia com as ninfas da fertilidade, e acha que terá mais chances com o Lobo Negro neste momento. – a avó de Brittany concluiu.

'O que ela quer dizer com entrar em harmonia com ninfas da fertilidade?', Rachel pensou fazendo biquinho para porta de madeira. ‘E o que diabo é uma ninfa da fertilidade?’

— Oh. Meu. Deus. – Quinn voltou a soar desesperada. – Então, quer dizer que vou ficar me oferecendo até...? – Agora ela estava chorando mais uma vez. – Não foi desse jeito que planejei perder minha virgindade. Eu queria que fosse especial... E romântico, numa cama coberta com pétalas de rosas e... E... Velas. Eu queria que fosse a luz de velas, mamãe.

— Oh Quinnie, você ainda pode ter tudo isso, querida. O que nossas anciãs estão dizendo é que você vai precisar tomar mais cuidado, e agora você entende o que a Loba dentro de você deseja, é provável que seja mais fácil...

— Não vai ser mais fácil, mamãe. Rachel não me quer, esqueceu? Eu sou Quinn Fabray, a maldita Head Cheerio que a humilhou durante todos esses anos. Ela nem ao menos conseguiu olhar para mim quando contei que era sua companheira.

A voz dela soava abafada, provavelmente ela estava escondendo o rosto com as mãos, ou junto ao corpo de sua mãe.

— Quinnie eu tenho certeza que não é bem assim. Vocês só precisam conversar. – sua avó, Victória, tentou intervir. E Rachel se viu concordando com ela.

— Não quero conversar, Grandmerè. Eu falhei. E esse é meu castigo.

— Quinn... – Victória chamou.

— Grandmerè, por favor, eu preciso ir...

O barulho do arrastar de uma cadeira fez Rachel voltar à realidade. Porque, apesar de todos seus sentidos estarem gritando para que ela entrasse naquele quarto, tomasse Quinn em seus braços e dissesse o quanto ela estava errada, a verdade era que ela estava ouvindo uma conversa que ela não deveria estar ouvindo. O medo de ser descoberta acabou sendo mais forte, e na pressa de achar um lugar para se esconder, a morena acabou invadindo o primeiro quarto que encontrou, trombando de frente com alguém.

Alguém do sexo feminino, ainda bastante molhada do banho e usando apenas uma toalha muito curta.

— Wow! - e Rachel estava mais uma vez no chão agarrada a uma garota. Só que dessa vez, ela não conseguiria fugir tão fácil.

— Rachel? – a voz inquisidora chegou aos seus ouvidos no minuto seguinte, aumentando o desejo de que seu Lobo prodígio também fosse capaz de fazê-la sumir.

Os olhos avelã esverdeados pareciam cansados e inchados, mas o fogo que queimava naquelas íris inebriantes era perturbador. A Alfa engoliu seco.

— Eu? Ehhh. Oi?

— O que você está fazendo no chão, agarrada a Helena Lopez? – Quinn cruzou os braços sobre o busto, visivelmente furiosa. - E por que ela está praticamente nua?

Rachel desviou o olhar para a garota embaixo dela. ‘Ops. Por que ela tinha que usar uma toalha de corpo tão curta?’, e como se tivesse lido seus pensamentos, a irmã mais velha de Santana lançou um olha solidário a morena e deu de ombros.

— Bom dia? - Helena murmurou sem graça.

— Parece que nossa alfa também está com problemas em controlar sua libido, Rose. - Ingrid comentou cobrindo o riso com a mão. Ao lado dela, Rosalinda sacudia a cabeça descrente.

— Parece é que ela está procurando confusão, isso sim. - e a matriarca da família Lopez indicou as três gerações de mulheres da família Fabray, de braços cruzados e sobrancelhas erguidas, encarando a morena.

— Rachel querida, o que aconteceu aqui? - Judy perguntou tentando manter a compostura.

— É, Berry. O que significa isso? - Quinn, no entanto, não se importou em esconder a irritação.

— Foi um acidente? - a morena tentou se explicar.

— Então por que sua mão continua aí? – perguntou a loira apontando o dedo indicador na direção das garotas no chão.

Rachel seguiu a linha imaginária indicada pelo dedo da loira, e viu que sua mão descansava inocentemente sobre o peito de Helena, que apesar de não ter culpa nenhuma naquela situação, a olhava como quem pede desculpas.

A Alfa pulou longe, sacudindo a mão como se estivesse em chamas. Quinn bufou furiosa, marchando para fora do quarto.

Victoria foi até a Alfa deu-lhe um peteleco na cabeça.

