A Liberdade do Corvo escrita por Raquel Barros, Ellie Raven


Capítulo 27
Capitulo Vinte e Seis - Zoey




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Tive certeza que sair do carro seria um erro assim que coloquei os pés fora. Meu Boreh! O que é que eu estou fazendo? Eu não quero bater um papo pacifico com o Ethan como à ocasião requer. Na verdade quero mesmo é esganar ele, aquele guardião sonso dele e o lobo ruivo que sempre dá nos meus nervos. Aquele trio de Great acabou com minha vida. Sim! Acabou. Tive de interromper meu curso como militar, a minha casa foi queimada pela lava, Sauters comeram meus cunhados, e ainda coloquei minhas lindas presas para passar por provação no pescoço de Cyrus. E Cyrus. Eu gostava de Cyrus. Gostava. Agora o odeio tão intensamente quanto antes. Eu juro que achei que ele era até uma boa pessoa. Já estava sofrendo com a possibilidade de fazê-lo sofrer, e olha só o que o cara não passa na verdade. Não passa de um sonso, de um falso que colocou minha vida em risco, a vida da minha mãe, a vida dos meus irmãos, dos meus amigos, do meu pai... E como meu pai estava certo quanto o Cyrus. Eu que fui uma tonta de ter confiado em um filho de Derek. Pai mau caráter, filho mau caráter. Isso sem contar que ele conseguiu de algum modo partir meu coração.

Olho para os três sonsos de preto a minha frente, e acho que um sorrisinho de desprezo aparece em meu rosto por que o Cyrus suspira pesadamente embaixo do capuz preto. Apenas consigo ver seus lábios avermelhados e o maxilar quadrado. Uma imagem tristemente familiar. Ethan no meio dos dois capachos dele tira o capuz. E levanta a sobrancelha surpreso e pergunta:

–Estão voltando um pouco cedo para a base, não acha?

–Não é da sua conta.

Respondo brutalmente, sem usar um pingo da educação que meus pais me deram. Mas quem se importa. Com sonsos e inimigos eu não sou nem um pouco educada. E não tenho motivos para ser. Nem o Ethan sendo irmão da Arya. E até isso está sendo difícil de engolir. A Arya é uma pessoa tão boa que até fica impossível de acreditar que Ethan é irmão dela. E pelo o que eu me lembro do Baelfire, ele era um bom garoto um tanto sem noção e muito traquino.

–Realmente não é!

–O que você perdeu aqui, Ethan?

–Contas a acertar.

–Com quem?

–Com você e com a Gwen.

–Esqueceu da Arya?

–A Arya não fez nada contra mim e a Emma, antes que pergunte, não tem nada a ver com essa historia.

–Na verdade, se tivesse dado aquele colar mais cedo para a Emma, você saberia de algo que descobrimos assim que você saiu.

Digo por impulso. Contar essa noticia é um claro direito da Arya. Olho para dentro do carro e a Arya faz uma careta rápida. Ela não ligava. Alguém iria contar algum dia. Acho que a Arya me acha um pouco sensacionalista. Não que eu transforme os fatos um evento extraordinário. Pelo menos não que eu perceba.

–Não imagino o que essas mentes ocas devem ter descoberto com um colar de família.

–Nossas mentes ocas descobriram algo bombástico.

–Nem vou perguntar o que.

Avisa Ethan fazendo uma careta. Ele estava querendo saber, mas fingia desinteresse. Imagina se o príncipe de Great Master não iria querer saber de algo que Onyx sabe. Não foi para isso que ele veio para cá? Para conseguir informações? Qualquer idiota perceberia que ele realmente quer saber o que descobrimos. Eu iria querer saber.

–Não precisa perguntar! Eu te conto. Seu papai está mentindo para você!

–Me poupe Zoey, meu pai mente para todo mundo.

–Deixe de ser mal educado, Ethan, não terminei.

–Sobre o que meu pai está mentindo para mim?

Pergunta finalmente muito desconfiado. É bom saber que o pai de Ethan não é alguém confiável nem para o próprio “filho”. Mas alguém que sequestra o sobrinho e diz que é filho dele com certeza não é alguém confiável.