— Isso é o que acontece com quem escuta a conversa alheia atrás da porta! Que trapalhada! Fixez dès maintenant!

Oui madame!— Rachel bateu continência e saiu correndo atrás de Quinn, esfregando a cabeça, e deixando Victória boquiaberta. – Quinn! Espere! Merde!

A morena desceu as escadas na esperança em alcançar a loira, antes que ela resolvesse sair da casa, ou encontrasse outras pessoas, mas a sorte não estava do seu lado.

Chegando ao foyer de entrada, Rachel deu de cara com Russel Fabray, Bernardo Lopez e Sue Sylvester. Pega de surpresa, a morena mal percebeu a extremamente irritada Quinn Fabray, que estava parada de braços cruzados e cara amarrada atrás de seu pai.

— Já estava na hora desse seu traseiro Alfa superdesenvolvido, se juntar a nós.

Bem, já fora extremamente esquisito ver Sue Sylvester se colocar na sua frente durante a cerimônia de lealdade, mas tê-la parada na casa dos Lopez, cercada por outros dois membros importantes da alcateia, obviamente aguardando por ela, era a própria definição de mau agouro.

— Treinadora? – Rachel se aproximou desconfiada. Notando a pequena filmadora na mão do doutor Lopez, um kit de primeiros socorros e outra maleta pequena perto da porta. – Aonde vamos?

Sue inclinou a cabeça, com um sorriso torto.

— Você é rápida, jovem Alfa. Nós vamos testar uma teoria.

Os olhos castanhos vagaram entre as figuras inertes do Sr. Fabray e do Dr. Lopez, até pararem na adolescente emburrada encostada na parede.

— E porque a Quinn precisa ir junto? - Rachel perguntou desconfiada, mais uma vez, ganhando um sorriso de Sue.

— Eu gosto de você. Você é esperta, me faz lembrar a jovem Sue Sylvester. – Rachel revirou os olhos. – A senhorita Fabray é nosso seguro de vida, caso você venha a despirocar de novo.

Quinn bufou alto, chamando a atenção para si.

— Talvez devêssemos levar He-le-na conosco. Rachel parece ficar surpreendentemente à vontade na companhia dela.

‘Já dá para perceber que vai ser um dia daqueles. ’, pensou a morena antes de abaixar a cabeça, seguindo sua companheira e os outros três adultos até a porta da frente, fugindo dos olhares desconfiados do doutor Lopez.

...

Eles seguiram a pé por uma trilha que começava há alguns metros do quintal dos Lopez. Rachel se lembrava do caminho, era o mesmo que ela e as anciãs haviam tomado na tarde anterior em direção ao grande salgueiro. Só que quando Russel começou a guiar o grupo por uma trilha perpendicular a que eles estavam seguindo, Rachel perdeu a noção de onde eles iam.

Aquilo tudo mais parecia um teste de resistência. Eles subiram e desceram morros, e pedras, pularam grandes toras de árvores caídas e caminharam por quase quarenta minutos em meio à arbustos e espaços que mal davam para dar um passo sem topar com um graveto ou tropeçar num pedregulho.

‘Cuidado com as ninfas! Presta atenção para não irritar as ninfas, Rachel!’, a morena ficava repetindo enquanto tentava caminhar pelo lugar sem causar danos a natureza. 'Vai que uma delas é a da fertilidade e você acaba grávida!'

— Chegamos. – anunciou Russel, e Rachel quase pulou de alegria, mas acabou refreando sua comemoração devido as bolhas em seus pés, e pela recente paranoia de enfurecer a ninfa errada e acabar gerando uma toupeira.

— E onde é aqui? – perguntou a morena olhando ao redor.

A clareia era bem diferente daquela escolhida para abrigar a caçada da noite anterior. O lugar onde eles estavam agora mais parecia um convite ao suicídio. De um lado, a floresta se estendia no formato de meia lua, com grandes árvores rodeando uma área de aproximadamente 400m², ao passo que do outro lado, ela terminava num belo precipício, com altura suficiente para matar alguém umas cinco vezes, só de olhar para as pedras pontiagudas que emergiam entre as correntezas violentas do rio que corria lá embaixo.

— Bonito lugar para um piquenique, huh? – a morena tentou fazer piada.

Uma rajada forte de vento frio sacudiu os galhos e sibilou um assovio sinistro por entre as pedras que circundavam o abismo atrás deles. Rachel viu Sue checar alguma coisa na pequena filmadora, antes de entregá-la ao doutor Lopez. O homem só não parecia mais contrariado que Russel Fabray, que tinha uma expressão séria e braços firmemente cruzados sobre o peito.