–Sobre você ser filho dele.

Respondo sem esconder a satisfação. Isso faz com que Ethan solte uma bela gargalhada meio maligna, meio incrédula. Ah, a ignorância. Uma dádiva para alguns, uma maldição para outros. Para o Ethan é uma maldição. O que é de um rei sem informações. Pena que talvez ele nem vire rei.

–Meu Deus! É pior do que eu imaginei. Você é nova de mais para ter essas ilusões sem noção, Zoey.

–Na verdade, você é filho de Hector com a Aurora.

Completo ainda mais satisfeita comigo mesma. Ethan para rir, e Caleb dá um olhar para Cyrus por de trás do capuz. Acho que agora ele deve está sentindo o que eu sinto. O gosto amargo da traição, da incredulidade. Aquele momento que você não queria ter ouvido algo mais sabe que é verdade. Não que ser filho do Hector vá fazer alguma diferença para Ethan nessa altura do campeonato. Ele vai continuar o mesmo príncipe de sempre. Só que com talvez um pouco de raiva do papai sequestrador dele.

–Na época que eu nasci, a Aurora estava grávida do Baelfire.

–Seu chára?

–Claro que o meu sim não é Zoey!

–Posso fazer uma pergunta Ethan? Que dia você nasceu?

–Isso é duas, mas como estou me divertindo, vou responder: Nasci no dia 18 de fevereiro de dezoito anos atrás.

–Arya! Vem cá e me responda que dia o Baelfire nasceu?

Chamo batendo na porta do carro. Logo ele abre, e Arya sai de lá com tanta certeza nos olhos que fica até difícil de duvidar. Era apenas uma das confirmações que ela precisava. A data de nascimento do príncipe. E ele é bem novinho. Só tem dezoito anos. E tem uma cara de mais velho que até dá dó. As trevas, a pose, as responsabilidades deram para Ethan dois anos a mais. Ele parece que tem vinte. Mas, quem tem vinte é o Jonathan, meu irmão mais velho.

–Nasceu dia 18 de fevereiro de 2216. Hoje ele teria dezoito.

Reponde Arya ajeitando a blusa dela. Ethan faz uma careta e retruca:

–Coincidência.

–Qual o nome de sua mãe?

Pergunto irritando o já tenso Ethan. É triste encarar a verdade eu sei. Não faz nem cinco horas que passei por essa mesma situação. A se encarar a verdade. Mas a diferença é que eu não retruquei, não falei nada, apenas soquei o Cyrus. Minha mão está doendo até agora. Foi um erro ter socado aquele garoto. As articulações da minha mão estão doendo e meu soco não resultou em nada. Foi como socar uma parede não doeu nada. Ele não sentiu. Os olhos verdes de Ethan se tornam negros e ele responde com um berro amedrontador:

–Não sei!E não estou na sua mesa de interrogatório

–Reconhece isso?

Pergunta Arya tirando o Coração da Fênix de debaixo da camisa azul marinho. Ethan olha para o colar de Arya com tanta confusão que ele até da um passo em direção dela. Sim! Aquilo foi um reconhecimento. A confusão era por conta da pergunta básica: O que aquele colar estava fazendo ali.

–Onde conseguiu isso?

–Minha mãe me deu.

–Sua mãe não pode ter te dado isso, por que isso era da minha mãe.

–Igual o colar da Emma era da minha mãe.

–Ok! Esse não pode ser o original! O coração da Fênix só existe um, igual o Coração do Rei e ambos eram da minha mãe.

–Não! Ambos eram da minha mãe. Que por acaso que também é sua mãe.

–O que te faz acreditar que sou mesmo seu irmão?

Indaga Ethan. Ele mesmo não queria acreditar. Assim como eu também não queria acreditar que Cyrus não me salvou por gostar de mim. Mesmo sem querer essa descoberta do Ethan é minha vingança pessoal. Ele está se sentindo do mesmo jeito que eu me senti. A diferença que minha verdade foi mais dolorosa. Corroeu como acido também corroer tudo o que toca.

–Vocês têm a mesma cabeça dura!

Grita Aspen de dentro do carro. Arya chuta a porta e manda ele cala a boca. Ele cala, por que não é louco. Mas que tem razão ele tem. Arya e Ethan são duas cabeças duras. É praticamente impossível colocar alguma coisa na cabeça dos dois sem muita insistência ou com alguma tática especial. Meu Tio Alef que o diga. Foi difícil convencer a aceitar ser pupila do Aspen. No final das contas até que ela ganhou alguma coisa em troca.

–Ok! Já calei.

Resmunga meu humano preferido se encolhendo na poltrona. Agora que a coisa fica séria.

–E por que eu não seria?

–Você quer mesmo que eu responda isso?

–Não! Por que eu já sei a resposta, e infelizmente também gostaria de está errada. Imagina ter o mesmo sangue de uma pessoa tão mesquinha, metida, egocêntrica, fresca e mimada que nem você! Não tem a nobreza do Jasper ou a simpatia do Neal. Nem é tão amado quanto minha mãe ou respeitado como o meu pai. Ser sua irmã já é um fardo! Eu prefiro que você negue mesmo sua família, por que na verdade você deve ser mesmo uma das proles malignas de Hazazel!

Responde Arya irritada. Nessas horas o que eu mais quero é sentar, com uma pipoquinha e ver o príncipe ouvir umas e boas. Sou mesmo filha da minha mãe.

–Mas fui criado em um palácio, diferente de você!

–Ah! Grandes porcarias! Aposto que no palácio Baelfire ninguém que se importa com você! Do mesmo jeito que você não se importa com ninguém.

–Que bom que você sabe disso.

–Ah! E olha só o que o palácio fez com você! Matou o garoto doce que perseguia borboletas para mim e brincava comigo!

–Por que eu... Como é que você sabe dessa historia de borboletas?Emma...

–Nem! Não fui eu que contei. Na verdade eu não falei nada da Arya sobre você! Não tivemos tempo!

Nega Emma colocando a cabeça para fora do carro. Ok! A coisa está mesmo ficando interessante. O Ethan um dia caçou borboletas? Quer dizer, caçar borboletas não é exatamente algo exemplar, chega a ser condenável. Mas o fato que Ethan caçou borboletas para alguém é outra historia. Isso significa que um dia ele foi bonzinho. Afinal, todo mundo sabe que caçar borboletas não é a coisa mais fácil do mundo.

–É básica. E estou impressionada de que o Hazazel não a apagou de sua memória. Por que pelo jeito você não lembra nem o nome de nossa mãe.

–Ok! Se você for minha irmã mesmo me fale algo que só eu, minha mãe, a Emma e você devem saber.

–Você tem uma cicatriz no tornozelo por que caiu de uma árvore em cima de uma pedra afiada. Quase infectou e eu te dedurei para a mamãe que não falou nada para o papai, mas te deu uma surra que lembro até hoje.

–Em que tornozelo?

Pergunta Ethan perdendo toda a sua incredulidade dando mais um passo para Arya que responde convicta:

–No direito. Ela tem quase um palmo de comprimento e você ainda a esconde por que achou que ela ficou feia.

–Quantos anos eu tinha?

Sussurra uma pergunta dando mais um passo. Parece que a Arya acertou e ela acerta de novo:

–Seis. Foi um ano antes de nos quatro sermos separados, eu capturada, você virar o príncipe sombrio e nossos pais morrerem.

–Você é mesmo minha irmã?!

–Sou!

Afirma Arya deixando claro que ela já tinha dito isso. Melhor, que eu já tinha dito isso. Os fatos estão aí! Se juntarmos todos dá nessa historia. Arya, Neal e Jasper são irmãos do Ethan.

–Você tinha quantos anos?

Pergunta Ethan piscando os olhos, enquanto dava mais um passo incrédulo em direção a irmã recém descoberta. Algo me diz que o fato de ter uma irmã mandada para Fell deu uma amolecida bem pequena mais significante no coração daquele garoto meio perdido.

–Quatro.

–Não, quando foi capturada.

–Cinco.