— Vocês dois estão dispensados. – disse a treinadora sacudindo a mão no ar na direção dos dois homens. E se voltando para Quinn vociferou. – Fabray, venha comigo.

— Sim treinadora.

Parecia que a HBIC havia resolvido fazer uma aparição especial. Rachel assistiu Quinn desfilar atrás de Sue, com as mãos na cintura e queixo erguido. Elas caminharam até quase a outra margem da clareira, ficando de costas para o precipício. Rachel inclinou a cabeça, ela não estava gostando daquilo.

Satisfeita com a distância entre Rachel e o lugar onde elas estavam, Sue analisou a posição dos homens parados há alguns metros da morena e berrou.

— Lopez. Pode gravar.

— Gravar o quê? O que significa isso tudo? – Rachel viu Russel Fabray franzir o cenho irritado, ao passo que o Dr. Lopez mirava a filmadora nela.

— Nós vamos gravar sua ‘semi-transformação’, Alfa Berry. Não podemos ignorar o fato que você precisa controlar esse dom em particular, e por isso, é preciso que você pratique o autocontrole, tentando encontrar o foco e identificar o sentimento que torna possível essa transformação.

Quinn olhava para sua treinadora de queixo caído, a máscara de indiferença da HBIC deixada de totalmente de lado agora. Ela desviou os olhos avelã cheios de aflição para Rachel, e tentou enfiar um pouco de sanidade na cabeça da mulher ao seu lado.

— Treinadora, eu não acho que seja algo tão simples... Rachel não parece ter muito controle em invocar essa semitransformação...

— Eu sei disso, Q. – a mulher interrompeu sua aluna. – E é por isso que você está aqui.

Quinn arregalou os olhos, no mesmo instante que seu pai gritou do outro lado do terreno.

— SUE! NÃO SE ATREVA!

Infelizmente, Rachel levou alguns segundos a mais para compreender.

Com um gesto rápido Sue agarrou Quinn, puxando a garota para junto de si e envolvendo o pescoço dela com o braço direito, travando imediatamente a traqueia de sua aluna junto a dobra de seu cotovelo. Em seguida, sua mão esquerda agarrou firmemente seu braço direito firmando bíceps e encaixando a mão direita por trás da cabeça da garota. Quinn tentou se livrar, mas a treinadora reuniu os cotovelos, fazendo pressão e ela começou a sufocar.

Rachel rugiu avançando alguns passos.

— Solte ela!

— Sue, isso não é uma boa ideia! – o Dr. Lopez gritou.

— Sue, largue minha filha!

— Calem a boca vocês dois! E Lopez, é melhor continuar gravando. E então, Streisand? Como vai ser? - Sue apertou ainda mais a pressão sobre o pescoço de Quinn, fazendo a garota guinchar em agonia.

Rachel estava começando a enxergar tudo em tons de vermelho. Seu estomago borbulhada de raiva, e seu corpo tremia emitindo ondas de calor e fúria através de sua pele.

— Solte ela agora, treinadora. Ou eu não respondo por mim.

Os olhos de Rachel começavam a escurecer se estreitando ferozmente, e as unhas cresciam pontiagudas, espalhando o tom negro pela pele dourada das mãos da Alfa. Notando o início da transformação da garota, Sue decidiu pressioná-la ainda mais.

— De jeito nenhum. Ela vai sufocar e vai apagar em alguns segundos se você não decidir cooperar e chamar seu amiguinho para brincar.

Rachel viu Quinn revirar os olhos em suas órbitas, de modo que as íris esverdeadas sumiram, deixando visível apenas à parte branca de seus olhos, o corpo da garota diminuiu os movimentos. Ela iria desmaiar. Uma faísca pareceu ascender no peito da morena fazendo algo explodir dentro dela.

O rugido medonho espantou todos os animais num raio de 5 km, e no segundo seguinte, Rachel agarrava Sue pelo braço, girando a mulher por cima de sua cabeça, e a atirando do outro lado da clareira contra uma árvore. A alfa segurou Quinn em seus braços, aparando seu corpo antes que ela tocasse o chão. A morena a manteve segura, junto ao seu peito, se agachando sobre o corpo dela de uma maneira protetora. Os olhos negros esquadrilhavam o terreno ao seu redor, em busca de mais ameaças, enquanto ela rosnava furiosamente na direção da mulher com o ombro brutalmente deslocado, que estava caída há alguns metros. Russel e Bernardo Lopez correram na direção de Sue. A filmadora jazia caída no chão.

—Você ficou louca? – berrou o pai de Quinn para a mulher estirada no chão.