–Por que o Hazazel não te levou para o palácio comigo?

–Ele queria um herdeiro forte, não um herdeiro e uma rebarba.

–Faz sentido. Ele não suporta crianças.

–Imagino! Mandava todas para Fell.

–Eu imagino que tenha tido péssimos momentos lá.

–É tive.

Concorda Arya. O Ethan já estava a poucos metros dela. Um na frente do outro. É nessas horas que você ver o quanto Arya é baixa. Todo mundo fala isso eu sei. Mas ela deve ter o que? Um metro e sessenta? Um e cinqüenta e nove? Perto de tanta gente alta, a garota parece nanica.

–Por isso você é tão estranha familiar é minha irmã. Quem diria?

–Ninguém! Nem somos parecidos.

–Verdade.

–Senti sua falta Bael.

–Não lembro bem de você, mas, acho que tendo uma irmã tão boazinha, baixinha e nobre eu também devo sentir sua falta. Bem lá no fundo, em algum lugar perdido.

–Vou te liberar dessa vez de ter me chamado de baixinha.

–Acho que nos despedimos aqui, baixinha.

Diz Ethan recebendo um carinho tímido da maninha mais nova, que coloca um pouquinho do cabelo dele atrás da orelha e Ethan dá até um sorrisinho. Oh! Se não fosse o Ethan e ele não merecer-se uma irmã como a Arya até que seria emocionante. Mas é um pouquinho. A Arya queria tanto rever o Bael dela que me permito ser flexível. Mas o Baelfire tinha mesmo que ser o Ethan? Mesmo? Sério? Com tanto loiro no mundo tinha que ser aquela criatura Apache metida? A vida é mesmo irônica. Mas pensando bem, o Ethan não tem culpa se foi criado pela criatura asquerosa do Hazazel.

–Acho que sim príncipe.

–Não quer um abraço?

Oferece o príncipe abrindo os braços. A Arya se aconchega neles e juro que vejo a chorando. O príncipe só se permite um sorrisinho por de trás da cabeleira da irmã. Talvez uma lagrima charmosa, daquelas que cai de um olho só. Ele fecha os olhos e da um beijinho na testa dela. Ok! Cadê o Ethan? Isso é por acaso alguma pegadinha? Por que aquela pessoa que está no lugar do príncipe sombrio é muito carinhosa para ser o Ethan que conhecemos. Não! É sério! Até a boca dos amigos de Ethan se abre em exclamação. Ele não é de demonstrar carinho. Ah não ser que a Arya tenha a incrível capacidade de se afinar com os familiares de uma maneira em que independente de quem eles sejam, eles passam a se importar com ela da mesma maneira que ela se importa com eles. Pelo menos foi assim com Cyrus, e está sendo assim com o Ethan também. Será que se encontrar com o Hazazel isso também funciona? Acho que não! Deve funcionar apenas com quem tem um coração e Hazazel não tem um.

– Passei minha vida inteira achando que você tinha morrido, e olha que surpresa, meu Bael, é o Ethan.

Sussurra Arya sorrindo incrédula se desgrudando do irmão.

–HÃ! Arya, meu bem querer, acho que não é muito seguro você chegar tão perto...

–Não vou matá-la, Aspen. Não ela sendo do mesmo sangue que eu.

Avisa Ethan dando um beijinho na testa da Arya. Cyrus entra no meu campo de visão e isso me irrita profundamente. Ele quer por que quer que tenhamos uma conversa civilizada de qualquer maneira. Mas não dá! Se for para que eu falar com ele eu vou é simplesmente gritar, berrar, xingar e fazer todo tipo de bestagem que não se pode fazer calmo, muito menos com raiva.

–Preciso falar com você, Zoey.

Exige como se ele pudesse fazer umas coisas dessas. Ele simplesmente mentiu para mim, não há nada mais a se falar. Eu não acreditaria em uma única palavra que sair-se da boca dele mesmo. Não confio em Cyrus. É simples assim.

–Eu não!

–Zoey, é sério!

Afirma Cyrus tirando o capuz. Santo Deus! Que homem mais insistente. Eu não quero falar com ele, será que essa criatura não entende? Eu não quero falar com ele. É tão simples quanto o nascer do sol, mas na cabeça de Cyrus isso simplesmente não entra. Suspiro pesadamente e aviso:
–Eu sei!

–Vai me ignorar internamente?

–Vou!

–Era isso que você queria, não é?

Pergunta me deixando confuso. Seus olhos cinza se tornam negros. Isso não é um bom sinal. Não é vindo de Ethan e é muito menos vindo de Cyrus. Ele nunca ficou com os olhos negros perto de mim e é assustador. Mais assustador do que seus olhos avermelhados.

–O que?

Indago inocentemente.

–Uma mancada minha para ter uma desculpa para me dispensar. Se livrar da responsabilidade de ter que escolher entre mim e sua família.

–Não sei do que você está falando.

Retruco, o deixando furioso. Furioso mesmo. A ponto de segurar minha bochecha e a apertá-la com o polegar e o indicador. O Cyrus estava fora de controle e eu não quero ficar perto dele. Não mesmo. Aquele sorriso meio torto, deixando as presas um pouco a mostra era assustador. O cara que me queria ainda estava aí, mas bem escondido atrás de um bruto descontrolado. Ele estava segurando com tanta força minha bochecha que fiquei com medo até de me mexer. Por seus olhos negros e brilhantes consegui ver minha imagem assustada de olhos arregalados. Inconscientemente segurei a mão do Cyrus. Ele chega perto do meu rosto e sussurra com sua voz aveludada e ameaçadora:

–Maravilha! Por que tenho um grande aviso para você, Zoey. Apesar de ser incapaz de pensar em te machucar não posso dizer o mesmo dessa maldita ilha nem de sua armadíssima família. E depois que eu tirar cada um dos obstáculos que você põe em meu caminho irei cumprir aquela promessa que fiz a você! Agora só estou na duvida se começo pela sua família ou por Onyx.

–Não toque na minha família, Cyrus.

Reajo sem pensar. Agora sim Cyrus quer enfiar suas garras mortíferas em minha família. E nem era culpa deles. O sorriso dele aumenta, se torna mais ameaçador. Se um dia Cyrus foi apaixonado por mim, sua paixão se tornou ódio intenso. Ah! Onde fui me meter? E nem foi de propósito.

–Se eu tocar você vai fazer o que?

–Eu vou ser o obstáculo contra você para chegar a mim. Não vai sentir nem qual é o gostinho dos meus lábios, você está entendendo?

–Veremos. Eu sempre consigo o que quero, Zoey, e adoro um desafio. Agora, se você quiser mesmo escolher entre mim e sua família, eu vou te fazer escolher. Eu juro que vou e juro que vou fazê-la se arrepender de não ter me escolhido enquanto podia.

Sussurra em meus ouvidos tão lentamente que um arrepio percorre de minha espinha a minha nuca. Eu quis responder que ele já tinha feito. Mas minha língua queria mesmo era fazer outra coisa. Apesar da situação assustadora psicologicamente, meu corpo parecia que enlouquecer. O que ele queria mesmo era agarrar aquele homem perigoso, enquanto eu queria era fugir. Parece que o perigo me atrai e Cyrus já descobriu isso. Cyrus se afasta, coloca o capuz novamente e faz um carinho de leve nos meus lábios logo depois. Depois vai embora, para dentro da floresta com seus compatriotas. Caleb fica um pouco atrás e me olha com pena antes de se transformar em lobo e ir atrás deles. Depois dessa eu desabo. Envolta em um mar de desespero psicológico e físico. Eu queria mesmo era ser devorada por um Sauter. Tenho certeza que vai doer menos do que o que a vida me planeja. Depois dessa acho que desmaio por que o mundo inteiro apaga.