—Pode mexer os dedos? Meu Deus, a fratura no ombro foi exposta!

—Pare de atestar o óbvio, Lopez. Como diabos você ainda se denomina profissional é um mistério! Meu pulso direito está quebrado, meu braço esquerdo... – ela arquejou de dor. - Provavelmente está fraturado em pelo menos três partes. E é bem provável que uma de minhas costelas também. Você filmou tudo, imprestável?

—Droga, Sue. No que demônios você estava pensando? – o médico abriu a maleta, procurando por algo que estancasse o sangue.

— Isso se chama pesquisa de campo, seu inútil! É bom que a filmagem esteja boa porque se não estiver, a próxima tentativa será sua!

Enquanto isso, Quinn tossia nos braços da morena, arfando em busca de ar. Quando seus olhos encontraram o foco novamente, ela pousou às mãos no rosto de Rachel.

—R-Rachel? Tudo bem. Eu estou bem. Olhe para mim, Rachel.

Um rosnado baixo, e os olhos negros da Alfa começaram a se dissipar lentamente. As garras se retraíram e a mão da morena acariciou a face levemente suada de sua companheira.

— Quinn? Você consegue respirar?

A garota assentiu brevemente, mas ainda era visível sua dificuldade para retomar o fôlego.

Rachel tocou a marca avermelhada na garganta dela e um rugindo feroz voltou a emergir de seu peito. Sem nem ao menos demonstrar esforço, ela levantou Quinn em seus braços e como se carregasse a mais delicada das criaturas, Rachel caminhou até onde Sue, Russel e doutor Lopez jaziam.

—Você está louca? Quer morrer? Jamais a ameace desse jeito novamente! Eu arrancaria com minhas próprias mãos, a coluna vertebral do corpo do infeliz que considerasse tocar num fio de cabelo dela, e isso inclui você! Então, se não quer descobrir como é ter todas suas terminações nervosas sendo mutiladas de uma vez só, é melhor você ficar longe dela!

Rachel rosnou furiosa na direção da treinadora, sua voz distorcida num tom duplo, que reverberava tanto a ira da morena quanto a do Lobo Negro. Ela colocou Quinn gentilmente no chão a uma boa distância da mulher que lutava bravamente contra a dor excruciante de ter seu ombro exposto sobre a carne, vários ossos quebrados e seu corpo atirado contra uma árvore.

—Pelo menos você conseguiu encontrar uma maneira de se transformar. Agora só precisamos trabalhar seu autocontrole...

—Pode acreditar treinadora. Se eu não estivesse no controle, você estaria sem a cabeça agora. - disse Rachel rosnando baixinho, sua voz ainda estava mais grave que o normal. Seus olhos refletiam um brilho sombrio, e ela mantinha Quinn ao seu alcance, envolta em seus braços enquanto olhava de maneira ameaçadora para Sue.

—Bom saber. Você é uma excelente aluna, Alfa Berry. Eu vou precisar de uns dois dias para me recuperar, então, até lá, é melhor que você aperfeiçoe o timing da sua semi-transformação. - foram as últimas palavras antes dela finalmente desmaiar de dor.

...

Bernardo Lopez precisou pedir ajuda a Helena e Caleb para remover Sue da floresta em segurança. Mas, o jipe que veio em seu auxilio, só era capaz de levar a treinadora e um acompanhante, além de Caleb que dirigia e Helena que precisaria ajudar seu pai com o transporte da mulher inconsciente.

Então, muito à contra gosto, Rachel teve que aceitar que Quinn não poderia voltar no veículo com os outros. A loira também teve sua parcela de culpa, porque bateu o pé dizendo ser absolutamente capaz de voltar exatamente como veio, com seu pai e Rachel pela trilha.

O que fez a morena suspeitar que pelo jeito que Quinn encarava Helena, a teimosia dela tinha mais a ver com a possibilidade da garota ter que ceder seu lugar no carro, e por consequência voltar caminhando com Rachel, do que qualquer outra razão. Um fato que se comprovou poucos momentos depois, quando a Alfa a viu se desequilibrar pela segunda vez, enquanto caminhava pela trilha sinuosa.

Cansada dos caprichos da loira, Rachel a ergueu em seus braços, dizendo que a levaria por todo o caminho, até a casa dos Lopez. A princípio Quinn protestou fervorosamente, mas como Rachel se manteve firme em sua decisão, e o senhor Fabray decidiu não tomar partido na discussão, ela não teve outra escolha, a não ser se aconchegar junto ao corpo quente da Alfa.

O que acabou sendo algo bastante cômodo para Quinn.