–-

Olho para a garota de quase sete anos em minha frente. O cabelo de fios grossos e brancos estava solto deixando as ondulações do seu cabelo cair sobre seus pequenos ombros infantis e a coroa de flores era vermelha como sangue sobre sua cabeça. Ela não sorria para mim e seus olhos cinza com um leve toque azulado eram levemente tristonhos. Suas bochechas continuavam rubras e agora tinham sardas nascendo de leve e seu vestido, antes branco, estava tão vermelho quanto às flores em sua cabeça. Era uma criança realmente linda, pequena e encantadora. Delicada como uma rosa. E tinha algo especial nela. Alguma coisa que fazia meu coração bater de orgulho. Minha filha fala pela primeira vez comigo, com sua doce voz infantil:

–Ainda há esperança, mamãe.

Contudo tudo muda. Minha filha desaparece. O céu é vermelho, estou em um campo de trigo morto, e se enche de mortos por todo canto, o rio se torna vermelho, minhas mãos estavam tão sujas quanto aquele rio, e o sangue daquelas pessoas subiam até meus joelhos. Eu estava desesperada. Voltei ao pesadelo tão rapidamente quanto sai do sonho. O cheiro de carne podre e ferrugem subiam as minhas narinas. E meus olhos ardiam de tanto que eu chorava. Eu estava no meio do campo, abraçada a alguém. Estava totalmente de preto, encapuzado, suas mãos também estavam sujas, e eu só conseguia ver seus lábios avermelhados com as presas de fora em um meio sorriso perigoso, o maxilar quadrado, e um pouco do cabelo e loiro. O sadic, com o tom de voz suave e aveludado sussurra para mim:

–Eu a avisei, amor.

Olho para cima e vejo Cyrus. Mais não tenho tempo para indagações. A Beverly me salva do meu pesadelo antes disso. A clareira dela parecia que está morrendo. Era cheio de luz e vida. As arvores eram verdes, e as flores exalavam um perfume delicioso. Agora, as arvores ficavam amarelas, as flores desapareceram e uma brisa me fez estremecer. Adentro ao jardim até chegar ao que parecia um quiosque cinza em estilo grego. Como se era de esperar o quiosque estava vazio. Alguém pigarra atrás de mim, e quando me viro, vejo tia Bev brincando com um passarinho que parecia mais com uma mistura de pássaro e com algum réptil parente do largato. Mas era bonitinho. Tinha o focinho de um largato, o corpo troncudo como o de um cão, quatro patas com quatro dedos arredondados e garras pequenas, as escamas pareciam penas, e eram brancas como a neve nova e as asas com o quíntuplo do tamanho do animal, só que com as penas bem juntas e brilhantes, como escamas, uma cauda fina e com o que pareciam espinhos enrolado nos dedos da Beverly e olhos azuis gelo que tinham uma leve emoção, eram brilhantes. Era um animal que parecia um dragão. Mas não era um. Dragões têm barbicha, cifres, e um rabo com ponta. Pelo menos era assim que eles eram retratados. Mas como os dragões não existem então prefiro comparar aquela criatura de cara arredondada com um largato bonitinho com asas. Talvez a maior diferença entre eles seja a escama. Aquele bicho não tem escamas, tem penas aveludadas.

–Já viu um Lizard?

Perguntou Beverly fazendo carinho na cabeça do animal, que fecha os olhos e se encolhe ainda mais nas ao dela. Aquilo que era um Lizard? Aquele bicho minúsculo é que come os Sauters? Mas como? Tipo, a boca é bem pequenina.

–Essa é filhote. O nome dela é Cara, e vai demorar muito para ela crescer. Uns cem anos.

Explica Beverly brincando com a Lizard filhote branco. É estranho como esse animal dura tanto tampo para crescer. Mas também com o tamanho que ele fica quando cresce. Nunca vi um adulto, mas se for tão bonitinho quanto essa pequena, então não tem muito problema. E eles comem Sauters. É uma boa noticia.

–Ok! Cara volte para o ninho, sua mãe já está preocupada.

Ordena Beverly. A Lizard pega vôo graciosamente e voa em direção as montanhas. A Beverly levanta e percebo que ela está um tanto diferente. Primeiro a roupa. Ela não usava o seu vestido habitual. Estava com um azul, cheio de recortes pelo tronco, que tinha uma região que estava suja de sangue seco. E seu cabelo estava todo bagunçado. Também estava com uma expressão cansada. O que tinha acontecido com ela?