Passados alguns minutos, o aroma de rosas e canela invadiu suas narinas e ela fechou os olhos, aninhando o rosto junto ao pescoço da morena, sentindo seu corpo relaxar. O estresse acumulado dos dois últimos dias acabou tomando conta dela e Quinn cedeu à exaustão, adormecendo nos braços de sua companheira.

Quando abriu os olhos novamente, ela estava no lounge da casa de Santana, onde a família geralmente se reunia para assistir um filme na enorme TV de plasma, ou passar um tempo lendo um livro, ou ouvindo música, no grande e aconchegante sofá retrátil. A loira piscou, esfregando os olhos com as costas de uma das mãos, e então percebeu os braços ao redor de sua cintura. No minuto seguinte, ela notou que estava no colo de Rachel, e que sua mão esquerda estava agarrada as costas da camisa da morena.

— Não se preocupe Q. Eu tirei várias fotos de recordação. – a voz de Santana pareceu sinalizar as trombetas do apocalipse na mente da Head Cheerio, tingindo seu rosto de vermelho no mesmo minuto.

— Na verdade, também tenho um vídeo muito fofo de como você se recusou a largar a Hobbit superdesenvolvida obrigado a pobre coitada a se sentar com você no colo, até que o peso desse seu traseiro gigante a fez cair no sono, esgotada.

Quinn estava perplexa. E ao mesmo tempo, encantada com a maneira que Rachel a protegera. Olhando de relance para a morena ainda adormecida, que mantinha seus braços fechados num abraço possessivo ao redor de sua cintura, as feições da loira suavizaram. Esquecendo-se completamente que Santana também estava na sala, Quinn tocou o rosto de Rachel com a ponta dos dedos.

— Eu nunca me senti tão segura quanto me sinto com você ao meu lado. – ela murmurou com um sorriso meigo.

Santana franziu o nariz, com uma expressão enojada, ao ver o olhar repleto de carinho de sua amiga para Rachel. Quinn a observava com tanta ternura, acariciando o rosto de sua parceira tão gentilmente, que isso fez Santana sentir-se como se estivesse invadindo um momento extremamente íntimo. E na verdade, ela estava.

— Oh Díos, eu não preciso testemunhar isso. – disse enfezada, se levantando da cadeira de onde estivera velando o sono de sua Alfa e de sua amiga, desde o momento que chegou do colégio, e foi marchando até a cozinha, tendo decidido apagar aquelas imagens melosas com um bom petisco.

Sem ter desviado sua atenção da garota ainda adormecida junto à ela, a loira deixou seus olhos esverdeados passearem pelo rosto de Rachel, para finalmente se fixarem em sua boca. Quinn inclinou a cabeça para o lado, mordendo o lábio inferior, pensativa. Seu polegar acariciou suavemente o contorno dos lábios volumosos começando a diminuir a distância entre elas.

— Talvez, se dermos uma chance a nós duas... – ela disse, aproximando seus lábios dos da morena, sentindo seu coração palpitar a galopes em seu peito. – Guardei isso para você durante todo esse tempo. – a loira sussurrou a milímetros da boca de Rachel, fechando os olhos. – Eu quero tentar Rachel...

— EU EXIJO FALAR COM A ALFA, NESSE MINUTO! – uma voz masculina cheia de arrogância invadiu o salão, não somente acordando bruscamente a morena, mas também assustando Quinn, que teria caído no chão senão fossem os reflexos da Alfa, que conseguiu segura-la junto a si.

— Michael, Dorian vocês não podem simplesmente invadirem minha residência berrando desse jeito. – o Dr. Lopez os seguia indignado.

— É uma emergência, Bernardo! – o homem de atitude presunçosa disse em tom alarmante, e se voltando para as duas adolescentes no sofá, ele continuou. – Houve um massacre na rodovia principal, um ataque de Lobos dentro do nosso território. O clã de Fantini foi assassinado.


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Notas finais do capítulo

Chase sozinha em casa, sentada no sofá vendo Capitão América e com um balde de sorvete nas mãos.

Chase: A Dana foi viajar e me deixou sozinha aqui...

(Ouve-se uma voz vinda do além)

Dana: Estou com você em pensamentos, Reginaaaaaa!!!!!

Chase (jogando o balde de sorvete para cima): Eu já disse que meu nome é CHASE! E É MELHOR VOCÊ ESTAR DE VOLTA ANTES DO PRÓXIMO CAPÍTULO!!!

Que será, meus queridos e amados leitores, dia 13 de Março!!! Sexta-feira 13!!! Yay!!
Beijos Beijos