–Não se preocupe, Zoey. Meu tempo nessa prisão está acabando e quando isso acontecer vou poder colocar ordem no meu país.

–Como assim?

–Hazazel me sequestrou e me prendeu. Ele me deu uma droga muito forte e estou dormindo desde então. Logo acordo, e não há como ele me dá igual me deu antes. A formula misteriosamente se perdeu em meio a um incêndio. Mas vamos ao seu assunto.

–Que assunto?

–O que você realmente sente por Cyrus?

–Por que a pergunta?

–Por que você precisa saber o que sente por ele antes de tomar atitudes.

–Eu já tomei.

–Eu sei! Estou na mente da Emma. Mas como a futura sogra da minha neta disse: Ainda há esperança.

–Eu não sei!

–Maravilha! Então não faça nada sem ter total e absoluta certeza.

Aconselha Beverly brincando com um dos cachos castanhos de seu cabelo. Estranho. Ela me parece familiar. E não é familiar de alguma foto que vi. É familiar de parecer com outra pessoa.

–Tem mais alguma coisa a dizer?

–Avisa para o Alef que vai acontecer algo surpreendente e não é para ele pirar. Eu não o trai nem nada do tipo.

–Por que ele acharia isso?

–Desde Miguel seu tio tem um ciúme grande de mais parar ele mesmo! E olha que essa criatura sempre está na minha mente. É que ele tem medo de me perder quando chegou perto de mais de isso acontecer. E é bem provável que com que essa surpresa ele fique... Como posso dizer... Pirado, desesperado, magoado... E me ofenda quando eu voltar, aí o bicho pega para ele e para você. Não esquece. Avisa logo para ele, assim que acordar.

Explica Beverly ameaçadora. Bem quando a mulher do Lorde Dark te manda fazer alguma coisa, a não ser que você seja mais poderosa do que os dois juntos, faça. Não fique esperando ela mandar de novo. No caso minha tia é mais assustadora ainda por ela mesma.

–A propósito, acorde.

Ordena Beverly.

–-

Acordo em sobre salto. Com meus pais e meus irmãos ao meu redor. Minha mãe estava chorando? Quer dizer, ela estava com os olhos vermelhos, e o nariz também. Meu pai acima dela estava um tanto furioso. O que foi que eu fiz? Ah! Sei lá! Prefiro um pai vivo e furioso á um morto. Ou seja, se está todo mundo aqui, Cyrus não atacou ainda.

–Pai... Mãe... Irmãos... Tio Alef, tia Bev me mandou dizer que vai acontecer algo surpreendente e não é para o senhor pirar. Ela não o traiu nem nada do tipo.

Aviso com antecedência antes que eu esqueça. Alef levanta as sobrancelhas surpreso e concorda com a cabeça. É minha impressão ou está todo mundo aqui? Será que tive um ataque cardíaco ou foi um colapso nervoso para está todo mundo assim, com raiva e meio furioso? Ah! Não! A Gwen ou a Arya contou o que aconteceu?Pronto! Posso escolher a cor das flores do meu caixão. Ou até a cor do meu caixão. Eu o quero cor de perola e preto, e quero flores de verdade, vermelhas.

–Ok! Zoey temos que conversa.

Avisa meu pai jogando essa informação bombástica em meu colo.

–Sobre?

–Aquela praga que nos ameaçou!

–Que praga?

Pergunto inocentemente. Demoro um tempo para perceber que a praga é Cyrus. Que lindo apelido meu pai lhe deu! Praga! Não poderia ser mais ofensivo.

–Você sabe do que eu estou falando menina, não esgote mais ainda minha paciência!

–Dexter! Pegue leve com minha filha!

Ordena minha mãe irritada com meu pai. Ele estava tão explosivo que eu pergunto:

–O que foi que eu fiz?

–Boa pergunta! O que foi que foi que você fez? Só nos colocou na mira de um assassino louco por vingança.

–Pai...

Sussurro com aquela misera dor roendo meu coração. Eu fiz isso mesmo, mas ele fala como se eu tivesse feito de propósito. Como se Cyrus tivesse se apaixonado por mim por que eu quis! Eu tenho alguma culpa nisso? É nesses momentos que invejo os que não nasceram. Os que não decepcionaram seus pais. Os que não precisaram abrir mão de nada. Meu pai, minha mãe, tia Bev, tio Alef, Cam, Caryn... Nenhum deles sabe o que é abri mão de um amor. Todos acabaram ficando com as pessoas amadas, enquanto eu bem provavelmente vou ficar com ninguém. O Cyrus mataria qualquer candidato forte a roubar meu coração.

–Dexter! Não é culpa dela se o menino ficou interessado!

Defende-me tia Caryn. Isso deixa meu pai mais furioso. Muito mais.

–Não chama aquele verme de menino. Ele não é mais um menino! Ele é um homem que quer levar minha filha para debaixo dos lençóis dele. Se não já levou...

–Dexter, a Zoey não é exatamente o tipo de garota desmiolada. E se o Cyrus ficou frustrado foi por que não conseguiu o que queria.

Agora foi a vez da minha mãe. As dores no meu coração estavam se tornando lacrimejo. Minha vista estava embaçando e soluços tomavam conta do meu corpo sem controle. Sou uma culpada diante de um tribunal.

–Não tenho nenhuma prova concreta disso! Eu sei que os dois ficavam de carinho na cela. Até cafuné já rolou!

–Cafuné? O que é cafuné em um relacionamento? Eu fazia cafuné em nosso cachorro, Dexter. Em nosso cachorro! Deixa de ser tão... Preconceituoso.

–Eu sou preconceituoso? Tenho vinte filhos para proteger de um louco que quer acabar com toda a minha família! E principalmente deflorar minha filha.

–Se ela quiser não é uma defloração!

–Cala a boca, Alef!

–Calei super pai.

–Você não sabe o que é ter uma filha com urubus rodeando ela.

–Não sei mesmo, e dou graças a Deus por isso! Imagina pirar que nem você só por que o guri se interessou por sua filha! Quem manda caprichar?

–Tio, o senhor não está ajudando.

Avisa Jonathan, fazendo carinho em meu pé.

–E você quer mesmo culpa alguém pelo que está acontecendo, Dexter? Culpe você! Se não tivesse implicado com o Cyrus a Zoey não estaria dividida entre nós e ele, e principalmente, não teria feito o que fez.

Retruca minha mãe enquanto eu choramingo:

–Eu não fiz nada!

–Claro que não minha querida, você só tentou não deixar a coisa fluir e causou uma enchente!

Diz meu tio Cam fazendo muxoxo.

–Que enchente?

Pergunto chorona.

–Uma enchente de ódio e frustração.

Completa Alef.

–Quer saber de uma! Sai todo mundo daqui! Sai, sai, sai... Eu quero consolar minha filha em paz, suas baratas falantes!

–Ainda vamos conversar Zoey Victoria. Não pense que esqueci.

–Você não vai conversar nada Garden. Vai simplesmente sai e se acalmar! E não inventa de procurar o Cyrus, não quero ficar viúva.

Ordena minha mãe me dando colo. Depois dessa, não quero nem ver mais a cara do sol. Na verdade o que eu quero mesmo é ficar aqui, quieta, em meu canto, enrolada no colo da minha mãe onde é seguro, longe da fúria do meu pai, ou dos olhares dos meus irmãos, longe da pena dos meus tios, ou dos conselhos das minhas primas e do Cyrus. Principalmente do Cyrus o causador de tudo aquilo. Pior é que eu sinto falta dele. Merda. Parece que só aumenta. O vazio que sinto no peito só aumenta e dói cada vez mais. Soluço e gasto as minhas lagrimas no colo da minha mãe, enquanto ela me diz que tudo vai ficar bem. Eu acho que não. Minha dor e eu. Apenas eu e minha dor sabem que não.


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Notas finais do capítulo

Toda a historia precisa de um capitulo com alguém super deprimido. Pena que foi a Zoey! Agora, por favor comentem. Isso me deixa animadíssima.



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